Ami
Após passar os três dias enclausurado na casa de Mond cuidando dele, Ami finalmente pôde respirar ar puro. Ele tinha medo que o amigo acordasse ainda no estado que estava no bar e passasse por mais problemas, por isso ele não foi capaz de deixa-lo sozinho. Mas apesar do alívio em ver Mond bem e poder sair sem se preocupar se ele passaria por outro cio repentino daquela escala, Ami ainda tinha algo para resolver, esclarecer tudo com a polícia.
Naquela noite do incidente um policial jovem com aparência de cadete estava interrogando todas as pessoas próximas ao alfa que liberou os feromônios tão deliberadamente.
-Você é amigo dele? – disse o rapaz com uma voz abafada, pois usava uma máscara para evitar os resquícios de feromônios no ambiente, mas mesmo sob a máscara Ami podia dizer que ele possuía um rosto bonito e doce.
-Sim, somos amigos desde a época de faculdade, conheço ele há cerca de 9 anos e sequer sabia que ele era um alfa, muito menos dominante.
-Você é beta? – perguntou o policial de cabelos castanhos enquanto anotava as informações.
-Alfa, mas nunca percebi nada, ele nunca tinha liberado os feromônios perto de mim, ele tem um auto controle incrível!
-E você nunca desconfiou?
-Sempre achei que fosse um beta – Ami estava fascinado e não conseguia tirar os olhos do jovem que estava na sua frente e o encarava intensamente.
-Acho que já tenho todas as informações possíveis no momento – o rapaz pegou um cartão no bolso e entregou para Ami – Caso saiba de mais alguma informação pode me ligar e se for necessário te chamaremos para um depoimento oficial na delegacia.
-Muito obrigado – Ami olhou sobre os óculos para o nome bordado na farda e deu um sorriso sedutor – Tenente Treu, fico muito satisfeito em ver um jovem tão eficiente quanto você cuidando da nossa segurança.
Aquele policial tinha realmente dado uma impressão muito forte em Ami, ele parecia ter uns vinte anos, no máximo vinte e cinco e já era tenente, parecia ser uma pessoa muito eficiente e sua voz transmitia muita doçura além disso exalava um cheiro de rosa, que mesmo com ar quase tomado pelos feromônios de Mond, Ami pôde sentir aquele aroma doce.
Ami encarou o cartão que recebera naquela noite, não sabia se ligava ou se resolvia tudo com seu amigo que também fazia parte da polícia, após ponderar por um longo tempo ele decidiu que era melhor não misturar os problemas de Mond com prazer, por isso resolveu tudo com seu amigo Tenente Messe.
Como esperado o jovem Tenente era muito eficiente e já havia coletado quase todas as evidencias para o caso quando Ami foi na delegacia, ele só conversou com seu amigo sobre informações adicionais e saiu de lá muito satisfeito.
"Agora tenho um motivo real para ligar pra ele"
-Tenente Treu? – disse Ami já sorrindo ao telefone ainda em frente à delegacia – Aqui é Ami amigo do alfa dominante do bar.
-Ah, sim, me lembro. Alguma coisa aconteceu? – sua voz parecia confusa – Já estamos com o caso praticamente fechado, não abriram nenhum tipo de queixa contra seu amigo e tudo parece estar nos conformes.
-Nada de errado, obrigado pela preocupação estou ligando pra agradecer, na verdade.
-Agradecer pelo que?
-Por ter ajudado meu amigo e não ter obrigado ele a depor, ele realmente está muito mal com isso tudo, sabe?
-Eu estava apenas cumprindo a minha obrigação.
-Eu sei, mas ainda posso ser grato, não?
-Sim... Eu acho... – respondeu Treu hesitante.
-Ótimo, posso te agradecer com umas cervejas, então?
-Eu não bebo...
-Uma pizza?
-Não é realmente necessário.
-O que? Você não come pizza também?
-Como, mas esse não é o caso...
-Então não tem motivo pra recusar, sou apenas um cidadão grato pelo excelente trabalho de um policial competente e querendo retribuir pelo bom serviço prestado.
-Eu entendo, mas...
-Você está livre essa noite?
-Estou, mas...
-Te mando uma mensagem com os detalhes, até mais tarde.
"Hoje a noite vai ser divertida"
...
Treu não sabia o que estava fazendo ali, sentado naquela mesa comendo pizza com aquele homem de profundos olhos esmeralda que sorria e falava alegremente:
-Estou realmente muito feliz que tenha aparecido, Tenente. Meu amigo passou por tanta coisa, apreciamos a sua dedicação, infelizmente ele não pôde estar aqui conosco, pois ainda está se recuperando, mas se quiser podemos marcar com ele depois também.
-Não há necessidade, eu realmente só estava fazendo o meu trabalho – disse Treu com um sorriso desconcertado.
Apesar de ser uma situação completamente inusitada Ami era muito amigável e rapidamente deixou o policial confortável, em dez minutos eles já conversavam como velhos amigos que se reencontraram após muito tempo.
-Não brinca, Tenente – disse Ami – Você não come milho nem azeitona? Tenho um amigo que não come também, por isso sempre cata e deixa em meu prato quando comemos pizza.
-Sério! O cheiro da azeitona me deixa enjoado e não gosto da textura do milho. – disse Treu rindo.
-Cara, meu amigo diz a mesma coisa, tem certeza que você não é ele disfarçado?
Ambos riram e conversaram, Treu contou sobre sua moto e do upgrade que ele deu nela recentemente e Ami contou sobre como o time que ele torcia estava indo mal no campeonato, tudo por culpa do presidente do clube que havia perdido uma grande contratação no início da temporada.
-Você não tá colocando pimenta demais, Tenente? – perguntou Ami encarando o pote de pimenta calabresa praticamente esvaziar-se sobre o prato de Treu.
-Geralmente essas pimentas são bem fracas, eu particularmente prefiro molho de pimenta, mas temos que trabalhar com o que temos.
O policial cortou um pedaço da pizza e colocou na boca, sua expressão sorridente logo mudou pra uma breve careta disfarçada e uma breve tosse. Seus olhos começaram a lacrimejar e seu rosto a corar.
-Eu avisei, Tenente – riu Ami.
-Essa pimenta parece ser algum tipo especial – disse Treu bebendo o seu refrigerante em um gole – Eu não estava preparado pra isso.
-Essa pizzaria é de excelente qualidade não esperava menos da pimenta. Por isso venho sempre aqui.
-Cof... Cof... Realmente, a pizza é muito boa... – Treu olhou ao redor – Cadê o garçom? Acho que vou precisar de outro refrigerante.
-Hoje está muito cheio, vou no caixa pedir pra você.
-Obrigado.
O policial ficou sentado sentindo a dormência em sua língua e a ardência em sua boca, e pensando em como toda aquela situação era ridícula, logo após de se gabar sobre como adorava pimenta e não conseguir tolerar na primeira mordida, ele mal conhecia o cara e já estava fazendo papel de bobo... Já não bastava aparentar ser tão jovem o que sempre o levava a ser tratado como criança, apesar do homem estranho sempre ter o tratado com respeito ele se sentia um pouco inseguro.
O copo de Ami descansava do lado dele da mesa, cheio até a boca e Treu o encarava com curiosidade.
"Ele já havia pedido quando eu cheguei e só pediu refil, o que será que ele está bebendo, tudo bem se eu beber um pouco, né?"
Treu pegou o copo de Ami e engoliu em um só gole como ele havia feito com o seu refrigerante, mas algo errado tinha acontecido.
-Para quem não bebia você entornou bem esse chopp – disse Ami se aproximando.
-Aquilo... Era cerveja? – respondeu Treu rindo.
-Sim, sempre tomo uma cerveja para comemorar e para relaxar e hoje estou fazendo as duas coisas. – Ami sorria docemente ao ver aquele rapaz claramente bêbado com um copo de chopp.
-Eu não bebo – o policial continuava rindo, como se tivesse escutado a piada do ano.
-Eu percebi, melhor irmos, vou cancelar o refrigerante, pegar uma água e pagar a conta, já volto Tenente.
Treu segurou o braço de Ami e falou baixinho:
-Não demore...
Ami sorriu.
Após conversar com o dono da Pizzaria e pedir para guardar a moto de Treu no estacionamento até o dia seguinte, Ami voltou a mesa para encontrar seu novo amigo, o rapaz estava debruçado sobre a mesa a sua cabeça descansava sobre seus braços.
-Tenente, eu trouxe sua água.
-Só mais cinco minutos – a voz do policial estava embolada.
-Tenente, beba água, por favor – disse Ami abrindo a garrafa e colocando à frente de Treu – Prometo que você vai se sentir melhor.
-Água? – disse o rapaz levantando lentamente.
-Isso água, vamos beba Tenente.
O rapaz saiu da pizzaria e Ami o seguiu tentando persuadi-lo a beber a água, mas foi inútil, Treu andava pelo estacionamento procurando sua moto, mas por algum motivo ele não conseguia encontra-la, após várias voltas ele se agachou no chão e levou à mão ao rosto lágrimas se formaram em seus olhos.
-Meu bebê!!!! Onde está o meu bebê???? Como ousam roubar um policial!!! – Treu levantou e começou andar com passos fortes cheios raiva – Vou pedir as filmagens pro dono e descobrir quem...
Ami segurou o policial com uma das mãos.
-Calma, Tenente!! Ninguém roubou sua moto!
-Ninguém levou meu bebê? – disse ele choramingando
-Não.
-Então... Onde ela está? – Treu se aproximou de Ami deixando seus rostos a menos de um palmo de distância.
-Como você não está em condições de dirigir eu pedi pro dono da pizzaria guarda-la até amanhã, eu o ajudei a colocar no estacionamento coberto se por acaso chovesse...
-Você guardou meu bebê?
-Sim...
Treu abraçou o homem a sua frente com força, o aroma de rosas começou a se espalhar, o corpo do policial estava quente devido ao álcool e a menor das emoções fez seus feromônios passearem pelo ar. Ami sorriu ao sentir aquele cheiro, mas logo tentou se soltar, ele precisava que o rapaz ficasse mais sóbrio para poder ajuda-lo.
-Obrigado, muito obrigado – dizia Treu apertando ainda mais Ami.
-Não foi nada, agora beba sua água, Tenente – disse Ami tentando se soltar.
-Ami... – disse Treu soltando-o e olhando naqueles olhos esmeralda – Você poderia parar de me chamar de Tenente?
-Por que? Acho tão legal um rapaz tão jovem alcançar uma patente importante...
-As pessoas que me chamam assim quando estou fora do trabalho geralmente estão caçoando de mim... – o rapaz sorriu – E mesmo que não seja sua intenção ainda me deixa desconfortável.
-Tudo bem, Treu te chamarei pelo nome, ok?
-OK.
Os dois ficaram se olhando em silêncio, nada mais precisava ser dito, os feromônios deles já diziam tudo, o cheiro de rosas ficou ainda mais forte e Ami já estava interessado no rapaz antes mesmo dele soltá-los, mas o que ele não esperava era que o policial o abraçasse novamente e o beijasse.
Foi um selinho demorado, porém mostrava a vontade que Treu estava de ir muito além daquele beijo.
-Você não está bêbado demais para isso? – disse Ami baixinho.
-Não, o choro me ajudou a ficar sóbrio.
Ami riu e disse:
-Então beba essa água, se você ainda quiser me beijar após beber eu ficarei feliz em retribuir.
Treu pegou a garrafa bebeu rapidamente e arremessou em uma cesta de lixo que estava um pouco distante, acertando em cheio.
-Isso prova que estou sóbrio o suficiente?
-Sim.
-Então podemos voltar ao que estávamos fazendo?
Ami o puxou pela cintura e o beijou, seus lábios se tocaram vorazmente suas línguas passearam pela boca um do outro e suas salivas se misturaram.
-Na sua casa ou na minha? – perguntou Treu ofegante.
Comments (23)
See all