-Sabe cara… Eu queria ter uma namorada-
Sendo uma posição social dita como lendária entre alguns grupos menos favorecidos da sociedade, ela existe desde os primórdios da humanidade, sendo o resultado da necessidade humana de propagar sua própria espécie, sendo uma espécie de teste de suportabilidade entre dois indivíduos. Isso, meus caros, é o namoro
Porém, enquanto alguns desgraçad… digo, indivíduos têm a facilidade de adquirir essa ambicionada posição, outros só podem sonhar com isso no seu íntimo… e isso era o caso do homem que proferiu essa frase.
-Vamos, Lucas, desencana…-
Dizia Fábio com uma mão em seu ombro.
-...Você sabe que isso não vai acontecer-
-Seu desgraçado! Você ainda se diz meu amigo-
Ele enxuga as lágrimas.
-Dessa vez eu tô sentindo…é ela!-
Athos entra no meio.
-Vejamos, essa é a vigésima garota que ele stalkeia neste mês?-
-Não, é acho que é a trigésima-
-Calem a boca! eu não sou stalker, é só uma pesquisa de campo-
Fábio pergunta.
-E o que você faz nessa pesquisa?-
-Bem, eu tento descobrir o que ela gosta-
-Como?-
-Perseguido ela pela cidade…-
Eles se entreolham, e o Athos complementa.
-Stalker-
-Pra você é fácil falar! Não é todo mundo que tem uma linda garota o seguindo de uma ao outro!-
-Garota bonita?-
-Sim, a Tyke!-
Ele segura o ombro do Lucas.
-Cara… brincadeira tem limite…-
-Mas ele está certo Athos!-
Os dois encaram ele ameaçadoramente.
-Você traiu a nossa causa-
-Primeiro, eu nunca fui da causa de vocês, eu nem vou com a cara de vocês, e segundo, vocês tentam conseguir namoradas o tempo todo, vocês xavecaram cada garota dessa escola-
-Mas falhamos miseravelmente, todas as vezes, inclusive eu tenho certeza que o Lucas vai falhar dessa vez-
-Ei!-
-Sem ofensa-
-Tudo bem, eu sei que é a verdade…-
-O ponto é você e a Tyke, qual a relação de vocês?-
Athos começa a pensar. Com base em tudo que ele já viveu até agora, se ele fosse classificar a relação deles…
-A mesma que um demônio tem com um mortal…-
-Não mente pra gente, otário! Quer saber, Lucas, bora arrancar a verdade a força dele-
Porém, enquanto eles se matavam, a dita cuja do assunto aparece.
-Fala ai, escória-
Fábio puxa ela.
-Que bom que você apareceu, a gente queria que o Athos nos contasse uma coisa mas como ele não para de mentir-
-Típico-
-Então, você pode nos contar?-
-Claro!-
-Ótimo! Então, qual a relação de vocês?-
Tyke olha para aquela criatura que estava levando um mata leão do Lucas, e começa a pensar. Com base em tudo que ela já viveu até agora, se ela fosse classificar a relação deles…
-A mesma que um demônio tem com um mortal-
Ele se solta do mata leão.
-Viram seus idiotas, eu não disse!-
Tyke, fica curiosa.
-Por que vocês queriam saber?-
Fábio responde.
-Por nada demais, é que a gente achava que como vocês vivem grudados, estavam namorando…-
Tyke faz a mais sincera cara de nojo que eles já viram.
-...mas parece que ele não traiu a nossa causa-
Tyke começa rir.
-Se o problema é esse vocês não precisam se preocupar, esse mane não liga pra essas coisas-
Eles olham pro Athos atônitos. E perguntam.
-Sério!-
-É claro! Até parece que eu ligo pra essas coisas-
E isso, meus caros, era uma mentira deslavada… Por mais que ele não fosse super romântico, exceto quando ouvia abertura de anime de romance, pois nesse caso ele ficava um nojo, como todo adolecente ele queria uma namorada… mas tinha um único problema, ele não suporta mulheres… e para se proteger de qualquer plano sem noção da Tyke para resolver isso, ele abraçou o celibato com todas as forças.
-Deixando isso de lado, cadê aquele outro garoto que anda com vocês, o gordinho estranho?-
Lucas responde.
-Ah, ele foi buscar um negócio para mim… falando nisso, olha ele ali-
O João chega ofegante.
-Conseguiu?-
Ele entrega um cartão pro Lucas.
-Mas é claro!-
Tyke inocentemente pergunta.
-O que é isso?-
-Simples, minha fonte de dado sobre minha futura namorada…-
Ele havia roubado a identidade da garota. Tyke olha em silêncio para ele.
-Não enche! Alguns dos presentes podem não se importar com isso, mas não é o meu caso…-
Seus olhos brilham com uma mistura de pureza e corrupção.
-Eu sou uma pobre alma apaixonada-
De uma forma bizarra, isso comove o coração da Tyke.
-Você quer mesmo conseguir uma namorada?-
Ela diz olhando seriamente para ele. Athos sente um arrepio na espinha, ele conhecia essa história.
-Por favor, não concord...-
-Mas é claro!-
-Então, me deixe te ajudar!-
Ela puxa ele.
-Nós vamos fazer assim...-
Por mais que o Athos não gostasse de nenhum daqueles babacas, isso não significa que ele merecia tal fardo... Mas quando aquela mulher coloca algo na cabeça ninguém consegue tirar.
Tempo depois eles se encontram em um parque de diversão.
-Cara, esse lugar fede a normies-
Diz o nosso caro Athos torcendo o nariz. Porém, Lucas o responde.
-To nem ai, se o plano da Tyke der certo eu queimo minha coleção de quadrinhos e começo a gostar de pop-
Fábio complementa.
-Mas, em todo caso, cadê a Tyke?-
Athos responde.
-Isso é fácil…-
Ele fecha os olhos e se concentra.
-...Cinco, quatro, três, dois… um…-
E no lugar em que ele aponta aparece a Tyke.
-Como você sabia..?-
-Sabe… depois de tanto tempo junto eu percebi uma coisa, sempre que ela está por perto, eu sinto um arrepio na espinha-
Fábio começa a acreditar cada vez mais na relação demônio-mortal dos dois.
-Fala ai, seus lerdos-
Lucas apressadamente pergunta.
-Então, Tyke, você conseguiu?-
-Você ainda pergunta, é claro que eu consegui! Mas tem um detalhe, pra convencer ela a vir, eu tive que prometer que seria um encontro duplo-
-Ué, então como a gente faz?-
-Simples, um de vocês palermas vai vir comigo enquanto o outro vai dar apoio tático-
Athos fala sem titubear.
-Então, eu provavelmente só preciso garantir que ninguém atrapalhe vocês-
-Exato, você deve se preocupar com coisas como crianças catarrentas, filas compridas, iluminação, cenários favoráveis e a presença de garotas bonitas… não seria produtivo ele ficar secando outras garotas-
-Sim, senhora-
Ele olha pro Fábio.
-Boa sorte-
Tyke olha no fundo dos olhos dele.
-Já vou avisando, existe um delicado limite que irá garantir sua sobrevivência, então… não passe dele-
Um frio percorre sua espinha.
-Agora, sobre o outro idiota, o que você precisa fazer é muito simples… tipo, simples mesmo… É a teoria dos três “C”s: Confiança, comedia e conversa-
Tyke olha pra um relógio.
-Agora, todos em suas posições, começar operação: Mal-Amado-
Pouco tempo depois a garota chega.
-Oi gente! Desculpe o atraso-
As pernas dele começam a tremer.
“Calma, calma… seja confiante”
-Eu sou a Lavínia, você deve ser o Lucas-
-..........-
E dessa forma ele manteve um confiante silêncio.
-Bem, que tal a gente começar indo em algum brinquedo-
Meio confusa a garota responde.
-Tudo bem…-
Tyke disfarçadamente pisa no pé do Lucas.
-... o palerma você tem que falar alguma coisa …-
Eles se dirigem para o brinquedo que curiosamente estava sem fila, um barco viking.
“Tudo bem fale alguma coisa”
-Você gosta de vikings..?-
-Gosto, e você?-
-Também…-
Eles olham ao redor.
-É engraçado, ficando nesse navio desse jeito… Não dá uma vontade de pilhar e matar-
Dessa forma a ligeira confusão da garota evoluiu para um claro medo. E cada atração vinha junto de um lindo comentário… carrossel, empalamento… casa mal-assombrada, tráfico de órgãos… tiro ao alvo, fuzilamento…
A garota fala nervosa.
-Bem… eu vou só no banheiro rapidinho-
-Então a gente vai te esperar na lanchonete aqui do lado-
Enquanto a garota cogitava se deveria fugir ou não, Tyke tentava colocar aquele animal no lugar.
-Sua besta! Que porcaria de papo foi aquele?-
-Ué, foi você que falou pra ser confiante, engraçado e conversado-
-Que!?-
Fábio entra no meio.
-Deixa eu tentar te explicar, após vários anos de animes, FPS e isolamento social, é isso que resta-
Tyke fica em silêncio por um instante, ela devia ter suspeitado, afinal, ele era da mesma laia de seu protegido.
-Beleza… Vou tentar colocar em palavras claras, quando você pensar em alguma coisa faz ou fala o contrário, agora vamos tentar consertar sua burrice-
A frustração da Tyke era evidente, porém, quem estava mais revoltado era o pobre do Athos, o qual teve que ameaçar um grupo de jovens no barco viking, espancar uma velhinha no carrossel, ser perseguido, após dar em cima de todas as garotas na casa mal-assombrada, por namorados furiosos e por fim queimar uma bandeira em frente a militares no tiro ao alvo. Ele estava cansado, machucado e escondido, pois os funcionários do parque já tinham chamado a polícia para prendê-lo.
Mas o que nenhum deles poderia prever estava prestes a acontecer.
-Nossa, que palerma, ein-
Athos se assusta a primeiro momento, mas, olhando para o lado, ele vê que era só uma garota.
-Nem me fale-
Ela ri.
-Ok, já me decidi!-
Olhando melhor para ela, ele nota algo que tinha passado despercebido… ela tinha asas?!
-É hora de dar uma mãozinha-
O tempo e espaço se distorcem ao redor da garota, feixes de luz e energia se reuniram e materializaram um arco e flecha. Com grande graça e naturalidade ela flexiona o arco e dispara. O impulso fez a ar ao redor tremer, e num instante acerta seu alvo… o coração da garota que voltava do banheiro. Ela fica zonza, olha para seu peito mas não vê nada, a flecha tinha desaparecido, então, ainda cambaleando, ela chega no grupo.
-Oi, gente, vocês já pedir…-
Ela olha por um instante e sente algo estranho, antes seu coração palpitava de medo, agora era por algo diferente. Ela fica vermelha igual um pimentão, se senta e cobre a cara com um cardápio.
-O que aconteceu!?-
Pergunta Athos confuso. A garota sorri e diz.
-Simples, eu fiz aquela garota se apaixonar por ele-
Ele olha novamente pra cena da garota toda envergonhada.
-Cara, isso está muito estranho…-
-Não tem nada de estranho, eu simplesmente sou um cupido-
-Você ser um cupido é o de menos, eu estou dizendo você conseguir fazer aquela garota gostar daquela coisa ali-
-Hum… Se você está duvidando de mim, olha lá o que vai acontecer-
Na lanchonete, a garota estava mais silenciosa que antes. Lucas se lembra do conselho da Tyke.
“Bem… Normalmente, eu ficaria em silêncio, então…”
-Você está bem?-
A garota leva um pequeno susto.
-Sim, sim… É só que eu queria perguntar algo… Esse é seu primeiro encontro?-
-Na real não, eu já estive em vários encontros-
-Mas ninguém nunca quis te namorar a sério?-
-Não, várias já quiseram-
-E por que você não aceitou?-
-Sabe, eu prefiro esperar para achar a pessoa certa-
A garota fica corada com a maturidade daquele rapaz, um pouco devido a flecha do cupido, já Tyke e Fábio observavam boquiabertos a cara de pau daquele indivíduo, mas para os leitores mais ávidos, eu vou traduzir o que ele quis dizer.
“Sim, o primeiro e provavelmente único!”
“Não, nunca! Nem uma viva alma!”
“Pois nem mesmo níveis elevados de desespero foram suficientes pra me conseguir uma namorada”
Fábio sussurra para Tyke.
-Eu não estou acreditando no meus olhos-
-Muito menos eu…-
Tyke começava a sentir uns calafrios na espinha, ela estava estranhando muito aquela situação. Mas algo que Fábio fala refresca a memória dela.
-Nossa seu conselho é bom mesmo… parece até que o cupido atirou uma flecha nela-
Tyke para por um instante.
-Verdade, igualzinho uma flecha daquela maldita…-
Ela começa a ter um mau presságio e se levanta da mesa.
-Gente, vocês vão me desculpar mas acabo de lembrar de algo que preciso fazer?-
Fábio detém ela.
-Pera ai-
E começa a falar no ouvido dela.
-Você vai me deixar sozinho com eles?-
-Exatamente-
-Mas aí eu vou ficar de vela-
-É isso que eu preciso que você faça, em hipótese alguma você pode deixar eles sozinhos… Agora, que a força esteja com você-
Assim, ela parte em disparada procurando o Athos. E falando nele.
-E então, agora você acredita?-
-Pode apostar…-
Ele olha novamente para a garota se derretendo toda pro Lucas.
-Mas vem cá, por que um arco?-
-Que?-
-Tipo, o seu lance é acerto e apaixono?-
-Sim…-
-Então não seria melhor usar um rifle, uma pistola… não sei a quanto tempo você faz isso mas arco e flecha é meio paia-
-Puff… puff… HAHAHHAHAHA-
Ela começa a rir sem parar e ele fica sem entender nada.
-De todas as mil coisas…puff… que você poderia falar…puff… você foi solta logo essa asneira…puff… AHAHAH-
Ele fica meio envergonhado.
-Aiai… Garoto, qual é seu nome?-
-Athos-
-Athos… Bem, o meu é Vênus, e como fui com a sua cara, eu tenho uma proposta…-
Ela é interrompida antes de terminar a frase.
-Pode parar agora!-
Eles olham para quem deu esse grito, era a Tyke, completamente cansada e bufando.
-Demorou… Mas eu te encontrei… agora vem cá-
Ela puxa o Athos.
-Nem pense em dar ouvido a qualquer coisa que essa cara de pau disser-
Athos pergunta para Tyke.
-Você conhece ela?-
-Ela meio que é minha colega de profissão... mas de qualquer forma, trate de fazer aquela garota voltar ao normal-
-Pra que? Pra você tentar colocar seu moralismo em ação e estragar com tudo-
-Esse tipo de felicidade não vale a pena, você não entende o coração das pessoas-
-E quem entende, você? Humanos são o que são...-
Ela olha pro Athos.
-Alguns até podem ser um pouco interessantes, mas continuam tendendo pra mediocridade, então a gente os ajuda-
-Eu não me importo-
Tyke e Vênus se entreolham.
-Tudo bem, tudo bem… eu vou te dar uma moral dessa vez, boa sorte-
Vênus estala os dedos e faíscas caem pelo ar.
-E a propósito, o arco é por estilo mesmo-
E assim ela desaparece em meio a uma nuvem de fumaça.
-E agora, ela voltou ao normal?-
-Imagino que sim-
-E o que a gente faz?-
-Simples, nós vamos voltar ao plano inicial-
Mas como sempre algo dá errado. Pouco instantes depois a segurança do parque acaba encontrando o Athos e o levando preso, o que fez a Tyke ter que ir junto como testemunha, e com a Tyke sumindo eles decidiram encerrar o encontro, mas, pelo que Fábio descreveu como uma verdadeira surpresa, Lucas e Lavínia viraram amigos. Depois de tudo isso, Tyke e Athos voltam andando depois de quase serem presos.
-O que você falou pra Vênus?-
-Nada demais-
-Ela falou que te achou interessante…-
Tyke começa a olhar para o Athos.
-Que foi..?-
-Nem pense em me trocar, sou eu que vou realizar seu desejo-
-Não se preocupe, eu prefiro um mal conhecido-
Na verdade, ele começava a se indagar sobre as palavras da Vênus sobre a mediocridade humana e consequentemente o bem que a Tyke realmente já fez por ele. O quão perto ele realmente estava de sua vida incrível.
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