Enquanto Zack queima tudo ao seu redor, Samuel se afasta e apenas observa seu, agora, único irmão, explodir de raiva. Zack continua a queimar durante 5 minutos, até que Samuel joga um jato de água para apagá-lo.
Zack se vira para seu irmão e o soca, fazendo Samuel cair no chão. – Me deixa, seu babaca! Como você consegue se manter calmo?!
Samuel se levanta e lágrimas escorrem de seus olhos, com a voz trêmula ele fala. – Precisamos encontrar sobreviventes, nem todos devem ter morrido. – Samuel segura Zack pela nuca e olha em seus olhos. – Sei que está triste, eu também estou, mas ainda somos os heróis dessa vila.
Zack consegue notar que Samuel está segurando seu choro, e conformado diz - Tá, vamos lá.
Os dois saem à procura de sobreviventes, e após muitas horas procurando, suas esperanças já estão acabando, até que, no fundo da vila atrás de uma pedra, os dois ouvem uma voz. Eles correm para ver quem é essa misteriosa voz e se deparam com uma senhorinha de 80 anos, usando um avental bege, todo ensanguentado, cabelos grisalhos e lisos, olhos claros e segura consigo uma bengala feita de madeira.
- A senhora está bem? – Samuel pergunta.
A senhora está com seus olhos fixos na destruição e não expressa emoções.
- Será que a audição dela foi perdida? – Pergunta Zack.
Com seu olhar ainda fixo e sem expressão, ela diz. - Essa destruição foi causada pela fúria de um Deus!
Os gêmeos se espantam com a fala da senhora.
- Um Deus?! - Pergunta Samuel, confuso.
- Zaryn, o Poderoso, dentre os 4 Deuses, Zaryn sempre foi o mais rancoroso, ele descontou sua raiva em nossa Vila, com um de seus lacaios do Reino dos Monstros.
Zack indignado, pergunta. - Mas por que ele faria isso?
- Por conta de vocês dois. Bandur, deu-lhes os poderes dos 4 Elementos da Vida, e Zaryn se enfureceu e quis esses poderes para si.
- Mas por que agora? Por que Zaryn não nos atacou depois de 17 anos?
- Durante 17 anos seus poderes ficaram escondidos, por causa de um encantamento feito por Bandur. Mas o encantamento se enfraqueceu e Zaryn conseguiu encontrar vocês.
Zack fica enfurecido com aquela situação, com seus punhos fechados ele olha para o alto e grita. - ZARYN, EU VOU TE MATAR!!!
- Cala boca, Zack. Não sabe que ao se falar o nome de um Deus ele ouve? Vai acabar o enfurecendo ainda mais. - Diz Samuel, repreendendo seu irmão.
- Acalme-se rapaz, nossa Vila está protegida disso, o encantamento ainda é forte suficiente para nos escondermos dos Deuses, mas não forte suficiente para esconder dois dos quatros Elementos da Vida. – Diz a senhora tranquilizando Samuel.
Samuel olha para toda a destruição à sua volta, e pergunta. - Mas e agora? O que fazemos?
- Eu vou matar ele. - Diz Zack, determinado. - Você vem irmão? – O ódio dentro de Zack cresce mais a cada palavra que sai de sua boca.
- Lutar contra ele e morrer? Pare de ser idiota! – Samuel tenta manter a calma para não surtar também, mas é evidente que também está possesso.
- Idiota é você, nós temos os elementos, podemos matar ele!
- Olhe ao seu redor! – Samuel se exalta. - Não conseguimos matar nem um monstro, imagina um Deus.
A senhora interrompe a briga dos irmãos. - Só conseguirão matar ele com os 4 Elementos em seu poder máximo.
Zack fica empolgado, mas com sua fúria ainda subindo, continua a briga com seu irmão. – Viu, seu idiota, podemos pegar os outros elementos e usar para matar Zaryn.
- Não é tão simples assim. – Diz a senhora, interrompendo Zack. - Os elementos precisam de um receptáculo para que possam ser utilizados.
- Não ponha ideias na cabeça de... – antes de terminar sua frase, Samuel é interrompido por um grito de empolgação de Zack.
- ISSO!! Não podemos ficar parados. Por favor Senhora, me conte onde estão os outros elementos.
- Quem você acha que eu sou garoto? Eu não sei onde estão... – A Senhora fica pensativa como se tentasse lembrar de algo, e então diz. – Mas eu sei quem deve saber onde estão.
Zack olha para Samuel esperando a aprovação de seu irmão.
Samuel um pouco relutante fala. – Está bem...
Por um momento, Zack esquece a raiva e tristeza e se empolga com a decisão de vingança de Samuel. – ISSO! Então velhinha, quem é esse cara?
- Em primeiro lugar, não me chame de velhinha. – A senhora bate com sua bengala em Zack. – E segundo, vocês terão que ir atrás do braço direito de Bandur. Ele se chama Kaito e está dentro do Reino dos Monstros.
Zack fica confuso com o que acaba de ouvir. - Braço direito?
- Não se sabe ao certo a origem de Kaito. Alguns dizem que ele é um monstro, nascido da criação do mundo, outros falam que ele é filho de Bandur. Mas ninguém sabe ao certo.
- Deuses podem ter filhos? – Zack fica mais confuso a cada palavra que ouve, e a cada confusão em sua cabeça, um pouco de sua raiva se esvai.
- Não tem como deuses terem filhos. – Samuel afirma.
- Monstro ou filho, não importa, vocês devem ir até ele para que possam achar os outros 2 elementos. – A senhora fala aos gêmeos.
Samuel, com um sentimento de arrependimento, diz. – Está bem! Mas como iremos saber quem é Kaito? E como iremos entrar no Reino dos monstros?
- Vocês precisam ir para a Ilha Abadita.
- A ilha Neutra? Por quê? – Zack Pergunta.
- Não terei tempo de explicar, é melhor vocês correrem. – A senhora aponta para o céu, onde uma nuvem negra se aproxima da vila.
Olhando mais atentamente, os gêmeos conseguem ver vários monstros voadores indo na direção deles.
- Eu já vivi muito nessa vida, não tenho muito tempo de vida, corram o mais rápido que puderem, eu ficarei para vocês ganharem tempo.
Zack pega no braço da senhora e diz. - Não, você não merece morrer pra gente sobreviver. A gente cuida deles.
- Não seja tolo criança, eles são muitos, vocês não terão chances. Vocês são a chance de vingança de nossa vila. Vão e boa sorte.
Samuel põe a mão no ombro de seu irmão e diz. - Ela está certa, irmão!
- DROGA! – Grita Zack, irado.
A senhora junta suas mãos e diz. – Que a salvação de Bandur esteja com vocês!
Samuel segura na mochila de Zack e o puxa com força, o fazendo perder o equilíbrio por conta do puxão, mas facilmente se ajeita. Os dois começam a correr em direção a saída da vila, e Zack, mesmo ainda relutante, olha uma última vez para a senhora e segue atrás de seu irmão.
A senhora está parada, com suas mãos juntas e seus olhos fechados, a nuvem de monstros a cobre e um som ensurdecedor paira no ar, os gritos de dor da senhora e o som da carne sendo mastigada pelos monstros.
- Não olhe, não podemos fazer nada. - Samuel tenta consolar seu irmão.
- Eu sei... – Zack continua a correr, sem olhar para trás e com lágrimas escorrendo pelo rosto.
Os irmãos saem da vila e correm para uma montanha perto da vila, e subindo alguns metros por entre as árvores, eles chegam até uma caverna, onde os dois acampavam sozinhos em seus dias de treino. Zack se senta em uma pedra no canto da caverna, onde à alguns livros deixados por Samuel, ele pega um dos livros e ateia fogo, para formar uma fogueira, enquanto Samuel fica na entrada da caverna, observando o topo das árvores e algumas estrelas que se pode ver por entre a folhagem.
Zack observa as chamas queimarem as folhas do livro e um choro o acomete, um choro silencioso, mas que é perceptível. Samuel percebe o choro de seu irmão e aproxima-se, ele senta ao lado de Zack e põe seu braço em volta de seus ombros, para consolá-lo, e os dois ficam em silêncio olhando para as chamas. Algumas lágrimas escorrem pelo rosto de Samuel, mas ele vira seu rosto e tenta enxugar suas lágrimas discretamente.
- Você não precisa ficar com esse ar frio sempre, eu sei que você quer chorar.
Samuel não solta lágrimas, mas continua com seu rosto sério.
- Tá bom, não precisa chorar. – Zack põe seu braço em volta dos ombros de Samuel.
Os dois ficam observando a fogueira por alguns minutos, até que Zack cai no sono, Samuel o deita no chão com cuidado e põe seu quimono por cima de seu irmão, como uma coberta. Samuel caminha até a entrada da caverna para poder olhar as estrelas, mas seu coração não aguenta mais, ele cai de joelhos e segura seu peito com força, com lágrimas escorrendo de seus olhos, ele grita internamente, enquanto sofre em silêncio.
No outro dia, a fogueira já está apenas em brasas e o sol brilha no céu, Zack acorda de seu sono e pega algo em sua mochila para poder comer.
- Como você está? - Pergunta Samuel, que está sentado na mesma pedra que antes estava Zack, e em suas mãos há uma pequena peça de madeira, sendo entalhada por Samuel.
- Com fome. - Zack tira de sua mochila um pedaço de carne seca e começa a comê-lo. - Você quer?
- Eu já andei comendo algumas frutas. - Responde Samuel, enquanto termina de talhar a peça de madeira.
Zack termina de comer e se levanta no mesmo instante, ele pega sua mochila e sua espada e as põe em suas costas. - Tá ficando legal esse aí. Qual é o nome desse?
Samuel tira o último talho de madeira da peça e o levanta para averiguar. - Despedida. - Em sua mão, ele segura uma pequena estátua de uma raposa, andando ao lado de uma raposa menor. Samuel põe a estátua na pedra em que estava sentado e se ajoelha em frente a pedra, ele junta suas mãos e diz. - Que Bandur guarde a alma de vocês.
Zack se ajoelha ao lado de Samuel, junta suas mãos e diz. - Que Bandur guarde a alma de vocês.
Zack levanta e pergunta a Samuel. - E então? A gente vai até a Ilha Abadita?
- Você quer vingar nossa vila? – Pergunta Samuel, pegando seu quimono.
- Sim, mas como vamos para a ilha? Fica no meio do mar.
Samuel olha para a sua mão, e começa a transbordar água de sua palma, ele olha para o céu ensolarado e diz. - Eu sei produzir água, igual você com o fogo, mas acredito que possamos controlar nossos elementos à nossa volta.
- Você diz que podemos dobrar os elementos? – Zack pergunta, entusiasmado.
- É o que eu pretendo testar.
- Estamos muito longe do mar, como você pretende testar isso?
- Temos que ir até o Lago Isguixi!
- Tá doido, cara? Dizem que lá tem um monstro submerso!
- Eu sei disso, mas se queremos vingar nossa vila, preciso aprender a dobrar água. - Samuel aponta para Zack e diz. - E você também, precisa treinar suas técnicas de fogo. Eu sei que você consegue!
Zack olha para a fogueira apagada durante alguns segundos, até que volta seu olhar para Samuel. - Vamos logo então.
Os dois saem da caverna e vão em direção ao Lago Isguixi, e após algumas horas caminhando, Zack e Samuel chegam ao destino. O lago tem um formato oval, com muitas árvores em volta cobrindo tudo, a água é escura e difícil de ver o fundo, alguns peixes nadam pelo lago tranquilamente, e patos com seus filhotes nadam na superfície da água. Samuel chega na beira do lago e observa a água escura, ele se ajoelha e põe suas mãos dentro da água, sua mente começa a se acalmar, ele fecha seus olhos e começa a se concentrar.
- Não seria melhor você pôr a água em um copo e irmos andando? - Pergunta Zack.
- Deixa eu me concentrar. E não se preocupe, são apenas lendas.
- E se não for? A gente quase morreu praquele que atacou nossa vila.
As águas em volta dos braços de Samuel começam a vibrar, formando pequenas ondulações e aumentando a cada segundo, até se tornarem ondas violentas dentro do grande lago.
- Nossa! – Zack se impressiona com as ondas se formando do braço de Samuel.
Mas sem aviso prévio, Samuel é interrompido por um tentáculo que sai da água e o agarra, o tentáculo puxa Samuel para dentro da água, e a única coisa que Zack consegue ver é a água do lago se acalmando aos poucos.
- SAMUEL!! – Zack desesperado grita o nome de seu irmão. – Eu sabia que isso era encrenca em dobro.
Zack saca sua espada e mergulha no rio, atrás de seu irmão. Um silêncio paira no ar, a água fica calma e pode-se ouvir somente o som do vento batendo nas folhas das árvores. Repentinamente, Samuel é lançado para fora do rio, caindo no meio de arbustos, em seguida, vários tentáculos aparecem do rio, e entre todos aqueles tentáculos, se encontra Zack, sua espada está fincada em um dos tentáculos e ele agarra o cabo da espada com toda sua força para não ser lançado para longe.
No meio de toda aquela bagunça e barulho, Zack grita para seu irmão. – Anda logo!
Samuel sai de dentro dos arbustos e corre em direção da margem do rio, se ajoelha e encosta suas mãos na água. Novamente, a água envolta das mãos de Samuel começa a formar ondulações leves, e após alguns segundos, ela começa a subir pelos braços de Samuel. Enquanto Zack pula de um tentáculo para outro, tentando cortá-los, Samuel começa a levantar suas mãos lentamente, toda a água que está presa em suas mãos começa a subir até seus ombros e Samuel começa a gritar.
- SAI DAI!!! – Samuel grita para seu irmão, e toda a água do lago começa a flutuar.
Zack dá seu último ataque antes de pular, o monstro ataca com um de seus tentáculos e Zack corta ele ao meio antes de ser atingido, e enquanto metade do tentáculo cai no chão, Zack pula de cima do monstro e cai nas pedras ao lado de Samuel.
Com apenas um movimento, Samuel fecha suas mãos com todas suas forças, e de uma maneira que os gêmeos nunca viram antes, a água vira uma esfera gigante. O monstro começa a se debater dentro da esfera de água, tentando sair, mas a esfera é tão densa, que mal consegue se mover.
Usando toda sua força, Samuel aperta suas mãos e a esfera começa a prensar o monstro, grunhidos de desespero podem ser ouvido até ser substituído por um som de carnes e ossos se esmagando. A água que antes era azul, agora começa a se manchar de vermelho e nenhuma movimentação pode ser vista dentro da esfera.
Zack olha para a água vermelha e volta seu olhar para seu irmão, que está com os braços levantados e envoltos de água. Com um movimento lento, Samuel despeja toda a água da esfera no buraco do lago, deixando o monstro aquático boiando dentro do lago.
Zack, que ainda está caído logo atrás de Samuel, se levanta e olha ao seu redor, tudo está molhado e o nível da água do lago baixou drasticamente, seu olhar para em Samuel, que cai de joelhos e olhando para o céu.
Zack se levanta entusiasmado e diz ao seu irmão. - Você conseguiu cara!
Mas antes que pudesse comemorar, Samuel cai no chão, desacordado.
- SAMUEL!!!
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