Breno acorda querendo morrer.
Talvez morrer o faça se sentir melhor do que está se sentindo agora enquanto vivo. Ele toma uma aspirina que tira de dentro da bolsa que usou durante a semana, uma última recordação da escola. A porra do remédio de dor de cabeça não faz efeito e ele quer bater sua cabeça contra a parede pra ver se a sensação melhora.
Ele bebe água da torneira e busca por seu celular, rezando para que tudo que aconteceu ontem esteja na sua galeria de fotos e não na internet. Deus sabe que a noite anterior havia sido fora do comum. O beijo de Sol e tudo mais.
Ele acha o celular dentro do casaco que havia usado ontem, o celular está com 1%, então ele corre contra o tempo do universo para carregar o celular antes que a última porcentagem de bateria se vá e ele possivelmente perca todos os seus dados da noite anterior.
Ele não consegue chegar a tempo.
Seu próximo objetivo é tomar banho sem morrer, ele não tem banheira na sua suíte, nem mesmo uma cadeira de plástico para só sentar embaixo do chuveiro e existir, e ele não sabe se o seu corpo o sustenta para ficar tanto tempo em pé. Mas ele consegue, ele tira as roupas da noite anterior, coloca no cesto de roupa suja e entra no banho com água fervente, mesmo que não esteja frio.
Era verão em Lima Preta, mesmo com o vento refrescante de verão, a cidade poderia ser um forno, mas tomar banho frio logo pela manhã estava fora de questão, sem contar que a água quente melhoraria a dor de cabeça. Ele entra no banho com muita vontade de colocar as roupas de volta e dormir até o outro dia, mas em minutos ele parece ter esquecido a ressaca e está cantando a plenos pulmões algumas músicas da noite anterior. Ele se sente ótimo, renovado.
Breno escova os dentes, passa o desodorante, e se deixa ficar só de toalha sob a cama seca por um tempo antes de sair do quarto e fingir que voltou uma da manhã como havia prometido para os pais. Nesse período em cima da cama, só deixando que o ar puro encha seu espírito de ânimo, ele começa a checar as redes sociais, primeiro o Twitter. Não tem muita coisa lá para ele comentar, então ele dá alguns RTs e curte alguns memes antes de falar que a noite anterior foi memorável e pular para a outra rede social. Instagram. Ele postou alguns stories mais comportados da noite anterior e mandou um meme relacionado à festa nos ― melhores amigos ― antes de ver os stories de uma boa parte de seus amigos e curtir meia dúzia de fotos. E assim, Breno finalmente chegou ao WhatsApp.
Na verdade, Breno sabia que deveria ter começado pelo WhatsApp, mas ele criaria um Tumblr se isso significasse que ele não teria que provavelmente ver uma mensagem de Sol ou relacionada ao que ele e Sol fizeram na noite passada.
10 conversas no aplicativo. A primeira conversa era a de Theo, e só ele já havia deixado 37 mensagens. Kenai pelo menos deixou só 5. E Luna e Marisol, que os céus a tenham, não falaram nada. Nem Sol. O grupo dos amigos tinha 147 mensagens. Em qual dessas conversas estaria a bomba era a questão. Provavelmente em todas elas.
Breno abriu a de Theo.
E rapidamente desejou não ter aberto.
As primeiras mensagens eram de ontem à noite antes de ele chegar com as bebidas, Theo havia mandado pelo menos dez mensagens perguntando se ele já estava chegando e se tinha conseguido as bebidas. Havia uma mensagem de um Theo bêbado dizendo que o Kenai estava doido no banheiro e uma foto do Kenai jogando água em seus tênis. Ok, Breno não vai tentar entender as razões de Kenai. A mensagem seguinte é Theo dizendo que eles estão voltando pra rodinha de amigos seguido de uma foto de Breno e Sol se beijando contra a parede. Então é assim que eles pareciam do outro ponto de vista? Wow, era uma sensação estranha ver ele mesmo beijando Sol. Breno então entendeu o tanto de sinais de exclamação e interrogação na foto. E mais alguns emojis e GIFs de um Theo bêbado e perplexo.
Acredite, Theo, Sol pegou todos de surpresa.
A próxima mensagem, e última, é uma que Theo havia mandado naquela manhã. Bem mais direto do que na noite passada, devemos pontuar. Breno encarou aquele ‘Cara, o que que aconteceu noite passada?’ sem saber muito bem como interpretar. As chances de Theo não estar se referindo ao beijo eram muito mais próximas a zero do que de um.
Breno perdeu bons três minutos pensando numa boa resposta para fugir disso e o máximo que conseguiu foi digitar um ‘Não sei do que está falando’ e rezar para Theo não estar online. Pelo menos não no momento. Ou talvez estar online, mas deixar que Breno envie aquilo e consiga sair a tempo do chat. Uma vez visualizado, Breno provavelmente será confrontado.
Mas lembrem-se, Breno nem ao menos conseguiu fugir da ressaca, então claramente ele não conseguiria fugir do seu melhor amigo fofoqueiro. Quem dera isso fosse possível.
Quando Breno digitou sua tentativa de fugir do assunto e enviou, não demorou mais do que alguns segundos para que Theo o respondesse com um certo deboche e o relembrasse que eles se conheciam há anos, que eles experimentaram muitas coisas juntos e que Theo o havia dado a primeira cerveja de sua vida e o ajudado quando tudo estava confuso, então Breno não tinha o direito de mentir diretamente em sua cara.
Breno até tentou falar algo como ‘Coisas confusas da vida? Que coisas confusas da vida?’, mas Theo não estava para brincadeiras, então citou a foto que havia mandado de Breno e Sol se beijando e disse ‘Não foge do assunto’.
Theo queria explicações e queria saber se Breno e Sol já haviam conversado sobre o elefante branco na sala de jantar ou se iriam deixar o mesmo climão que conduziram até minutos antes do beijo gritar por mais silêncios constrangedores.
Breno: ainda não conversamos. e provavelmente não foi nada para ela.
Theo: e pra você?
Breno tinha que pensar. Fazia tempo que ele não pensava sobre isso, quer dizer, ele teve um pequeno crush em Sol quando eles tinham tipo doze anos, mas ele havia superado, e claro, Sol era bonita e inteligente e também era confiante o suficiente para saber o que queria e o que era. Breno começou a pensar em Sol de um jeito muito incomum depois do beijo, talvez ele ainda estivesse bêbado. Provavelmente a bebida o tivesse deixado confuso. Ele não era de se apaixonar, ele dificilmente se apaixonava por alguém, fazia anos que não se apaixonava, e ele não queria se apaixonar pela sua melhor amiga de todas as pessoas.
Breno então só digitou algo que não comprometesse sua confusão. Mas parecia que tinha piorado para ser bem sincero.
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