O que você tem medo?
Ricardo acordou, com a sensação de ter vivido aquele dia novamente, se levantou, tomou um banho, escovou os dentes, e desceu até a cozinha.
- Ai meu Deus.
- Maria!
- Estou atrasada! – Disse Maria assustada, começou a se vestir rapidamente.
- De novo? Ontem você já não acordou atrasado?
- Como assim Ricardo, é muito raro eu perder a hora.
- Como não, ontem dia 13, foi o dia que você perdeu a hora.
- Acho que é você que perdeu a hora, hoje é dia 13.
Ricardo ficou confuso com a afirmação de Maria, ele olhou para o relógio do celular e realmente havia marcado aquele dia.
- Dejavú.
- Você cuida do café da manhã da Ana, te amo, beijo. – Pegou as chaves do carro e partiu.
Ricardo foi até o quarto da Ana, e acordou ela.
- Vamos Ana, vai se atrasar.
Ela emitiu um grunhido preguiçoso e se virou para o lado.
- Isso que dá ficar até tarde assistindo desenho.
E seguiu sua rotina padrão, fez o café para Ana, a trocou, aguardou o ônibus escolar pegá-la, pediu um motorista de aplicativo, foi em direção ao trabalho, trabalhou por oito horas seguidos, e voltou para casa no fim da tarde.
Ana conversava entusiasmada sobre a escola.
- Sabe! Eu tirei 8 na prova de artes.
- Que bom filhota, vai se tornar uma grande artista quando crescer.
- Mas não quero ser artista, quero ser veterinária!
- E quanto tirou na prova de ciências.
- Dois.
Ricardo e Maria se entreolharam.
- Não deixa isso ti desanimar, eu sei que mesmo com essas dificuldades você se tornará uma excelente veterinária.
Ana soltou um sorriso sem graça, Ricardo elogiou o grelhado da mesa, Maria riu daquela atmosfera reconfortante.
“Eu queria que esse momento nunca terminasse” – Pensou Ricardo.
Eles foram para a cama e dormiram.
O que você mais deseja?
Ricardo acordou, com a sensação de ter vivido aquele dia novamente, se levantou, tomou um banho, escovou os dentes, e desceu até a cozinha.
- Ai meu Deus.
- Maria!
- Estou atrasada! – Disse Maria assustada, começou a se vestir rapidamente.
- De novo? Ontem você já não acordou atrasado?
- Como assim Ricardo, é muito raro eu perder a hora.
- Como não, ontem dia 13, foi o dia que você perdeu a hora.
- Acho que é você que perdeu a hora, hoje é dia 13.
Ricardo ficou confuso com a afirmação de Maria, ele olhou para o relógio do celular e realmente havia marcado aquele dia.
- Dejavú.
- Você cuida do...
- café da manhã da Ana – interrompeu Ricardo - te amo, beijo.
- Nossa – Disse Maria assustada. – Até parece que você leu minha mente, bem, estou atrasadíssima, até mais.
Foi esse instante que Ricardo percebeu, ele estava preso em um loop temporal.
Vivendo o mesmo dia.
Não é como se seu dia fosse imprevisível, na verdade ele vive o mesmo dia deste sempre.
Acordar, levantar, se arrumar, trabalhar, voltar pra casa, dormir, acordar.
E isso sucessivamente, um dia ou outro é um pouco diferente, mas ele sempre ficou preso em um loop temporal.
A diferença é que as datas mudam.
Sabendo que o dia seguinte iria se repetir, ele começou a modifica-lo.
No dia seguinte do mesmo dia, Ricardo despertou mais cedo que Maria e a acordou.
Ela preparou o café com calma e carinho, e foi para o trabalho mais revigorada.
No dia seguinte do mesmo dia, Ricardo decidiu que não precisava ir trabalhar, a falta seria anulada no dia seguinte, como se não tivesse acontecido.
No dia seguinte do mesmo dia, Ricardo não só decidiu que não precisava ir trabalhar, como preparou uma viagem surpresa para sua família.
- Mas amor, preciso trabalhar.
- Hoje não, vai ser diferente, vamos viajar.
- Eba! Viajar! – Disse Ana entusiasmada.
E partiram para fora do estado, o dia seguinte veio e ele retomou o loop, ele ficou sentado e deu um soco no lado da sua cama.
- Mas que merda! Até mesmo saindo da região eu volto na estaca zero.
E assim persistiu, ele aproveitou o tempo infinito para passar mais tempo com sua esposa e filha, o mais estranho era que ele era o único que podia se lembrar do ocorrido.
Então ele percebeu que mesmo que ele passasse mais tempo com eles naquele loop, seria anulado.
Ana não se lembraria no dia seguinte que no dia 13, ela foi com seu pai no parque de diversões.
Maria não se lembraria no dia seguinte que no dia 13, eles deixaram a Ana aos cuidados da escolinha e partiram para um passeio romântico só eles dois.
Só Ricardo presenciaria aquelas experiencias, o que o deixou solitário, ele observava as mudas do jardim até ser interrompido pelo vizinho enxerido.
- Olha só, eu realizei seu desejo, ti dei a oportunidade de viver o mesmo dia, dia após dia, e assim poderia aproveitar esse tempo com sua família, não era algo que ansiava? Você não queria terminar o trabalho de herói logo para poder passar mais tempo com sua família?
Com cara fechada, ele observou o vizinho se transformar, em uma toupeira.
- Eu sou a deformante toupeira humana, eu mexo nos seus lixos enquanto você não está observando.
Com seu relógio transformador, Ricardo se tornou Ômega man, e antes mesmo da transformação se completar, ele aplicou um “Ômega punch” que fez a toupeira humana ser arremessado para longe e explodir no processo, quebrando aquela camada de realidade e voltando para o fim do dia 13.
- Amor, você vai ficar aí fora a noite por quanto tempo? – Indagou Maria.
Ele correu até ela e deu-lhe um forte abraço que ela pensou que quebraria as costas.
- Ricardo! Você está chorando?
- Por favor, me deixe ficar assim por um tempo, eu tive um sonho terrível.
Ela se desvencilhou do abraço dele e o olhou no fundo de seus olhos.
- A gente precisa conversar, vou preparar um café para gente.
Ana estava dormindo profundamente, as 22 horas, Maria depositou a xícara de café com leite sobre a mesa, e pegou a sua própria, entrelaçando sua mão na caneca para sentir o calor daquela bebida.
- Agora me conte o que está acontecendo, desta manhã você está agindo estranho! – Maria tomou um gole de café e se pôs a prestar atenção em seu marido.
Ricardo permanecia encarando o café preto a sua frente, com um olhar perdido e amargurado.
- Sinto que o tempo está fluindo rápido demais, o dia passa em um piscar de olhos, a Ana em duas semanas vai fazer 11 anos e a única coisa que me lembro dela foi ter pegado no colo no dia do nascimento dela, eu estou perdendo a infância de nossa filha, eu estou perdendo o tempo que passamos juntos, vivo trabalhando seja como contador ou como um patrulheiro espacial que eu nunca escolhi em ser, por isso tento eliminar o meu inimigo o mais rápido possível, um segundo que perco lutando contra ameaças alienígenas que estão prestes a destruir a humanidade é um segundo a menos que eu vivo sem a companhia de minha família, e isso me corrói por dentro ao ponto que é como se eu vivesse o mesmo tempo vazio todo dia, e quando um deformante me capturou em sua manipulação mental para viver o mesmo dia, demorei por volta de dois meses que estava preso em um loop, porque eu simplesmente vivia no automático, eu tentei aproveitar todo dia como sendo diferente, mas o dia seguinte você e a Ana simplesmente esqueciam e isso era doloroso, o que adianta compartilharmos experiencias familiares se só eu vou me lembrar no dia seguinte, e aqui estamos tendo uma conversa na calada da noite tomando cuidado para que não acabemos acordando a Ana.
Ricardo encarou Maria, que permanecia em silencio em alguns minutos, vendo que a conversa não progrediria, ela tomou as rédeas da comunicação.
- Vamos viajar amanhã!
- É o que? E o trabalho!
- Pelo Amor Ricardo, você monologou todo esse tempo e quando eu sugiro o que iremos fazer amanhã você se recusa.
- Não! Espera. – Ricardo cobriu os olhos. – Eu estou confuso.
- Se o problema seu é viver no automático, simplesmente não viva, muda sua rotina, se quer passar mais tempo comigo e com nossa filha, seja espontâneo, e mude a rotina, temos uma farda renda de emergência que irá nos segurar se formos negligentes com nosso trabalho, eu também sinto que estou vivendo o dia seguinte por viver e o bem mais precioso nosso está crescendo e eu quero ter lembranças de nosso convívio com nossa filhota, antes que ela cresça, se torne uma adolescente desvairada e esqueça da gente.
- Maria! – Ricardo debulhou em lágrimas.
- No fundo eu fico feliz que isso te incomode tanto, na realidade, você se importa demais conosco e é por isso que decidi compartilhar a minha vida com você.
-x-
Mirian se perguntava o que tinha falhado, sem querer ela motivou Ricardo em largar a ideia de ser um patrulheiro greek (temporário) e partir para uma viagem de família com seus familiares.
- Parece que eu atirei para acertar a lua e acertei as estrelas. – Filosofou Mirian.
Douglas passava muito tempo conversando com Diana, sua nova amiga, e potencial pretendente romântico, sobre Roast fighter, ou qualquer outro jogo, série ou filme que seria visto por maus olhos em cidadãos comuns (ele curtia muito filme de terror trash), e em meio em uma reunião no deposito abandonado, sendo um local que qualquer um ficaria alerta para quem ousasse leva-lo para lá, Diana parecia ficar bem confortável.
- Sabe, quando eu era criança, fizemos um clube que após a aula, íamos em um local tão abandonado como esse.
Douglas ligou a tv velha que estava pendurada na parede, e entregou um controle de um console a ela.
- O dono desse deposito mantém abandonado por especulação imobiliária, mas eu de uma forma “ilícita” consegui as chaves desse lugar.
- Sério?
- Eu to brincando, esse deposito é de meu tio, que faleceu aqui dentro, vítima de um ataque cardíaco.
- Isso é brincadeira também? – Ela gargalhou.
- Não! É sério! – Douglas manteve o tom de voz séria.
- Nossa!
- É brincadeira! – Zombou Douglas.
Ela voltou a gargalhar, mas dessa vez de forma estranha.
- Sabe, também tenho um segredo, eu sou um deformante e vir aqui para matar você.
- Uma piada excelente, como se você soubesse que eu era um patrulheiro greek.
- E não é? – O tom de voz dela mudou, os braços se alongaram, se tornaram grandes garras, ela atacou Douglas com um arranhão, extremamente afiado, capaz de cortar até concreto.
Ele tentou desviar, mas o atingiu no ombro.
- Eu sou o deformante louva-deus e estou aqui para estragar seu velório.
- Que diabos de deformante aleatório é esse!!!
Douglas se transformou no patrulheiro greek Beta, tirou da cintura o machado, e estava pronto para enfrenta-lo.
- Uma pena que não zeramos o jogo de ontem, queria ter encerrado com você.
- Isso quer dizer que aquele papo de você curtir Roast Fighter era mentira!
- Mas é claro que não! Mas infelizmente vivemos vidas opostas. – Ela atacou novamente, o patrulheiro não teve dificuldade de se esquivar.
- Ah, que seja! Obrigado mesmo assim.
- Você é idiota? Eu estou aqui para mata-lo.
- Eu sei! É por isso que quero agradecer por ter feito minha semana feliz.
Será que nosso herói sairá ileso dessa, fique ligado nos próximos episódios!!!
Continua....
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