Enquanto isso, fora de seus pensamentos, a youkai caminhava em direção a Yumi.
— Acho que começarei arrancando uma de suas pernas.
Yumi olhou para sua direita e observou Toki chorando.
“Nós vamos morrer.”
A youkai estava chegando perto.
“Eu não posso morrer! Ele ainda está vivo!”
Yumi apertou as mãos de tanto desespero e sua respiração começou a ficar ofegante.
“Ainda não me vinguei! Isso não é justo!”
A youkai parou em sua frente.
— Diga suas últimas palavras, garota.
“Eu não posso morrer. Eu não posso morrer”, pensava Yumi, enquanto o choro de Toki intensificava seu medo.
— Eu não posso morrer! — berrou Yumi.
De repente, uma gigantesca pressão se espalhou por todos os lados e a youkai pensou aterrorizada.
“Que pressão é essa?”
Ishida começou a rir em um tom alto e sombrio.
“O quê?”, pensou Yumi.
A criatura olhou para trás e visualizou a chama negra exalando pelos braços de Ishida. Não dava para visualizar seus olhos porque o garoto olhava para baixo e seu cabelo estava na frente.
— Você está com medo? — disse ele, bem calmamente.
Ishida levantou sua cabeça e todos puderam ver uma expressão em seu rosto que nunca havia feito. Uma expressão assustadora. Ele sorria como se nada estivesse acontecendo. Seus olhos davam medo, era como encarar a manifestação da loucura.
Um pouco de sangue escorria em seu rosto, intensificando o medo que ele transmitia e a pressão de sua presença era tão forte ao ponto de Toki desmaiar.
— Quem é você? — perguntou a youkai após engolir a saliva.
— Quem eu sou? — Ishida se levantou lentamente. — Apenas um humano desprezível.
Ele puxou sua mão com uma força tão grande que ela se soltou do pilar. Havia agora um grande buraco na palma de sua mão por onde jorrou uma abundante quantidade de sangue.
“O que aconteceu com ele?”, pensava a youkai.
— Ishida? — suspirou Yumi com uma expressão de dúvida.
Ishida olhou para sua direita e pôde ver seu machado fincado no chão. Ele correu na sua direção em uma velocidade anormal, parecia até mesmo que tinha se teleportado. Quando estava perto de pegá-lo, deslizou, virando seu corpo na direção da criatura que o olhava com espanto.
Ele segurou o cabo do machado e as chamas negras começaram a percorrer a lâmina. O metal se tornou negro e vivo e os olhos do dragão da gravura em seu cabo brilharam em vermelho.
“Que velocidade foi essa? E o que é aquela coisa negra?”
Ishida desprendeu seu machado e olhou para sua vítima, completamente dominada pelo medo.
“De onde está vindo essa força?!”
— O que foi? Achou-me bonito? — disse Ishida em um tom sarcástico.
Ele preparou sua perna direita para dar um impulso, fazendo o chão trincar em sua volta e levantando alguns pedaços de pedra.
“O que aconteceu com esse garoto?!”
Ishida disparou em uma velocidade incrível em direção a criatura, foi tão rápido que parecia um relâmpago. Ele parou em frente a ela e riu.
— Por que está parada aí?
Ele golpeou a youkai, mas ela bloqueou desacoplando a ponta de seu shamisen, revelando uma lâmina.
Um grande barulho de metal se chocando pôde ser ouvido.
— Você não irá me matar! Seu moloque!
— Vou te deixar em pedaços primeiro!
A faca da youkai não aguentou a força do impacto e quebrou.
“Merda!”
Ela tentou golpeá-lo com um soco no rosto, mas Ishida segurou sua mão.
— Ponha-se no seu lugar — disse ele, diabolicamente.
“O que ele fará?”
Ele a puxou para mais perto de si, soltou a mão e segurou o pulso da criatura rapidamente.
“Não consigo reagir! O medo tomou conta do meu corpo!”, pensava a youkai.
Ishida levantou seu machado, fazendo ecoar o som metálico de sua lâmina. Ele desferiu um golpe no braço da criatura, atravessando a proteção de madeira e cortando o membro no meio.
— Maldito! — disse a criatura, agonizando.
Ela recuou de tanto pavor que sentia enquanto segurava seu braço que derramava muito sangue.
“Ele cortou meu braço como se fosse nada!”
— Calma, calma, calma. Ainda não terminei!
Quando Ishida se preparou para avançar novamente, seu coração deu uma batida mais forte que o normal. Ele estava completamente imobilizado. Suas pernas e braços estavam inchados. Suas veias pulsando. Seus músculos todos distendidos. Ishida estava indefeso!
Ele levou uma de suas mãos para o próprio pescoço e apertou-o.
“O que está acontecendo com você?”, pensava Yumi.
Ishida se ajoelhou e continuou apertando.
“Possui uma dupla personalidade?”, pensava a youkai.
O garoto pegou um pedaço da foice que quebrou anteriormente e fincou em sua coxa.
“Interessante”, pensava a criatura.
Ela olhou para Ishida e deu uma risada bem alta.
— Você é bem doido hein, garoto.
As chamas de Ishida se extinguiram e de repente seu braço esquerdo começou a assumir uma forma negra.
“O braço dele… Isso foi um sacrifício? Haha, sabia que aquela força não lhe pertencia.”
Ishida parou de se enforcar.
“O que aconteceu comigo? Por um momento perdi a minha sanidade”, refletiu.
A criatura começou a caminhar em sua direção.
— Fuja Ishida! — gritou Yumi.
— Daqui a pouco vou me regenerar. Será que você também vai depois que eu te deixar em pedaços? — Riu em tom alto. — Humanos são patéticos!
“Não sinto meu corpo. Não posso evitar a minha morte”, pensava enquanto a criatura vinha em sua direção.
A youkai chegou em sua frente e o pegou pelo pescoço, levantando-o.
— Diga suas últimas palavras.
— Vá… se ferrar.
— Você é corajoso, garoto.
“Eu preciso ajudar ele! O que eu posso fazer?”, pensava Yumi.
— Ishida!
Quando a criatura iria quebrar o pescoço do garoto, Kenjiro apareceu segurando sua espada.
— Caminho do trovão. — Sua espada começou a exalar diversos raios azulados. — Relâmpago oblíquo!
Ishida pôde ouvir um trovão à sua frente. Kenjiro estava ao seu lado em questão de segundos.
“Que velocidade foi essa?”, pensava ele.
Kenjiro guardou sua espada na bainha, então o corpo da youkai partiu no ângulo de 45 graus.
“Por que seu braço está dessa cor?”, pensou Kenjiro.
Ishida caiu no chão quando a criatura se despedaçou.
— Pegue o bebê… — disse ele antes de desmaiar.
“Mesmo nesse estado ele se importou apenas com a criança”
Kenjiro foi até o bebê, o qual ainda estava desmaiado devido ao poder de Ishida.
“O que aconteceu com ela?”, pensou Kenjiro ao pegá-la.
Ele observou o corpo de Aika e todo aquele sangue em seu entorno e pensou em como aquilo foi cruel.
O senhor Kenshin e também o pai de Kotaro, Koda, chegaram no local.
— Que lugar é esse? — falou Koda com uma expressão de espanto.
O senhor Kenshin correu até seu neto.
— Ishida! — disse ele desesperado.
“Esse braço… Não me diga que…”
— Ei, senhor sabe tudo. É melhor levar o garoto para alguma curandeira.
Antes de levar Ishida, Kenshin notou o machado que estava ao seu lado, mas agora não era mais negro.
“Onde ele pegou isso?”
Kenshin pegou o machado e levou seu neto para fora do local.
“Essa marca em sua mão… Então a maldição realmente despertou nele.”
Kenjiro foi em direção a Yumi.
— Consegue se levantar, garota?
— Sim.
Enquanto Kenjiro a ajudava a levantar, Yumi disse:
— Temos que levar aquela caixa.
— O que tem dentro dela?
— Também quero saber.
Kenjiro foi até Koda.
— Pode levar as garotas?
— Claro. — Pegou Toki dos braços de Kenjiro. — Coitadinha.
— Já acompanho vocês. Pegarei aquela caixa.
— Tudo bem.
Kenjiro caminhou até a misteriosa caixa.
“Aquilo foi uma maldição? Destruiu completamente seu braço.”
Ele se aproximou do objeto.
“Uma fechadura de lótus. Tem também aquele emblema sobre o chão. Quem construiu esse lugar?”
Pegou a caixa e voltou para a escadaria.
— Estou com um mau pressentimento.
Ao pisar no primeiro degrau, o lugar começou a balançar.
— Merda!
Tudo começou a se despedaçar e cair.
— Preciso ir rápido!
Kenjiro começou a correr apressadamente até a saída.
“A escadaria está se desfazendo!”
Todo o teto da passagem começou a cair.
— Caminho do trovão. Passo relâmpago.
Ele correu sobre a escada como se fosse um relâmpago. Raios emanavam de seus pés.
Koda gritou da passagem:
— Rápido Kenjiro!
Kenjiro conseguiu escapar no último segundo. Depois que deixou a abertura no chão, toda a escadaria já fora destruída. Seria impossível retornar para aquele lugar.
— Quase morreu por um caixa. Você é louco? — perguntou Koda.
— Com certeza tem algo de muito valor aqui dentro.
— Mas e a chave?
— Depois a gente vê isso. Vamos levar as garotas para descansar. Deve ter sido uma batalha muito dolorosa.
— Era uma youkai de sangue. Nem acredito que eles conseguiram se manter vivos. O Ishida deve ser muito forte.
Kenjiro se manteve em silêncio sobre a fala de Koda. Em seguida falou:
— Vamos.
Eles seguiram para o vilarejo com Yumi, Toki e a misteriosa caixa.
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