Ishida apertou fortemente sua machadinha e disparou velozmente em direção à criatura. Pegou do chão a foice que defletira anteriormente e arremessou-a para cima.
“O garoto é rápido.”
A youkai desviou seu olhar para a lâmina que brilhava no alto e de repente percebeu o machado de Ishida vindo em sua direção.
“Espertinho hein.”
Ela defendeu com um corte lateral no último instante. Quando deu por si, Ishida já estava em sua frente.
“Ele está desarmado!”
Então a assassina ouviu o som da foice zunindo em sua direção.
“Que garoto maldito!”, pensou ela, cheia de raiva.
Ishida pegou a foice e golpeou o braço esquerdo da youkai, a qual defendeu seu ataque com o braço esquerdo, quebrando a lâmina.
Ele atacou com toda a sua força, destruindo a proteção de madeira, mas o braço era tão duro quanto ferro. O golpe apenas conseguiu fazer um leve corte em sua pele.
— Desgraçado!
A youkai se encheu de raiva e contra-atacou, mas Ishida desviou recuando alguns metros.
— Essa foi por pouco — murmurou.
“Eu estaria morto se tivesse demorado mais alguns segundos. Realmente posso enfrentá-la?”
De repente Yumi gritou:
— Abaixe-se!
Ishida se agachou rapidamente, então uma adaga flamejante passou pelas pontas de seus cabelos e foi em direção à criatura.
“Garota inocente”, pensou a youkai após dar um leve sorriso.
Logo quando Yumi arremessou a primeira adaga, ela pegou impulso nas costas de Ishida e pulou na direção da adversária, que desviou da primeira lâmina, bloqueou o ataque aéreo com sua foice e segurou Yumi pelo pescoço.
— Você é fraca!
A youkai arremessou Yumi em direção ao pilar à sua direita, fazendo-o trincar com o impacto.
“Sou um caso perdido. Não consigo proteger nem a mim mesma.”
— Yumi! — gritou Ishida, desesperado.
Nos segundos em que ele se desconcentrou, a criatura apareceu ao seu lado e disse:
— Não baixe a sua guarda, moleque!
Ela deu um soco em sua barriga que o fez até mesmo cuspir sangue e se ajoelhar.
“Desviei o olhar por um momento e ela já estava ao meu lado. Quão forte ela é?”
— Ainda não terminei!
A criatura chutou o rosto de Ishida com sua perna direita, arremessando o garoto na direção de outra parede do local, agora rachada com o impacto.
“Não sinto meu corpo.”
— Não me diga que já foi derrotado. Esperava mais de você garoto.
Ela caminhou lentamente até Ishida.
“Morrerei aqui? Sem ao menos salvar uma pessoa?”, pensava o garoto, quase desmaiando.
Enquanto a luta acontecia, Aika que antes estava hipnotizada, recobrou a consciência.
— Onde estou?
Ela olhou para trás e observou a youkai lutando com Ishida.
— O que está acontecendo?
O bebê em seus braços riu docemente e Aika devolveu um sorriso.
Ao observar o local, detectou Yumi desmaiada em frente ao pilar da direita. Ela correu silenciosamente até a garota.
— Ei, Yumi! Acorde!
A garota não reagiu, então ela a cutucou com uma das mãos enquanto sustentava sua filha na outra.
— Yumi!
Yumi abriu seus olhos lentamente e disse:
— Aika?
— Você precisa ajudar aquele garoto. Tome isto.
Ela colocou uma kunai sobre as mãos de Yumi.
“Uma kunai? Onde ela pegou?”
Enquanto isso, a youkai falava para Ishida:
— Vou te torturar até que peça perdão e vire meu escravo!
Ela riu em voz alta.
— Primeiro arrancarei lentamente uma de suas mãos.
A criatura se aproximou de Ishida e segurou um de seus braços.
— Grite bastante garoto! Fico excitada ao ver a fraqueza humana!
Quando ela estava prestes a arrancar a mão de Ishida, uma adaga flamejante passou rapidamente ao seu lado e acertou a parede em sua frente.
— Que merda foi essa?
A lateral de seu chapéu foi cortada e a outra pegou fogo. Ela retirou-o e o jogou sobre o chão. Todos agora podiam observar seu rosto.
— Malditos!
Ela possuía olhos de uma cobra e seus dentes estavam todos amarelados, enquanto seus lábios eram completamente pretos.
— Você irá pagar por isso, sua vagabunda!
A criatura se virou e pôde ver Yumi lutando para se manter em pé.
— Tola, mal consegue andar.
Yumi respirava fundo enquanto pensava.
“Merda, era minha única chance. Estamos condenados.”
— Aika, vá e peça por ajuda!
Aika saiu correndo até a escadaria.
— Você não vai a lugar algum!
— Cuidado!
A youkai arremessou sua foice, a qual arrancou brutalmente uma das pernas de Aika. A lâmina decepou a perna como se não fosse nada, fazendo a mulher cair de boca no chão, soltando seu bebê, cujo berrou sem parar.
Sua perna esguichou muito sangue após cair, fazendo ela gritar agonizantemente.
— Sua maldita! — gritou Yumi.
Após vê-la chorar, a mãe se arrastou até a filha, mesmo com a perna jorrando sangue. O corte deixou um rastro vermelho no chão. Olhar aquela cena faria qualquer estômago revirar.
Ela passou as mãos sobre os cabelos da filha.
— Calma, calma, calma. Está tudo bem Toki. A mamãe está aqui.
Yumi tentou ajudar, mas ao dar apenas um passo suas pernas tremeram e ela caiu de joelhos.
“Eu preciso ajudá-la.” pensou Yumi, derramando lágrimas.
Ela tossiu um pouco de sangue e tapou a boca com umas das mãos.
“Ainda não me recuperei daquele golpe.”
— Eu não iria te matar aqui, pois seu sangue é refinado, mas agora picarei cada parte desse seu corpo!
Ela começou a caminhar até Yumi, mas Ishida segurou um de seus pés.
— Ainda não terminamos — disse com uma expressão de ódio.
— Você está acabado moleque! Nossa luta terminou faz muito tempo. Torturarei aquela menina em sua frente para que possa ver como você é fraco!
Ela pegou a kunai presa a parede e arrastou Ishida até o pilar mais próximo.
— Espere aqui, depois cuido de você.
A criatura pegou um dos braços de Ishida e o colocou contra o pilar.
— Segura isso pra mim.
Ela cravou a kunai profundamente na palma da mão de Ishida, o qual sentiu uma dor insuportável e deu gritos agonizantes.
— Hora de sangrar! — disse, olhando para Yumi.
A criatura começou a caminhar e Ishida falou com uma expressão de puro ódio:
— Pode arrancar as minhas mãos. Pode arrancar as minhas pernas, mas nada irá me impedir de te matar.
— Ah… é mesmo é? Que medo, hein! Eu iria matar apenas a sua namoradinha, mas terei que matar mais uma pessoa para você entender.
Ela caminhou até a sua foice e após pegá-la, foi em direção a Aika, a qual implorou:
— Não! Por favor, não! Eu tenho um bebê! Ela precisa de mim!
Ishida tentou se soltar, mas não conseguiu.
— Deixa ela em paz!
A youkai respondeu após rir:
— Isso, isso! Implore garoto! Implore!
— Eu vou te matar, sua desgraçada! — disse Ishida, tentando se soltar desesperadamente.
— Ponha-se no seu lugar, garoto!
A criatura cravou, sem piedade alguma, a foice na testa de Aika.
— Não!
— Sua desgraçada! Maldita! — gritava Yumi, cheia de raiva.
Ishida ficou totalmente paralisado. Mais uma pessoa acabava de morrer em sua frente. Os sons ao seu redor estavam abafados e só se podia escutar um zumbido em seus ouvidos, junto do choro de Toki, que era agora uma pobre órfã.
“Ela morreu por minha causa. Por que tenho que ser tão fraco? Sou apenas um inseto diante dela. Humanos realmente são desprezíveis? Ou eu que não nasci para lutar?”
Ishida mergulhou em seus pensamentos, até que teve um flashback. Ele via um belo homem de cabelos negros como a noite. Usava um manto preto que balançava sob o vento agitado. Portava uma bela espada de dois gumes em uma das mãos, a qual bloqueava um grande porrete de madeira portado por um gigantesco ogro.
Todo o chão ao seu redor estava trincado e diversos raios esverdeados exalavam de sua espada. Era um homem muito forte. Pelo que dava para visualizar, eles estavam no meio de uma floresta, pois havia diversas árvores no local.
— Você está bem garoto? — disse ele, ao olhar para trás com seus olhos verdes como as folhas das árvores.
Ishida estava fraco em frente ao homem. Ele fechou seus olhos lentamente e desmaiou. Quando os abriu, percebeu-se afundando nas águas de um lago, preso em meio à escuridão. Havia apenas uma luz na superfície que o iluminava.
“Onde estou?”
Uma voz macabra e lenta ordenou:
— Libere o teu ódio.
“Yumi está morta? O que aconteceu com a criança? Falhei na única chance que tive de provar o meu valor. Como posso ser respeitado se não consigo nem proteger meus amigos? Não consegui nem ser aceito por Kenjiro. Sou uma decepção. Nunca irei te alcançar, Arthur…”
— Vamos, libere o teu ódio. Não temas — sussurrou.
“Desculpa vô, mas não voltarei para o jantar”
— Esqueça a luz. Abandone a tua fraqueza.
“Essa luz é tão bela”
Ishida estendeu uma de suas mãos e tentou agarrá-la, mas sentiu uma dor. Quando a olhou, um símbolo estava se desenhando em sua palma.
Ao olhar para outra mão, viu que o símbolo também estava se formando. Sentia-se sendo dilacerado.
“O que está acontecendo? Que símbolo é esse?”
— Tu não podes alcançar a luz, o pecado já está em ti. Torne-se filho da escuridão.
Um tipo de chama negra começou a exalar de seus braços e mãos.
“Que merda é essa?”
— Essa é minha ira, use-a como quiser, mas saiba que nada é de graça.
Uma risada macabra se espalhou por todo o lugar.
“Meu coração está parando… Minha mente está sumindo…”
Seu coração parou. Ele fechou seus olhos lentamente, restando apenas a audição, com a qual percebia as chamas. Afundou até o leito do lago, em meio à areia e pequenas rochas.
— Desperte! — disse a voz misteriosa.
O coração de Ishida deu uma batida tão forte que o som ecoou pelas águas. De repente, tudo em sua volta se afastou rapidamente como se ele tivesse repelido toda aquela abundante quantidade de água. Chamas negras sustentavam as ondas para que não chegassem perto de seu corpo. Era como se elas estivessem vivas.
— Mostrai-vos a tua verdadeira força!
A luz foi se apagando lentamente até que virou um fino cilindro que iluminava o rosto do garoto.
Quando ele finalmente abriu os olhos, sorriu com uma expressão assustadora. Parecia que alguém havia dominado seu corpo. Aquele já não parecia ser mais o mesmo Ishida.
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