Era manhã, o vento farfalhava pelos galhos e os raios de sol eram intensos naquela região. Ele estava novamente sentado no topo de uma árvore próxima a cachoeira da lua azul - um local sagrado para os elfos, onde os únicos barulhos que se ouviam eram o balançar das folhas e o som da queda d'água - aquele era o lugar favorito dele.
Mays era um jovem elfo que vivia com a mãe dentro da floresta sagrada, nos arredores da vila da fonte. Por ser uma criatura um pouco diferente das outras, ele não se sentia muito confortável perto de outros da espécie a qual pertencia, e por isso preferia permanecer sempre fora do alcance dos moradores da região.
Naquele dia, a jovem criatura havia acordado cedo, e já havia feito algumas das tarefas que a mãe tinha pedido na noite anterior. Agora a última tarefa que restava era achar algo para comer, mas, por mais que ele procurasse, ainda não havia conseguido encontrar nada.
Ele estava muito nervoso com o que estava prestes a chegar, por isso focava tanto no que a mãe havia lhe pedido. Ele estava tentando esquecer, mesmo que por apenas um breve momento, queria se acalmar um pouco. A existência de tanta ansiedade era justificável, afinal, depois de amanhã seria o grande dia. Deveria sair cedo para chegar logo à capital que, por mais que não ficasse longe, estaria cheia dos outros elfos vindos de todas as regiões do continente, todos se reunindo para a cerimônia do início do ciclo de treinamento.
Ele estava com medo, não só por ter que ir a Pryl, mas também porque amanhã seria o dia em que completaria o 50º ciclo. Já não bastava não possuir uma das benção da deusa, ele também ainda não havia despertado o dom mágico que todos os elfos possuem. Esse era um assunto muito delicado para ele, e que o deixava facilmente abatido.
Mas, antes de se deixar levar pelos próprios pensamentos, o jovem elfo lembrou-se que ainda estava em cima da árvore, e também que tinha preocupações mais imediatas naquele momento, ele recordou que ainda não havia cumprido a última tarefa.
Assim, resolveu então descer da árvore em que estava, e com cuidado, foi pisando de galho em galho para chegar ao solo. Ele sabia que era desastrado, a mãe e a irmã viviam o lembrando disso, e por isso sempre tomava cuidado, sabia que podia cair, mas ainda assim amava a vista do topo das árvores, então não se importava muito com esse pequeno o risco que corria.
Ele estava conseguindo daquela vez, com o cuidado que estava tomando já estava quase chegando no último galho sem nenhum deslize. Porém, antes de chegar no fim da descida, ele avistou um pequeno ninho, logo abaixo de seus pés, e então, tomou um pequeno deslize, apenas para não machucar as criaturas. No entanto, isso foi o suficiente para gerar um pequeno estrago.
- Aaaaaaaaahg! - disse ele pisando em falso e caindo no chão, depois de tentar desviar do pequeno ninho.
Mesmo tentando se segurar, seus longos braços não foram rápidos o suficiente para mantê-lo de pé e evitar a queda. Felizmente ele já estava quase no chão, e por isso não se feriu muito. E com a mesma sorte o ninho estava intacto, daquela vez o péssimo equilíbrio de Mays não machucou nenhuma criatura além dele.
O resultado da queda foram apenas alguns arranhões na mão, uma dor intensa e momentânea que sentiu na perna esquerda e a roupa, que estava toda suja. Por sorte ele tinha um pouco de água consigo, o que usou para limpar os arranhões, enquanto reclamava do ardor de quando ela batia na pele machucada.
Depois de lavar as feridas e se limpar, ele pegou o arco e as flechas que havia deixado encostado à beira da árvore antes de a escalar, e começou então a caminhar na direção oposta à cachoeira. Precisava encontrar algo logo para que pudesse preparar ainda a tempo do almoço.
Ele estava preocupado, não podia demorar para encontrar algo, mas por mais que buscasse, não achava nada. Não poderia recorrer a vila, ele não era bem vindo ali, e também, não queria ter que roubar os restos de alguém novamente, e nem poderia pedir ajuda. Eles não se importariam, não ligariam pra ele, e mesmo assim, o orgulho ainda falava mais alto que a necessidade que tinha.
A única opção dele era continuar buscando por algo na floresta. E mesmo que odiasse matar a qualquer criatura, talvez houvesse chegado o momento em que isso fosse novamente necessário.
Na verdade, nenhum elfo matava criaturas por prazer, ao menos não era comum. A vida para todos eles era algo sagrado, e a morte dos animais era enxergada por eles como um sacrifício, e por isso era um momento de demonstração de respeito pela criatura.
Assim, o jovem Mays continuava a busca em meio as grandes árvores da floresta sagrada, mas quanto o tempo ia passando, mais preocupado ele se sentia. Ainda, estava cedo, mas ele pensava se daria tempo de retornar a casa e preparar tudo antes da chegada da irmã. Ela estava vindo da capital após muito tempo para levá-lo em segurança para o início do ciclo.
Enquanto a ansiedade o consumia, o tempo ia passando rapidamente. Ele conhecia aquelas matas onde estava como a palma da própria mão. Vivia ali desde que se lembrava. Nenhum elfo andava tão bem pela floresta sagrada quanto ele. Sabia que estava longe de casa. Também sabia que a caminhada para retornar seria longa, por isso não podia demorar muito mais, precisava encontrar algo urgentemente. Qualquer coisa que eles pudessem comer, já seria o suficiente.
Então, enquanto se perdia em meio em preocupações, o jovem elfo viu ao longe um pequeno arbusto, cheio de pequeninas frutas vermelhas. Ele as conhecia, sabia que eram seguras para comer, e que também eram deliciosas.
As frutinhas pareciam maduras, e exalavam um cheio delicioso e intenso, mesmo ainda distante delas. Elas refletiam um vermelho arroxeado, e seus gomos brilhantes as deixavam cada vez mais suculentas.
Mays então achou que seria uma boa ideia pegá-las, pois, poderiam as comer, e também, enquanto ele estivesse ali, talvez alguma criatura aparecesse para comer as frutinhas. Com sorte uma delas estaria ali antes de ele ir embora.
Ele resolveu então caminhar em direção ao arbusto e, enquanto se aproximava, Mays começou a ouvir um som que parecia vir de uma grande criatura em movimento. O barulho vinha de algumas árvores próximas do arbusto, que estavam logo à frente dele. Estava aliviado, não imaginava que seria tão rápido para que uma delas aparecesse.
Mas logo o alívio foi se transformando em medo. À medida que tentava ainda se aproximar das frutinhas, o barulho ficava cada vez mais e mais alto, ele não imaginava que poderia ser uma criatura tão grande.
Por mais que estivesse próximo, ele sequer havia chegado até os arbustos para colher as frutas. De qualquer forma, ele não tinha comida alguma, então, mesmo com medo, a opção que restava era atacar o animal.
Assim, Mays se pôs em alerta, e decidiu se preparar para atirar uma flecha na criatura com o arco que sempre carregava consigo. Então, ele empunhou o arco e começou a mirar na direção de onde vinha o som do movimento da criatura.
A cada segundo que passava o jovem se sentia mais tenso, e o barulho na mata apenas aumentava. Aquela poderia ser a refeição que ele tanto buscava, mas ele só conseguia pensar no que aconteceria com ele se ele não conseguisse atacar a criatura, na melhor das hipóteses eles ficariam sem comida, ele não queria nem pensar na pior, então precisava ser forte.
Além disso, por mais que a criatura talvez pudesse ser grande, o barulho já estava muito perto para desistir agora. Os galhos dos arbustos entre ele e as frutinhas já haviam começado a se mover, e assim que as plantas se abriram, ele não conseguiu acreditar no que surgiu diante dos próprios olhos.
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