Eu não sou de desistir, mas puta merda, o meu corpo está pedindo socorro. O Adam decidiu criar um percurso de parkour. Na verdade, ele está ensinando outros jovens da vila. A ideia surgiu depois da nossa última caçada. Eu pedi para ser ensinado. Se arrependimento matasse.
No fim do mês, teremos uma competição para saber qual é o "Rei do Parkour". Como demonstração, o Adam fez o percurso 10 vezes. 10 "cacetes" de vezes. Nunca vi alguém tão ágil.
Eu quero que ele fique orgulhoso com o meu desempenho, entretanto, tenho certeza que não vai rolar.
— Aaaah! — grito ao cair de uns dos obstáculos. A lama suaviza a queda, mas não é de grande ajuda.
— Força, Cris! — Adam grita e bate palma, como se fosse um pai orgulhoso, enquanto o meu pai de verdade não está nem perto.
— Falar é fácil. — murmuro. — Ele tem duas montanhas nos lugares dos braços. — continuo a reclamação dentro dos meus pensamentos. Aproveito para limpar a lama do meu corpo. — Porque lama? — pergunto do Adam, que se aproxima trotando para não escorregar.
— É um incentivo. — garante Adam, fazendo uma careta engraçada. Ele fica estranho quando tenta ser fofo. — Bebê, você precisa se concentrar mais. Essa habilidade vai te dar uma vantagem extra em um embate.
— Ainda bem que fiz unguento extra. Você me deve uma massagem no corpo todo. — digo no ouvido dele.
— Opa. Pode cair à vontade. — brinca Adam, voltando a atenção para um dos moradores da vida que caiu feio. — Deixa eu ir lá. — trotando na direção do homem. — Ei, Paulo. Você tava indo bem, cara. — baixando e o ajudando. — Vamos mais uma vez?
A primeira semana de treino é horrível. O meu corpo dói em lugares que nunca pensei que doeria. Aparentemente, os moradores da vila estão gostando dos treinos, principalmente, os mais jovens. Bolhas começam a aparecer em minhas mãos, pelo menos, o Adam me faz uma massagem no fim do dia.
Nós evitamos uma proximidade maior nas áreas comuns da vila, mas, dentro de casa, a situação muda de figura, ainda mais com a ausência do Coronel Afonso, que vive fazendo reuniões extraordinárias. Nos últimos dias, senti uma abertura maior por parte do Adam. Até sobre sentimentos estamos conversando.
Aos poucos, estou tendo uma visão melhor do Adam. Ele não é mais aquele cara bruto, que distribuía socos no refeitório. Ok, não vou exagerar, o Adam continua a mesma pessoa, porém, a cada dia, evoluímos mais enquanto casal. Somos perfeitos juntos. Só que me questiono até quando essa felicidade vai durar? Espero que muito tempo.
A rotina ficou mais pesada por conta dos treinamentos. Aos olhos da comunidade, o Adam se tornou um excelente professor. Eu já estava mais desenvolto dentro do percurso. O meu tempo começou com 30 minutos, agora, faço tudo em menos de quatro minutos. A pior parte é aguentar o meu próprio peso, ou seja, meus bracinhos são fracos demais.
Um dos idiotas que mexeu comigo no refeitório, o Eric, conseguiu se destacar como um dos melhores "atletas" do percurso. O babaca ficou todo feliz por ter um bom tempo. Grande coisa, se eu treinar, tenho certeza que faço um tempo melhor. Para impressionar a comunidade, eu treinava todos os dias, inclusive de madrugada.
O melhor dessa rotina louca? O Adam. Ele era um ótimo treinador, porém, como massagista, ele se supera. O ruim é que só podíamos ficar de boa quando o meu pai não estava. Em um sábado chuvoso, o Coronel Afonso saiu para colher novas informações sobre o perigo que nos rondava e aproveitamos esse tempo a sós para curtir.
— Você é muito gostoso. — falei, tirando a camiseta e sendo atacado pelo Adam.
— Você é muito mais, Cris. Eu amo beijar cada parte do seu corpo. — ele disse, entre um beijo e outro.
— Estou pronto. — soltei, ajudando o Adam a tirar o moletom.
Eu ouvi uma vez, que as cicatrizes em nossos corpos fazem parte de quem somos. O corpo de Adam é todo marcado. Algumas cicatrizes são discretas como, por exemplo, a que ele tem nos braços. Outras, chegam a ser sobressalentes, iguais às que o Adam tem nas costas. Eu fico pensando no que ele sofreu. Talvez a amnésia seja algo bom. Talvez, ela esconda os horrores que esse homem já viveu.
Só de pensar no Adam sofrendo, o meu coração começa a doer. Estou tendo um mix de emoções, porque é a primeira vez que vou fazer sexo com alguém que eu amo. Eu o deito na cama e beijo o seu peitoral nú. Não tenho pressa. Passeio em toda essa perfeição. A respiração dele fica irregular, o meu trabalho está sendo bem feito. Passo a língua no pescoço, mamilos e barriga.
— Você já fez isso com muitas pessoas, né? — ele pergunta, então, paro e volto a minha atenção para respondê-lo.
— Alguns caras. Muito mais na juventude, agora, a maioria se casou e fingem que nem me conhecem. — revelei. — E você? Tipo, eu sei que você não lembra, mas, por exemplo, você ainda tem suas habilidades de luta, então, talvez, lembre de algo e...
— Eu acho que sou virgem, ou pelo menos, não tive nenhuma experiência relevante. — comentou Adam.
Cara, eu não sei se o Adam é vivo, porém, ele me fez gemer a madrugada toda. O homem é um touro. Até aquele momento, a minha referência de sexo era uma rapidinha no estabulo ou em alguma sala vazia. Ali, no quarto com o Adam, eu criei um novo patamar que seria difícil de superar.
Dormimos abraçados, mas cedo da manhã, ele voltou para o próprio quarto. Não poderíamos dar mole para o Coronel Afonso. No café da manhã, o Adam parecia mais animado que o normal. Parecia os adolescentes que eu transava. Sim, acho que o jeito dele respondeu os meus questionamentos. Eu fui o primeiro do Adam. E isso me deixa muito feliz.
— Bom dia, flor do dia. — Adam me cumprimentou, sentando à mesa com um café digno de um rei.
— Bom dia. — desejei. — Você dormiu bem?
— Sim. Senta aqui. Vamos tomar café. Temos um dia cheio pela frente. — comentou Adam.
Nunca comi tanto. Fomos ao banheiro e, infelizmente, não pudemos aproveitar, pois haviam alguns babacas que voltaram de uma caçada e decidiram tomar banho no mesmo horário. Com a higiene em dia, seguimos para o percurso. Pouco a pouco, o meu desempenho ficava melhor. Infelizmente, uma forte chuva torrencial caiu e molhou todo o trajeto.
Eu não me fiz de rogado. Subi, desci, me esgueirei e venci. O meu tempo caiu para dois minutos, alguns segundos a mais que o Eric. O refiz mais 15 vezes. Para diferenciar, decidi usar a Vila de São Jorge como o meu percurso. De uma maneira engraçada, desafiei o Adam para correr comigo. O pessoal da comunidade ficou interessado na disputa.
A ideia era seguir até o portão, mas sem pisar no chão. Respirei fundo e a enfermeira Lidiane fez a contagem regressiva. Usei os primeiros prédios ao meu favor. Eu perdi o Adam de vista, por isso, decidi focar no que eu queria. A maioria das casas da vila eram de metal, corri como se a minha vida dependesse disso. Pulei entre um prédio e outro, mais de dois metros, e caí de maneira graciosa do outro lado. Rolei, como o Adam ensinou e continue correndo.
Faltava pouco para alcançar o portão. A chuva persistia em cair, entretanto, não seria um pouco de água que me deteria. Enquanto corria, observei o ambiente e poderia usar o celeiro para chegar ao portão principal. Balancei nos ferros do celeiro e cheguei ao meu objetivo. Fiquei todo feliz, só que o Adam já estava lá, sentado e com as pernas cruzadas.
— Como? O quê? — questionei confuso.
— Desculpe, baby. — ele lamentou piscando para mim.
— Ajuda! — alguém gritou e um dos guardas abriu o portão.
O meu pai entrou segurando um dos moradores da vila, que, aparentemente, havia sido mordido por um zumbi. Era o Caleb, um dos caçadores da comunidade. Nesses casos, a regra de ouro é sacrificar a vítima, porém, a esposa dele estava grávida e uma despedida era necessária.
Ao ver o marido com uma grave mordida na barriga, a mulher se desesperou. Nem se importou com a chuva que insistia em cair. A cena partiu o meu coração. O mundo mudou. Agora, era morrer ou viver. Não existia diferença entre o bem e o mal. Me aproximei do Adam e segurei em seu braço.
— Caleb, eu te amo. Eu sempre vou te amar! — gritou a mulher chorando sob o corpo do marido, que lutava para se manter vivo.
— Eu te amo, Marilia. Por favor, tome de conta da nossa criança. Eu vou encontrar vocês um dia, eu juro. — ele disse, pegando na mão da mulher.
A pele do homem estava cheia de veias saltadas. Esse é um dos sinais da infecção se espalhando pelo corpo. Os seus olhos ficaram com uma cor avermelhada. De repente, Caleb teve algumas convulsões e morreu. Algumas pessoas se afastaram, mas Marília continuava desolada abraçada ao corpo dele.
— Marilia, você precisa se afastar. — pediu o meu pai, pegando a arma e apontando para o corpo inerte de Caleb.
— Não atire nele, por favor. — implorou Marília, sendo retirada de perto do marido. — O Caleb sempre foi o homem mais lindo da vila.
— Senhor. — Adam se meteu no meio da confusão. — Não precisa atirar nele. — Adam sentou no chão e ficou posicionado atrás de Caleb.
— Adam. — tentei intervir, mas as pessoas ficaram me encarando de maneira estranha.
Eu já vi uma pessoa se transformando. Primeiro, os olhos abrem, mas não parecem mais de humanos. As pupilas ficam vermelhas e a íris branca. Uma baba vermelha começa a sair da boca. Na fase inicial, os zumbis são chamados de atletas, por causa da força e velocidade.
Caleb começou a tremer e vomitar uma gosma vermelha. No mesmo instante, o Adam quebrou o seu pescoço e, finalmente, Caleb pode descansar em paz. A Marília correu na direção do esposo e o abraçou, agora sem perigo de ser mordida por um morto-vivo, apesar de ser o seu marido.
A minha atenção foi para o Adam, que falou alguma coisa com o papai. Eu não gostava desses segredos. Me sentia deixado de lado. Nunca fui o preferido do Coronel Afonso, ainda mais quando ele soube da minha sexualidade. As coisas mudaram entre nós. Fomos de melhores amigos para completos estranhos.
De noite, fui tomar banho sozinho. Eu estava cansado dos julgamentos e queria um momento a sós. Como sempre, o babaca do Eric apareceu no banheiro. Ele estava completamente embriagado. Após se despir, ele se aproximou de mim.
— Eu perdi o meu melhor amigo, Cristian. Eu preciso de um carinho. — ele me agarrou por trás e ficou se esfregando.
— Me solta, porra. — eu pedi, chorando. — Me solta, Eric. Estou cansado de vocês. — dei uma cabeçada no desgraçado, que caiu no chão. — Filho da puta, nunca mais me toca! — o soquei. — Eu te odeio, eu te odeio. — desferi mais de 10 socos no rosto dele, algo que deixou o chão do banheiro coberto de sangue.
— Cristian. — Adam me segurou, mas teve dificuldades, porque esperneei e queria matar o Erick.
— Eu vou matá-lo! Eu vou matá-lo!!! — gritei em surto.
— Ei, por favor. Já passou, meu amor. Eu não vou deixar mais ninguém te machucar. — Adam falou no meu ouvido e a voz dele me acalmou. — Adam me virou na sua direção e me beijou.
— O que está acontecendo aqui? — meu pai perguntou ao ver o Eric ensanguentado no chão.
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