Com isso, então, Elliot se sentiu genuinamente bem. Sentia-se seguro ali e de alguma forma sabia que seria protegido. Depois de algum tempo voltando a pensar no que Gael lhe falou, a criatura em seu colo pulou para sua frente, chamando sua atenção. Porém, quando ela começou a crescer ainda mais e rapidamente tomar uma forma mais humana, o garoto pulou de susto.
Sua pele era tão branca quanto papel, tinha o nariz avermelhado e três pintinhas rosadas embaixo de cada um dos olhos acinzentados. O que destoava de sua forma humana eram as características que permaneceram da sua forma animal: os dentes de roedor arredondados e as orelhas peludas azul-turquesa, da mesma cor que seu cabelo encaracolado.
Com medo, o Elliot tentou rapidamente se afastar, acabando por se atrapalhar e tropeçar nos próprios pés, caindo para trás. Porém, assim como da primeira vez, foi resgatado por aqueles tão fortes e tão familiares braços antes de chocar contra a grama. Seu corpo estava a poucos centímetros do chão e seu rosto a poucos centímetros do de Gael. Novamente, borboletas tomaram conta de seu estômago. Seu coração batia rápido e ele já não sabia se era pelo susto ou pela proximidade daquele rosto de beleza extraordinária. Seus olhos mal piscavam ao aproveitar a visão, e não podia evitar encarar, vez ou outra, aqueles lábios tão brilhantes.
Ao perceber a reação do menor, Gael abriu um sorriso provocativo. Tinha plena noção de sua beleza e sabia que era incrivelmente encantador. Afinal, esse era um dos charmes de tode vampire. Como o bom provocador que adorava ser, aproximou lentamente seu rosto do garoto em sua frente, fazendo-o fechar os olhos involuntariamente. Quando estavam perto o suficiente para que a ponta de seus narizes se tocassem, mudou o rumo para a orelha alheia.
— Tenha mais cuidado. — sussurrou, de forma que todo o corpo segurado por seus braços se arrepiasse e o garoto arregalasse os olhos com o susto. Com um sorrisinho de satisfação, o abraçou para ter mais força e finalmente o ajudou a levantar. — Esse é o Lino. — voltou a dizer, apresentando a Criatura que segurava o riso com a cena que acabara de presenciar. Elliot fez um leve cumprimento com a cabeça, coçando a nuca por estar envergonhado e com o rosto e as orelhas completamente vermelhas. — Lino, você já sabe que esse é o Elliot. — ele sacudiu a cabeça animadamente, concordando.
— C-como... ele sabe quem eu sou?
— Ele é a criatura mais fofoqueira de toda a Floresta. Nada passa despercebido por ele — Gael respondeu, rindo.
— Não posso evitar — Lino encolheu os ombros fazendo uma expressão tímida. — A curiosidade toma conta de mim!
Ao ouvir a voz macia e melodiosa de Lino, os olhos de Elliot brilharam em puro encanto. Suas expressões e seu jeito eram completamente fofos, e o fato de ele ter o tamanho de uma criança de pouco mais de dez anos facilitava para que o garoto tivesse uma vontade incontrolável de abraçá-lo. A sorte era que as coisas preferidas de Lino eram, justamente, abraços.
Gael, percebendo o que estava acontecendo, olhou para Lino e acenou com um sorriso, como que dando permissão. Assim, o pequeno deu um pulo, girando no ar em animação, e correu para abraçar Elliot. O garoto se assustou no início, mas logo retribuiu o abraço tão confortável e caloroso. O vampiro apenas apreciou a cena, com os braços cruzados e um olhar semelhante ao de um pai orgulhoso de sua criança.
Depois de ficarem um tempo assim, os três se sentaram em uma espécie de "rodinha" para conversarem, considerando que a animação de Lino em fazer um novo amigo e a curiosidade de Elliot ao conhecer uma nova espécie eram insaciáveis.
— Então... Quantos anos você tem? — o garoto perguntou ao pequenino à sua frente.
— Tenho 14! Mas não vou crescer mais que isso, esse é meu tamanho máximo.
— Uau! Eu não sabia que existiam outras espécies híbridas…
— Se lobisomens podem ser metamorfes, por que nós lusantes não poderíamos?! — retrucou, rindo. — A única diferença é que eu não perco a consciência quando tomo minha forma animal, além de poder me transformar voluntariamente e quando quiser. Você ainda não viu nada, Elliot!
— É, acho que faz sentido... Nossa, eu tô LOUCO pra conhecer mais e mais criaturas como vocês! É tudo tão incrível aqui dentro... — seus olhos brilhavam de um jeito apaixonante enquanto ele observava em volta. O canto dos lábios de Gael inconscientemente abriram em um pequeno sorriso enquanto o observava em silêncio.
— E então, onde estão ês outres de você? Você tem uma família? — ele voltou a perguntar, animado.
Foi então que o constante sorriso de Lino se desfez aos pouquinhos, e seus olhos que eram sempre tão alegres buscaram refúgio no brilho fraco da grama. Com uma expressão agora confusa, Elliot encarou Gael em busca de respostas. O mais velho apenas lhe deu um olhar calmo e abriu um sorriso triste, se virando para acariciar os macios cachos azulados do menor ao seu lado, como forma de consolo e encorajamento.
— Eu... sou o último que sobrou da minha espécie... — respondeu baixinho, sem encarar nenhum um dos dois ali presentes. Quando uma lágrima fina escorreu de seus olhos claros, Gael segurou seu rosto de forma carinhosa, enxugando suas bochechas antes de tomar a fala.
— Eu o encontrei quando ainda era um filhote. Seus pais tinham acabado de ser assassinados por algum humano malvado, e ele foi o único que ficou: seus pais conseguiram o esconder, por ser menor. Eles eram a última família da espécie. — contou a Elliot enquanto acariciava Lino, que agora estava encolhido em seu colo, agarrado em seu pescoço como uma criança chateada. — Sendo assim, eu cuidei dele. O ajudava e lhe fazia companhia diariamente e o deixava sob os cuidados dos Elfos da Terra durante a noite, enquanto saía em busca da alma ingrata que fez o que fez com os pais dele. Demorei cerca de três dias para encontrá-lo e finalmente fazer o que era necessário. Desde então, nunca mais deixei ninguém passar do Fio Vermelho para machucar algume de nós.
— Nossa, eu... Eu não sei nem o que dizer. Eu sinto muito por isso, Lino, de verdade... — o pequeno enxugou os olhos e voltou a olhar para Elliot, abrindo um sorriso pequeno. Então, levantou-se e se sentou no colo dele, que abraçou sua cintura com uma mão e continuou acariciando seu cabelo com a outra. Lino adorava carinho mais que tudo no mundo, e agora, com Elliot ali para ele, nunca mais ficaria sem isso.
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