Em Parintins, Carlos tomou coragem e foi até o quarto da minha tia. O que é um pouco de merda para quem está todo cagado, né? Ele pediu desculpas pelas besteiras que falou, mas teve uma conversa franca com ela.
— Eu gosto de você. Você é inteligente, bonita e tem um coração lindo. Eu sei que essa questão do trabalho é complicada.
— Carlos. Eu tenho três crianças. Eu não tenho tempo para ter um relacionamento agora. — Titia continuava buscando razões para negar sua atração pelo estagiário.
— Eu não me importo. — Carlos se aproximou e beijou tia Olívia que retribuiu.
Sim, a tia Olívia não conseguia resistir ao charme de Carlos, ele por sua vez, parecia realmente gostar dela. Mais uma vez, eles escolheram o quarto de Carlos para aproveitar os últimos momentos da viagem.
***
Zedu. José Eduardo. O meu crush manauara. Em casa, tentava agir o mais natural possível. Ele foi o único que foi dormir comigo. Para jantar, o Zedu indicou um restaurante de comida mexicana, ou seja, noite dos tacos.
Os pestinhas foram dormir e ficamos jogando para passar o tempo. Eu não sou bom no Mortal Kombat, mas naquele dia, os deuses dos games decidiram me abençoar. Foram 20 vitórias e uma derrota.
— Foi um golpe de sorte. — disse Zedu jogando a almofada na minha direção.
— Amigo, apenas aceita. — brinquei me defendendo. — Ei, Zedu. Tem algo me incomodando...
— O quê? — ele perguntou colocando o controle do X-Box de lado.
— Quero te pedir desculpas por ontem. Não queria ter entrado no banheiro daquela forma. Se fosse comigo eu morreria.
— Fica tranquilo. Não fiquei chateado. Foi até engraçado, mas estou tranquilo, juro. — ele disse passando a mão no meu cabelo e bagunçando. — Você não fez nada de errado, Yuri Teixeira... não vou arriscar o seu outro sobrenome.
Estar com Zedu era algo bom, o assunto fluía de forma natural. A gente dormiu quase 4h, ficamos conversando por um tempo e pegamos no sono. Acordei e o meu príncipe ainda dormia. Ele ficava mais lindo ainda, parecia uma criança que precisava ser defendida. Eu devo ser maluco, gostar de uma pessoa que nem ao mesmo é gay.
No outro dia, a Letícia acordou cedo e foi com sua mãe até a agência. As duas estavam felizes e visavam uma carreira de sucesso para a jovem. Só que a escola vinha em primeiro lugar, Dona Keila negociou com mão de ferro e assustou o diretor do projeto.
— Vocês já tem um cronograma? Afinal, as aulas vão começar logo e a minha filha não pode ficar faltando.
— Sim. Já verificamos e as gravações acontecerão no período da tarde. Já enviei tudo para o e-mail da Letícia. Qualquer dúvida podem me procurar. — informou Inácio, o diretor do comercial de sabão em pó.
A minha tia chegou antes da hora do almoço. Ela decidiu nos levar para comer fora, Zedu foi o convidado de honra. Fomos a um restaurante bonito, mas havia muitas pessoas. Esperamos, pacientemente, no belo sol de Manaus. Conseguimos entrar e ficamos no mezanino, me senti no Master Chef #SQN.
A tia Olívia perguntou como nos comportamos e um flash passou pela minha cabeça. Olhei para os meus irmãos e Zedu. Fiquei vermelho e tive que disfarçar. Afinal, vi meu melhor amigo pelado, destruí uma loja com meus irmãos e fiquei preso no banheiro do shopping.
— Oi, mocinha. — disse Fernanda Figueiredo.
— Fernanda. — falei levantando. — Como assim? Não acredito.
— Quem é ela? — perguntou Zedu para Richard.
— Até hoje não descobri. — respondeu meu irmão dando com os ombros.
Conheci muitas celebridades no Rio de Janeiro. Eles sempre estão espalhados pelos bairros mais chiques e badalados da capital carioca. Em Manaus, a Fernanda foi a primeira famosa que encontrei. Tirei fotos e mais fotos. A Giovanna parecia indiferente e aquilo gerou suspeita na tia Olívia.
— O que vocês aprontaram? — ela questionou.
—Tia. Um inseto gigante mordeu a senhora. — soltou Richard apontando para o pescoço da titia.
— Preciso ir ao banheiro. — saindo apressada.
— Obrigada, Richard. — disse Giovanna aliviada e levantando para tirar outra selfie com sua artista de maquiagem favorita.
— Não vai desmaiar, né? — perguntou Fernanda abraçando Giovanna.
— Desmaiar, Giovanna? — questionei olhando para ela.
— O quê?! — Giovanna se fez de desentendida e tirou uma foto com Fernanda.
— Tchau, meninos. Foi um prazer. — falou Fernanda, antes de sair.
— Tchau. — me despedi sentando ao lado de Zedu.
— Ela é bonita. — comentou Zedu.
— Nem tanto. Ela é mais simpática. — falei deixando meu lado ciumento falar.
— Deixa eu ver a nossa foto? — ele pediu colocando a mão em volta do meu pescoço.
— Claro. — mostrei todas as 100 fotos que tirei com a Fernanda.
— Não. As fotos de ontem, que a gente tirou antes de dormir. Passa pra mim. Eu prefiro elas, nem conheço essa moça.
Depois daquele almoço agitado, voltamos para casa. A titia Olívia passou o resto do dia com uma echarpe em volta do pescoço. Os meus amigos me convidaram para ir até a Ponta Negra, a praia que conheci no primeiro dia em Manaus.
Nossa, o pôr do sol daquele lugar é lindo. Infelizmente, as férias estavam acabando, porém, aquele momento era apenas o início da nossa aventura.
— Vamos tirar uma selfie!!! — Ramona gritou nos assuntando e fazendo uma selfie em grupo. — Pronto. A última recordação dessas férias.
Comecei a bater palmas para o pôr do sol. Os meus amigos me olharam de forma estranha. Então, expliquei que o Rio de Janeiro, os turistas costumam aplaudir o pôr do sol. E, cara, o de Manaus estava espetacular. A Ramona ligou uma caixinha de som e começou a tocar Pôr do sol, da Xandreli.
***
Pôr do sol brilho radiante
Esconde ouro ou diamante o que tu tens de bom
atrás do monte, brilhou raio solar, vai logo buscar
uma paixão, um amor distante
que sempre a faz lembrar, que o mundo é bom
desde que você possa amar
***
Olhei para o Zedu e a luz dourada do sol o deixava mais lindo. A Letícia colocou a cabeça no meu ombro. O Brutus deitou a cabeça no colo da Ramona. Do nada, o Zedu deitou a cabeça no meu ombro também. A gente ficou admirando aquele monumento que se mantinha brilhando com tanta força.
— Ela é perfeita. — soltei sem conseguir olhar para o Zedu.
— Quem? — ele perguntou ainda com a cabeça no meu ombro.
— A mãe natureza. — falei.
— Sim. Maravilhosa. — concordou Letícia que também ouviu.
— É verdade. Ela é perfeita. — garantiu Zedu rindo e encostando sua mão na minha.
***
Pôr do sol, janela amarela, ilumina o quarto escuro
não há mais breu, apenas ela, sonhando
com um amor que a vida te deu
o que será que ela busca nesse amor que sede de amar
***
Minha tia admirava o pôr do sol da Janela de casa. Ela pegou no pescoço e lembrou de uma conversa que teve com Carlos antes de embarcarem no avião para voltar a Manaus.
— Eu não me arrependo de nada. Faria de novo. Se você quiser me demitir vá em frente, faça. Eu faria de novo. Você vale a pena. — Carlos disse passando por ela e entrando no avião.
— Carlos. — chamou titia.
— Oi. — ele disse olhando para trás.
— Nada aconteceu. — passando por Carlos e entrando no avião.
***
Romance bom, menina que sabe sonhar
Então põe-se o sol, mas não a esperança dela
há inocência em pensar que seu amor a espera
toda vez que o sol esconde e se vai, ela o ama
Comments (0)
See all