— Como disse, você conseguiu! — Disse Vinícius, sentando na areia completamente seco, o que chamou a atenção de Gael, já que ele estava ensopado dos pés à cabeça de uma forma que ele não tinha previsto.
— Como é que você consegue ficar seco, sendo que estava agora a pouco rodeado por água? — Perguntou Gael, que agora a pouco havia sido atropelado por uma onda.
— Isso tem a ver com o que vou te ensinar: o controle de um segundo elemento.
Silva se sentou ao lado de Vinícius e Lucas, enquanto Lubu indicava que o treinamento começaria ali mesmo. Ele iniciou com uma pergunta simples:
— Quando Karumo estava te treinando e você disse o nome do fogo pela primeira vez, sabendo o que estava fazendo, como foi a sensação daquele momento? — Gael se lembrou daquela experiência, da respiração que entrava pelo nariz e saía pela boca, e da forma como aquela energia crescia dentro dele:
— Eu senti que a cada inspiração e expiração meu pulmão queimava, era algo que vinha de dentro, algo que nunca senti na minha vida e nunca achei que pudesse sentir.
— Você reparou que a sensação que descreveu é interna? — Indagou Vinícius, sobre a perspectiva de Gael, que confirmou a pergunta com um balançar positivo com a cabeça.
— O segundo elemento é o oposto do primeiro e não tem um gatilho — disse o guardião, preparando-se para mudar de posição e ficar de frente para Gael. Ele queria mostrar ao garoto como o segundo elemento funcionava, e o ambiente ao redor deles já havia mudado apenas com a movimentação de seu corpo.
— ????? — Disse o guardião, a palavra desconhecida para manifestar a água em sua mão — Depois que você tem o manifestar do elemento pela primeira vez, não existe a necessidade de dizer o nome original dele, apenas quando se tem a intenção de lutar para valer contra um adversário. A manifestação da água em minha mão veio de dentro para fora por causa da minha respiração, quando inspiro pelo nariz e expiro pela boca. Mas o que acontece se invertermos essa lógica?
Vinicius fez da pergunta algo retórico, já que sabia que Gael não teria a resposta, e também entendia que Lucas não interromperia sua explicação. Assim que terminou a questão, algo começou a mudar em sua mão.
O olhar atento de Gael seguia cada movimento de Vinicius, e seu coração pulsava com a curiosidade sobre o segundo elemento. No momento exato, algo mágico aconteceu, enquanto a água parecia responder à sua respiração, fluindo com uma conexão intensa:
— Gelo? — Indagou Gael, com surpresa e encanto, ao ver a água, até então na mão do guardião, se transformar em gelo.
— Quando se inverte a respiração, o elemento em vez de vir de dentro pra fora, começa a vir de fora pra dentro. No caso, meu segundo elemento é o gelo. Lucas também consegue manifestar seus poderes desta forma, mas sem o total poder da água, já que o bestoj pertence a mim.
Lucas, por sua vez, realizou sua demonstração com graciosidade. A água surgia em sua mão direita, e pequenos raios começavam a brotar da superfície líquida, formando uma cena impressionante, com raios de luz dançando em meio a água.
— Todos os elementos estão dentro de você, mas também estão na atmosfera. A combinação deles pode aumentar ainda mais seu poder de combate — Vinícius concluiu sua explicação sobre como o garoto poderia se tornar mais forte.
— Pode parecer estranho no começo, mas assim como seu corpo se acostumou a andar e mover os braços ao mesmo tempo, você vai conseguir usar seus dois elementos juntos em uma luta! — Complementou Lucas.
— Então todos os nossos poderes são tão elevados assim por causa de uma simples respiração? — Indagou Gael, surpreso com a revelação de que algo tão natural como respirar poderia ser crucial no momento da luta.
— Você ficará abismado quando finalmente entender o quanto as coisas mais simples são as mais importantes para o nosso viver — Comentou Vinícius tecendo mais convicções na mente de Gael.
— A maneira como respiramos ajuda a energia elemental a fluir em nossos corpos, permitindo que manipulemos tanto o poder que sai quanto o que entra — desta vez, quem respondeu foi Lucas.
— Praticamente funciona como se fosse um canal para a entrada e saída dos nossos poderes. Agora você vai ficar teorizando para sempre ou vai mostrar para nós qual é o seu segundo elemento? — Provocou Vinícius, com um sorriso confiante no rosto, enquanto o cenário à beira-mar parecia acompanhar a expectativa daquele momento crucial.
— Você tem razão — Respondeu um Gael um pouco constrangido — Vamos tentar então.
A expectativa no ar era palpável, como se até mesmo a natureza estivesse em silêncio, aguardando o próximo passo do garoto. Ele juntou as pernas e quando ia fechar os olhos para mudar a respiração, foi interrompido por Vinicius:
— Acredita mesmo que seu inimigo dará a chance de você fechar os olhos para conseguir se concentrar? — Questionou o guardião, enfatizando a importância da preparação adequada em uma batalha real — Terá que fazer isso de olhos abertos, mas primeiro manifeste o fogo em sua mão.
O som das ondas continuava a embalar a cena, como uma melodia em harmonia com o treinamento do mais novo guardião. Cada gesto, cada palavra e cada respiração agora eram mais do que meros detalhes; eram elementos fundamentais para moldar o futuro do jovem protetor. A jornada de Gael estava apenas começando, e ele sabia que o caminho à sua frente seria desafiador, mas também cheio de possibilidades e crescimento.
Gael percebeu que Vinícius tinha uma abordagem de ensino bem diferente da de Karumo; afinal, eram dois guardiões que viam o mundo de maneiras distintas. Ele abriu a palma da mão e conseguiu criar uma pequena chama bem no centro dela. Então, começou a inverter a respiração, mas foi nesse momento que o grande problema surgiu. Ao tentar o novo estilo de respiração, as chamas começaram a se apagar. Em um ato de desespero, ele voltou a respirar da maneira comum.
— Vendo a sua forma de reagir, já consegui delimitar seus paradigmas que é conhecer e confiar — Disse Vinícius, mostrando saber as palavras que o leão dentro do eixo de Gael havia dito para ele — Essas foram as palavras do seu bestoj para você, correto?
— Sim, de uma forma invertida, mas sim, como você soube logo de cara?
— Todos nós temos paradigmas que nos definem como seres capazes de manipular a energia elemental. Isso é o que caracteriza um bem-aventurado. No entanto, apenas aqueles que superam esses conceitos enraizados em nossas mentes se destacam com seus elementos. Eu falei de forma invertida de propósito. Seu bestoj disse que, ao confiar nele, você ganharia conhecimento. Mas como as coisas não saíram como planejado, você seguiu pelo caminho oposto, correndo para o conhecimento atual em busca de confiança. Por isso, sua chama quase se apagou.
A mensagem que Gael recebeu de Vinícius fez todo sentido para ele. Emunn já havia explicado isso antes, mas, mesmo assim, ele ainda não conseguia confiar nele.
— Você tem razão, vamos tentar de novo — O fogo ainda tremulava na mão direita de Gael, que ainda mantinha sua respiração para controlar seu primeiro elemento.
Ele respirou fundo e trocou a forma de como o ar adentraria em seus pulmões, e viu as chamas vacilarem em sua mão novamente. Mas dessa vez, manteve a respiração para o segundo elemento. O ar gelado soprando ao redor de Gael trazia uma sensação única, como se o próprio vento estivesse esperando por aquele momento.
A energia não se dissipou, e quando Gael olhou para sua mão direita, seu fogo tinha se estabilizado, ou melhor dizendo, a chama em sua mão havia ficado maior. Assim o garoto percebeu a diferença de ter um segundo elemento em batalha.
— É o vento, meu segundo elemento! Ele consegue deixar o fogo ainda mais forte — disse Gael, surpreso com a descoberta. O garoto tinha uma expressão de espanto e admiração ao perceber a harmonia entre os elementos.
— Na maioria dos casos, o segundo elemento serve para reforçar o primeiro. O oxigênio que o vento trouxe para o seu fogo aumentou a chama na sua mão, assim como os raios no elemento aquático do Lucas intensificam seu poder de ataque, agora você começou a trilhar o caminho para ser um grande guardião — explicou Vinícius, ciente de que a química entre os elementos era essencial para continuar evoluindo na busca de Gael para se tornar o guardião mais forte entre eles.
Os três se levantaram do chão, e Gael se virou para se despedir de Lucas e Vinícius. O guardião apenas sorriu, balançou a cabeça e, colocando a mão na testa do garoto, disse:
— Você acha que seu treinamento acabou? Nós só fizemos o básico. O verdadeiro treinamento começa agora.
— Vamos, Lucas, ????? — Vinícius chamou o nome do seu elemento, invocando apenas a água em sua mão direita. O ambiente ao redor dos guardiões e discípulo se transformou, ganhando vida com a presença do elemento aquático. A luz do sol refletia nas gotas de água que dançavam em suas mãos, criando um cenário encantador.
Lucas, por sua vez, combinou água com eletricidade, criando uma mistura poderosa de raios e água. Ele sorriu para Gael, mostrando que não pegaria leve com o garoto.
— Ruja, Emunn! — O fogo tomou a mão de Gael, trazendo à tona a espada do garoto. O ambiente pareceu ganhar um brilho ainda mais intenso com o poder do fogo, enquanto Lucas e Gael se chocavam com suas habilidades.
Vinícius, observando os dois lutando, foi transportado para um lugar especial, cercado pelas águas do mar. Era o seu eixo, o local onde encontrava respostas e se conectava com seu verdadeiro eu.
— Olá Sarko, há quanto tempo? — Questionou Lubu, demonstrando sua astúcia, mesmo sem virar para trás para ver quem se aproximava.
Sarko tinha a aparência imponente de um tubarão-branco, com a pele reluzindo em tons prateados e azulados. Suas nadadeiras cortavam a água com elegância, e seus dentes afiados estavam à mostra, conferindo-lhe um aspecto intimidador. No entanto, sua postura era surpreendentemente tranquila, sem qualquer sinal de ameaça. A aura que o cercava era serena e misteriosa, como se escondesse segredos profundos sob sua forma de predador.
Apesar de sua aparência de grande predador do mar, Sarko tinha uma característica humana que intrigava Vinícius. Seus olhos expressavam uma sabedoria ancestral, como se tivessem testemunhado séculos de história e evolução. O olhar do tubarão-branco era penetrante, capaz de enxergar além das aparências e adentrar a essência das almas.
— Astucio como sempre, Vinícius, mas você realmente acredita no que está fazendo? — Indagou o ser que se aproximava sorrateiramente por trás do guardião.
— Sim, se o Rick confiou nele, devo colocar minha vida nas mãos desse garoto se necessário — Respondeu Vinicius, ainda sem olhar para trás, mantendo sua convicção naquele momento importante.
— Mas você realmente acredita que ele ficará ao nosso lado na guerra? — A pergunta de Sarko levantou a incerteza sobre a lealdade de Gael na batalha que se aproximava.
— Ainda não sei, mas precisamos nos preparar!
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