Estremecida pela escuridão da pelagem de Henrique, Ana pensou que morrer era inevitável, a questão era como e sem nenhuma informação para dar, seria um processo lento e doloroso. Ela então pensou que poderia inventar histórias e quem sabe lhe concedecem um final mais rápido.
Gertudes estava prestes a bater na mesa e agarrar Ana pelo pescoço, e para a surpresa de ambos, esta disse com fraqueza:
- Eu falo, eu falo, mas tire-o desta sala...
Gertudes e Henrique se olharam perplexos e ela rapidamente fez sinal para ele sair. Aborrecido com a situação de ser considerado um monstro na visão dela, ele saiu da sala lentamente enquanto rapidamente refletia porque a tinha em tanta alta consideração, visto que mal se conheciam.
Ana pediu por água e alguma comida, já que mal conseguia ficar acordada. Gertudes então lhe trouxe suprimentos e um pano úmido, o qual Ana usou para limpar seu rosto e mão. Estando com o rosto mais limpo, Gertudes percebeu-se criando uma certa empatia pela frágil criatura, mas sem esquecer de sua missão.
Após alguns minutos de silêncio, Ana começou a dizer:
- Sou sim dos Países Baixos - Ana tentou se lembrar do máximo sobre o que lhe fora acusada e como poderia inventar algo em cima disso - E minha missão não era matar o príncipe, era encontrar vulnerabilidades no sistema de segurança do palácio... E...
Ana estava suando de nervosa e Gertudes analisava todos os seus movimentos, ambas estavam numa luta onde qualquer microexpressão poderia significar um veredito.
- Eu já vou morrer mesmo... Pode me prometer algo?
- Ousadia querer algo sendo uma espiã capturada - Mas Gertudes viu naqueles pequenos olhos, uma sinceridade no pedido - Pensarei, então diga.
- Uma morte rápida e sem dor, sem mais torturas... - suplicou Ana
E Gertudes não entendeu se esta era sua primeira ou última vida, se era ela uma alma que nunca reencarnou ou uma já cansada de tantas mortes... E se ela estava ciente de que ainda seria levada a julgamento público depois desse interrogatório, ou seja, que ainda poderia ser inocentada. A líder resolveu usar tal informação ao seu favor.
- Farei como desejar - Mentiu Gertudes, já que não tinha tal poder
- E como bem visto, o palácio possui passagens escondidas, eu deveria reportar essas informações de volta ao meu... contratante... - Ana sussurrou
- E quem seria este contratante? - perguntou Gertudes com olhar feroz
Naquele momento Ana sentiu que a gata estava comprando a sua história e uma faísca de esperança surgiu em seu coração.
- Nunca poderia saber, escondera todo o seu rosto... - Ana tentou dizer com a maior firmeza
Gertudes estava com o sangue subindo e como a 'good cop' não poderia perder os nervos ali, precisava que alguém entrasse na sala para fazer pressão.
- Ana é o seu nome, certo? O seu contratante também devia ter um nome, como o chamava? - Perguntou Gertudes com o máximo de calma, que ia se esvaindo a cada respirada que Ana dava sem emitir nenhuma palavra.
Do lado de fora da sala, um veterano entendeu a situação e pensou em enviar Henrique para criar uma pressão, mas o novato parecia em outro mundo, então fez sinal para o outro veterano que a havia interrogado mais cedo. Tal escolha fora certeira, já que a interrogada suou frio ao vê-lo e ainda mais ainda ao ouvi-lo dizer:
- Ou fala ou morre! - O veterano bateu na mesa
Gertudes pensou com aprovação que isso a faria confessar absolutamente tudo, mas Ana parecia um carro quebrado sendo indevidamente empurrado ladeira acima e por mais força que o veterano tivesse, ela não parecia mover sequer uma sílaba.
- Tire-o daqui! - Gritou a líder do esquadrão para depois suavizar a voz - Ana, Ana... Olhe para mim, apenas diga... Diga algum nome... antes que seja tarde e eles resolvam que eu não sou a melhor pessoa para te interrogar.
Mas Ana estava tentando o seu melhor para mentir enquanto seu corpo não aguentava mais e sussurros saíam de sua voz "Isso tudo está errado... Sem mais torturas... Ian... Ian... Eu te amo..." E Ana se arrependia de ter ido dormir sem poder ter dado boa noite ao seu marido... Lembrou-se das férias com a família, onde seu pai enguiçou o carro ao tentar desviar de uma tartagura na estrada, tão lenta e tão mortal assim como seu interrogatório.
Então quando iria abrir a boca, um sinal leve tocou e a equipe sabia que o interrogatório chegara ao fim e a partir dali, ela estava de volta sob o julgamento popular, sem mais questionamentos secretos, sem mais pressão ou métodos alternativos.
Gertude levantou sem dizer uma palavra e Ana ficou sozinha na sala por alguns minutos pensando que a comida ou a água estaria envenenada e só estavam esperando que ela caísse dura no chão. Ela abaixou sua cabeça na mesa, suja de suor e sangue e rezou "Aos espirítos desse mundo, aos deuses dessa local, não quero mais sofrer...", seu hálito criava uma pequena área de calor e ali mesmo desmaiou.
Henrique que observava tudo atrás do falso espelho pensou que talvez ela não fosse culpada de nada, afinal nunca vira tal criatura, mas dizem que nos Países Baixos existem seres místicos que vão para além da compreensão felina.
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