O ciclope havia devastado totalmente o lugar onde Gael estava. Uma
nuvem de poeira subiu com o impacto do soco que o gigante deu no
chão, e destroços estavam espalhados por toda parte, mostrando a
força imensa da criatura colossal.
Quando a poeira começou a
assentar, o ciclope percebeu que seu soco não havia acertado Gael.
Ele havia conseguido desviar, mas não por conta própria. Um jovem
um pouco mais velho que Silva, com cabelos alaranjados e um palito de
madeira na boca, havia salvado o garoto com uma demonstração
impressionante de suas habilidades.
—Você lutou bem! —
Disse o rapaz ruivo, levando Gael para longe dali, em meio às ruínas
— Mantenha sua respiração para que a energia elemental consiga
curar seus ferimentos.
Era Vinícius Lubu que tinha chegado na
batalha e estava com cara de poucos amigos. O guardião estava
surpreso com o avançar do poder de Gael, que em pouco tempo, já
havia conseguido manifestar a verdadeira forma da sua espada.
—
M A I S U M F R A C O T E C H E G O U?!! — Gritou o ciclope,
querendo provocar o guardião sobre como ele havia derrotado Gael na
sua cabeça — S E V O C Ê É T Ã O F R A C O Q U A N T O E L
E, S E P R E P A R E P A R A M O R R E R!!!
O guardião
saltou da rua e seguiu levando Gael pelas casas, atravessando os
escombros da batalha que havia se desenrolado. Ele estava pensando no
que Silva havia conseguido fazer naquela luta até ele chegar:
—
Um controle excepcional da respiração em tão pouco tempo e a
verdadeira forma da sua espada já apareceu, tem alguma coisa
diferente nesse garoto.
Conforme seguia seu caminho pelas casas
daquela rua, encontrou então a pessoa que procurava. Era um jovem
também, que estava na reunião em que Gael havia sido apresentado
como substituto de Rick. Ele era um dos que estava de pé ao lado da
mesa, sua postura demonstrava uma aura de desleixo, mas, ao mesmo
tempo, de confiança em Vinícius. Silva respirava com dificuldade,
sua vista estava um pouco distorcida, mas ele conseguiu se lembrar de
quem se tratava.
O rapaz careca e de pele morena estava usando
uma camisa preta aberta como um colete, uma camiseta branca como
conjunto e uma calça preta. Ao ver a chegada de Vinícius, ele
correu para se aproximar. Era o mesmo que estava com os braços
cruzados e com a cara de poucos amigos na reunião. Agora, ele estava
atento e pronto para qualquer coisa que Lubu pedisse, ciente de que a
situação era realmente séria.
— Lucas, fique com o Gael por
aqui e auxilie-o com sua respiração — Lubu enfatizou o que seu
aprendiz deveria fazer — Foque nisso, por favor, não podemos
deixar ele morrer, Herhrick!
A resposta do discípulo era
carregada de inquietação, buscando entender melhor a situação
para garantir a segurança de Gael.
— O que aconteceu com
ele?
— O corpo dele ainda não estava preparado para uma
sombra desse nível, a pancada feriu muito seu corpo físico — O
guardião tentou transmitir as informações que havia deduzido da
intensa luta entre Gael e o ciclope, enquanto o olhar de Lucas
buscava entender a extensão dos ferimentos do atual colega.
—
F I C O U C O M T A N T O M E D O D E M I M Q U E D E C I D I
U F U G I R, G A R O T O?!! — Gritou mais uma vez o ciclope
tentando provocar Vinícius.
Lubu não se dirigiu a palavra ao
ciclope, apenas ignorou o monstro percebendo que Gael já estava
conseguindo estabilizar sua respiração.
— O ciclope parece
não conseguir manipular a energia elemental diretamente, mas
consegue transferi-la para seus golpes físicos. Seu poder está
claramente ligado ao elemento terra — disse Vinícius. Sua
capacidade de análise era impressionante; em poucos minutos
observando a situação em que Gael se meteu, ele conseguiu avaliar e
quantificar toda a força da sombra — O bastão dele deve ser feito
do seu elemento secundário, o vegue; provavelmente é a única coisa
que ele consegue gerar. Por isso, o golpe que Gael levou foi tão
forte, mesmo sem mostrar energia elemental visível.
Ao saltar
da rua onde o confronto estava ocorrendo, Vinícius já tinha
coordenado com Lucas o local onde cuidariam de Gael. O telhado de uma
das casas vizinhas, gravemente danificado pelo combate, tornou-se um
abrigo temporário para o grupo. Entre rachaduras e telhas quebradas,
o espaço oferecia uma visão estratégica do campo de batalha e
protegia do caos lá embaixo. A estrutura instável, porém segura o
suficiente, era o ponto de encontro onde eles preparariam o próximo
passo para garantir a segurança de Gael.
— Vou resolver isso
agora, Lucas. Mantenha-se atento e lembre-se de agradecer a Stef por
ter corrido para nos avisa — Vinícius se dirigiu a Lucas passando
suas últimas instruções e em seguida, dirigindo-se a Gael, que
estava caído no telhado, acrescentou — Fique aqui e concentre-se
apenas em recuperar seus ferimentos.
Antes de se afastar de
Gael, o jovem teve a oportunidade de observar os olhos de Vinícius
de perto, mais de perto do que no último encontro. O que viu fez com
que Silva compreendesse que Lubu não era apenas um garoto. A
aparência juvenil do jovem parecia ser apenas uma fachada, uma casca
que escondia algo muito mais profundo. Nos olhos do guardião, Gael
percebeu uma aura que revelava uma sabedoria imensa, acumulada ao
longo de muitas eras.
Lubu se afastou rapidamente de onde Gael
estava, lançando-se em direção à rua com uma velocidade
impressionante. No salto, ele cortou o ar, passando entre escombros
de asfalto rachado e paredes quebradas que marcaram a destruição ao
redor. Desceu sobre uma paisagem de árvores derrubadas, cujas folhas
e galhos estendidos cobriam quase o chão por completo e atravessou
portões amassados e carros dilacerados pelo caminho.
O guardião
fixou o olhar no monstro e liberou sua energia elemental, fazendo o
ambiente ao redor mudar instantaneamente. O clima começou a esfriar
rapidamente, com a temperatura despencando. O ciclope, ao sentir a
queda brusca na temperatura, viu sua adrenalina diminuir, enquanto a
dor em seu corpo intensificava. O desconforto se tornou insuportável,
especialmente no local onde seu braço havia sido decepado.
Vinícius
avançou com calma em direção ao monstro de um olho só. Ergueu o
braço direito e fez um movimento sutil com a mão, fechando os dedos
e canalizando sua energia diretamente para o centro do ciclope.
O
monstro ficou imóvel, como se tivesse sido petrificado. Incapaz de
se mover ou falar, o gigante estava sob o controle do recém-chegado
guardião. Vinícius abaixou o braço, e o ciclope caiu de cara no
chão.
Com uma postura casual e despojada, Lubu colocou as mãos
nos bolsos, como se estivesse apenas dando um passeio despreocupado.
Ele caminhou em direção ao ciclope caído, parecendo um adolescente
despretensioso voltando para casa após a escola. Saltando do chão,
se posicionou para sentar-se no ombro do gigante como se estivesse em
um banco de praça. Vinícius finalmente dirigiu a palavra ao
ciclope:
— Quem te mandou aqui? — Perguntou o guardião, e
gotículas de água se manifestaram no ar, criando um ambiente úmido
e propício para Lubu.
Enquanto a água flutuava no ar, as
pernas de Vinícius balançavam, transmitindo uma aura de calmaria
mesmo em meio aquele caos. Com a mão direita, ele manipulava as
gotículas como se fosse uma criança explorando novas habilidades,
transformando-as em pequenas esferas de gelo que giravam suavemente
em seus dedos.
— Grrr — Murmurou o ciclope, tentando dizer
alguma coisa, mas incapaz de se expressar completamente.
— Mil
perdões — Disse Vinícius, abrindo um pouco os dedos da mão
direita de forma sarcástica — Agora você pode falar.
— P O
R F A V O R, P O R F A V O R, N Ã O M E O B R I G U E A I S S
O! — Implorou o ciclope, em uma tentativa desesperada de apelar por
compaixão a Lubu. Porém, ao encarar o rosto implacável do
guardião, compreendeu que aquilo não surtiria efeito, e um riso
zombeteiro escapou de seus lábios — KIKIKI, V O C Ê A C H A M E
S M O Q U E T E C O N T A R I A?
— Não, eu já imaginava
que você não me contaria, mas pensei que tivesse algum amor pela
sua própria vida — Retrucou o guardião — Só que pelo jeito,
não existe nenhum sentimento dentro dessa sua podridão chamada de
corpo.
Vinícius se levantou do ombro onde estava sentado, deu
um salto usando os braços e então voltou a colocar as mãos nos
bolsos da bermuda. Mudou a direção do palito de madeira na boca e
caminhou com determinação até a perna esquerda do ciclope.
—
N Ã O I M P O R T A O Q U E V O C Ê F I Z E R C O M I G O, S
A I B A Q U E E L E V A I S E V I N G A R P E L O O Q U E V
O C Ê F A Z E R, S E N Ã O F O R E U, O U T R O V I R Á E A
S S I M P O R D I A N T E!!! — O ciclope proferiu tais palavras
com a face pressionada contra o chão, exalando sua fúria.
Lubu
estendeu a mão em direção à perna esquerda do monstro gigante. Ao
tocar a superfície áspera, um frio intenso surgiu dos seus dedos. O
gelo se espalhou rapidamente pela perna do ciclope, como se o inverno
tivesse chegado de repente. Uma bruma gélida tomou conta do
ambiente, e o ar parecia congelar com a poderosa manipulação
elemental do guardião.
Vinícius não hesitou em exercer sua
força sobre o membro petrificado. O som de estalos ecoou enquanto a
perna do ciclope se fragmentava em milhares de pedaços de gelo,
espalhando-se como estilhaços ao vento.
— AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!! — O ciclope urrou em agonia, mas nada podia fazer diante da implacável fúria do guardião e do domínio espetacular sobre o elemento congelante.
O chão estava agora
coberto por cacos de gelo, brilhando sob a luz difusa do
entardecer.
A perna congelada do ciclope estilhaçada lançou
fragmentos de gelo por toda a atmosfera. À medida que os cacos se
espalhavam, o brilho suave da luz do sol poente iluminava o campo de
batalha, refletindo um brilho cintilante nas pequenas partículas. O
pó de gelo flutuava no ar, criando uma nuvem reluzente que dançava
com o vento. Gradualmente, ele foi perdendo força e começou a
descer, cobrindo o chão com uma camada de pequenos fragmentos, que
brilhavam e reluziam sob a luz difusa do entardecer.
O ciclope soltou um
urro ensurdecedor, fazendo o ar vibrar ao seu redor, porém, para
Vinícius, nenhuma compaixão foi despertada. Ele seguiu em frente,
em direção à próxima perna do gigante, repetindo o mesmo processo
impiedoso: tocar, congelar e espatifar. O grito de dor do monstro
ecoou novamente, testemunhando o implacável poder do guardião.
—
O Q U E V O C Ê E S T Á F A Z E N D O? — Gritou o ciclope,
sua voz reverberando pelas ruínas do campo de batalha, enquanto a
imensidão de seu corpo ferido se destacava contra o cenário
destruído — O Q U E V O C Ê A C H A Q U E G A N H A R Á C
O M I S S O?
— Eu? Eu não ganharei nada — Disse o
guardião, emergindo da parte de trás do ciclope e avançando com
confiança em direção à cabeça do ser de apenas um olho. Seus
passos eram firmes, e sua expressão permanecia inabalável — Estou
te dando a chance de reconsiderar sua decisão. Sua morte poderia ser
rápida e limpa, mas você escolheu um fim doloroso.
— S A I B
A Q U E V O C Ê P A G A R Á P O R I S S O! — Cada palavra do
ciclope estava carregada de raiva, e sua voz ecoava com uma fúria
crescente enquanto Vinícius se aproximava implacavelmente de sua
cabeça. A tensão era palpável no ar — E L E V I R Á A T R Á
S D E V O– Antes que o ciclope pudesse concluir sua ameaça, o
guardião agiu com uma velocidade surpreendente. Como uma luz ágil,
Vinícius posicionou sua mão na cabeça do gigante caído, e em um
instante, o impacto foi devastador. A cabeça do ciclope congelou e
instantes se espatifou em pedaços, fragmentando-se em uma chuva de
destroços que se espalhou pelo entorno. O som reverberou todo o
local, preenchendo o ambiente com uma aura que demonstrava claramente
a diferença de seus poderes.
Após o ato, o guardião suspirou,
soltando uma respiração quente e controlada, e disse:
—
Então esperarei!
Comments (2)
See all