Seguindo o fluxo do esquadrão, ele logo se viu diante de uma criatura já ensanguentada e roxa, tão diferente de ontem e seu estômago antes cheio de borboletas agora parecia ser consumidos por larvas ao sentir a culpa de que fora ele o responsável por tal captura.
Gertudes, a gata ao seu lado, lhe cutucou e ela já sabia que o novato estava a passar mal, então o chamou baixinho:
- Me acompanhe novato, vamos para o corredor, vou te instruir novamente.
Os outros membros deram sorrisos silenciosos e Henrique não se importava de ser considerado um fraco, não havia nada de errado em se sentir compaixão, sua irmão o ensinara bem isso.
Assim que saíram da sala, as pernas de Henrique cederam como espaguete e ele se sentou no banco do longo corredor para logo sentir que desmaiaria, então Gertudes, líder do esquadrão, que era uma gata musculosa, calmamente andou até o bebedouro e ao esticar a mão para pegar um copo d'água, o uniforme subiu o suficiente para que Henrique percebesse uma cicatriz em seu braço direito e ao tentar se distrair com tal fato, logo Gertudes já estava de volta com um copo de água gelada. Assim que ele olhou para pegar, ela jogou tudo em sua cara, o que fez-lhe arrepiar inteiro.
- Preste atenção, somos do CAT! Não tem essa de ser fraco! Temos regras muito claras, você sabe disso!
E é óbvio que ele sabia, ele passou anos em treinamento para subir até o cargo de Guarda Real, desde como miar em público, lutar, evacuar os civis e nunca rosnar em serviço, mas aquilo era diferente, nunca havia sido treinado para torturar e matar e sua irmã nunca apoiou a decapitação, evento popular do reinado. Ver a criatura ensanguentada, era para Henrique, algo muito perturbador.
- Essa criatura é dos Países Baixos e ontem atacou nosso príncipe, mas ainda se diz inocente, apesar de todos os métodos já usados. A intenção é tirar o máximo de informação antes do próximo julgamento popular, temos só uma chance - disse Gertudes com tom sério - Você sabe!
As leis do reinado permitiam que o suspeito fosse interrogado somente uma vez privadamente, tal regra fora imposta após se perceber que muitos pereciam de forma suspeita após vários questionamentos privados e o público queria mais transparência sobre os julgamentos. A gota d'água foi o famoso caso do Visconde Teixeira, encontrado morto com uma barra de chocolate e café em sua cela, supostamente suicídio por envenamento e o contraditório é que ambos itens estavam intactos, não precisaria de uma autópsia para dizer qual foi o real motivo da morte, de acordo com o Jornal Sensual, estrangulamento. Mas como era sua última vida, não há como ter certeza já que tudo fora manipulado, tanto pelas autoridades como pelos jornais.
- Então repete! Somos do CAT! Somos o CAT! Não tem espaço para fracotes! - Gritou Gertudes
- Somos do CAT! So... Sou do CAT!- Repetiu Henrique em bom tom
- Agora vamos voltar ao interrogatório, temos menos de uma hora, vamos para a estratégia 'good cop, bad cop', você conhece, CAT? - perguntou Gertudes
- Sim, senhora! Participei do workshop sobre o assunto no evento internacional dos Estados da União de troca de conhecimentos da feira do ano passado!!! - respondeu Henrique
E ambos voltaram para a sala, onde Gertudes olhou para o andamento do interrogatório e avisou aos seus subordinados sobre a nova estratégia, ela e Henrique entrariam na cela de interrogatório, ela queria testar como o novato se sairia, mas o restante do esquadrão desaprovou silenciosamente. Dentre os veteranos cheios de malícia, quem poderia ser o 'good cop'? Henrique parecia sensível e era uma aposta mais segura raciocinou Gertudes.
Quando ambos entraram na cela, Ana já estava mais para lá do que para cá e balbuciava "inocente... inocente... sou só uma enfermeira..." e quando ela olhou para cima, se arrepiou ao ver, não a musculosa Gertudes, mas o gato preto ao seu lado, ela lembrava bem que Henrique a havia capturado. E para a futura surpresa de Gertudes, ela que viria a ser a 'good cop'.
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