Acordei preguiçosamente pela manhã, o sol invadia o pequeno espaço e sua luz refletia com intensidade até mesmo nas pedras das paredes, ele era como um despertador natural. Geralmente eu já estaria de pé após uma tranquila noite de sono, a essa altura já haveria terminado meu treino matinal e estaria, talvez, curtindo um banho no lago próximo a minha casa, a água gelada enfrentando o calor de minha pele suada, meu cabelo flutuando por não ter peso suficiente para romper a superfície da água. Deixei escapar um leve sorriso lembrando uma coisa boa de casa.
Lentamente fui abrindo os olhos, os esfregando tentando corrigir minha visão turva. Um cheiro forte atingiu minhas narinas e me obrigou a tentar obstruí-las, assustado me levantei rápido, sentei em algo macio que murchou um pouco sob o peso do meu corpo. Escaneando o lugar, ele estava cheio de coisas pretas, redondas e brilhantes, o cheiro que emitiam era tão ruim quanto os que tinhamos que aturar no dia de limpar as fezes do celeiro do colégio.
Me levantei e me coloquei de pé, havia me sentado em um deles e até usado como apoio de cabeça enquanto dormia, certamente esse odor repugnante agora estava em mim por completo.
— A pior das noites no pior dos dias…
Resmungava sobre minha infelicidade, bati as mãos na minha saia e não demorei a me recobrar que estava de volta a meu corpo natural, isso não era bom, caso fosse visto assim, certamente… Me considerariam um pervertido idiota. Acho que devo ter usado todo meu poder para segurar aqueles uniformizados malditos ontem, esse lugar, até mesmo sendo um reino humano, estava completamente doido! Os uniformizados devem ser a guarda deste lugar, mas seus uniformes não aparentavam protegê-los como as armaduras dos humanos que conhecia, suas armas pareciam bem mais letais e seus meios de transporte mais rápidos e resistentes, eles se tornaram monstros e por pouco não perdemos a vida aqui. Mas eu me perdi delas…
— Aaah droga!...
Estava frustrado, e tinha todos os motivos do mundo para estar.
Abri as palmas das mãos e senti outra vez a magia circular pelo meu corpo, num primeiro momento a sensação era um tanto gélida, mas logo voltou a ser imperceptível como o sangue que circula em minhas veias, meus anéis brilharam em um tom amarelo intenso e meu corpo outra vez pôs-se a se transformar, a sensação agora era de um formigamento por todos os meus membros, rápidamente afinando, então em meu tronco, remodelando sua forma e tomando curvas intensas. Meu rosto também se transformou, o queixo e o nariz levemente se afinaram, os pelos da barba que começavam a crescer caíram como se saltassem da minha face e meu cabelo que já era longo ganhou um pouco mais de comprimento, “uma garota completa novamente”, e sempre me atingia no peito um sentimento estranho, era uma magia inconvenient. Seria um mentiroso se afirmasse que ainda não havia me acostumado, após dois anos fazendo isso todos os dias, inclusive em meus dias livres porque as garotas sempre me arrastavam para lugares com elas, é fácil se acostumar, o sentimento que sempre me flagelava era porque temia me acostumar demais. Eu não só parecia uma mulher, mas era uma mulher completa agora, a transformação, infelizmente, se aplicava também ao meu cérebro, meu coração, e minha varinha... A cada vez que fazia isso corria o risco de não querer voltar mais ao meu normal.
Meu cabelo estava desgrenhado e meu uniforme definitivamente estava imundo. Fiz um coque com grande parte do meu cabelo, deixei as duas mechas que desciam frente as orelhas soltas porque “suja sim, sem estilo nunca”, me lembrei do que Liz adorava me repetir toda vez que me pegava em alguma missão problemática com ela.
A missão havia criado galhos agora, a principal continuava ser salvar nosso reino de seja lá quem que nós jogou neste lugar aterrador, mas agora também, precisávamos voltar para casa e eu precisava encontrar as garotas sem nem uma pista de onde começar… Elas poderiam ter ido ao lugar que eu e Alice havíamos encontrado, porém seria estupidez, era perto demais do lugar onde fomos caçadas, então minha irmã com certeza optou por ir a outro lugar, também não seria inteligente eu usar meus poderes para criar um sinalizador, isso atrairia esses humanos repulsivos. Suspirei e me sentei novamente na coisa macia e fedorenta, o que eu deveria fazer? Estou perdida, perdida delas e perdida de casa…
O tapa que dei em meu rosto ecoou pelo espaço, não era hora para lamúrios, lamentações, choramingos. Me coloquei de pé novamente e apertei meus punhos, precisava encontrá-las e ficar aqui certamente não me ajudaria. Andar por aí me permitiria ao menos dar a chance delas me encontrarem, Ami certamente estaria usando sua magia de rastreamento para me encontrar, se eu chegar perto suficiente posso ficar no seu radar.
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