— Mas que raios você acabou de fazer aqui? O que foi que você derrotou? — A pergunta veio de Luis Felippe, que ainda estava atônito com a situação.
— Daniella me disse que era um orc, um ser da mitologia nórdica. Provavelmente, ele veio da dimensão que os deuses nórdicos residem — respondeu Gael, observando se seus amigos estavam bem e, logo em seguida, fazendo a pergunta óbvia — Vocês estão bem?
— Que pergunta é essa sobre se estamos bem? — reclamou Daniella, tentando chegar direto ao assunto — Como eu disse, você tem algumas explicações para nós. Agora, desembucha!
— Vocês realmente não têm pena de mim, né? Acabei de lutar com esse ser e já me enchem de perguntas — afirmou Gael, coçando a cabeça, mostrando que estava sem graça com tanto de questionamentos
— Luta? Você deu uma surra nele! Quanto tempo você ficou treinando? — questionou Luis, querendo saber o que seu amigo ainda não havia falado sobre suas evoluções.
— Com o treinamento que o Vinícius aplicou a mim, consegui aumentar em quase 40% minha energia elemental, a diferença de poder entre eu e o orc era gritante desde o início, ele nunca teve chances desde o começo da batalha — Respondeu Gael o questionamento de Luis já pensando como responderia à pergunta de Daniella.
Gael explicou que sentia que era muita informação para compartilhar de uma vez e que falaria sobre isso com seus amigos em um momento mais tranquilo. No entanto, com o surgimento do orc, não dava mais para deixar o assunto de lado. Ele contou que, além dos guardiões, havia mais seis mundos fora da Terra que abrigavam vida. Essas dimensões eram a origem dos deuses que conhecemos das mitologias, conhecidos na verdade como bem-aventurados. Gael também mencionou que, há muito tempo, todos esses mundos eram um só. Durante o caminho de volta, ele compartilhou tudo com eles.
— Caramba! — Essa foi a única palavra que Daniella conseguiu emitir no final da explicação de Gael — É até um pouco difícil imaginar que isso seja possível, na verdade, é completamente impossível que isso seja possível. Eu mesmo te chamaria de louco se não tivesse visto você pulando pra cima e pra baixo em um combate.
— Foi por isso que evitei tocar no assunto até agora.
— Então você está me dizendo que seres como Thor, Zeus, Odin e Hades, todos esses deuses que agora são bem-aventurados, estão vivendo suas vidas por aí durante todo esse tempo? — Luis perguntou, curioso com esse novo universo diante de seus olhos — Você já viu algum deles?
— Não, mas tudo leva a crer que verei qualquer um em breve, mas só para vocês saberem, os guardiões são mais fortes que eles, e eu sou um guardião.
— Se tá me zoando de que você pode ficar mais forte que um deus? — Questionou Luis incrédulo com a fala de Gael.
— Não, é verdade, ou, pelo menos, foi o que os guardiões me disseram — Respondeu Gael o questionamento do seu amigo.
Mas, por mais que os dois interagissem daquele jeito de forma brincalhona, Daniella ainda estava séria com o que havia acabado de presenciar e escutar, ao ponto de ter chamado a atenção de Gael:
— Está tudo bem, Dani? Foi muita informação para você?
— Tá, estou apenas tentando raciocinar sobre o que você disse. É muita coisa para entender que estivemos todo esse tempo sendo “cuidados” por esses bem-aventurados, se é que dá para dizer assim, uma forma de cuidado — A sempre centrada Daniella trouxe suas reflexões, mostrando que a situação não era só empolgação e que os humanos estavam sendo arrastados para uma guerra que não tinham poderes para lutar.
Tanto Gael quanto Luis ficaram cabisbaixos de imediato, como se toda a empolgação tivesse sido drenada de repente. Até Daniella sentir a necessidade de intervir:
— Não fiquem tristes, não fiquem tristes, por favor, esses são pensamentos só meus — Disse a garota rindo por deixar o clima um pouco pesado — Vamos garotos, eu sei que vocês conseguem se empolgar novamente.
Gael e Luis deram um sorriso para Daniella, mas os dois sabiam que a garota tinha razão. O assunto entre os três acabaria por ali, já que Silva havia chegado em casa. Boz e Felippe continuariam suas caminhadas até as suas.
O garoto entrou se despedindo, enquanto Luis e Daniella continuaram a caminhar. Mas Felippe conhecia sua amiga um pouco mais que Gael e emendou uma pergunta assim que o garoto entrou:
— Por que você não contou para ele? — Daniella olhou para Felippe, com uma expressão sem graça, e seus olhos disseram a Luis que ele estava certo.
— O que você quer dizer? Eu não tinha nada par—
— Eu também vi, Dani. Eu vi o Gael matando o orc, e eu sei que você também viu — Luis interrompeu a justificativa de Daniella, deixando a garota completamente sem saber como lidar com o assunto.
— Eu não disse porque não sei nem o que vi. É muita coisa para a minha cabeça. Como os humanos podem aguentar uma guerra desse porte? — questionou Daniella, com os olhos vidrados em lembranças tumultuadas. A mente dela era como um mar revolto, incapaz de compreender os horrores que presenciara — E ainda por cima, alguém que cresceu conosco é a única esperança para ajudar nosso mundo a vencer essa guerra. Já pensou no quão louco isso é, Luis?
Daniella estava certa, pois a perspectiva que se abria diante deles era sombria e ameaçadora. Luis sentiu um arrepio ao imaginar as batalhas que viriam a partir daquele ponto.
Dentre todos os pensamentos que atormentavam sua mente, a ideia de inúmeras vidas sendo ceifadas, como flores murchas arrancadas de seus caules, era a mais angustiante. O destino cruel que aguardava os bem-aventurados e as sombras era uma guerra da qual os humanos não tinham nada a ver. Um cenário repleto de desespero, tristeza e desolação.
— Além de tudo isso, eu não quero colocar mais peso nas costas do Gael. O que vai mudar na cabeça dele se descobrir que nós também somos capazes de ver esses seres? — questionou Daniella, finalizando seus argumentos. Sua preocupação se refletia em seus olhos, que brilhavam com inquietação.
— Você tem razão, mas uma hora ou outra vamos precisar falar sobre isso com ele. Quando estiver pronta para contar, nós falamos juntos — disse Luis, propondo um acordo sobre quando abordariam Gael.
— Tudo bem — Respondeu a garota, aceitando a proposta com um aceno suave.
Durante o resto do caminho, os dois seguiram em silêncio para suas casas. Luis virou à esquerda, enquanto Daniella seguiu à direita. As ruas se estendiam diante deles, ladeadas por árvores majestosas e casas de todas as formas possíveis.
Ao chegarem, abriram os portões de suas casas, adentraram pela porta e disseram:
— Cheguei.
As casas, com suas estruturas familiares, transmitiam aconchego e segurança, mas não houve resposta; não havia ninguém em nenhuma delas. Luis deixou sua mochila na prateleira da sala, como seu pai havia lhe ensinado, enquanto Daniella colocou a dela na cadeira da mesa da cozinha, como fazia todos os dias ao voltar da escola.
Os dois se dirigiram para os quartos. Luis passou pela sala e pela cozinha até chegar ao seu recinto, que ficava no meio do corredor, enquanto Daniella subia as escadas que levavam ao dela.
Mas quando abriram a porta dos respectivos quartos, houve uma surpresa. Haviam pessoas completamente desconhecidas sentadas naqueles recintos.
No quarto de Luis estava um homem sentado em sua cadeira de computador. Ele parecia estar na casa dos 30 anos, com uma presença imponente. Seu cabelo era liso e curto, destacando-se pela tonalidade morena de sua pele. Seus olhos escuros, profundos como jabuticabas, revelavam mistérios e experiências que transcendiam as fronteiras do comum. Sua aparência remetia às terras do oriente médio, o que deixou o garoto intrigado.
No caso de Daniella era uma mulher sentada em sua cama com as pernas cruzadas, com a mão em seu queixo, como se estivesse esperando que a garota fosse cruzar a porta a qualquer momento. Ela também aparentava estar na casa dos 30 e poucos anos, com uma elegância cativante. Seu cabelo tinha um tom forte de castanho, quase um ruivo, e ondulava suavemente. A pele branca como leite realçava a profundidade de seus olhos, que brilhavam em um azul intenso, refletindo a calmaria de um mar profundo e bravo.
Luis e Daniella ficaram paralisados na entrada da porta, observando as duas pessoas sentadas em seus quartos. A atmosfera estava carregada de perplexidade e curiosidade. As palavras se acumulavam em suas mentes, mas a pergunta que se formou em suas bocas foi:
— Quem é você?
Os dois sentados em seus lugares sorriram e responderam respectivamente como se estivessem orgulhosos do que falariam:
— Eu sou Atena.
— Eu sou Gilgamesh.
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