Theo queria explicações e queria saber se Breno e Sol já haviam conversado sobre o elefante branco na sala de jantar ou se iriam deixar o mesmo climão que conduziram até minutos antes do beijo gritar por mais silêncios constrangedores.
Breno: ainda não conversamos. e provavelmente não foi nada para ela.
Theo: e pra você?
Breno tinha que pensar. Fazia tempo que ele não pensava sobre isso, quer dizer, ele teve um pequeno crush em Sol quando eles tinham tipo doze anos, mas ele havia superado, e claro, Sol era bonita e inteligente e também era confiante o suficiente para saber o que queria e o que era. Breno começou a pensar em Sol de um jeito muito incomum depois do beijo, talvez ele ainda estivesse bêbado. Provavelmente a bebida o tivesse deixado confuso. Ele não era de se apaixonar, ele dificilmente se apaixonava por alguém, fazia anos que não se apaixonava, e ele não queria se apaixonar pela sua melhor amiga de todas as pessoas.
Breno então só digitou algo que não comprometesse sua confusão. Mas parecia que tinha piorado para ser bem sincero.
Breno: você sabe quais meus sentimentos sobre ela.
E ele esperava ser compreendido em relação a isso. Theo sabe que Breno teve um crush em Sol quando eles eram crianças, mas isso era passado. Para a surpresa de Breno, a resposta de Theo indicava que o loiro estava mais doido ainda do que Breno achava estar.
Theo: cara, você gosta dela!!
Theo: mano, olha, não precisa ficar confuso com seus sentimentos. tudo bem que a sol costuma sair e ficar mais com garotas, mas ela é bi!
Theo: ela queria aquilo, se ela não tivesse, o beijo teria dado só uns três segundos, e não três horas!
Theo: agora me conta o que aconteceu.
Breno: não durou três horas!!!
Theo: me conta o que aconteceu!!
Breno: ok.
Breno então pensou em como descrever tudo o que havia acontecido. Era estranho fazer uma retrospectiva do beijo. Pelo menos, sem querer interromper a lembrança, porque tudo o que Breno vinha fazendo era tentar interromper seus próprios pensamentos quando eles tomavam aquele rumo.
Lentamente, Breno começou a digitar. Eles estavam dançando com todos os amigos, os amigos foram embora para algum lugar longe com desculpas sem noção, Breno e Sol ficaram ali com cerveja na mão e a tensão que os perseguia desde a briga, então Sol e Breno pediram desculpas um para o outro e Sol e Breno começaram a dividir a terceira ou quarta latinha de cerveja, Sol começou a falar sobre algo com High School Musical, Breno teve aquele pensamento estranho sobre o sorriso dela durante uma provocação e sobre como ele se sentia estranho analisando aquela situação que parecia um flerte, ele falou sobre como tentou dar água à Sol achando que ela poderia estar mais bêbada que ele e como por um segundo eles se colidiram e talvez Breno tenha soltado algo sobre o sorriso de Sol e depois eles se beijaram porque Sol o beijou. Breno resumiu como foi estranho perceber que estava beijando Sol e como estava gostando. Em como ele saiu para o banheiro e como havia voltado e percebido que não iria mais beijar Sol naquela noite.
Esse parágrafo foi bem grande, mas a verdade era que Breno só precisou de umas cinco mensagens para resumir tudo.
Breno: vocês foram embora e a gente ficou sozinho. o climão ficou presente e ela me ofereceu a cerveja dela pra gente dividir.
Breno: era só nós dois sozinhos dividindo a cerveja e meio que naquela conversa meio bêbada e meio flerte sei lá parecia só provocação de amigos como a gente sempre faz.
Breno: ela falou algo sobre high school musical que pareceu bem doido, então eu tentei levar ela pra beber água e ficar mais sóbria, só que uns segundos depois a gente tava se beijando.
Breno: e pqp caralho mano ela beija muito bem, ela é tipo TUDO que você pode imaginar de bom numa garota. beijar ela foi estranhamente ‘!!!!’, eu queria repetir mas não rolou, e eu meio que não sei como me sinto sobre isso.
Breno: agora não sei o que vai acontecer, tô esperando a bomba explodir.
Bem resumido, não é?
Breno esperava que Theo entendesse toda a situação e até mesmo não tocasse mais no assunto, só mandasse um meme legal, talvez algo do Twitter, e deixasse a vida seguir, mas Theo não fez isso. Mais uma vez, antes que Breno pudesse sair do chat, Theo enviou mais mensagens.
Theo: meu melhor amigo foi fisgado!!
Theo: eles crescem tão rápido… num minuto estão de boas, e no outro apaixonados…
Theo: espera...
Theo: isso significa que vocês ainda não se falaram depois de ontem?
Theo: ela não te chamou? você não chamou ela?
Theo: ninguém vai falar do elefante branco fazendo cocô no meio da sala???
Breno: não. esse ‘não’ é pra todas as suas perguntas.
Theo: e por que você não chama ela??
Theo: aproveita e fala que você quer repetir porque você voltou a ter um crush por ela, namorar ela, casar com ela, ter filhos e cinco gatos resgatados.
Breno: ataaa
Breno: uhum, vai nessa mesmo
E para complementar sua conversa sarcástica com Theo, Breno enviou uma figurinha de Harry Styles dizendo “O que disse, querido?” com uma pose afetada. Sim, isso resolveria a situação e faria Theo cair na realidade. Não havia a menor possibilidade de ele conversar com Sol sobre o beijo, o tanto de coisa que tinha a se perder durante a possível conversa era uma lista grande demais para ser contada. Ou registrada. Além de toda a situação romântica de Breno.
Começando com mais de 8 anos de amizade e a preferência por romances longos, duradouros e dentro dessa realidade.
Sim, o que havia acontecido na festa foi inesperado, estranho e bom, mas não valia o preço de uma amizade de anos recém reatada, mesmo que laços de intimidade fosse necessário para que ele tomasse qualquer iniciativa romântica. As coisas seguiram um curso por anos e estava tudo bem, mudar isso agora só tornaria a bola de neve chamada futuro ainda maior. Breno não queria isso, ninguém queria isso. Todo mundo tinha que deixar pra lá e seguir em frente.
Breno colocou uma roupa, fez um coque no cabelo e desceu as escadas até a cozinha. Ele não fazia ideia de que horas eram, ele se lembra de ter pego o celular antes para ver, mas esqueceu e olhou só as notificações, e agora o celular estava em seu quarto carregando até chegar pelo menos em 80%.
― Boa tarde, filho. – foi o que seu pai Nando lhe disse. O notebook de Nando estava aberto e havia uma xícara de café ao lado, Breno olhou para o lado de fora e viu o sol brilhando, mas não como se fosse manhã.
― Que horas são?
― Quatro e meia da tarde. – Nando riu. ―Theo ligou mais cedo aqui para casa, porque você não atendia o telefone ou respondia às mensagens e quando ele contou que a festa de ontem havia sido 'inesquecível' e que só haviam chegado depois das duas da manhã, eu e seu pai achamos que você poderia dormir até um pouco mais tarde.
Aquele era seu pai Nando falando, o pai que tinha vivido demais em festas para se sentir confortável em cima de moral e bons costumes, se fosse seu pai Anderson, Breno estaria ouvindo sobre como a vida é curta para se viver, mas ficaria mais curta ainda se ele não tivesse boas horas de sono e se alimentasse bem. Anderson tinha uma tendência meio hiperbólica para falar a verdade, enquanto Nando era a calmaria em pessoa, coisa que o marido atribuía às velas aromáticas e ao yoga.
Breno encheu um copo de água e fez uma xícara de leite com chocolate o mais rápido que pôde, havia uns biscoitos de água e sal em algum pote no armário. Enquanto preparava tudo, Nando parecia bem concentrado na crítica de música que estava escrevendo, murmurando algumas palavras e parando às vezes para pensar sobre uma frase. Ele parecia tão sereno, Breno lembra que uma vez numa festa com alguns amigos dos pais, o tio de Theo tinha falado sobre como Nando parecia indomável, elétrico, quase sempre descrito como barulhento nos tempos de adolescência, principalmente em cima de um palco tocando guitarra.
Breno se perguntava se esse ar de serenidade veio porque ele tinha conhecido seu pai Anderson e conquistado o emprego de seus sonhos, ou se foi mesmo pelas velas aromáticas e o yoga que seu pai Anderson tanto falava. Breno se viu perguntando se em algum momento ele se imaginou assim com Sol quando eles tinham 12 anos, e se era louco como ele quase podia ver os dois assim no futuro naquele instante.
― Você está de ressaca. – Nando pontuou do nada, parecia que por mais que Breno tentasse manter a aparência de ressaca longe da vista de seus pais, Nando sempre era capaz de notar com uma simples passada de olhos. ― E por algum motivo sua mente parece estar trabalhando mais do que a minha nessa cozinha. O que aconteceu?
Breno permaneceu em silêncio. Ele confiava nos pais, mas era só que tudo parecia super irreal e abstrato naquele momento e ele nem sabia como descrever o que estava acontecendo.
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