Faltava menos de 5 dias para o aniversário de Breno e tudo dentro dele era uma grande confusão.
Ele deveria estar se sentindo assim? Quer dizer, ele estava prestes a atingir a maioridade, não era para ele ter uma mente mais clara e organizada e madura e tudo aquilo que lhe prometeram?
Porque ele ainda se sentia perdido em meio a tantos sentimentos, agora ainda mais, ele se sentia extremamente adolescente e imaturo.
Primeiro de tudo tinha Sol, eles ainda estavam no mesmo lance, um lance que já fizera Breno se perguntar se aquilo era real, porque frequentemente parecia muito bom para ser verdade. Como se a qualquer momento tudo fosse explodir e mostrar uma razão pela qual amigos não deveriam namorar, e por isso Breno permaneceria solteiro para sempre.
E tinha esse comentário em sua cabeça, aquele pensamento constante que tinha sobre Sol e que a cada segundo queria saltar de sua boca e continuava a se manter engasgada na garganta.
Ele ainda estava buscando por um jeito de expressar isso sem parecer idiota.
Segundo, seu aniversário estava chegando, a ideia do acampamento também, mas Breno ainda não tinha discutido tão a fundo com seus pais sobre isso. Ele havia lançado uma breve ideia, mas ainda tinha outra coisa como a terceira coisa em sua cabeça que o fazia pensar mais sobre o assunto.
E falando em terceira coisa, a terceira era a conversa. Tipo, a conversa. Ele vinha dizendo para si mesmo que teria essa conversa com seus pais aos 18 anos, que 3 anos seria o suficiente para ter certeza para falar com todas as letras sobre sua sexualidade. Agora que o momento estava chegando, Breno começava a se perguntar se era necessário. Mas era, ele sabia que sim.
Seus pais haviam feito algo parecido quando tinham 18 anos, na sua cabeça parecia racional que ele também deixasse isso claro, por mais que não fosse tão necessário quanto parecia ser. Era uma ação de confiança. Isso, era sobre confiança.
Não seria a mesma coisa se ele falasse por celular, tinha que ser cara a cara, não era como a questão com Sol que talvez fosse até um pouco mais original se ele... Ok, talvez ele tivesse acabado de entender como resolver a primeira questão que tomava constantemente seus pensamentos.
Breno: estou indo para a sua casa agora.
Breno: finja que é algo sobre o grêmio estudantil, algo sobre a formatura, não sei...
Breno: só preciso da certeza de que estaremos sozinhos no seu quarto sem que ninguém nos atrapalhe... só isso...
Foi o que ele mandou para Sol.
15 minutos depois, eles estavam no quarto de Sol, e mesmo com toda a afobação de quando chegou como se estivesse num caso de emergência, agora Breno não poderia estar melhor.
Ele podia sentir a língua de Sol e a sua se enrolando e se massageando, os dois compartilhando o mesmo gosto de cookies de chocolate, os mesmo cookies que as mães de Sol haviam deixado no quarto para eles como um pequeno lanchinho, enquanto suas mãos exploravam o corpo um do outro por cima do tecido das roupas.
E eles se beijavam sem realmente querer mais do que isso, sem querer pular etapas ou algo do tipo, uma ação cheia de inocência e hormônios que os ajudava a nadar conforme uma correnteza de novidade e entusiasmo.
Até que eles se separaram por um tempo, aquele curto tempo para tentar entender o que estava acontecendo, um tempo para olhar nos olhos um do outro como ambos vem fazendo desde a festa de Tainan há quase um mês.
― Hey. – Sol o chama.
― Oi. – Ele responde ainda em transe.
― Isso tudo... Todo esse alarme... É sobre a conversa com seus pais? Quer dizer, eles são LGBTs e seus pais, eles provavelmente seriam as últimas pessoas a te ignorar por algo que você já nasceu sendo.
Breno suspirou, eles vinham debatendo muito sobre isso ultimamente, e depois de conversar com Luna e Marisol, ele acha que é porque Sol quer algo público e honesto, algo verdadeiro com todas as palavras, com ninguém negando quem realmente é.
― Eu não sei se você entenderia...– Breno começa.
― Se você tentar me explicar, eu posso tentar entender, serve?
― Serve. – Ele disse tomando um pouco de ar antes de explicar. ― É que... Assim... Quando você tem pais que fazem parte da comunidade LGBT apenas por causa da atração sexual, e mesmo assim tem uma grande vantagem em cima disso por conta da cor da pele, como o caso do meu pai Nando, e por conta do privilégio econômico como meu pai Anderson, bem... Você sabe, eles provavelmente iriam me aceitar, mas mesmo assim, eu tenho medo de que eles mudem a maneira como me tratam, mas não da maneira que eu gostaria que eles mudassem, sabe? E eu nunca falei disso diretamente e em voz alta, acho que isso deixa tudo mais assustador.
― Mas você disse que isso nunca seria uma barreira.
― Eu disse que provavelmente não seria uma barreira permanente, mas algo vai mudar... E eu só... Eu não sei se quero que tudo mude agora. Apesar de todas as conversas, mesmo com tanta troca de ideias e intimidade, eu não sei se eles sabem que eu sou...
Sol assente para que ele continue, Breno pode ver pela expressão em seu rosto que ela está entendendo e que não vai forçá-lo a dizer algo.
― Quando eles falam isso, eles parecem um pouco mais... Fechados... Não sei. Eles parecem menos eles mesmo quando eles falam sobre como eles tiveram que se assumir quando tinham minha idade, se assumir LGBT num período onde ser homossexual era falta de sanidade mental e imã para AIDS. Quando eles contam pra mim sobre isso, é como se eles confiassem em mim para se abrir, e se eu não falar nada, eu acho que é como se eu estivesse quebrando essa confiança, sabe?
Sol passou os braços ao redor do pescoço de Breno olhando em seus olhos como se soubesse pelo que ele iria passar.
― Sabe, a melhor dica é procurar por um horário oportuno, entende? Um em que estejam de bom humor após uma saída de casa ou uma comemoração, daí eles não vão poder dizer que você estragou nada, porque o programa já acabou. – Sol disse baixinho, e continuou: ― Não que eu ache que algum dia seus pais vão dizer que você estragou algo por se “assumir”, mas esse é um conselho que eu dou para todos que pretendem dizer em algum ponto. E outra coisa, Brê, se você não quer ver como vai ser depois, você pode contar isso algumas horas antes de a gente ir acampar, né? Seus pais já deixaram?
― Ainda não disseram que sim com todas as letras, mas digamos que sim.
Breno puxou Sol para mais perto.
― Obrigado pelo o que falou. Isso foi muito bonito e inspirador, talvez eu pudesse usar um pouco mais dessa fonte para o que vem no futuro, hm? Talvez se.... – E interrompendo a própria frase, Breno fingiu pensar por meio segundo antes de voltar a beijar Sol.
Ambos sorrindo no meio do beijo e às vezes rindo entre uma encostada de lábios ou outra. A cama de Sol estava completamente bagunçada, porque Breno continuava mexendo os joelhos pelo tecido querendo que a garota chegasse mais perto dele para fazer cafuné.
Sol tinha medo que a mãe entrasse e achasse que algo mais tinha acontecido, seria complicado até mesmo tentar explicar que eles estavam apenas ficando por agora, mesmo que os sentimentos de Breno quisessem e sentissem mais.
― Você acha que nossos pais estão desconfiados? – Ela pergunta quando se afastam e Breno descansa sua cabeça no colo da morena.
― Eu não sei... A gente sempre foi muito grudado, acho que eles pensam que só deixamos a amizade mais próxima. E tecnicamente deixamos. – Ele riu da piada final.
― Bobo. – Ela sibilou antes de dar um singelo beijo em seus lábios mais uma vez e sentir seu coração cheio de amor.
Ela com certeza não se arrependeu de ter beijado Breno quando estava parcialmente bêbada na festa. E era isso que importava.
Breno pensou que aquela era a hora perfeita para falar o que ele pensava.
― Sol… – Chamou.
― Oi.
― Tem algo que eu quero te falar há algum tempo, mas eu não consigo falar olhando pra você, mesmo praticando no espelho, então... Abre seu WhatsApp.
Breno levantou do colo de Sol e ficou de costas para a garota, tirando seu celular do bolso e começando a digitar a mensagem.
Breno: oi
Sol: oi rs
Sol: você sabe que não precisa falar nada, né?
Sol: eu não vou te forçar nada
Breno: eu sei
Breno: mas eu quero mesmo falar
Breno: eu só fico com um pouco de vergonha de falar isso em voz alta porque soa muito clichê
Breno: imagina então falar isso com você me encarando
Sol: wooooow
Sol: eu sou tão feia assim?
Breno: na verdade, o problema é justamente o contrário
Breno: você é bonita demais para eu conseguir falar sem me tremer todo
Breno: eu até tentei praticar com o Theo interpretando você, mas o resultado não foi o mais satisfatório kk
Sol: então agora eu estou sendo comparada ao Theo?
Sol: kkkkk
Sol: eu espero pelo menos estar sendo uma disputa justa
Breno: bom...
Breno: você é muito mais bonita que ele, então....
Sol: então você vai continuar adiando?
Breno ia responder algo nesse momento, mas então a mãe de Sol bateu na porta do quarto e entrou.
― Desculpa por atrapalhar vocês, crianças, eu só vim avisar que eu e Camila estamos indo para sua casa, Breno, seus pais nos convidaram para tomar vinho. Sol, a Luna está na liderança, mas não deixe ela e a Marisol queimarem a casa, por favor.
― Tudo bem, mãe. Vocês vão demorar?
― Provavelmente, vocês já estão acabando?
― Quase. – Breno respondeu. ― Mas talvez a gente saia para encontrar os meninos depois.
― Entendi. – Laura falou. ― Se isso acontecer mesmo, Sol, me avise por mensagem. Ou ligue para a sua mãe. Quer que eu deixe dinheiro para comida?
― Deixa por precaução...
― Ok. Te quiero, hija. – Laura mandou um beijo para Sol e olhou para Breno. ― Fique à vontade, Brê.
― Ok, tia.
E Laura saiu do quarto fechando a porta com cuidado. Sol esperou alguns segundos antes de olhar para Breno e continuar a conversa pelo celular.
Sol: vai me contar ainda?
Breno: sim
Breno: eu acho que o clima meio que foi quebrado
Breno: mas eu só queria dizer que você faz tudo dentro de mim tremer e se contorcer
Breno: porque você é a pessoa mais incrível que eu já conheci
Breno: e minha família é cheia de pessoas incríveis, mas você é
Breno: você é WOOOOW
Sol: você quer me fazer corar
Sol: é isso???
Sol: porque se você se virar agora vai ver que eu estou corando
Breno: e eu aposto que está ficando mais linda ainda corada
Breno: sabia que eu pensei que você estava completamente bêbada quando me beijou pela primeira vez?
Breno: e na segunda
Breno: e na terceira
Breno: e todas as outras vezes
Breno: por que você decidiu me beijar do nada?
Sol: eu não sei
Sol: me sinto bem com você
Sol: é algo que acontece naturalmente
Sol: e... eu posso fazer uma pergunta indiscreta?
Breno: é justo...
Sol: os seus pais...
Sol: eles sabem que eu e você... que estamos....?
Breno: ainda não
Breno: muito por causa da conversa
Breno: mas você gostaria que eles soubessem?
Sol: você está me fazendo corar de novo
Sol: mas sim
Sol: eu iria querer
Sol: mas vamos fazer isso confortável pra nós dois
Breno: vai ser
Breno: e reforçando
Breno: você é a melhor surpresa que aconteceu até agora
Breno: fica com isso na cabeça porque eu não sei se consigo falar em voz alta
Sol: tá
Sol: e só pra você saber, é recíproco
Breno: eu gosto de falar sobre coisas sérias com você
Breno: me faz sentir dentro dos clichês da Netflix
Breno: tudo bem pra você ser a Lara Jean?
Sol: tudo bem
Sol: mas só porque eu acho fofo como você se empolga com esses clichês da mesma forma que eu me empolgo
Sol: parece a coisa menos hétero que alguém pode ser
Breno: teoricamente
Breno: isso tá no sangue, gatinha
Sol: e chegou o heterotop kkkkkkk
Breno: *meme de alguém desmaiando de amores*
Sol: *meme de um aviso mandando entrar dentro de um potinho*
E demorou apenas mais alguns segundos para que os emojis e memes se transformassem num novo momento de namoro. E depois disso, demorou apenas mais alguns minutos para que eles saíssem para o McDonald's para encontrar todos os amigos e só relaxar.
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