Na quarta, quando seu aniversário chegou, seus pais fizeram apenas um bolinho para a data não passar em branco, Breno recebeu vários telefonemas e mensagens de feliz aniversário e, no fim da festa, seus pais lhe deram um kit de acampamento.
Havia um bilhete ali dizendo que era assim que todas as aventuras começavam e que ele deveria ver alguns tutoriais sobre acampamento antes de realmente ir acampar.
Então sim, Breno iria para o acampamento.
Na quinta, suas tias Lorena e Gina falaram sobre um parque de diversões no limite do município e sobre estarem dispostas a levar o sobrinho e os amigos para lá no sábado com a condição de que esse fosse o presente de aniversário de Breno. Obviamente, ele topou, até porque quando se completa 18 anos, você fica tão empolgado com a idade que esquece o que quer de presente.
Por algum motivo, o pai de Breno parecia agitado mexendo em todas as panelas da cozinha enquanto Breno se limitava a observar toda a cena barulhenta e colocar cereal na boca, colher por colher, seria até um pouco mais cômico se não estivesse começando a fazer seus ouvidos doerem. O outro pai de Breno, Nando, não parecia tão interessado na cena, uma vez que digitava em seu celular super concentrado. Talvez estivesse resolvendo algo do trabalho, acontecia às vezes, e isso sempre fazia Breno lembrar de Nando falando sobre não gostar de ser chamado antes das oito da manhã, por que seu horário só começava às oito.
Ele fica tentado em perguntar aos pais se estava tudo bem, mas sabe que obviamente não está. Nando e Anderson são apegados a Breno, ele era como o eterno bebezinho deles, a bola perfeita de amor e afeto que eles criaram desde recém-nascido, os três nunca ficaram mais que dois dias separados, e agora Breno e os amigos iriam ficar praticamente uma semana fora, provavelmente sem sinal e longe da cidade. Não estava nada bem dentro da cabeça deles, e por isso Breno decidiu não cutucar onça com vara curta. Seria muito melhor se ele só continuasse a comer seus cereais olhando para o nada e pensando em como seria quando finalmente pudesse ir na Destrói Colunas, a montanha russa mais radical do município, e consequentemente, a que você só poderia ir quando fosse maior de idade e com pelo menos 1,60m de altura.
Rezava a lenda que a Destrói Colunas realmente destruía colunas, tinha médicos e fisioterapeutas que te proibiam de ir até lá e que já tinham tentado até fechar a atração. O que, claramente, só fez com que a história se espalhasse por aí e mais gente quisesse testar a sorte na montanha russa. Breno e seus amigos eram algumas dessas pessoas.
― Já são oito horas, cadê as suas tias? – Breno ouviu seu pai murmurar entre os estalos de panela que continuava a provocar.
Breno engoliu a última colher de cereal antes de falar algo.
― Calma, pai, de vez em quando a tia Gina se atrasa, e provavelmente a tia Lô também está atrasada porque está esperando a tia Gina... Tipo, as duas combinaram de chegar juntas, não é?
― Foi. – Anderson confirma. ― Mas se demorarem demais para vir, vocês vão pegar trânsito no caminho e nem vão aproveitar a viagem.
Breno quis dizer que Brechas, a cidade do parque de diversões, era há apenas uma hora de carro, e que eles já moravam tão perto da avenida principal que talvez chegasse em menos tempo. O máximo de trânsito que eles poderiam pegar nesse horário, num sábado, era se passassem por alguma entrada perto da praia. E eles não precisavam necessariamente seguir esse caminho.
Mas Breno preferiu não falar em voz alta essa informação, seu pai Anderson só estava nervoso porque Breno tinha falado milhares de vezes sobre ir na Destrói Colunas, e Anderson era um fisioterapeuta, ele sabia o que isso significava, mesmo que Breno não ligasse muito para os prós e muitos contras que sua coluna poderia sofrer por andar no brinquedo.
― Pai, a galera nem chegou ainda! – Breno pontuou enquanto lavava a pouca louça que sujou no café da manhã e pensava em quantas garrafas de água levaria para o passeio.
― Quem vai mesmo? – Nando finalmente pareceu sair do seu transe para ajudar Breno a acalmar Anderson um pouco.
― Vai ser só eu e as meninas. – Breno diz. ― Kenai e Theo disseram que não poderiam ir porque ainda tem que resolver algumas coisas para o acampamento amanhã. E como pretendemos sair antes do meio-dia... É, acho que eles não poderiam mesmo.
― Você já tem tudo pronto para amanhã? – Nando perguntou.
― Quase tudo, ainda falta ver se precisa tirar ou colocar alguma coisa dentro da mala, mas tirando isso, tudo certo. Pelo menos as passagens de ônibus para o local estão compradas.
― A gente poderia levar vocês até lá amanhã. – Anderson se pronunciou.
Breno deu de ombros.
― Eu até sugeri isso, mas a maioria prefere ir de ônibus para não incomodar ninguém, e como é perto...
A campainha da casa tocou naquele momento, fazendo Breno perceber que estava tão focado em conversar com os pais que ainda nem sequer escovou os dentes, ou colocou os sapatos, ou sequer encheu garrafas de água para colocar na mochila que levaria.
Ele nem espera um dos pais sair do lugar antes de correr escada acima e gritar que estava terminando de se arrumar e pedindo para que avisassem que, caso fosse as tias, esperassem só mais alguns minutinhos.
Breno sabe que demorou muito mais minutos do que pensava ter demorado quando finalmente desceu as escadas novamente e encontra não só suas tias na cozinha, como também encontra Marisol, Sol e Luna sentadas no sofá e mexendo em algo no celular. Sol é a primeira a notar Breno, e por mais que ele queira arrastá-la para algum cantinho privado naquela casa e beijá-la, ele se contenta em apenas dar um beijo em sua bochecha e admirar o quanto ela parece linda, mesmo com a combinação casual de jeans e camiseta. Obviamente, ele é obrigado a beijar Marisol e Luna também para não parecer estranho, o que o faz se sentir em Friends.
Não há nada demais em Sol, mas mesmo assim, ela já é naturalmente perfeita para ele e só por ela estar na sua frente, ela faz todo o seu corpo tremer de vontade de poder abraçá-la e sentir seu cheiro de perto.
― Crianças, vamos! Já estou no carro! – Sua tia Lorena avisa, ela tem os mesmos olhos azuis de Nando e pintou recentemente seu cabelo de verde, além disso, o piercing em seu nariz e o fato de ser influencer digital já a coloca num posto de tia favorita.
― Quero ver eles aqui antes das nove da noite, sãos e salvos, ou vocês vão desejar estar mortas, meninas! – Seu pai Anderson grita com um sorriso para eles quando o carro já não está mais estacionado em frente à sua calçada.
Gina, a irmã de Anderson, abre a janela do carro apenas para mandar o dedo do meio para o irmão e isso faz com que Breno ria abertamente junto de Sol, Luna e Marisol.
Enquanto Lorena dirige por todo o caminho, Gina cita as regras que as duas estipularam para a viagem. A primeira delas é que se Breno e suas amigas forem postar qualquer coisa na história do Instagram, eles devem marcar o usuário de Lorena e Gina; A segunda regra estipulava que, no caminho de ida até o parque, Lorena e Gina tinham o direito de escolher as músicas que tocariam no carro, e Breno e suas amigas teriam o mesmo direito no caminho de volta; E a terceira e última regra era que todos ficassem atentos ao celular, porque se alguém se perdesse, era por ali que iriam se achar.
E claro, depois que todos concordaram com as regras da viagem, Gina e Lorena colocaram uma música de feliz aniversário para Breno e relembraram que aquele era o seu presente de aniversário de 18 anos.
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