— Elliot! — Peter chamou num grito surdo, Elliot não lhe ouvia. Tentou ligar novamente sua lanterna, mas ela não funcionava. Tomado pelo desespero, apalpou o chão em busca de algo que lhe ajudasse. Finalmente encontrou uma pedrinha, e, sem pensar muito, atirou-a em Elliot.
— AI! Você tá louco? — Elliot reclamou, colocando a mão no local atingido quando acordou de seu devaneio.
— Fala baixo, e, pelo amor dos Deuses, vamos embora agora!
— Nossa, mas... — Elliot foi interrompido por um ruído estranho que nenhum dos dois havia escutado antes na vida. Um ruído que fez doerem seus ossos. Com os pelos do corpo arrepiados, Peter agarrou a mão de Elliot com força e correu de volta em direção ao acampamento, não parando por um segundo sequer até estarem sob a segurança da fogueira e companhia do resto da turma.
— Ótimo... Estamos vivos…
— MENINOS! Deuses, onde vocês estavam? Nós ficamos tão preocupados! Já são meia-noite e quinze, onde foi que vocês se meteram?
— Meia-noite e quinze...? Mas... — não fazia sentido. Eles não ficaram na Floresta por tanto tempo assim, tinham voltado antes das onze e meia! Será que…
— Vocês estão bem? — Sammy perguntou realmente preocupada, entregando a jaqueta de Elliot e abraçando os dois, como se agradecendo por terem voltado.
— Estamos, prima, nós só... Acabamos nos perdendo... — a mente de Peter estava distante dali. O garoto não conseguia parar de pensar no que acabara de presenciar. Como assim já tinha passado de meia-noite? Desde que Elliot tocou o Fio Vermelho... Espera. — Elliot!
Desde que voltaram, o mais novo não dissera uma única palavra. Quando o amigo o chamou novamente, foi como se tivesse mais uma vez acordado de um pesadelo. Com as mãos trêmulas e o coração batendo forte no peito, Elliot abraçou Peter, ainda em silêncio. Era só parar de focar em algo que sua mente logo voava para a curiosidade seguida pelo pânico que sentira ao encarar o Fio Vermelho.
Preocupado, Peter apenas retribuiu o abraço com força, encarando a prima com um olhar de interrogação. A garota deu de ombros, com o mesmo olhar.
Algum tempo depois, todes já estavam em suas barracas e o luar era o único a iluminar o acampamento. Desde aquele momento até agora, Elliot continuava em total e profundo silêncio. Completamente sem sono, virou-se para o outro lado no saco de dormir e decepcionou-se ao encontrar um Peter adormecido. Sem saber o que fazer, levantou-se e abriu a barraca devagar, saindo com cuidado para não fazer barulho algum. Sabia que não era seguro sair àquela hora da noite, mas também sabia que não conseguiria dormir. Com a câmera no pescoço e o moletom amarrado na cintura, calçou novamente seus tênis e encarou Iki, a única lua visível no céu naquele momento. Uma sensação de conforto percorreu seu corpo, e então ele foi.
Sem pensar muito, caminhou em direção à Floresta na intenção de conseguir mais fotos. O professor definitivamente não poderia saber que estava sozinho entre as árvores a essa hora, mas, afinal, ele não descobriria se ninguém contasse.
Após alguns minutos andando, o garoto encontrou novamente o grupo de pequenas luzes mágicas. Sorrindo, passou por elas e seguiu o mesmo caminho que haviam feito mais cedo, acabando por achar o grupo de fadinhas. Sem se aproximar, piscou para elas e seguiu em frente, tirando algumas fotos pelo caminho. Elliot encontrou no tronco de uma árvore uma espécie de fungo elíptico, e, ao tirar a foto do serzinho piscante, sentiu uma pontada no peito. Cambaleou para trás e, meio sem fôlego por causa da dor, apoiou a mão na mesma árvore.
Foram precisos alguns segundos para que se recuperasse e, só então, voltasse a observar o tronco escuro. Ao fazê-lo, o desespero tomou sua mente mais uma vez.
Amarrado à grande árvore, o Fio Vermelho brilhava, chamando Elliot.
Sua mente estava completamente vazia, com exceção do profundo medo. Seus ouvidos não captavam som algum e a única coisa que seus olhos eram capazes de distinguir era a cor vermelha pulsando em sua frente. O garoto respirou fundo e, totalmente hipnotizado, aproximou a mão do brilho. A cada centímetro mais perto, mais rápido seu coração batia.
A meio milímetro de tocar o fio, a mão de Elliot parou. Ele piscou duas vezes devagar, e olhou para a frente. Então, voltou a encarar o Fio e se agachou, passando debaixo dele.
Foi como se atravessasse uma cachoeira de água fresca. No segundo em que ultrapassou o Fio, sua visão se adaptou perfeitamente à escuridão da Floresta, e ele voltou a conseguir escutar o balanço das longas folhas pelo vento puro. Uma brisa suave passou por seu corpo, lhe causando um arrepio bom. Por precaução, desamarrou a blusa de frio de sua cintura e a vestiu, logo voltando a olhar em volta. Seus olhos brilhavam diante de tamanha beleza.
Animais jamais vistos em quaisquer livros da faculdade voavam e dançavam com o vento, de forma incrivelmente encantadora. Cores nunca antes distinguidas por olhos humanos ou lentes de câmeras tornavam a cabeça de Elliot uma confusão de indescritível perfeição.
O sorriso que inconscientemente surgira em seus lábios avermelhados cresceu ainda mais quando uma linda criatura que parecia o cruzamento entre uma fênix dourada e uma fada volitou em frente aos seus olhos, tocando seu nariz suavemente com a mãozinha pequena e macia. Com um breve aceno de cabeça que foi retribuído por um Elliot maravilhado, tal ser deu um leve rodopio e voltou a levantar voo, iluminando o próprio caminho com seu brilho natural.
O garoto estava tão apaixonado pelas incríveis coisas presentes diante de seus olhos tão sensíveis à beleza da natureza que nem passou em sua cabeça capturar alguma daquelas místicas cenas. E ele também não foi capaz de reparar que se distanciava inconscientemente do Fio Vermelho e da árvore com os fungos elípticos.
Enquanto seguia alegre uma borboleta brilhante que voava baixinho, Elliot tropeçou num galho mais alto que os outros. Com o susto, fechou os olhos com força e se encolheu, esperando o baque contra a grama fluorescente…
Mas o baque não veio.
Seus olhos se apertaram ainda mais quando sentiu duas mãos geladas te impedirem de cair. Após alguns segundos de taquicardia, abriu os olhos devagar, fitando pés descalços que pareciam muito acostumados ao chão irregular da Floresta. Trêmulo, virou a cabeça lentamente, subindo pelo corpo da criatura que segurava seu corpo com cuidado. Braços fortes, clavícula à mostra pelo casaco com os primeiros botões abertos, pescoço com veias quase visíveis por conta da claridade de sua pele. O desespero voltou a apertar seu coração com toda a força quando seus olhos encontraram os de seu salvador. Íris vermelhas, cor de sangue.
Tomado pelo medo, Elliot se contorceu inteiramente para se desvencilhar dos braços do vampiro, acabando por cair sentado no chão a poucos metros de seu corpo alto. Tentou com todas as suas energias desviar o olhar, mas não conseguiu. Algo dentro de si lhe dizia que se tratava de Gael Zintius.
O vampiro o encarava como se analisasse o fundo de sua alma. A sensação era horrível. Quando Gael inclinou a cabeça para o lado levemente, Elliot conseguiu perceber seu cabelo platinado preso em um pequeno rabo no topo da cabeça.
Quando o mais alto separou devagar os lábios, deixando visíveis seus caninos afiados, foi como se caísse a ficha do desastre em que Elliot havia se metido. Com o coração batendo praticamente na garganta e os braços sem força por culpa do desespero, ele apenas fechou os olhos e começou a rezar baixinho, se encolhendo muito quando sentiu uma dor enorme tomar todo o seu corpo.
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