Mond
Mond estava nervoso, suando frio, talvez fosse pelo fato que ele usava mais roupas que o normal, ou que ele tinha tomado uma dose alta de supressores, ou o medo que ele tinha da verdade, talvez fosse uma mistura de tudo aquilo...
"Não importa a resposta, eu sei que não vou me sentir bem com nenhuma delas, não quero ser o pai daquelas crianças, não numa situação como essa, mas só de pensar que o Faux pode ser o pai me sinto muito incomodado, mas por quê?"
Mond continuava perdido em pensamentos sentado em uma mesa num canto distante da lanchonete Diner, apenas esperando Sonne, Faux ou até mesmo os gêmeos para que pudesse sondar um pouco a situação.
Para seu alívio a terceira opção foi a que ocorreu primeiro, as duas crianças entraram sorridentes na lanchonete com uma senhora e rapidamente correram para Mond.
-Você é o moço do outro dia, não é? - disse uma delas.
-Sim - respondeu Mond meio sem jeito.
Agora que ele podia olhar com mais cuidado, as crianças eram mesmo a cara de Sonne, elas tinham o mesmo sorriso e o mesmo cabelo, mas ele não conseguiu identificar nenhum traço dele mesmo ou de Faux nelas...
-Obrigada por nos esconder no outro dia, quando temos que vim pra cá nunca tem gente pra brincar, é sempre muito chato - continuou a menina
-O pai de vocês não deixa vocês brincarem aqui dentro? - perguntou Mond na primeira oportunidade, sem ter medo de ser direto, afinal são só crianças.
-Oh, nós não temos pai - disse o menino rapidamente - Mamãe diz que precisamos obedecer ao Tio Faux quando estamos aqui e ele não nos deixa brincar para não chatear os clientes, tão chato - continuou ele bufando.
-É tão chato - completou a irmã também bufando.
-Desculpe - disse Mond meio sem graça - Eu achei que Faux fosse o pai de vocês.
Ambos se olharam e riram
-Não, moço bobinho Faux é...
Antes que a menina pudesse completar a senhora que havia chegado com elas interrompeu:
-Crianças, o que já conversamos com vocês sobre perturbar os clientes? - ela olhou rapidamente para Mond e sua aparência suspeita e rapidamente puxou os gêmeos para longe - Me desculpe, senhor.
A senhora devia estar na casa dos 40, Mond pensou que poderia ser alguma tia ou mãe de Sonne, pois a mulher também se parecia com ele.
-Mas ele é nosso amigo - resmungou a menina enquanto era arrastada pra longe
-Ele é nosso amigo - concordou o menino.
Mas Mond já não conseguia mais ouvir, aqueles pensamentos e aquela angústia só cresciam, uma culpa esmagadora apertava seu peito, aquele pesadelo nunca iria acabar o fruto do seu comportamento monstruoso estava andando por aí, ou melhor dizendo frutos, como ele poderia viver consigo mesmo agora? Ele já se sentia um lixo por tudo que havia acontecido e agora com duas crianças envolvidas que ele havia abandonado!
Eram 5 anos... 5 anos sem amor de pai, sem a presença daquele que deveria estar ali para cuidar e proteger. Como Sonne se virou para sustentar duas crianças sozinho? Foi por isso que ele nunca engajou em sua carreira musical, apesar de ser tão talentoso? Se manter cantando em pequenos bares a noite para poder ficar com as crianças durante o dia...
A mente de Mond era um caos e seus olhos se não estivessem cobertos pelas lentes de contato estariam brilhando em um profundo azul, a cor da tristeza para ele.
Algumas horas passaram até que Sonne finalmente chegasse com Faux na lanchonete, eles estavam em um clima romântico cheios de sorrisos e abraços, ao avistar aquilo Mond que já estava profundamente perdido em culpa e tristeza, agora também foi dominado pela raiva.
Mond levantou de supetão derrubando a mesa fazendo um grande estrondo, ele andou com passos largos e pesados até Sonne que o olhava assustado e disse numa voz assustadora:
-Precisamos conversar!
Na mesma hora Faux tomou a frente de Sonne e abriu os braços para barrar a passagem
-Eu disse pra você ficar longe, mas parece que você não me ouviu! - disse Faux ferozmente
-Não te devo nada, Faux, eu preciso conversar com o Sonne. - disse Mond friamente - Por favor, saia do meu caminho, não estou aqui pra machucar ninguém.
-Não é o que parece! - disse Faux olhando nervoso.
Sonne olhava sem entender que tipo de situação era aquela.
-Você é o alfa do bar? - perguntou Sonne confuso - Espera, vocês se conhecem?
-Vá lá pra dentro Sonne, eu resolvo isso - disse Faux rapidamente - Pode ser perigoso se ele perder o controle novamente.
-Eu sei o que parece, mas eu só vim aqui conversar! - disse Mond calmamente - Eu preciso falar com o Sonne.
-Se precisa tanto falar, fale - disse Faux bruscamente.
-Faux, quem é ele? Que diabos tá acontecendo? - disse Sonne puxando Faux para sair da sua frente.
Aproveitando essa brecha Mond fez um ato desesperado, ele sabia que era perigoso, porém mesmo assim ele precisava colocar tudo em pratos limpos o mais rápido possível, por isso ele tirou o boné e a máscara revelando seu rosto que apesar de meio pálido pelo nervosismo ainda era extremamente bonito.
No mesmo momento Sonne parou de puxar Faux, pois seus braços perderam as forças, sua boca abriu, mas as palavras não saiam, ele parecia encarar um fantasma bem ali na sua frente.
-Vamos conversar Sonne - disse Mond colocando o boné e a máscara novamente - Estou lá fora te esperando.
Sonne ficou parado por um tempo sem nenhum tipo de ação, ainda tentando digerir toda aquela situação, mas logo foi atrás de Mond.
-Não vá, é perigoso - disse Faux segurando o braço de Sonne.
-Não me siga, por favor - disse Sonne soltando-se e saindo da lanchonete.
Mond estava encostado na parede perto da porta olhando para o céu aparentemente distraído quando ouviu o barulho da porta.
-Você vei... - antes que ele pudesse completar a sua frase a mão de Sonne acertou um tapa em seu rosto com tanta raiva que mesmo com a máscara que cobria sua bochecha deu pra ouvir o estalo da mão indo contra a face de Mond.
-Quem você pensa que é pra aparecer assim? - gritou Sonne.
Mond olhou para Sonne sem saber o que responder, afinal quem era ele na vida de Sonne? Ele era o cara que fez um mal imenso e depois sumiu sem assumir a responsabilidade, ele era apenas um fantasma do passado que veio assombrar a boa vida que Sonne havia construído sem ele... Ele era tudo de ruim, porque insistir em voltar?
O vento frio da noite balançava os cabelos longos e ruivos de Sonne que olhava para Mond com uma expressão de choro aguardando uma resposta que não veio.
Eles se encararam por um longo período até que Mond começou a caminhar e fez um sinal para Sonne segui-lo.
-Vamos andar um pouco, esfriar a cabeça para podermos conversar. - disse Mond baixinho.
-Certo - disse Sonne
Eles caminharam por cerca de 15 minutos até chegarem em um parque próximo, Mond sentou em um banco e Sonne o acompanhou sentando-se ao seu lado.
-O que você quer de mim? - disse Sonne ansioso.
-Eu só quero conversar.
-Conversar? Você some por 5 anos, sem um aviso, um recado, uma ligação, uma mensagem, NADA! Aliás, me deixou a porra de um bilhete com duas palavras e com uma pessoa estranha que não me explicou o que caralhos estava acontecendo. E agora como o fantasma que você foi, simplesmente reaparece assim? - ele apontou para as roupas de Mond - O que é isso? Por que você está vestido assim?
-Me desculpe - disse Mond segurando as mãos de Sonne e olhando para os olhos dele profundamente.
-É difícil levar você a sério assim! - disse Sonne soltando as mãos e desviando o olhar - Tudo que eu vejo é um monte de roupa, sinto que estou conversando com a pilha de roupa do meu quarto e não uma pessoa.
-Sinto muito, mas é mais seguro assim.
-Certo... - disse Sonne revirando os olhos
Os dois continuaram naquele silencio constrangedor, sem perguntas, sem olhares, apenas o som do vento e o brilho da lua crescente. Após uma longa pausa Mond resolveu falar.
-Então... Os gêmeos... - disse Mond nervoso, sua voz grossa estava trêmula e seus dedos mexiam-se nervosamente um contra o outro como em uma luta silenciosa.
-O que? - disse Sonne surpreso - O que tem eles?
-Eles... Eles são meus, não são?
-Seus? Como assim seus? - Sonne parecia cada vez mais confuso.
-Filhos – cuspiu Mond.
Sonne olhou para Mond incrédulo e começou a rir, ele riu alto e forte, riu tanto que seus olhos começaram a lacrimejar e suas bochechas ficaram vermelhas.
-Você é hilário Mond, você some por anos sem nenhuma notícia e agora vem me dizer que comeu minha mãe também?
-O que? - disse Mond com um pânico ainda maior.
-Os gêmeos são meus irmãos, eles só podem ser seus filhos se você tiver dormido com minha mãe hahaha - Sonne ria e por algum motivo agora se sentia mais leve.
-Ah... Eu achei... Eles se parecem tanto com você... E a idade deles... Eu os vi te chamando de mãe... - disse Mond baixando a cabeça e batendo na testa, ele bufou longamente e levantou-se - Me desculpe!
-Pelo que exatamente? - Disse Sonne olhando cinicamente, seu olhar estava carregado de ironia e mágoa – Por ter aparecido do nada e feito um escândalo desnecessário? Por ter dormido comigo e no dia seguinte sumir da face da terra? Ou pelo que aconteceu no bar?
-Por tudo... Eu não queria ter feito nada disso com você – a voz de Mond estava carregada de culpa.
-Ah Mond, seu mentiroso! – disse Sonne agressivamente – Você sempre quis fazer isso comigo! Você sempre quis me tocar, seu corpo sempre reagiu ao meu! Mas eu nunca pensei que você era tão covarde!
-Não era pra ter acontecido, muito menos daquele jeito, me desculpe!
-Eu não posso te perdoar Mond, você sabe quanto tempo levou para que eu pudesse reunir todos os meus pedaços que você quebrou? Agora você acha que um simples pedido de desculpas vai fazer tudo ficar bem? Você acha que eu devo aceitar suas desculpas e limpar sua consciência só por que você pediu gentilmente?
-Você tem razão, foi um erro eu vim atrás de você. Isso não vai acontecer novamente – Disse Mond se afastando.
-Espere – Sonne agarrou o braço de Mond com força – Por que você foi embora?
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