Tudo passou tão rápido que Ana não acreditou que saíra do julgamento popular com uma dívida vinte mil gatotas a serem pagos em um ano e que não poderia deixar o reinado durante esse período, nunca se sentiu tão livre, mesmo estando numa condicional.
"Mas e agora? Não sei onde estou, não tenho emprego, nem sei quanto vinte mil gatotas valem... Gatotas, que nome mais brega, parece catota..." pensou ana ao roçar o nariz com o cheiro de croquetes e perceber que a comida do dia anterior já tinha se digerido, então ela procurou a vendinha e viu uma placa de vende-se croquetes ou assim interpretou que seria, já que a linguagem escrita era totalmente desconhecida a ela.
"Como as pessoas me entendem? Eles falam a minha lingua ou eu falo a deles? E porque o alfabeto é tão diferente?" Indagava Ana enquanto as nuvens passavam lentamente acima de sua cabeça.
Ao andar mais um pouco, sentou-se num banco de um pequeno parque e pela primeira vez pode apreciar um pouco do ambiente, haviam predios com estilo rococo pela cidade, alguns com tons de rosa, outros amarelados, "As pessoas", mas logo ela se corrigiu, "os seres aqui se vestem com roupas antigas, parece que estou numa cena de filme do período", não lembrava qual seria, "tipo igual no filme da Marie Anttoinete, mas com gatos e gatas ou seria mais certo chamá-los de felinos?"
Havia alguns carros a vapor e umas bicicletas de formato estranho, nada fazia muito sentido com nada... Mas estava "livre" e lembrou-se da cuidadora de ontem, talvez pudesse ter um emprego ali como enfermeira, talvez era um início de amizade e seria bom ver um rosto familiar.
Tentou se comunicar da melhor forma possível com os locais, mas cada vez que perguntava sobre o postinho de saúde e Eduarda, as pessoas a mandavam por direções aleatórias e Ana já percebera que estava a ser enganada, sofria ali o preconceito similar quando se mudou pela primeira vez a Portugal e como brasileira, era mal atendida e considerada inadequada e vulgar.
Cansada de tanto andar ela sentou-se embaixo de uma árvore e viu um vulto preto a seguir, como na noite da festa lunar e ela sentiu os pelos arrepiarem como espinhos de cactos "Há quanto tempo estou sendo seguida? Estamos em público e não é possível que faça algo comigo aqui em plena luz do dia!". Ela então tomou coragem e disse:
- Sei que está aí e pelo jeito você queria bem que eu soubesse fazendo todo esse barulho...
Henrique ficou vermelho como pimentão, pois era essa mesmo sua inteção, ele queria mostrar que não era um ser maligno como ela achara e quem sabe iniciar uma conversa amigável. Apesar dos sentimentos pessoais, ele sabia que estava em missão e não poderia se aproximar de forma alguma. Então jogou no chão um pequeno bilhetinho com um mapa mal desenhado, mas suficientemente bom para Ana lagrimejar, não sabia se era real ou aquele seria um local suspeito.
Após pensar por alguns minutos, ela sussurou "saiba que não confio..." e saiu andando cautelosamente. A cada curva ela espiava a rua para ver se estava num local ainda seguro e não era um beco escuro sem saída e assim foi por uns 50 minutos quando finalmente avistou um simbolo que parecia ser do postinho.
Ao se aproximar viu uma figura rechonchuda através da janela, ela estava atendendo uma gatinha bebe, abandonada no dia anterior numa mala a deriva de um outro canal ao leste, conhecido por passar pela 'zona das dorgas'.
Ela entrou entusiasmada no prédio e Henrique ficou de esgueira próximo ao local, sentindo-se um pouco menos mal consigo mesmo.
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