Não sei como, mas conseguiram arranjar dois tecidos para eu provar que sabia subí-los, antes que a refeição tardia dos meninos ficasse pronta.
Foi engraçado vê-los quase engasgando com a comida apenas para não perderem a minha apresentação. Nunca pensei neles assim. Já vi eles comendo com pressa, mas, desta vez, algo estava diferente. Mesmo agora eles ainda estavam apresentáveis, mas pelo monitor, eles pareciam mais… glamurosos.
Park e K reclamaram sobre não poderem assistir, devido a comerciais que tinham que gravar. Menos gente para julgar a minha falta de prática - foi o que pensei. Não podia estar mais enganada...
Min é o mais velho do grupo, mas ele nem de longe é o mais maduro.
Ao chegarmos no local de treino, ele foi o primeiro a ir brincar com os tecidos, enquanto Han foi brincar no colchão de proteção e August foi testar se ele seria, realmente, capaz de servir como proteção, em caso de queda. Mas ao voltar da troca de roupa, Min estava fazendo um teatro para os demais, com a ajuda de Hop, usando o tecido como cabelo - acho, do verbo não tenho certeza, que ele era Rapunzel. Enquanto me alongava, ele assumiu o papel de Mestre de Picadeiro e me apresentou. Ele disse mais algumas coisas, que presumo estarem ligadas a apresentação que faria, mas não tenho certeza.
Menos de cinco segundos depois de começar a escalar, meu ombro direito começou a doer, então passei a usar a mão esquerda como dominante, enquanto adotava as pernas como principal ponto de apoio. Quando fiquei de cabeça para baixo, ouvi vários “oh!”, e um lindo:
-Você estar ben?
-Estou bem. - respondi no idioma nativo deles. Tentei sorrir, para provar meu ponto, mas sei que não fiz um bom trabalho. Mesmo sendo forçado o mínimo possível, para a situação, o ombro direito ainda doía bastante. Embora a dor e a preocupação não foram o suficiente para que eu não percebesse o telefone de Min apontado para mim.
Claro! Ele estava me filmando.
Demonstrei para os meninos o que tentei desenhar mais cedo e depois fiz a queda. Deliciei-me com a descida. Os gritos e arfejos pareciam efeitos sonoros para o meu momento. A queda parou comigo de cabeça para baixo, com a cabeça mais ou menos a 2m do chão. “Você está bem?” - foi a pergunta mais comum.
-Sim. Mas… - comecei a girar, aproveitei para pensar, mas não consegui formular toda a frase em coreano, por isso mudei para o inglês - tenho que pensar em como fazer para sair daqui, de forma que pareça parte do teatro.
-Você não pode terminar de cabeça pra cima? - perguntou MC em coreano.
-Sim, mas... - Nem ferrando eu iria dizer que estava compensando a escalada com as pernas. No melhor dos cenários, August teria um treco ao descobrir que danifiquei o corpo dele. Aproveitei, novamente, o giro para tentar formular a frase em coreano - eu não posso simples levantar. - tenho quase certeza que a frase ficou errada…
Recomecei minha escalada e esperei, dentro do meu casulo de pano, a ideia vir. Quando o primeiro fantasma de ideia sussurrou em meus ouvidos, ajustei os panos ao meu redor e desci. Como eu sentia falta disso!
Ter uma plateia era um bônus, mas o desenrolar dos tecidos na queda era a melhor diversão que eu poderia querer. Confesso que me senti um pouco culpada, por encontrar um momento meu, no caos que havia se instalado.
A felicidade logo foi substituída pela dor de ter errado os cálculos. Os panos pressionavam uma parte sensível que não, antes, pertencia-me. No tempo de uma contorção facial, eu dei um pulo e rearrangei os panos em minhas coxas.
-Você está bem? - perguntaram.
-Sim… apenas errei… - eu não sei falar 'queda', mas acho que eles entenderam. Mesmo que não, eu não iria explicar onde me machuquei. Não tenho problemas em falar do assunto, mas na frente deles isso parecia errado.
-Você vai conseguir? - A descrença de August em mim era linda.
-Vou. - queria elaborar uma frase grande e complexa, explicando que só errei o peso, por não considerar todas as variáveis do corpo dele, mas eu não faço ideia de por onde começar uma frase assim. - Sem problemas.
Repeti a queda mais uma vez, desta vez, sem errar e mostrei como pretendia sair. Não foi tão fácil quanto pensei, mas Hop adorou e disse que agora era questão de prática. Todos concordaram.
Pensei que ensaiaríamos mais, mas as agendas de todos eram apertadas, por isso, rapidamente, todos seguiram caminhos diferentes. Apenas August ficou comigo. Melhor dizendo, eu fiquei com ele. Pois, depois dos meninos se dispersarem, ele me levou para o estúdio dele (mais um sonho de fã sendo realizado), para que ele trabalhasse no meshup que sugeri, enquanto me ajudava no meu flow.
Já havia começado a reparar nisso, mas conhecer as músicas do ML estão ajudando bastante.
Muitas palavras eu conheço e só preciso melhorar a pronúncia - apesar de, às vezes, saírem algumas atrocidades. Tirando as músicas mais rápidas de August, a maioria eu já estou conseguindo pegar - falando palavras erradas, mas consigo chegar perto. Meu vocabulário melhorou bastante, depois que me forcei a traduzir minhas músicas preferidas - claro que conviver com quem não fala o mesmo idioma me ajudou bastante, mas pude reconhecer várias palavras, vários fonemas, das músicas deles.
Tive vontade de ligar para todas aquelas pessoas que me encheram o saco dizendo coisas como “Você devia ouvir música de verdade” ou “Isso nunca vai te trazer nada de bom” ou “Pra que você ouve isso?” e perguntar “Qual o seu argumento agora?” - ou algo assim.
Pena que esta cena não vai passar de uma imagem mental, que eu nunca vou poder falar nada a respeito para ninguém ou mesmo dizer que consegui colocar em uso o que aprendi assistindo os programas que o MoonLight aparecem nem que as músicas deles, agora, servem mais do que para controlar meu humor.
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