Ishida abriu lentamente seus olhos, mas sua visão estava um pouco embaçada. Encontrava-se em sua casa, deitado em uma esteira de palha e todo seu corpo havia sido enfaixado.
Kenshin conversava com Kenjiro, ambos encostados perto da porta. À direita de Ishida estava Yumi, ajoelhada. À esquerda estava Kotaro, também ajoelhado. Os dois exibiam uma expressão de preocupação.
“Não sinto direito as minhas pernas.”
— Ele está acordando! — avisou Kotaro.
Kenjiro e Kenshin encerraram a conversa e observaram Ishida recobrando a consciência.
“O que aconteceu? Todos ficaram bem?”
— Consegue se levantar? — perguntou Yumi.
— Meu corpo dói e não sinto minhas pernas.
— Vou te ajudar, não se preocupe. — Colocou a mão esquerda sob as costas de Ishida. — Seu corpo ficou totalmente ferido por causa daquilo…
“Aquilo?”, pensou Ishida.
Com a ajuda de Yumi, Ishida sentou sobre a esteira. Ele olhou para seu braço direito e teve um curto flashback onde viu seu braço envolto em chamas negras.
“Ainda o sinto e posso movê-lo.”
Ao tentar retirar as bandagens, seu avô interrompeu dizendo:
— Mais tarde você pode ver como está. Por agora, apenas se alimente e descanse.
— Certo.
— Seu corpo está doendo muito, né? — perguntou Kotaro.
— Parece que em cada movimento posso desmontar.
— Deve ter sido complicado mesmo. Desculpa não ter ido te ajudar.
— Não pense muito nisso. Não sei nem como estou vivo, então agradeço por você ter ficado.
— Mesmo assim.
Ishida colocou uma das mãos no ombro direito de Kotaro.
— Já disse, está tudo bem. Estou vivo, não estou? — disse ele, olhando no fundo dos olhos do garoto.
— Certo, vou tentar esquecer.
Kotaro se levantou e foi em direção a fogueira no centro da casa e começou a mexer na panela.
— Mais tarde quero conversar contigo, garoto — avisou Kenjiro.
— Certo…
Kenjiro deixou a casa e Ishida pôde observar que já era noite.
— Quanto tempo estou aqui?
— Três dias.
— Três dias? — Observou seu braço enfaixado.
— Obrigada por me proteger.
Ishida olhou para baixo e ficou pensativo por alguns segundos.
— Você está bem, Yumi?
— Sinto dor em minhas costelas, mas considerando a batalha que tivemos, não posso nem reclamar.
— Onde está a criança?
— Está sendo cuidada pela senhora Nozomi.
— Ela é muito gentil, foi a escolha certa.
— Mesmo que não aprove suas atitudes — disse Kenshin — preciso te agradecer por salvar Yumi e a criança. Teve coragem de enfrentar tudo aquilo mesmo sendo tão novo. O vilarejo inteiro está impressionado.
Ishida desviou o olhar.
— Que bom — disse ele, com uma expressão triste.
Kotaro caminhou até Ishida e entregou uma pequena tigela, a qual exalava muita fumaça.
— Coma, é sopa de arroz.
— Parece delicioso, muito obrigado. Não sabia que você cozinhava.
— Meu pai trabalha nos campos, então tenho que preparar a comida.
Ishida colocou a tigela sobre o chão, juntou as mãos e fechou os olhos.
— Obrigado por esta comida. Amém!
Ele deu um gole e afirmou:
— Muito bom!
— Por que vocês falam amém? O que significa exatamente? — perguntou Yumi.
— Significa: "que confirme" ou "assim seja" — respondeu Ishida.
— Quem confirme?
— Hashem, o criador.
Kenshin entrou na conversa.
— Essa não é uma simples palavra. Ela é poderosa, nos conecta com o divino. Nunca devemos usá-la em vão.
— Mas quem é Hashem? O que ele fez?
— Simplesmente criou tudo que existe. O invisível e o visível — explicou Kotaro.
— Yumi, Gaia e os outros reinos são apenas uma parcela do que ele criou — informou Ishida.
— Senhor Sasaki, você pode contar sobre o criador para Yumi, né?
— Claro.
— Vô, o senhor contará aquela história?
— Sim.
Kenshin foi até uma prateleira, pegou uma vasilha de ferro e duas velas.
— Apague a fogueira e junte-se aqui, Kotaro.
— Certo.
O garoto apagou a fogueira e a escuridão tomou conta do lugar.
— Não estou vendo nada, senhor Sasaki.
De repente, Kenshin riscou um fósforo e acendeu as velas. Kotaro se juntou ao resto.
— O que o senhor irá fazer? — perguntou Yumi.
— Irei te contar a primeira história que ouvi quando cheguei aqui, na ilha de Ezo e também, a primeira história que contei para Ishida.
Ele retirou da vasilha um pano marrom, o qual possuía uma pequena quantidade de uma areia dourada.
— O que é isso? — perguntou Yumi.
— Areia mágica.
— Mas o que ela faz?
— Podemos transmitir nossos pensamentos visuais.
— Mas como isso funciona?
— Tenha calma.
Kenshin fechou os olhos enquanto segurava o pano e após alguns segundos ele os abriu. Despejou toda a areia na vasilha e a fechou.
— Bom, o que vou te contar Yumi, é a história de como tudo surgiu. De como este reino foi criado.
— certo.
— Estão prontos?
Todos inclinaram a cabeça indicando que sim.
Ishida disse rapidamente:
— Espera, espera, espera!
Ele engoliu a sopa e passou o braço nos lábios.
— Estou pronto.
Kenshin respirou fundo, enquanto as velas iluminavam levemente seu rosto.
— Vou contar a vocês a história da Gênese do nosso mundo.
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