A mansão era um local relativamente grande se comparado com os prédios comerciais da cidade, porém era mais magnífica, possuía uma área domiciliar com o prédio principal ligado a um jardim na parte da frente, tudo isso com suas paredes externas de um visível branco reluzente encontrado apenas em estruturas grandiosas como a biblioteca central, academia Kalamit e a torre dos céus, no lado esquerdo separado por um muro estava a vinícola onde era preparado um grande estoque de vinho usado para distribuição sob demanda e por fim, ao seu lado o galpão de armazenamento e tratamento do vinho, ambos feitos de uma madeira escura e lisa meticulosamente limpa e cuidada.
Secilia estava parada em frente ao portão de entrada da mansão olhando para ela, gostava de sua casa, mas a sensação de estar ali era sempre a de obrigação e não de descanso, porém não era como uma prisão.
Após um momento de devaneio suspirava percebendo que sua mãe seguiu diretamente para a área da vinícola e com um comando de cabeça chamou Secilia. Respirando fundo ela se direcionou a vinícola a apenas alguns passos de distância da mulher, mantendo uma expressão desanimada em seu rosto.
Ao chegar na vinícola e adentrar o local a garota viu seu pai, uma figura alta e com cabelos escuros como a noite e olhos destacados verdes radiantes, ele era um homem que mesmo sem motivos para aprender a arte do combate havia treinado por uma boa parte de sua vida, isso era nítido em seus músculos em contraste com seu terno vermelho escuro com roupa interna preta e a ausência de uma gravata, sua expressão rígida se destacava por de trás da espessa barba, embora um tanto jovem para sua idade.
— Como estão os preparativos de vinhos para o festival? Receberemos alguns convidados importantes, quero tudo nos conformes.
O homem dizia com um tom sério que era compatível com sua voz grossa, ele recebia uma prancheta com anotações, Secilia sabia bem que aquilo representava a quantidade de produção e colheita, assim as caixas requisitadas, além disso também continha os registros da organização do festival.
— Muito bem, eu quero que enviem 15 caixas para a estalagem Ildens Hjerte e a mesma quantia para a taverna Cyclops Ojne, informe Tales para que confira as redondezas da costa e e se todas as caravanas do lado exterior do muro estão bem alocadas, também informe os coletores que após o dia 13 da fortuna solar.
O homem se virou para a porta fazendo uma reverência notificando da chegada de Helena e Secilia. O senhor Laffrey indicou para que o homem saísse e iniciasse os preparativos ordenados.
— Onde esteve, Secilia? Se bem me lembro você possui aula até as 12 horas.
Andou direção a garota com suas mãos na parte de tras da jaqueta e a olhava de cima a baixo ressaltando sua estatura de quase 2 metros.
— S-sim… Mas eu...
— Foi catar maçãs novamente… Ou foi se encontrar com aquele garoto… Clark?
Ele á interrompia com um tom rígido e direto, sua presença sempre assustava e intimidava a garota de forma que a fizesse se encolher
— Estava catando maçãs…
Secilia respondia sem alongar a história, ela sabia como seu pai odiava isso e seria ainda pior se o fizesse.
— Você não deveria perder tempo com isso, apenas peça a empregada para que lhe traga a maçã, você tem coisas mais importantes para aprender, Jeriak disse que faltou na aula de mais cedo, algum motivo realmente importante para o fazer?
Ela sabia o que ele queria, que ela admitisse que estava com Clark praticando arquearia, mas não poderia fazer isso se não sobraria para Clark e sua família.
— Não, senhor…
O homem soltava um suspiro e seguiu em silencio para as portas do fundo da vinicula com as duas o seguindo.
A porta dava para um pequeno jardim de rosas brancas com uma passagem no centro, o grupo seguia em direção a um gazebo hexagonal. Em seu centro estava uma mesa hexagonal de mármore, embora deseja-se parar para um descanso e esquecer as responsabilidades Secilia sabia que seu pai não iria querer se sentar nesta hora, havia muito o que ser feito e assim seguiram para a mansão.
A parte interna da mansão era composta de um branco com detalhes vermelhos e objetos de prata que cobriam os móveis.
— Helena, poderia acompanhar Secilia até a sala de música? Sua professora está aguardando para a aula matinal.
O homem falava com os braços ainda para trás, Helena balançava a cabeça em afirmação enquanto acompanhava Secilia, que estava cabisbaixa, até o segundo andar.
Sobre a escada que se dividia para o lado direito e esquerdo estava uma pintura da família: Andino, Helena, Secilia e Teodor, o irmão mais velho que estava estudando no exterior.
As duas seguiam para a direita onde se encontravam as salas de música, arte e o escritório de seu pai mais ao fim do corredor. Helena parou em frente a sala da esquerda abrindo a porta para a garota que respirou fundo e adentrou a sala.
— Olá Seclia, vamos começar a aula?
Disse sua professora com uma expressão calma segurando um violino. A garota andou ate a cadeira, pegou um violino e se sentou olhando para suas cordas.
— Os empregados chamaram vocês quando o almoço estiver pronto.
Disse Helena pouco antes de fechar a porta.
Secilia estava sentada de frente para a professora, ambas tocando os violinos de forma quase que sincronica com Secilia cometendo alguns deslizes.
— O almoço ficará pronto em alguns instantes, o Duque ea Duquesa os esperam na sala de jantar
Dizia uma mulher de cabelos curtos em um azul escuro com olhos roxos penetrantes
— Certo, pode ir na frente senhorita Secilia, irei guardar os instrumentos
Secilia se erguia colocando o violino sobre a cadeira e fazendo uma reverência simples erguendo as laterais de seu vestido, se retirando apos isso.
— Onde você esteve hoje, Rosaria?
Perguntou após sair da sala.
A empregada fechou a porta e aguardou secilia andar antes de respondê-la.
— Senhorita Helena me liberou para resolver meus assuntos pessoais na cidade.
— Uma pena, queria voce comigo la na...
Rosaria fazia um estalo com a garganta avisando para ela tomar cuidado
— Colhendo maças, mas sei que não me deixaria ir
Secilia percebia que uma empregada estava limpando um dos quartos, ao passar ela suspirava e Rosaria acenava negativamente
Após descer as escadas do segundo andar, as mulheres seguiram para a sala de jantar, uma grande área retangular com uma mesa que cobria grande parte da mesma com lugares para ate 10 pessoas.
— Sente-se, Secilia.
Disse o duque sentado na cadeira da extremidade da mesa que ficava do lado oposto à porta, Helena estava sentada na cadeira do lado direito do duque.
Secilia seguiu em silêncio em direção a sua cadeira à esquerda de seu pai.
— Como estão as aulas de música? A professora de violino é interessante?
Helena perguntou de forma tranquila desviando seu olhar para Secilia e mantendo um sorriso no rosto.
— Ela é uma ótima professora, ela me contou que veio do sul de Mascaly.
Secilia respondeu sua mãe em um instante, mas ainda estava meio tensa na presensa de seu pai
— Paratia?
— Uma aldeia mais ao sul, Vivin
Respondeu Andino a pergunta de sua esposa, ele mantinha os olhos nas duas
— Ela foi recomendada pelo diretor da academia de bardos, deve ser uma ótima violinista.
Os empregados adentravam a sala com a comida as colocando sobre a mesa e se retirando imediatamente, apenas 3 empregados ficavam no local: Rosaria, Corvan, um rapaz de cabelos vermelhos escuros e olhos dourados, Érica, uma jovem de cabelos ruivos com pintas no rosto e olhos verdes claros. Rosaria se encontrava parada ao lado de Secilia, Corvan ao lado de Andino e Erica ao lado de Helena.
A professora chegava a sala fazendo uma breve reverência
— Sinto muito pelo atraso.
O duque indicava para que ela se sentasse ao lado de Secilia.
— Como é sua aldeia, minha querida?
Helena perguntava colocando comida sobre o prato.
— Oh, é um lugar simples, não temos grande coisas lá, é uma aldeia que protege o sul de paratia
— Proteção? que perigos pode haver tão próximo da cidade das descobertas?
Indagou o duque segurando uma taça com suco e a bebendo.
— A floresta possui algumas criaturas raras e que são importantes para auxiliar os artífices, porém existem caçadores ilegais que invadem o território florestal, então nós fazemos rondas para impedir isso, também existem os perigos da natureza que poderiam atrapalhar a cidade.
— Entendo, sua aldeia parece um local simples, porém bem importante
Dizia o duque comendo um pedaço do frango recheado.
A mulher acenava com a cabeça em concordancia.
— Como será que Teodor tem estado? Já faz 2 anos que ele se juntou à ordem dos cavaleiros.
Secilia perguntou sem direcionar a mesma a nenhum de seus pais.
— Ele…
— Ele está bem, disse que está muito ocupado com assuntos reais e não vai poder se juntar ao Kromblade deste ano
Respondeu Andino cortando sua esposa e tomando calmamente o líquido em sua taça.
— Vou pedir que ele traga algo para você quando vier
Secilia abria um sorriso e retornou a comer.
Após o almoço o duque se levantava da cadeira e olhava de relance para Secilia
— Vamos Secilia, hoje você vai me acompanhar.
O duque seguia andando em direção a porta sem esperar por ela
Secilia engolia em seco e se erguia seguindo logo atrás dele com Rosaria e Corvan a acompanhando
— Até mais tarde, querida.
O grupo após sair da sala de jantar seguiu diretamente para a vinícola.
Ao chegar no local os funcionários faziam uma reverência de curvatura e retornavam ao trabalho com apenas o assistente seguindo em direção ao Duque.
— Já enviamos as caixas e deixamos as encomendas preparadas na distribuidora, alem disso alguns dos mercadores já estão chegando à cidade, mas as caravanas só devem começar a chegar amanhã ou pela noite.
O duque seguia andando ate um dos tanques onde o vinho era produzido.
— Ja iniciaram a nova produção?
— Iniciamos a colheita, sem nenhum problema dessa vez e já estamos realizando a produção
O Duque abria a torneira do tanque sobre um calice e o movia.
— A estalagem Ildens estava pensando em sediar uma apresentação de pisagem, por que não cedemos algumas uvas para eles e disponibilizamos uma degustação do vinho modrika e do farvayn?
Secilia dizia ao seu pai enquanto o mesmo movia o calice, o duque não olhava para a garota ao ouvir sua recomendação e então provou o vinho.
— Separe uvas suficentes para 4 Lagar, deve ser suficiente para uma apresentação.
O duque estendia a taça para sua filha que aceitava provando o mesmo, era um vinho de coloração rosa clara com um gosto ácido forte, porém mantendo um sabor doce ao fundo o que dava uma sensação distinta onde o álcool parecia surgir no começo e sumir logo em seguida, este era o vinho Farvayn feito com uvas de mesmo nome que possuíam uma coloração rosa esbranquiçada.
— Vamos.
O duque seguia em direção a saída, Secilia deixou o cálice sobre uma bandeja próxima e seguia logo atrás de seu pai.
O grupo seguia andando pela cidade parando em frente a poucas pessoas para comprimentá-las, a grande maioria se tratava de comerciantes ou alguns poucos aventureiros com plaquetas de ouro.
— Os nobres não chegaram ainda, será se tiveram algum problema no caminho?
Secilia questionava seu pai logo após a conversa com um mercador, o homem olhava em direção a distante entrada da cidade onde guardas estavam dispostos conferindo os visitantes
— Nenhum problema grave, apenas um atraso no cronograma, uma rota barrada por pedras, fomos notificados ontem.
Secilia sorria de relance, seu pai era preparado, não era atoa que era um dos poucos duques que mantinha contato direto com o rei.
O duque seguiu andando para a estalagem Ildens, em sua placa se encontrava um coração com chamas em volta do mesmo.
Ao entrar no local o grupo era recebido por uma garota vestida com uma roupa de empregada.
— Seja bem vindo Duque, senhorita
A garota realizava um cumprimento em curvatura
— Ele ja esta esperando na sala de reuniões, posso ajudá-lo com mais algo?
O duque olhava em volta da estalagem, o local estava lotado com diversos comerciantes e aventureiros em frente a recepção.
Secilia estava um tanto curiosa sobre quem o “ele” se referia, porém não indagava seu pai sobre a situação.
— Avise para Gaurin que a vinícola Lafrey irá patrocinar a pissagem com 4 Lagar.
A garota realizava uma concordância com a cabeça e indicando o caminho para que ela o guiasse até a sala.
Secilia permanecia um tanto curiosa, já que acreditava que o duque apenas iria até o local para avisar de sua decisão quanto ao evento.
O grupo seguia a garota em direção a um largo corredor com portas laterais, ao fim havia apenas uma vermelha com uma águia de ouro na porta.
A mulher parada no lado esquerdo da porta abrindo a mesma para o grupo, era visível uma mesa longa com algumas cadeiras dispostas. O Duque seguia para dentro do local mantendo uma expressão severa em seu rosto, Secilia e os mordomos pessoais seguiam logo atrás do mesmo.
Ao adentrar o local era possível ver mais claramente os detalhes do l salão com quatro vigas dispostas de forma retangular nos cantos da sala em uma tonalidade vermelha com dourado e uma mesa com entalhes dourados formando uma árvore com diversos ramos.
— A quanto tempo Duque, vejo que trouxe sua filha para esta reunião.
Secilia se virou para a ponta esquerda da mesa percebendo a presença de um homem sentado, ao olhar de relance a garota não percebeu nada de mais nele, mas ela sentia que algo nele era estranho.
— Sinto muito pela demora, diretor Haj’yut.
Respondeu o duque se sentando na cadeira oposta da mesa, mantendo sua expressão serena.
O chamado diretor olhou de relance para Secilia e sorriu de canto
— É um prazer senhorita Secilia, sou Haj’yut, diretor do instituto Nalfir.
A garota sorriu fazendo uma reverência para o homem que não aparentava ter mais que 40 anos, o que a surpreendia por ser o diretor e concelheiro de um reino.
A garota sentou ao lado direito de seu pai com uma estranha sensação percorrendo seus olhos, como se uma pluma roçasse contra eles. O diretor retomou o olhar para o duque.
A reunião teve seu fim próximo do anoitecer, o grupo se encontravam em frente a estalagem junto do diretor.
— Nos vemos no festival, soube que alguns alunos de Karlamity irão aparecer, estou curioso sobre como está o desenvolvimento deles.
Disse o diretor colocando a mão no queixo e abrindo um sorriso de canto
— Também estou, já tem 3 anos que a academia não participa do festival, quem irá acompanhá-los?
O sorriso se alongou por um instante antes de responder
— O que me foi informado será uma conhecida de sua esposa.
Ele olhou para secilia e sorriu retirando de seu bolso uma pulseira de fios laranjas entrelaçadas.
— Tome, deve ajudar com o incomodo nos olhos.
A garota pegou a pulseira sem entender como ele percebeu, porem seu pai concordou com o presente.
Apos a garota colocar a pulseira, o diretor realizou uma reverência simples e se retirou do local.
— Vamos retornar para casa, ja esta bom por hoje.
Disse o duque se virando em direção a mansão. Secilia observou o diretor seguir em frente, mas ainda havia algo incomodando seus olhos, porém agora era uma fina camada de luz azul escura que cobria o homem, a menina então se virou seguindo logo atrás de seu pai.
Comments (0)
See all