Lá estávamos nós. No caso, o Léo e eu, no quartinho da casa da tia dele. O calor de Manaus estava tão intenso, que meu estômago parecia queimar. O Léo adorava aquilo e beijava cada parte do meu corpo. Infelizmente, o tempo era nosso principal inimigo.
O Léo tinha o poder de deixar minhas pernas bambas. A segunda vez foi melhor que a primeira, sem sombra de dúvidas. Ainda não acreditava que estava transando pela segunda vez, com o mesmo cara e um super gato.
— Tá gostando? — perguntou Léo, puxando meu cabelo.
— Sim.
— Você é muito lindo. — ele falou, beijando meu pescoço.
Uau. Pela primeira vez alguém me chamou de lindo. O meu coração disparou forte, acho que dava para ouvir. Eu estava amando aquele momento. A gente transou e foi uma loucura. Quando terminamos, parei um minuto, pois o mundo estava girando e não queria parar. O Léo vestiu a sunga, jogou o preservativo no lixo e saiu como se nada tivesse acontecido.
— Ok, Yuri. Relaxa. — aconselhei a mim mesmo, antes de sair.
***
A vida amorosa da família Cervatti estava indo de vento em polpa. No trabalho, a tia Olívia recebeu mais uma vez a visita de Orlando. Ele era um cavalheiro e sabia tratar muito bem uma mulher. Carlos se mordia de ciúmes, o estagiário da minha tia não tinha coragem de se declarar e sofria calado. Bem-vindo ao clube, Carlos. Bem-vindo ao clube.
— Carlos. Pode pegar um café para o Juiz Silveira, por favor. — pediu tia Olívia.
— Claro. — ele falou saindo do escritório.
— Então, depois da sua festa de aniversário não nos vimos mais. — comentou Orlando, sentando na cadeira e cruzando as pernas.
— Sabe como é. Vida de advogada não é fácil. — desconversou tia Olívia, ficando nervosa.
— Olivia. Somos adultos e responsáveis pelos nossos atos. Sinceramente. — pegando na mão da tia Olívia. — Eu faria tudo de novo, entretanto, te levaria para um outro lugar.
O ciúme pode ser um sentimento traiçoeiro. Carlos entrou no escritório com duas xícaras de café. Ao ver Orlando, segurando a mão de sua chefe, ele fingiu um tropeço e derrubou o líquido em cima do juiz.
— Nossa, desculpa. — pediu Carlos se tocando da besteira que fez.
— Tudo bem. Onde fica o banheiro? — questionou Orlando, levantando com cuidado para não se queimar.
— Nossa, Carlos. Deve ter mais cuidado. Orlando, vou te levar até o banheiro. — minha tia acompanhou Orlando até a porta do banheiro masculino.
— 1x1. Essa branquinha é minha. — disse Carlos com um sorriso malicioso no rosto.
Na piscina, a minha irmã me procurou. Falou com alguns amigos e ninguém sabia onde eu estava. Zedu, sempre solicito, ajudou a pestinha na caçada por mim. Ele olhou em todos os lugares da casa, porém, não me encontrava também.
Na verdade, precisei ir ao banheiro. Léo havia sido um pouco mais selvagem que na primeira vez, então, acabou me machucando. Para piorar, o meu calção era amarelo e um pouco de sangue acabou manchando a parte de trás. Tranquei a porta e lavei desesperadamente. Virei, literalmente, um chafariz. O suor saia por todos os poros existentes em mim.
Amo estar perto do Zedu, entretanto, naquela situação, a presença dele era a última coisa que desejava. Escuto três batidas na porta do banheiro, e eu grito (idiota): Não tem ninguém. Yuri, que merda, não pode ser mais burro.
— Yuri. É o Zedu. Está tudo bem? — ele questionou.
— Sim. Estou ótimo. — falei, enquanto lavava meu calção na pia do banheiro.
— Tem certeza? Está todo mundo te procurando.
Nunca esfreguei tanto um tecido. O desespero foi passando, quando a mancha de sangue sumiu. Vesti a roupa e abri a porta. Estava suado e, visivelmente, constrangido. Procurei agir da maneira mais natural possível. Sou um péssimo ator, esse dom quem herdou foi a Giovanna.
Encontrei o Zedu do lado de fora. Ele de costas, é uma figura magnífica. Suas pernas são torneadas e peludas. Ele tem uma cicatriz do lado direito da costa.
— Ei, estranho. — soltei, chamando a atenção dele.
—Tá, tudo bem? Te vi com o Léo. Achei que ele estava te importunando. — explicou Zedu, limpando o suor da minha testa.
— Estou bem. O Léo não fez nada.
— Você sabe que somos amigos, né? Se alguém mexer com você.
— José Eduardo. Está tudo bem. — garanti, pegando no ombro dele.
Quando voltei para a piscina o pessoal olhava para cima. "Será que passou algum avião aqui por perto?", pensei. De repente, olhei para Giovanna e ela apontava para o telhado. Simplesmente, o meu irmão querido, subiu no telhado da casa e se jogou na piscina. Fiquei puto da vida. Entrei na água e o repreendi na frente de todos. Pronto, ele conseguiu acabar com o meu dia perfeito.
Sentindo o climão, os meus amigos começaram a lembrar suas peripécias pelo bairro. Como no dia em que eles invadiram uma casa que estava à venda, apenas para tomar banho de piscina. Brutus contava aos risos, porque quando eles tentaram fugir, a calça de Ramona ficou presa na grade do muro e eles tiveram que pedir ajuda.
— Aquele muro acabou com o meu look. — Ramona falou lembrando da calça que perdeu naquele dia.
— Ramona, você pular o muro é a mesma coisa que o Richard ficar comportado, ou seja, tal coisa não existe. — disse Brutus, jogando água na direção da amiga.
— Gente, alguém viu o Yuri? Ele sumiu depois que brigou com o Richard. — Letícia questionou.
Zedu se dispôs a falar comigo, então, foi em direção a churrasqueira. Ele cortou algumas fatias de carne e me procurou, pela segunda vez, mas ninguém está contando, ok!
Estava chateado com o Richard. E odeio dar piti na frente dos outros. O Zedu caminhava na minha direção, quando o Léo chegou e começou a falar sobre a transa que tivemos. Desconfiado, Zedu deu meia volta e levou o prato para os amigos que estavam na piscina.
— Quer repetir a dose? Estou livre esses dias e muito afim. — Léo garantiu piscando para mim.
Aquela conversa me deu um novo ânimo, quase esqueci da traquinagem do Richard. Voltamos para casa e o coloquei de castigo. Entrei na internet e busquei dicas para apimentar uma transa. Nossa encontrei cada coisa. Fiz um kit caseiro de sedução e guardei no meu guarda-roupa.
***
Quando estava saindo do escritório, a minha tia percebeu que um dos pneus do carro havia furado. Tia Olivia é inteligente e tem várias habilidades, porém, trocar pneus não é uma delas. Ela pegou o pneu reserva e ficou um bom tempo tentando tirar os parafusos em vão. Carlos pegou sua bicicleta e passou pelo carro de titia, então parou para prestar ajuda.
— Precisa de ajuda? — perguntou Carlos, deixando a bicicleta encostada no carro.
— Um pouco. — afirmou tia Olívia, chutando o pneu furado e arrumando o cabelo.
— Vamos lá! — ele gritou, fingindo uma animação falsa e agachando para tirar os parafusos.
— Vamos. — soltou titia nervosa, ao perceber que a roupa de ciclista do Carlos mostrava o seu corpo torneado.
Enquanto trocava o pneu, Carlos, realizou uma entrevista com a tia Olívia. Ela contou toda sua trajetória no direito. A morte dos meus pais e, claro, a vida de tia/mãe de um adolescente e duas crianças. Ao invés de se assustar, Carlos, ficava cada vez mais encantado. E isso poderia ser um problema no futuro.
Após alguns minutos e um dedo cortado, Carlos, conseguiu trocar o pneu do carro. A minha tia ofereceu uma carona, mas ele não aceitou, preferiu ir de bicicleta. Titia ficou balançada com a atitude do estagiário, porém, parte foi por causa do físico dele, principalmente, a bunda. Depois, nós gays que somos tarados.
Antes de voltar para casa, ela passou em um restaurante japonês. Comprou a tradicional barca de sushi. Vez ou outra, a gente jantava como uma família, sabe. Todo mundo comendo junto e contando sobre o seu dia. Eu gostava daquilo, óbvio que omiti várias partes daquele dia. Ainda mais sobre a aventura que tive no banheiro.
— Vocês passaram pouco protetor. — reclamou tia Olívia, molhando um sushi de atum no molho shoyu.
— Desculpa, tia. O sol de Manaus é horrível. — falei em minha defesa, porque o sol de Manaus é horrível.
— A minha marca é proposital. Eu fiquei pegando um bronze. Afinal, essa é a única coisa positiva de morar em Manaus. — disse Giovanna, comendo uma alface.
— Tia! Eu pulei de cima do telhado na piscina. — Richard gritou todo animado para o meu desespero.
Ok. O comentário passou despercebido pela tia Olívia, já que Alfredo mandou uma mensagem para o seu celular. Fiquei encarregado de jogar o lixo, o meu plano era mais que perfeito. Nunca torci tanto para minha família ir dormir. Sorrateiramente, dei um jeito de levar o Leonardo para o meu quarto. Sala? ok. Escada? ok. Corredor? ok.
Parecíamos personagens de filmes de espionagem. Mal chegamos no quarto e o Léo já foi me beijando. Escapei de seus braços, coloquei uma música para disfarçar qualquer gemido involuntário. Escolhi algumas faixas do Oasis. Na hora, tocava Supersonic. O meu celular começou a tocar, então, guardei dentro da escrivaninha. Nada poderia atrapalhar nossa noite.
Alerta de spoiler? Nada atrapalhou. Cada transa com o Léo era uma descoberta nova. Eu não sabia que o meu corpo poderia ser tão flexível. Após algumas horas de beijos e carícias, o levei para a porta e nos despedimos.
Nem preciso falar que dormi até tarde. Acordei feliz, porém, desesperado quando percebi dois chupões no meu corpo. Graças a Deus, em lugares que não apareceriam em público. Os meus irmãos se viraram para fazer o café da manhã, mas em compensação, a cozinha ficou uma bagunça generalizada. Eu nem falei nada. Apenas limpei e voltei a dormir, ou melhor, hibernar.
O sono faz maravilhas com o nosso humor. Acordei renovado e decidi ir até a casa da Letícia para falar com ela. Tá bom, queria, na verdade, conversar com o Léo. Encontrei minha amiga fazendo algumas poses de Yoga na sala. Fiquei sentado, olhando em volta, procurando pelo Léo.
Era legal ter amigos para papear. Não ficava uma coisa forçada, sabe. O assunto fluía da forma mais natural do mundo. A Letícia, além de linda e habilidosa com Yoga, conseguia ser divertida. De repente, o bate-papo chegou no tema 'irmãos'.
— Seus irmãos dão muito trabalho, né?! — ela questionou quase fazendo a pose do filme Exorcista. Aquela icônica cena da protagonista desce a escada de cabeça para baixo.
— Um pouco, entretanto, consigo aguentar a pressão. Você e o Léo, por exemplo, parecem se dar bem? — perguntei tentando conhecer mais do meu novo crush.
— Só parece mesmo. Ele é ridículo. Ainda bem que ele já foi. — ela jogou a informação na minha cara, enquanto mudava de posição. Agora, plantando bananeira.
— Como assim já foi?! — levantei do sofá, nem me dei ao trabalho de disfarçar.
— Ele estuda em Santa Catarina. O Léo mora com nossos avós. — na inocência, Letícia, conseguiu derrubar o castelo de areia que construí por causa do Léo.
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