Caindo a noite, Henrique fez a troca de turno e agora Ana seria vigiada por sua colega Tatiana, que penteava seus pelos sempre para a mesma direção e precisava checar a porta exatamente três vezes antes de sair de casa e essa missão era um desafio para todas as suas manias, não podia ter seu cronograma como planejado, ainda mais se seu alvo cada hora estava num lugar diferente, as vezes perambulando pela cidade meio perdida enquanto fazia o que lhe era mandado pela gerente do postinho.
"Virei delivery girl... Estudar tanto para que? Noites de plantão pra que? Enfrentar o pronto socorro pra que?" E ao mesmo tempo somava números mentalmente para ver se conseguiria pagar sua dívida até o final do ano ou o que aconteceria se não o fizesse. E os dias ficaram calmos por alguns dias e toda vez que o sino batia 7 horas, Tatiana dava graças aos senhores quando era a vez de Henrique seguir a tal criatura.
Cada dia que passava, Ana se sentia um pouco menos estranha com a cidade e se comunicava silenciosamente com seu admirador assim não tão secreto... Seja por meio de bilhetinhos bobos no qual ele tentava dar dicas de como viver pela cidade ou olhares misteriosos. Ana sabia que algo estava acontecendo ali "Vigiada com certeza, mas por quais motivos? Sei que Henrique tem algum interesse por mim... Mas qual seria o real motivo da realeza me colocar sob vigia...?"
Ana tentou prestar atenção nos detalhes para notar que Henrique a vigiava das 7 da manhã as 7 da noite e no outro turno uma outra sombra a seguia, mas essa ela não conhecia e Henrique nunca dera nenhuma dica... Então numa manhã no qual percebeu que Henrique estava atrasado e que a outra gata já havia ido embora, ela correu para o postinho e encontrou Eduarda já arrumando os equipamentos para o dia.
- Bom dia... Sabe... - falou Ana baixinho - você estava certa, estou sob vigia... Lembra? Como sabia?
- Vigia? - respondeu Eduarda calmamente - A realeza não faria uma coisa dessas não...
E Ana ficou confusa, mas entendeu que talvez ali não fosse o local adequado, talvez tivessem cameras, então tentou se corrigir.
- É... Aposto que o gerente do postinho está me vigiando para ver se faço um bom trabalho... Para então me dar um cargo de enfermeira, junto com você... - falou Ana sem parar - E eu já estou cansada de fazer tanto trabalho de rua...
- Sobre isso? Precisa passar no concursinho público para virar enfermeira - respondeu Eduarda - Ele não te instruiu sobre isso não?
Ana ficou pasma que ninguém havia lhe dito nada, somente Eduarda lhe era sincera e com um tom de raiva disse:
- Não... Não acredito!!
- Porque não vem depois do trabalho jantar em minha casa - falou Eduarda baixinho - E eu te ensino sobre o processo.
- Sério? - respondeu Ana - Vou sim! A gente se encontra na saí...
E Ana foi interrompida pelo gerente do postinho, o senhor George, um gato de meia idade meio forte com óculos de grau e cor de caramelo, que a chamou:
- Ana, cade o pão? Não esquece de trazer um bolinho de fuba também! E lembra do recibo e de logar no sistema!
- Estou indo, senhor George - gritou Ana enquanto fazia careta para Eduarda.
Tanto George como Henrique não entenderam porque ambas deram risadinhas naquela manhã.
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