Essa história não é tão feliz quanto um conto de fadas, mas do fundo de meu peito, desejo que todos a conheçam.
Já se fazem alguns anos desde quando sonhei com a narrativa completa, e acabei me apaixonando por ela, o plano de escrevê-la estava guardado a sete chaves há algum tempo. Mas, graças a Deus (mesmo sem acreditar em tal coisa), ainda me lembro das cenas, sentimentos, cheiros, e da angústia que senti ao observar sem ajudar as personagens, agora posso descrever em detalhes tudo o'que senti naquele longo sonho (ou deveria dizer pesadelo?).
Chega de enrolação. Shinu havia se levantado cedo demais, mas mesmo assim, se dirigiu à sala de refeições. A esta hora, os aquecedores não haviam sido ligados, afinal, ninguém deveria estar acordado. Porém, a melhor tripulante no manejo de armas de fogo, se encontrava sentada à mesa, com uma camiseta de extremo mal gosto, passando frio.
A tal atiradora jamais se atreveria a não usar aquela roupa, rosa neon, com a estampa de gato, pois sua falecida mãe a havia lhe dado de presente, e fora a melhor que conseguira comprar com o raso salário, mesmo que sua filha nunca tenha lhe orgulhado, por ser uma moça covarde.
A menina ao mesmo tempo que observava seu reflexo na bandeja vazia, se perguntava, o'que fazia dela tão diferente de sua mãe, seria apenas o cabelo marrom avermelhado como sangue seco? Ou talvez a elevada altura? Afinal, de resto, sua aparência era igual de sua figura materna quando mais jovem, os olhos marrons e úmidos, que lembravam a terra molhada num dia tempestuoso, a pele que parecia cheirar a café, de tão escura, além do cabelo volumoso e crespo como a palha de aço que sua mãe usava para limpar o fogão precário. Shinu havia prometido a si mesma que vingaria a mãe, nunca mais seria covarde, iria enfim ser motivo de orgulho.
Quando os aquecedores ligaram, Shinu se levantou, e foi ao dormitório da prodígio em armas brancas, a garota se sentou no canto da cama da chamada Aráh. Então a examinou, como alguém tão perigoso e sanguinário poderia parecer tão lindo e delicado quanto as asas de uma borboleta? Como com as mesmas finas e pálidas mãos, frouxas sob o cobertor, havia um dia sem piedade, arrancado fora a cabeça de uma inocente criança?
Mas Shinu pensava que nada disso era culpa dela, afinal a outra garota estava apenas fazendo o mínimo para sobreviver, naquela cruel e amarga realidade.
Enfim, ela estendeu os dedos até o brilhante cabelo dourado de Aráh, descendo a mão pelos longos e ondulados fios, que remetiam linhas de ouro, até chegar às pontas tingidas de um roxo doentio. A menina sussurrou o nome da outra duas vezes, sem obter resposta. Lembrando do que sua mãe lhe dissera, dê três chances, e se certifique que a terceira será a última, puxou os cabelos da amiga loira, a fazendo acordar com tamanha dor. Shinu amava ver aqueles belos olhos verdes, transbordando de raiva.
- SHINU! Eu já disse para não fazer isso, PORRA!
A irritada moça, após xingar sua amiga mais um pouco e jogar-lhe um travesseiro no rosto, se levantou e colocou sua lente cinza no olho esquerdo, o adereço já fora mais bonito, quando Aráh o ganhara no aniversário de 7 anos, ele brilhava como prata, porém, agora estava desbotado lembrando apenas a grosseira poeira que era sempre encontrada sob móveis antigos.
Ademais, ambas foram até a sala de refeições, desta vez a bandeja de Shinu não estava vazia, para o café da manhã, fora providenciado pão com queijo artificial e suco de laranja, Shinu tomou um raso gole de sua bebida, e perguntou:
- Sobre aquela coisa de... Você sabe, encontrar mais "amigos", como está indo?
- Na verdade, terrivelmente mal, eles não confiam na pessoa que matou a doce Star... Mas, francamente, era eu ou ela!
- Sinceramente eu também não confiaria - resmungou Shinu.
- O que disse?- protestou Aráh de cara feia.
- Nada, mas prosseguindo, talvez você deva antes de tudo criar uma relação de confiança com a pessoa, durante os treinos por exemplo, e se possível nos duelos...
- Tá, tá. Mas isso, SUPONDO que eu não tenha que matá-los alguma hora...
- Sim, mas não cite isso né idiota, por que tipo, se você falar: Ah, então né "amigo" caso eu tenha que te matar vou fazer o possível para que seja indolor... Seria de fato muito reconfortante.
- Tanto faz, vou tentar essa técnica, mas e aí? Tudo certo com o verdinho? Ou você já esqueceu?
Shinu fechou a cara, engoliu seu pão com queijo e saiu resmungando.
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