O ciclope avançava em direção ao corpo de Gael, que jazia desfalecido junto ao muro depois de ser atingido pelo porrete do monstro. O ser gigantesco arrastava o pesado objeto no chão, satisfeito com a ideia de ter eliminado um guardião, o que poderia lhe garantir recompensas e desejos atendidos por aquele que o enviou à Terra.
Sonhava com a luxúria, gula e prazer que poderia usufruir após eliminar o guardião. Para ele, bastava apenas mais uma pancada e seu trabalho estaria concluído.
Ao se aproximar do garoto, Gael estava ensanguentado, com o supercílio direito aberto e seus olhos cobertos de sangue. O ciclope levantou o porrete para dar o golpe final no garoto quando, de repente, sentiu um calor estranho, algo que nunca havia experimentado antes.
Intrigado, o gigante olhou para o céu, mas o sol parecia normal. No entanto, o ardor só aumentava à medida que ele se aproximava mais de Gael. O ciclope percebeu que a temperatura que estava subindo vinha do próprio garoto, ainda preso à parede. Pela primeira vez na batalha, o medo tomou conta dele, um medo que não sentia desde que se submeteu à vontade de quem o havia enviado.
Com urgência, o monstro decidiu que precisava eliminar o menino o mais rápido possível. Levantou o porrete sobre seu ombro direito para desferir o golpe fatal. Porém, ao descer o objeto, não encontrou resistência alguma. O golpe não teve impacto algum.
O ciclope ficou incrédulo diante do que presenciava. Gael havia despertado e, com sua mão direita, segurava o porrete do gigante enquanto seu corpo todo pegava fogo, emitindo energia elemental por todas as áreas ao redor. Agora, ele finalmente conhecia o nome de seu bestoj, e o ciclope também logo saberia:
— RUJA, EMUNN!!! — O impacto do fogo foi avassalador, uma verdadeira torrente ardente que envolveu o ciclope em chamas. O monstro urrou de dor enquanto tentava, em vão, se afastar do intenso calor emanado pelo corpo em combustão de Gael. O gigante subestimou a força do jovem guardião e agora estava pagando caro por sua arrogância. No mesmo instante, o braço que segurava o porrete foi decepado.
Com um movimento ágil e preciso, a mão direita do garoto agarrou firmemente o porrete do ciclope, mesmo no meio das chamas. A cena era impressionante e assustadora: o corpo do garoto, cercado pelo fogo crepitante, resistia ao ataque do monstro. A energia elemental fluía intensamente por todo o seu ser, como se ele estivesse se tornando um verdadeiro avatar do fogo.
Apesar da intensidade do ardor, o corpo de Gael começou a diminuir sua intensidade de chamas pouco a pouco, controlando conscientemente o poder que emanava. Gradualmente, as labaredas incandescentes cederam, revelando o novo formato da espada em suas mãos.
A arma agora estava completamente diferente: mais curta do que antes, porém muito mais ameaçadora e refinada. A empunhadura era decorada com um leão vermelho, símbolo claro de Emunn, o bestoj do fogo. Gael sentia uma conexão profunda com sua espada, como se ela fosse uma extensão natural de sua própria vontade. A sensação inquietante de que a empunhadura não se encaixava em sua mão havia desaparecido totalmente.
A lâmina possuía uma aparência impressionante. Sua forma curva, uma para cada lado, permitia que cortasse com eficácia tanto à direita quanto à esquerda. Além disso, a espada demonstrava sua habilidade de defesa, capaz de parar golpes vindos de ambos os lados. Era uma arma equilibrada e versátil, refletindo a evolução de seu mestre.
Gael observava a espada com fascínio e respeito, entendendo que ela era a prova concreta de seu controle sobre a energia elemental do fogo. A lâmina, com camadas em cinza mais escuro à direita e mais claro à esquerda, parecia esconder segredos ainda mais profundos sobre o potencial da arma.
Diante de tal transformação, o ciclope permanecia assustado e atônito. O que deveria ter sido uma tarefa simples de eliminar um guardião em seu estado inicial, agora se tornava um desafio mortal para o próprio monstro. A energia intensa emanada pela espada de Gael revelava um poder que o gigante jamais havia enfrentado.
O corpo de Gael estava em uma harmonia perfeita com sua energia elemental, permitindo que ele controlasse o poderoso fogo que o envolvia de maneira natural e fluída. A ardência incômoda que antes o perturbava agora se transformara em uma sensação de empolgação e determinação.
Seus olhos, por um instante, adquiriram um tom vermelho flamejante, refletindo o poder interior que o dominava. Quando voltou o olhar para o ciclope, seus olhos recuperaram a coloração normal, mas sua expressão já não transmitia medo ou insegurança. Em vez disso, exalava uma aura de confiança e determinação.
Enfrentando o gigante de apenas um braço, Gael avançava em direção ao ciclope com passos firmes. O monstro, que antes estava confiante em sua força, agora estava aterrorizado com a transformação que via no guardião. O porrete, que antes simbolizava seu poder e dominação, agora parecia insignificante diante da aura de fogo que envolvia o jovem guardião.
O ciclope sabia que precisava eliminar o garoto rapidamente, antes que ele se tornasse ainda mais poderoso e incontrolável. Preparando seu soco inglês com seu braço esquerdo, o gigante investiu contra Gael. No entanto, o garoto não se abalou, aguardando o ataque com calma.
Com uma agilidade surpreendente, Gael segurou o soco do ciclope com sua mão mais uma vez, detendo-o sem dificuldades.
— Eu disse que você pagaria caro pelo que fez a esse lugar — O garoto ruivo agarrou a mão esquerda do ciclope com firmeza e forçou-o a ver o estrago que causou em seu bairro.
Os danos eram evidentes por toda parte: árvores derrubadas, carros em chamas, pessoas feridas buscando abrigo no caos, postes caídos e pequenos incêndios causados por transformadores danificados. O impacto do porrete do ciclope deixou marcas profundas e dolorosas na vida das pessoas de seu bairro.
— Tudo isso é sua culpa! — Com uma voz firme e acusadora, Gael responsabilizou o ciclope por toda aquela destruição. O aperto em sua mão esquerda só aumentava, fazendo o gigante cair de joelhos perante a força do garoto. O ciclope agora entendia que havia subestimado seu adversário, e a consequência de seu erro era clara diante de seus olhos.
O rosto de Silva estava coberto de sangue, mas seu supercílio havia parado de sangrar, o que lhe conferia uma aparência ainda mais ameaçadora ao encarar o monstro à sua frente. Com a mão direita, Gael começou a emitir calor do próprio corpo, direcionando-o para queimar a mão do gigante diante dele. O ciclope urrava de dor enquanto seu braço parecia arder de dentro para fora.
No entanto, os efeitos da pancada que Gael havia sofrido com o porrete logo começaram a se manifestar. O poder de fogo do guardião começou a declinar, e seu corpo não respondia mais como antes. Aproveitando a oportunidade, o ciclope conseguiu se desvencilhar do garoto e recuou alguns passos para se afastar do fogo que o consumia.
A visão de Silva ficou turva e ele caiu no chão. Seu corpo humano estava fragilizado pela perda de sangue durante o confronto inicial, antes de despertar a essência de sua verdadeira espada. Embora sentisse a energia elemental fluindo como nunca antes, a recuperação parecia mais lenta do que ele precisava naquele momento crítico.
Apesar de seu braço esquerdo estar seriamente ferido internamente, o monstro de um único olho enxergou nessa situação a oportunidade de acabar de uma vez por todas com aquela luta. Embora mal conseguisse mover seu braço, a força restante em seu corpo seria suficiente para matar Gael.
— C H E G O U O S E U F I M! — Disse o ciclope, aproximando-se do garoto ajoelhado no chão, com um sorriso podre estampado em seu rosto.
Gael lutava para manter a respiração e sua consciência, mas estava cada vez mais difícil. A dor percorria todo o seu corpo, e o som dos passos do ciclope parecia ser o tic-tac de um relógio, marcando o tempo até sua morte iminente. A batalha atingia seu ápice, e o destino de ambos estava prestes a ser selado.
Naquele momento, as lembranças de seus avós surgiram na mente de Gael. A imagem dos dois idosos dedicados, que fizeram tudo para criá-lo apesar das dificuldades, trouxe um sorriso aos lábios do garoto, mesmo em meio à situação crítica em que mal conseguia pensar. As memórias dos momentos compartilhados com o Sr. Silva e a Sra. Silva inundaram sua mente, trazendo uma sensação de gratidão.
Enquanto isso, o ciclope avançou em direção a Gael, erguendo a mão esquerda ainda chamuscada pelo ardor do garoto. Em um instante, o gigante liberou toda a força de seu braço, deixando a gravidade fazer o resto. O soco desceu como um martelo poderoso, acertando em cheio o local onde Gael estava de joelhos e destruindo completamente o ambiente ao redor do jovem.
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