Olhei para o Zedu na esperança de ser escolhido, porém, a rata da Alicia colocou o braço em volta do pescoço dele e, lógico, marcou território. O Diogo pegou no meu ombro e perguntou se eu queria fazer dupla com ele, claro que aceitei.
O tema do projeto? Personalidades brasileiras. Deveríamos pesquisar sobre a vida de pessoas importantes para a história do Brasil e fazer um trabalho interativo. Diogo e eu, nos reunimos na hora do intervalo, no nosso lugar, como a gente gostava de falar.
Depois de muito debater optamos por contar a vida de Chiquinha Gonzaga. Fiquei muito animado, mas ainda teríamos que decidir a forma de apresentar o projeto. Fui tomar água e encontrei Zedu no bebedouro.
— E esse trabalho? — ele perguntou enchendo uma garrafinha rosa, que penso ser de Alicia.
— Nem me fala, o Di e eu, já decidimos o que vamos fazer. Quer dizer, parcialmente. — falei rindo e tomando um gole de água.
— Sério? Trabalham rápido. Gostei.
***
Sabe duas coisas que não combinam? A tia Olívia e as atividades do lar. A gente sabia que ela não era um exemplo de dona de casa, entretanto, para não pensar tanto em Carlos, a titia resolveu capinar o mato que crescia na calçada de casa.
A minha tia parecia uma guerreira de Esparta empunhando uma espada para dizimar seus inimigos. Uma vizinha percebeu a presepada e se aproximou.
— Tá precisando de ajuda? — perguntou a mulher que segurava uma vassoura.
— Ah, não, obrigada. Estou pegando o jeito.
— Sou nova no bairro. O meu marido é militar e o exército alugou uma casa para nós.
— Ah, que legal. Sou Olívia.
— Sou Joyce, prazer em te conhecer.
— Mudei faz um mês. Sou do Rio de Janeiro. Ganhei uma oportunidade de emprego e vim para o Amazonas. — explicou tia Olívia.
— Menina, sou do Rio Grande do Sul. Pensa na aventura que foi viajar para Manaus. Quer tomar uns drinks? — perguntou Joyce.
— Eu ia adorar.
***
Educação física. Como eu odeio essa matéria, principalmente, quando o professor quer nos ensinar o estilo fitness. Percebi que o nosso gosta de fazer a gente correr em círculos, graças a Deus, que ele deixa cada um ir no seu ritmo e o Diogo me acompanhou todo trajeto. Zedu por outro lado era a estrela da escola, o Brutus nem preciso falar.
— É o seguinte. Ainda temos um tempinho. Que tal a gente jogar um pouco de futebol? — perguntou o professor para a alegria dos héteros e do Diogo, até estranhei.
— Zedu e Brutos. Vocês serão os capitães dos times. Escolham. — ordenou o professor.
Não sei se foi por pena ou amizade, mas o Brutus me escolheu primeiro. Meio desanimado, caminhei para o lado dele do campo. Então, Zedu e ele começaram a escolher realmente quem era bom. O Diogo sobrou e ficou na equipe do Zedu.
Ótimo. Até as meninas ficaram no meio, Alicia ficou com raiva por que ficou no time de Brutus. Eram 14 contra 15, imaginem a bagunça que virou aquela quadra. Apesar de amigos, o Zedu e Brutus levavam uma disputa à sério. Eu quase não reconheci os dois em campo.
Outra que me impressionou foi Letícia. Ela era tão habilidosa quanto os meninos. O Diogo fez o primeiro gol contra o time do Brutus. O Zedu passou por ele e o cumprimentou. Realmente, o futebol une as pessoas. Ramona e eu, ficávamos correndo de um lado para o outro com medo da bola.
— Migs, fica comigo. A Letícia tá acostumada. Vamos fingir que estamos correndo atrás da bola. — sugeriu Ramona, se escondendo atrás de mim.
— Que horror. Não fui feito pra jogar bola. — reclamei.
— Por que tú é a bola! — exclamou João olhando para mim e rindo.
— Repete. - pediu Diogo empurrando João. — Repete se você for homem.
— Calma. - pedi segurando o Diogo para evitar uma confusão maior. — Ele fez uma piada.
— Que bagunça é essa?! — questionou o professor soprando o apito. — Eu quero todo mundo jogando!!!
Todos ficaram do lado do Diogo. O comentário do João foi infeliz e só causou mal estar. Ainda bem que nada de grave aconteceu. Fiquei olhando para o Diogo, que estava se mostrando ser um grande amigo. Só que minha atenção se voltou para o José Eduardo.
Zedu era muito lindo jogando, o jeito que a camisa dele ficava colada no corpo por causa do suor. Nossa. Ele e Brutus disputavam a bola, até que o Zedu conseguiu se livrar dele e chutou para trave e seria um belo gol, se não fosse um problema: eu.
Ramona e eu, passávamos em frente à trave quando o meu amigo chutou o mais forte que pode. A bola pegaria nela, se eu não a empurrasse e recebesse uma bela bolada no rosto.
O som da bola contra meu rosto criou um eco dentro da minha cabeça. Caí sentado no chão e não consegui definir ainda o que havia acontecido. Diogo correu na minha direção e me ajudou a ficar de pé.
— Deixa eu ver. — pediu Diogo levantando meu rosto. — Está saindo sangue do seu nariz.
— Yuri. — soltou Zedu correndo em minha direção. — Você está bem?
— Sai daqui, babaca. — disse Diogo empurrando Zedu que caiu no chão. — Você já fez demais.
— Diogo, leve o Yuri para a enfermaria. — mandou o professor, olhando com uma expressão séria para Zedu. — Sacanagem, cara. Logo você!
— Foi sem querer. — Zedu ainda estava em choque pela violência que ele chutou a bola, na verdade, o alvo era o Diogo.
— Vem, bebê. — Alicia ajudou o namorado a ficar em pé. — A culpa nem foi tua, Zedu. A orca que ficou na frente.
— Cala boca. — Zedu saiu da quadra deixando Alicia sozinha.
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