Com os olhos arregalados e as pupilas dilatadas por culpa do medo insuportável, a mente de Elliot estava novamente em branco. O desespero tomava conta de seu corpo, e embora a adrenalina corresse por suas veias, ele não se movia. Sua respiração estava descompassada e seus batimentos fora de ritmo. Sentia que desmaiaria a qualquer momento devido à sua falta de força, mas algo no olhar de Gael o mantinha de pé, imóvel.
Durante os eternos segundos em que a testa de Gael quase tocava a de Elliot, ninguém ousou tentar um movimento sequer. Ao perceber o vampiro se aproximar ainda mais, lentamente, Elliot sentiu seu coração parar. Deu o que pensava ser seu último suspiro. Seu rosto perdeu a expressão e uma lágrima quente rolou por sua bochecha, levando consigo o último fio de emoção que ainda lhe restava.
O olhar dominante de Gael só parou de encarar o desesperançoso de Elliot quando acompanhou aquela lágrima tão falante cair. Seus dedos compridos se afastaram delicadamente das bochechas gordinhas e tocaram o rastro úmido, secando o choro fraco do garoto. Esse toque, mágico, foi o que trouxe Elliot de volta à realidade, voltando a focar sua visão e piscando algumas vezes, enquanto respirava rapidamente para recuperar o fôlego perdido. Quando seus olhos não lhe apresentavam mais imagens embaçadas como antes, seu olhar encontrou mais uma vez o de Gael.
Dessa vez, as íris vermelhas demonstravam preocupação e curiosidade.
— Você tem medo. — o garoto assustou-se com a voz grave de Gael. Era a primeira vez que a ouvia.
Devagar, balançou a cabeça de cima para baixo, num sutil gesto positivo.
— Você não vai nos machucar. — o vampiro concluiu mais uma vez. Elliot voltou a encará-lo e apressou-se em fazer que não com a cabeça, as sobrancelhas franzidas em confusão.
— Então, também não te machucarei. — ele disse por fim, relaxando a expressão séria no rosto e se afastando um pouco do corpo alheio. Elliot finalmente se sentiu um pouco mais confortável e minimamente seguro.
Sua atenção foi novamente puxada ao arbusto onde o tal "coelhão azul" havia antes se escondido, e o olhar agora tranquilo de Gael seguiu sua curiosidade até o barulho. O cantinho de sua boca avermelhada arqueou em um fraco meio sorriso com a expressão fofa no rosto do mais novo ao ver o animal sair de trás das folhas. Elliot parecia nesse momento ingênuo e precioso demais aos olhos do vampiro. Ele se perguntava como poderia ter desconfiado de uma alma pura como a desse garoto e uma parte de si chegava a se culpar por isso... Mas, bem, afinal, esse era o seu trabalho.
— Você é muito corajoso. — voltou a dizer, dessa vez escorado preguiçosamente no tronco da árvore mais próxima de onde Elliot brincava com o bichinho, mas sem observá-lo. Com as mãos descansando nos bolsos da calça escura e um tanto gasta, subiu sutilmente o olhar de seus próprios pés descalços até o garoto alegre ali perto — Mas também incrivelmente estúpido.
Elliot imediatamente devolveu o olhar, claramente ofendido com o comentário. Gael apenas soltou uma risadinha antes de continuar:
— Mesmo sabendo de todos os boatos e lendas, tendo noção de todo o perigo e tendo prestado atenção nos avisos de todas as pessoas à sua volta, você deixou a curiosidade falar mais alto. Você veio até o centro da Floresta mais de uma vez, guiado por nada além da sua vontade de conhecer o novo. — ele suspirou, encarando agora o estrelado céu acima deles. — Eu aprecio isso em você.
O garoto estava surpreso e um tanto alegre com o que o vampiro lhe dizia. O sorriso ainda marcava presença em seus lábios, mas sua confusão era igualmente perceptível. Gael não precisou encará-lo para perceber o que ele sentia.
— Sabe... Você é um tanto difícil de ler. Suas expressões são transparentes, mas sua mente é confusa. Você é uma pessoa confiante e leal, mas tende a esconder de todo mundo os seus medos. Por que você é assim, garoto? — os dois voltaram a fazer contato visual. — De que você realmente tem medo? Você se fecha e se esconde das outras pessoas tão bem que nem você mesmo sabe quais são seus motivos. Nem mesmo você sabe o que tanto esconde. — Gael se agachou, ficando da mesma altura do garoto e da criatura que continuava ali, ouvindo tudo com um olhar curioso — Por isso eu não pude lê-lo.
Desconfortável, Elliot desviou o olhar e se levantou rapidamente, tentando fugir daquela conversa. Gael continuou encarando-o debaixo, acariciando o pelo macio do animal azulado.
— Não precisa me responder. — ele disse num tom acolhedor — Apenas reflita sobre isso. Essa confusão pode te trazer problemas num futuro talvez não muito distante.
Aflito, Elliot olhou ao redor. Todas aquelas coisas tão lindas e especiais ali, tão próximas ao toque de seus dedos... Sabia que tinha sido impulsivo e inconsequente, mas apenas agora lhe caía a ficha do que poderia ter acontecido em outra situação. Realmente, fora muito corajoso. Mas também muito estúpido. Gael estava certo? Parando para pensar nisso, Elliot se perdeu em pensamentos e análises. Franziu o cenho ao perceber que cada palavra dita pelo vampiro fazia um sentido assustador. Desolado, sentou-se na grama e suspirou profundamente.
— Você nunca tinha visto dessa maneira. — Gael supôs, se aproximando e agachando em frente ao garoto que agora lhe parecia pequeno e frágil. O bichinho que lhes fazia companhia saltitou para perto também, aconchegando-se no colo de Elliot como uma forma de tentar consolá-lo.
O estudante negou com a cabeça, sem fazer contato visual. Estava confuso demais neste momento. A única coisa que conseguiu fazer foi acariciar o pelo tão gostoso do animal em seu colo.
— Não se preocupe, está tudo bem. Só pense nisso com calma depois. Agora, aproveite o lugar enquanto você ainda pode. — ele pousou a mão no ombro do menino à sua frente. Quando, com esse gesto, Elliot respirou fundo e o encarou um pouco mais aliviado, Gael sorriu e fez carinho em seu cabelo, de forma protetora.
Depois de tudo o que fez ele passar, prometeu a si mesmo que o protegeria de qualquer coisa. Elliot agora era seu pequeno garoto.
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