— É, Raissa! Sinto muito mesmo! Por favor, só deixa eu me explicar. — Apesar daquele enorme peso nas palavras, as respostas às solicitações eram nulas.

— Mano, na real, acredito que nada disso vai adiantar. — Após um suspiro de impaciência com aquela situação que durava uns cinco minutos, Raimundo virava-se de frente para falar olho no olho com o futuro líder da família Huberi — Eu entendo que você não sabia e não falou aquilo por mal, e que isso está fazendo você querer deixar isso claro para ela. Só que, de verdade, dá um tempo para ela.

Desviando sua vista prontamente depois do conselho que ouviu, o semblante de Gabriel era unicamente de um misto de ansiedade e frustração. Seu olhar perdido pela vergonha procurava um ponto onde pudesse fixar e esconder aquela seu constrangimento que o levava, em sua cabeça, a uma figura de um babaca arrogante que não sabia o que falava. No entanto, algo interveio totalmente nessa perda de rumo, e aquilo reluziu carmesim sob o pouco de luz do Sol que restava. Levantando os olhos, Gabriel encontrou um sorriso consolador no rosto da ruiva adulta que tentava transmitir o máximo de conforto possível para aqueles jovens que aparentavam estar chateados com algo.

Anteriormente, Layla escutou apenas uma sentença firme de Raimundo, explicando que Raissa não era adotada, e notou um vai e vem exaltado dos filhos dos tais chefes. A discussão, de fato, ficou inaudível devido à distância, estabelecida por respeito àquele momento. No entanto, algo era certo para ela: eles resolveriam a questão da maneira mais madura possível. Layla acompanhou cada passo dos irmãos desde a infância deles. Ingressou como doméstica dos Buloke há nove anos, quando ainda trabalhava meio período durante seu ensino médio. Desde então, observou o desenvolvimento deles sob muita pressão familiar e social, pois tinham o dever de serem merecedores do sobrenome que carregavam. Um mal-entendido não seria nada para aqueles dois, ela refletia interiormente.

Gabriel se sentia acolhido pelo olhar da diarista, embora não tivesse ideia do que se passava em sua cabeça. Isso porque aquele olhar o lembrava diretamente o olhar doce daquela que era dona do seu coração, sua namorada, quando o recebia. Portanto, relaxou a tensão em seus ombros e voltou o olhar para o Buloke à sua frente.

— Tudo bem, mas mais uma vez, gostaria de pedir desculpas por tudo, Raimundo.

— Bom, como eu disse. Não é para mim que você deve pedir desculpas, sim, para ela. — Raimundo fazia um gesto com a mão inclinada na horizontal, mantendo-a fechada com o polegar apontando para a porta de trás dele.

Interrompendo a tensão que pairava no ar, um som de conversa entre duas vozes maduras ecoou pelo corredor, indicando que os pais deles haviam terminado sua própria discussão. Com um gesto simpático da mão, Arthur se aproximou e, ao chegar à frente dos jovens, perguntou:

— Então, está tudo bem por aqui, pessoal?

Recuando parcialmente diante da pergunta, Gabriel virou-se ligeiramente, enquanto Raimundo, assumindo a situação, falava com um leve desconforto na voz:

— E-Está, sim, Arthur! Eu e o Gabriel estávamos discutindo sobre como serão os inícios das aulas amanhã, não é? — Raimundo passou a bola para o loiro, inclinando levemente a cabeça com seu característico sorriso no rosto. Gabriel captou a mensagem com certo atraso na reação, ainda sem entender completamente a mudança de tom no ambiente. Um frio percorreu sua espinha enquanto assentia nervosamente. Lendo toda a situação diante de si, Arthur suspeitava que algo não estava certo, pois Gabriel raramente adotava esse tipo de postura. Ele conhecia seu filho como ninguém e sabia que Gabriel raramente ficava constrangido em um ambiente. No entanto, Arthur decidiu guardar essa observação em um canto de sua mente enquanto se preparava para se despedir da família adequadamente.

— Então está ótimo! — Batendo no ombro de Raimundo, Arthur o abraçou e, enquanto caminhavam juntos em direção à entrada da mansão, continuaram a conversar com Luiz, agora acompanhados pelos dois filhos — Pois bem, eu queria agradecê-los pela recepção calorosa, há tempos que não me sinto tão à vontade.

Ao se aproximarem da porta da frente, todos voltaram sua atenção para a escada, aguardando a descida das duas mulheres que estavam na sacada de cima, dialogando. A beleza que acompanhava cada passo delas era simplesmente exuberante.

No lado direito da escada, segurando firmemente o corrimão enquanto descia, encontrava-se uma bela mulher negra com longos dreads loiros presos. Ela usava um elegante vestido vermelho no estilo bodycon, que revelava apenas sua perna direita e deixava seus lindos ombros à mostra. Essa mulher era Sabrina Buloke, a esposa do líder dos Buloke.

Do outro lado da escada, um pouco mais atrás, descia uma mulher ruiva com cabelos que não chegavam até os ombros. Sua franja sutil tampava seu olho esquerdo. Ela usava um vestido rosa nude com decote ombro a ombro e uma fenda que destacava o colar de pérolas em seu pescoço. Essa mulher era Soraya Huberi, considerada a mais bela entre as doze famílias.

Cada passo das duas mulheres era poderoso e inegavelmente demonstrava que elas não eram pessoas comuns.

— Oh, Arthur! Já terminaram? — Sabrina questionava diretamente, de forma sugestiva, o visitante. Este, por sua vez, retrucava com um sorriso que demonstrava que a amizade entre eles já existia há bastante tempo — É. Sabia que você não gostaria que eu roubasse teu homem por tanto tempo assim.

— Que nada. Aproveitei bastante para saber os últimos podres com a minha amiga. — Apontava para Soraya, discorrendo. — Falando nisso, saudade daquelas idas aquele restaurante de massas de Nova Hamburgo, nunca mais né?

— Pode deixar que após resolvermos tudo, vamos todos juntos, não é amor? — Jogava a responsabilidade de marcar para Soraya, a qual respondia com um sorriso simpático no rosto.

— Vamos sim! Aproveitar para comemorarmos a entrada do Gabriel para faculdade e o último ano do Raimundo. O que acham?

Todos assentiram e voltaram-se para Raimundo, que respondia com ansiedade aos olhares que o cercavam. O encontro havia sido marcado para daqui a duas semanas daquela conversa. Em seguida, seguiram-se as despedidas formais entre as duas famílias, e todos, exceto Raissa, encerraram aquela conversa com um clima adocicado no ar.