Gael não conseguia ver mais do que um palmo à sua frente na escuridão infinita em que havia caído. Perdera a noção de direção e não sabia se estava de cabeça para baixo ou para cima. Mesmo caindo sem parar, o leão ainda não havia se manifestado até aquele momento:
— Por que você está caindo? — A voz do leão finalmente ecoou na mente de Gael.
Garoto ficou estarrecido com aquela pergunta:
— Que pergunta ridícula! Estou caindo, porque estou em um limbo sem fim! — Pensou o garoto ignorando o questionamento feito pelo leão.
— Não ache a pergunta ridícula — Repreendeu o leão com firmeza — Não perguntei se o questionamento era ridículo. Apenas responda o que eu te perguntei: por que você está caindo?
— Porque não existe chão, como vou parar de cair se não há um solo? — Indagou Gael, ainda confuso com a questão levantada pelo animal de chamas.
— E quem disse que não existe chão? Só porque você não pode vê-lo ou senti-lo, não significa que não esteja aí.
Gael refletiu por um momento sobre a situação, finalmente compreendendo o que o leão estava tentando ensinar-lhe:
— Você está me testando! — Afirmou o garoto, percebendo a mensagem que o animal queria transmitir — Você está me ensinando a confiar em ti.
O leão permaneceu em silêncio, e a mente do garoto começou a trabalhar. Ele precisava encontrar uma maneira de interromper sua queda infinita. Gael percebeu que o desespero havia tomado conta dele e, por isso, não estava respirando como Karumo havia lhe ensinado. Então, fechou os olhos e começou a praticar o exercício, inspirando pelo nariz e soltando o ar pela boca.
Gael concluiu que, para parar de cair, precisaria firmar suas pernas em algo. Com a respiração controlada, sentiu a energia elemental fluir por todo o seu corpo. Com esse poder, percebeu que estava de cabeça para baixo e começou a se esforçar para se elevar até conseguir.
O próximo passo era parar a queda. Gael flexionou os joelhos cerca de quatro vezes, posicionando as pernas como se fosse dar um passo, mas não conseguiu. Na quinta e na sexta tentativa, começou a sentir algo que se assemelhava a um solo, mas ainda tinha a impressão de que estava o quebrando quando tentava pisar no vazio e não conseguia.
Na sétima, oitava e nona tentativa, sentiu ainda mais a sensação de solo, mas, ainda assim, continuou falhando. Até que, na décima vez, com seu corpo ardendo por completo, Gael exclamou:
— IGNISSSSSSSSSSSS!!!
Um clarão se estendeu por todo o breu, transformando a escuridão em branco quando Gael gritou o verdadeiro nome do fogo. E o mais surpreendente foi que ele parou de cair; o garoto agora flutuava em uma dimensão extremamente clara, onde o branco se estendia infinitamente para cima e para baixo.
— Você conseguiu — Gael ouviu uma voz vinda de trás de si.
Era o leão de fogo, que havia retornado. Naquele momento, Gael percebeu que havia passado no teste de confiança do animal. Mas ele não esperava que a jornada acabasse naquele momento.
— Você conseguiu confiar em mim, mas agora precisa me conhecer — Disse o ser de fogo, enquanto várias portas surgiam naquela sala totalmente branca. Eram muitas portas, de várias cores, tamanho e tipos, que não havia forma ou jeito de contá-las.
O animal de fogo permaneceu atrás do garoto, seguindo com suas instruções:
— Em uma dessas portas você encontrará o meu verdadeiro nome, o nome que seguirá me conhecendo vez após vez.
— Isso é de Bleach? — Indagou o garoto, percebendo que havia falado o nome de outro anime que havia assistido.
O leão saiu de trás dele e começou a andar em sua volta, olhando para o garoto, perguntou:
— Bleach?
— Sim — Respondeu o garoto, meio sem graça — É um anime. O protagonista tem que descobrir a verdadeira forma da sua espada abrindo milhares de baús em um lugar semelhante a este. Lá, o Ichigo encontra a espada verdadeira seguindo uma linha de poder. Vou precisar fazer a mesma coisa com minha energia elemental?
O leão ficou surpreso com o raciocínio do garoto, percebendo que talvez ele fosse mais propenso a conhecer do que a confiar.
O animal pressentiu o potencial gigantesco de Gael em entender as coisas facilmente.
— Basicamente isso — O leão respondeu e se retirou da frente do garoto — Vá em frente. Você já sabe o que fazer.
Gael fechou os olhos. Sua confiança no animal era grande, e ele decidiu sentar-se cruzando as pernas no lugar onde estava de pé. Então, Silva passou a focar novamente em sua respiração, inspirando pelo nariz e soltando o ar pela boca.
A sala era um branco total, e quem olhasse debaixo veria um garoto ruivo flutuando no meio de tantas portas. Gael mantinha sua respiração controlada e sentia algo diferente ao emanar sua energia elemental por todo aquele espaço, como se pudesse sentir todas as portas.
Ele forçou ainda mais sua respiração e percebeu que todas as portas estavam conectadas umas às outras, formando uma espécie de rede de conexões invisíveis.
Ele se concentrou nas cordas que conectavam as portas e aplicou sua energia elemental em uma delas. Num instante, todas as conexões ganharam tons alaranjados, refletindo o poder impressionante de Gael. As amarras transparentes pareciam vibrar com a intensidade de sua energia.
O garoto sentia todas as portas de uma vez, uma por uma, tentando encontrar qual era a sua, aquela que o leão havia separado para ele. Finalmente, a encontrou e abriu os olhos para apontá-la.
Era uma porta comum, simples e discreta, entre tantas outras portas impressionantes. Sua fechadura e a cor branca nada tinham de especial. Mas o leão acenou positivamente com a cabeça, confirmando que aquela era a porta certa.
— Vá em frente, filho do homem.
Como se pudesse subir degraus invisíveis, o garoto se dirigiu até a porta branca, passando por entre as milhares de outras portas presentes naquela dimensão.
Ao chegar perto da porta, notou que nela havia cinco símbolos desconhecidos.
Olhou para o leão em chamas e perguntou:
— O que seria esse símbolo na porta?
— Quando você a cruzar, saberá! — Afirmou o bestoj, mostrando que atrás dela aguardavam muitas respostas, muito mais do que ele poderia encontrar se ficasse preso naquele lugar.
Todas as cordas que conectavam as portas ainda brilhavam com o tom alaranjado da energia elemental de Gael. No entanto, a porta que ele havia escolhido se destacava das outras, com uma amarração ainda mais intensa, como se estivesse pedindo para ser aberta.
Silva posicionou-se de frente para a porta branca, girou a maçaneta e puxou-a em sua direção. Diante dele, um espaço totalmente envolto em chamas surgiu, enquanto ele proferia suas últimas palavras antes de entrar.
— Prosseguir em te conhecer — A porta se fechou automaticamente atrás do garoto, deixando o leão sozinho naquele ambiente branco.
Mas por pouco tempo, uma voz ecoou de fora, questionando:
— O que você achou dele?
O leão de fogo respondeu com rugidos suaves, ecoando por toda a dimensão:
— Um garoto com um potencial enorme.
— Eu acho que os leitores não vão gostar muito dele — Uma das vozes do lado de fora da dimensão comentou algo estranho, mas parecia que o leão entendia perfeitamente o que estava sendo dito.
— Isso porque é apenas o começo de sua jornada.
— Você acha que devemos entregar o diário de Rick para ele e informar quem matou seu antecessor? — Disse uma terceira voz se juntando a conversa.
— Não, ainda precisamos conhecê-lo melhor. Além disso, não devemos nos intrometer nas questões dos guardiões e das sombras, devemos apenas oferecer nossos poderes — Concluiu o leão antes de desaparecer daquele lugar.
Alfabeto:
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