O Javali já está em ossos, e o vinho já está seco. Maralto está com o rosto todo vermelho, e os gêmeos com a barriga do tamanho de uma montanha. Maralto levanta, bate em sua testa, e a vermelhidão de seu rosto passa, ele vai até Samuel e Zack, estende suas mãos para os dois e os ajuda a levantarem.
Samuel e Zack aceitam a ajuda e se levantam, e em seguida, os dois vão até a porta, mas antes de sair, Samuel se vira para Maralto e o reverencia.
- Obrigado por tudo mestre.
Zack imita seu irmão e reverencia Maralto também. – Muito obrigado mestre.
Maralto sorri e fala. – Boa sorte, meus discípulos.
Samuel e Zack então saem pela porta, eles andam pelo meio da vila até o portão, e no meio do caminho, os idosos e adultos os cumprimentam e desejam boa sorte aos dois irmãos, as crianças que correm nas ruas, estendem as mãos para bater na palma dos gêmeos, e algumas param os irmãos para abraçar eles.
Depois de muitas despedidas, os irmãos saem pelo grande portão de ferro da entrada da vila e seguem andando até a beirada do penhasco. Zack chega perto da beirada e olha para baixo, mas só consegue ver as nuvens que tampam a visão do chão.
- Aff, é muito alto. – Diz Zack, observando o topo das nuvens brancas.
Samuel se aproxima da beirada também, e sem falar nada, ele pula.
- Droga cara, eu não tava afim de me quebrar hoje. – Zack dá uns passos para trás, dá dois pulinhos e pula atrás de Samuel.
O vento gelado bate no rosto de Samuel e seu coque se solta com a força do vento, e aos poucos, o chão começa se aproximar. Samuel lança um jato de água no chão, amortecendo sua queda, e aterrissando sem problemas. Zack também começa a se aproximar do chão, e antes que caísse no chão, Samuel joga um jato de água para desacelerara-lo, mas mesmo com a ajuda do jato de água, Zack cai de cara no chão.
- Ai! – Diz Zack, com o rosto enfiado na terra.
- Haha! – Samuel ri, enquanto ajuda seu irmão a se levantar.
- Obrigado. – Zack se levanta e começa a tirar a poeira de sua roupa. - Pra onde a gente vai? - Pergunta Zack.
- Bom, precisamos ir até a Ilha Abatida.
- A gente vai nadando?
- Vamos até a Vila Karatika. É uma vila de pescadores e podemos pegar um barco lá.
- A gente pega uns peixes também, pra ir comendo no caminho. – Zack lambe os beiços.
- Você já está pensando em comida? Nós acabamos de comer um javali inteiro.
- Você sabe cara, tô sempre cheio de fome.
Samuel sorri e dá um soco no ombro de Zack. – Está bem, nós pegamos alguns peixes.
Durante alguns dias, os dois caminham em direção à vila Karakita, passando por florestas e descampados, caçando alguns coelhos e pássaros para poder se alimentar, e nas paradas para descansar, os dois treinam juntos kung-fu.
Após 4 dias viajando e treinando, os gêmeos avistam a entrada para a Vila Karatika. É uma vila pequena de pescadores, com algumas cabanas antigas feitas de madeira e telhados de palha, docas com algumas canoas e barcos de pesca feitos de madeira e ruas com terra e pedras.
- Acredito que não teremos problemas aqui. – Diz Samuel, observando a entrada da vila.
Zack e Samuel entram dentro da vila e começam a andar pela rua, mas diferente de sua antiga vila e a vila Montanhesa, a Vila Karatika é uma vila muito cinzenta, idosos caminhando pelas ruas com um olhar vazio em seus olhos, pescadores cansados embaixo de barracas de venda cheias de peixes apodrecendo, e crianças magras roubando os peixes das barracas para poderem sobreviver.
- Por que essa vila não é ajudada por Bandur? – Zack pergunta.
- Bandur deve ter algum plano maior para essa vila. Talvez uma grande safra de peixes nos próximos meses.
Zack e Samuel continuam andando pelas ruas em as docas, algumas crianças passam correndo entre os gêmeos, e sem perceber, a espada de Zack é carregada por uma das crianças.
- Ei! Minha espada! – Grita Zack.
A criança que carrega a espada, corre para um beco entre duas, e sem pensar duas vezes, Zack corre atrás da criança e entra dentro do beco. Lá, ele percebe que é um beco sem saída, com um muro de madeira separando-o dos fundos das duas casas, ele olha ao redor e nem um sinal da criança, mas um som de risadas pode ser ouvido atrás do muro. Zack decide pular o muro de madeira, e encontra a criança sentada no chão segurando a espada.
- Me devolve, pirralho! – Grita Zack, pousando no chão.
A criança tenta se levantar rápido, mas se atrapalha e cai no chão, Zack se aproxima do garoto com raiva, mas a criança se encolhe no chão e ergue a espada na direção de Zack.
- Desculpa, eu só precisava do dinheiro.
Zack para por um instante, e fica olhando aquela criança desesperada, magra e suja, se encolhendo de medo. Um sentimento de tristeza e culpa o acomete, Zack se ajoelha ao lado do garoto, pega sua espada e tira de seu bolso algumas moedas de Reines.
- Toma. – Zack põe as moedas ao lado da criança e se levanta. – Vê se não fica roubando, você vai se encrencar por isso.
- Obrigado! – A pequena criança sai correndo com as notas que acabará de ter ganho.
Um grande sorriso surge no rosto de Zack. Ele põe sua espada em sua bainha e retorna até seu irmão, que já está rindo da cara de seu irmão.
- Conseguiu recuperar? Devia ser um monstro gigante. – Diz Samuel, com um tom de deboche.
- Cala boca! – Zack olha para sua espada e diz. – Ele só tava com fome.
- Sim, eu percebi isso. É uma pena não podermos ajudar essa gente.
- É, você tem razão...
Os gêmeos continuam caminhando pelas ruas até chegarem nas docas, onde um homem, com aparentes 70 anos, usando um chapéu de palha e roupas velhas, está pescando com uma vara de bambu, enquanto fuma um cigarro feito de palha. Ao seu lado há um cesto pequeno feito palha, com apenas um pequeno peixe e algumas algas cobrindo a abertura do pote.
Zack começa a se aproximar do homem, e o houve resmungando algo.
- Mas que droga de peixe, eu vou pular atrás de você.
- Com licença senhor. – Diz Zack.
- Opa, tarde. – O homem acena com o chapéu. – Se quer algum peixe, está sem sorte, peguei nada.
- Na verdade, eu queria um barco, o senhor sabe onde posso pegar um emprestado?
- Senhor é meu ovo. – O homem traga seu cigarro de palha. – E não tem barco pra emprestar, só vender.
- Ixi, não tenho dinheiro.
- Então você vai ficar sem barco. – A vara do senhor enverga e a linha estica, mas antes que ele puxasse o peixe, a linha arrebenta. – Droga! – Ele joga a vara na água. – E eu sem peixe.
Uma ideia surge na cabeça de Zack, ele se despede do homem e corre até Samuel, que está sentado na ponta do píer, brincando com a água do mar.
- Samuel. – Zack chega correndo ao lado de Samuel. – A gente precisa de peixes.
- Por que?
- O velho falou que só tem barco à venda, então vamos dar peixes pra ele.
Samuel revira os olhos. – Você acha mesmo que ele vai aceitar peixe como pagamento?
- Na verdade, a gente podia dar peixes pra vila inteira, eles não iam reclamar de dar um barco pra gente.
Samuel esfrega seus olhos. – Tá, e como vamos conseguir tantos peixes?
- Bom... – Zack aponta para o mar. – Tá na hora de você testar suas novas habilidades.
Samuel solta um suspiro. – Tá bom. Eu vou tentar.
Samuel se levanta, ele dá alguns passos para trás e pula, no momento que seus pés encostam na água, ao invés de afundar, Samuel flutua sobre a água, come se a água fosse solida para ele. Com seus olhos fechados, ele começa seus movimentos de dobra de elemento de kung-fu.
- Que daora! – Diz Zack, de boca aberta.
Samuel continua seus movimentos, a água ao seu redor começa a se mexer, e a cada movimento, as ondulações saindo de seus pés começam a aumentar e encher o mar com ondas agressivas, é uma visão incrível, e assustadora ao mesmo tempo, como se o mar estivesse vivo. Samuel começa a movimentar seus braços para cima e uma torrente de água começa a se formar em sua frente, e como um vulcão em erupção, uma explosão de água lança muitos e muitos peixes para direção da vila.
As forças de Samuel acabam e ele cai na água do mar, boiando sobre a água salgada. Gritos podem ser ouvidos vindo da vila, junto de sons de peixes caindo sobre as casas.
- Acho que eles devem ter gostado. – Diz Zack, entrando no mar para levar seu irmão até o píer.
- Sim, agora devemos conseguir um barco. – Diz Samuel, sendo empurrado até o píer.
- Vamos atrás do velho.
Zack ajuda Samuel a subir no píer, e Samuel já puxa toda a água que está em suas roupas, os deixando completamente secos. Os gêmeos se dirigem até o senhor, e ao chegarem lá, eles observam que o cesto, que antes estava vazio, agora está cheio de peixes, o senhor continua pegando quantos peixes consegue com os braços, e os juntando em um monte ao lado do cesto.
Zack se aproxima do senhor e começa a ajudá-lo a recolher os peixes. – Então, agora podemos pegar um barco?
O homem se assusta com Zack, ele larga os peixes que estava em seus braços, aponta para Zack e pergunta. – Foram vocês? Como vocês fizeram isso?
Zack solta chamas de sua mão, e diz. – Nós fomos abençoados por Bandur. Recebemos poderes para poder ajudar os outros.
- Bandur?! – O homem se ajoelha e os reverência. – Que a salvação de Bandur esteja com vocês.
Zack junta suas mãos e acena com a cabeça.
- Podem pegar qualquer barco daqui. Todos na vila irão ficar gratos. – O homem se levanta e sai correndo. – Eu avisarei a todos!
- Deu certo. – Diz Zack se virando para Samuel. – Então, qual a gente pega?
Samuel começa a analisar os barcos, há 4 barcos grandes de pescas feitos de metal enferrujado, 1 barco pequeno feito de madeira e com uma única vela feita de tecido branco e 2 botes pequenos feitos de madeira.
- Vamos pegar um bote. – Diz Samuel, indo em direção ao bote.
- Tá doido? Você quer ir remando?
- Não se preocupe. – Diz Samuel, entrando no bote. – Deixa comigo.
Zack também entra no bote. Samuel senta na parte de trás do bote, encosta suas mãos na água e começa a se concentrar. Ondas fortes começam a se formar atrás do bote, a força das ondas aumenta e o bote começa a se mover em grande velocidade em direção a alto mar.
- Você não vai usar muita energia até lá? – Pergunta Zack, preocupado com seu irmão.
- Vou, mas tudo bem. Agora deixa eu me concentrar.
- Tá bom.
A viagem de barco dura 10 horas, com Samuel usando seus poderes de dobra ao máximo, e viajando em uma alta velocidade por conta disso. Zack começa a enxergar ao longe a Ilha Abadita, á uma grande montanha no meio da vila, que emana uma luz laranja escura, uma praia vasta e bonita, com águas cristalinas e muitas palmeiras e coqueiros espalhados pela areia.
O bote aporta na areia e gêmeos chegam a Ilha Abadita, ao chegarem na costa da praia, Zack puxa o bote até a areia e ajuda seu irmão a sair do bote.
- Você tá bem? - Pergunta Zack preocupado.
- Eu só preciso dorm... - Samuel não aguenta e desmaia do cansaço.
A noite cai sobre a ilha deserta, o céu está estrelado e a lua está cheia, e uma única luz estranha sai do topo de uma montanha no meio da ilha. Zack pega seu irmão e o carrega até perto de uma árvore, o põe deitado e acende uma fogueira ao seu lado, e durante a noite, Zack fica de guarda, para que seu irmão possa descansar bem.
Observando melhor, Zack percebe que a montanha no meio da ilha, na verdade, é um vulcão com alguns veios de lava que escorrem pelas laterais uma vasta mata com vários coqueiros altos e flores coloridas ao pé da montanha.
Depois de algumas horas de guarda, Zack já não se aguenta mais de sono, está quase apagando, mas seu sono some quando ouve um barulho muito alto vindo da direção do vulcão. O chão começa a tremer, e o som vai ficando mais alto a cada estremecida no chão. Sem pensar duas vezes, Zack se levanta e saca sua espada.
- Vamos Samuel, não é hora pra você ficar dormindo.
Está escuro e Zack não consegue enxergar direito, um vento forte e quente passa pelas suas costas, apagando o fogo da fogueira, e vindo de suas costas, um som abafado e grosso de um animal rosnando. Em desespero, Zack cospe uma bola de fogo para o ar, para que ilumine a escuridão, o cuspe de fogo continua aos poucos, mostrando o corpo enorme de um monstro de 20 metros de altura com rosto de javali e presas enormes, usa uma espécie de bermuda feita com folhas de bananeira, sua barriga é tão grande que cai por cima de sua bermuda de folhas, e um grande piercing feito com presas de elefante está preso em seu umbigo.
– SAMUEL!! – Grita Zack, mas Samuel não acorda.
Com um movimento incrivelmente rápido, o monstro ataca com um soco, mas Zack já estava preparado, ele desvia com facilidade do ataque e pula para cima do punho do gigante. Ao firmar seus pés na superfície da pele do gigante, Zack começa a correr pelo braço enorme em direção do rosto, mas o monstro não deixa isso acontecer.
O gigante levanta seu outro braço, abre sua mão e desfere um ataque contra Zack, como se fosse esmagar um pequeno mosquito em seu braço, Zack percebe o ataque se aproximando, e com um reflexo que não teria antigamente, ele desvia do ataque, dando um mortal para trás e pousando a poucos centímetros da mão gigante.
Uma grande oportunidade aparece, Zack levanta sua espada e finca entre os dedos gordos do monstro, que recolhe com rapidez sua mão.
- AAAAAAAA! – O monstro solta um grito ensurdecedor de dor.
Com uma grande violência, o gigantesco monstro balança seu braço em que Zack está em cima e o lança para o ar. O monstro vê a oportunidade de atacar Samuel, que ainda está desacordado, e parte para cima dele, já preparando um soco. Mas Zack percebe as intenções do gigante, e com uma fúria dentro de si, ele se propulsiona com chamas dos pés em direção da criatura.
O monstro começa a desferir o soco em Samuel, mas como se o mundo estivesse em câmera lenta, Zack ataca o olho do gigante com um soco extremamente forte, seu braço esquenta e uma explosão de fogo queima o olho esquerdo do gigante.
Agonizando de dor, o monstro agarra Zack e o joga para longe. - AAAAAAAAAA!!! O que pensa que está fazendo, garoto!?
Zack pousa em cima de uma grande pedra, e assustado com o monstro falando, ele grita. - Um monstro que fala, mas que po...
Antes de Zack terminar sua frase, o gigante desfere um soco contra ele, e dessa vez, Zack não tem tempo de desviar. A força do soco faz com que a pedra que estava abaixo de Zack, se quebre em vários pedaços e acaba o desacordando junto
O monstro percebe que Zack apagou e aproveita a chance para acabar com sua vida, ele prepara seu punho para desferir outro golpe, mas antes que pudesse atacar, Samuel lança um jato de água em seu irmão, que o lança para longe da área do soco.
- Não chegue perto do meu irmão. – Samuel grita.
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