Barton, Zack e Samuel andam pela escuridão da noite, se escondendo nas sombras e evitando o mínimo ruído sequer, e após algumas horas, os três chegam à saída da cidade. Um grande portão de madeira, com pelo menos vinte metros de altura e bem vigiado por duas grandes torres com a altura dos muros, que chegam a trinta metros de altura.
- Será que tem algum guarda? – Pergunta Zack.
- É provável, mas não vamos passar pelo portão.
Barton anda até uma das paredes da grande muralha, longe das torres de vigia, e abre um pequeno buraco no muro, Zack, ainda com Samuel em suas costas, passa pelo buraco, seguido de Barton. Ao saírem, Barton fecha novamente o buraco, e os três começam a andar pelo meio da grama alta em volta das muralhas.
- Para onde estamos indo? - Samuel pergunta.
- Para onde eu morava, antes de ser preso.
- Entendi.
Os três andam pelo descampado até chegarem em uma floresta, e ao adentrarem na floresta, o som dos animais que ecoava por todo o local é silenciado conforme o som dos passos de Zack e Barton adentra a floresta. Os três passam pela floresta sem problemas e chegam em uma estrada de terra, iluminada por lamparinas, e ao olhar para a direita, os três vêm um pequeno vilarejo, Barton toma a dianteira e vai em direção à vila, sozinho.
- Você ainda não consegue andar? - Pergunta Zack para Samuel.
- Já estou melhor, eu consigo. - Diz Samuel, enquanto desce das costas de seu irmão. Suas feridas ainda não estão cicatrizadas, mas o sangue já parou de escorrer.
- Vamos seguir ele? - Pergunta Zack.
- Precisamos dele. - Samuel observa o pequeno vilarejo. - Sem ele, não conseguiremos nossa vingança.
- Bora então.
Zack e Samuel andam em direção ao vilarejo, e ao chegarem mais perto, eles percebem que é um lugar muito vazio, nenhuma alma viva pode ser vista nas ruas, no centro do vilarejo, há uma praça, com uma estátua de um homem musculoso no meio, tendo uma barba grossa e cabelos encaracolados, seus olhos são fortes e penetrantes e seu corpo é gigante. Seu punho esquerdo está cerrado e levantado aos céus, e sua mão direita está em seu peito esquerdo, como se fosse uma saudação. Os gêmeos chegam mais perto da estátua, e um nome pode ser lido "Akamato".
- Um dos Quatro Deuses. - Diz Zack.
- Este vilarejo o adora então.
- Igual a nossa. - Zack olha para a estátua com um olhar triste. - Por que Bandur não impediu?
Tais palavras espantam Samuel, que olha diretamente para Zack. - Impediu o que?!
- Você sabe, aquele monstro, ele poderia ter o matado antes de atacar a vila.
- Você não deve discordar das atitudes dos Deuses.
- Mas se ele tivesse impedido, não precisaríamos nos vingar.
- Você sabe que não podemos discordar.
- Mas, ele podia ter nos ajudado, nos salvado, mas ele deixou todos morrerem.
- Pare com isso, Bandur tem algum motivo para isso! – Samuel começa a aumentar seu tom de voz.
- Deixando nossa mãe e irmã morrer?
- Cale a boca! - Samuel grita com Zack. – Você sabe que se ele deixou acontecer é porque há um motivo por trás de tudo.
Zack se assusta com seu irmão, e sem falar nada, ele sai de perto de Samuel.
Samuel arrependido, se volta para Zack e grita. - Desculpa Zack.
Zack continua andando, se afastando cada vez mais de seu irmão.
- Eu vou procurar o Barton. Volte depois, por favor.
Zack apenas levanta seu braço direito, e mostra o dedo do meio para Samuel.
- Droga! Eu não devia ter brigado com ele. - Samuel olha para Zack, e com um olhar arrependido, vai à procura de Barton.
Andando pelas casas, Samuel encontra Barton, parado em frente à uma casa. É uma casa pequena, feita de madeira e com telhado de palha, na porta da frente há uma plaquinha com um desenho de uma ovelha saltitante. Barton observa atentamente a plaquinha, enquanto escorre lágrimas de seus olhos.
Samuel se aproxima de Barton e fala. - É sua casa?
Barton disfarça e enxuga suas lágrimas. - É, ainda não tive coragem de entrar. - Barton olha para Samuel e percebe que Zack não está junto. - Onde está seu irmão?
- É complicado... – Responde Samuel, olhando para baixo.
- Entendo, com certeza vocês vão se entender. - Barton se vira para a porta, ele toma coragem e bate na porta.
- Só um instante. - Uma voz suave e trêmula pode ser ouvida do outro lado da porta.
Os passos suaves e leves aumentam à medida que ela chega perto da porta. O suor escorre pelo rosto de Barton, o som da tranca da porta se abrindo ecoa pelos ouvidos seus e um ranger leve vindo da porta faz seu corpo tremer, a porta se abre e um rosto gentil de uma mulher recebe Barton. Uma mulher com cabelos longos e pretos, pele escura, olhos azuis claros como o céu ensolarado, usa um vestido branco, com um lenço rosa em seu pescoço. Ela olha feliz para Barton, mas sua expressão vai de felicidade para desespero em milésimos.
- Barton?! - A mulher olha com um olhar assustado para Barton.
- Oi mãe, não está feliz de eu estar aqui? - Diz Barton, olhando para sua mãe.
- Boa noite Barton, eu estava esperando você.
Uma voz grossa e familiar chega aos ouvidos de Barton, ele olha para dentro da sala, e sentado ao lado da mesa, segurando uma xícara de café e com uma menina, de aproximadamente 8 anos, em seu colo, está o mesmo homem que o sequestrou, torturou, humilhou e acabou com seus últimos anos de vida dentro daquela prisão.
- Por que você não se senta? - Diz o general, acariciando a cabeça da garota em seu colo. - Temos muito o que conversar.
Enquanto isso, fora da cidade, Zack esta deitado em um galho de uma árvore alta, observando as estrelas enquanto xinga Samuel.
- Droga Samuel, porque você tem que ser babaca assim? - Zack se senta no tronco, começa a arrancar folhas da árvore e jogá-las no ar. - Eu nem disse nada demais, só disse que Bandur podia nos ajudar, eu ainda sou devoto a ele. - Zack para de jogar as folhas ao ar, olha para as estrelas e diz. - Eu acho...
Uma luz laranja ilumina as árvores da floresta ao lado da vila, sons de passos ecoam pela silenciosa noite, Zack olha assustado em direção a luz, e do mesmo caminho que os três vieram antes, um grande exército caminha em direção da vila, amassando toda a vegetação do local.
Na frente de todo o exército à dois homens, um deles é alto, com dois punhos de ferro nas mãos, seu cabelo é raspado e usa uma farda parecida com a do general. O outro homem é mais baixo, tem um cabelo longo, preso como um rabo de cavalo, usa um quimono todo preto com detalhes em vermelho, e nas costas do quimono, um desenho de um leão sem olhos, em seu quadril, carrega uma espada longa, com uma bainha vermelha. Algo nesse homem chama a atenção de Zack, seus olhos são puxados e tem uma expressão séria, em baixo do olho direito uma tatuagem se destaca, com um símbolo parecido que seu pai tinha no mesmo lugar "従順".
Zack se assusta e bate com o cabo de seu machado no tronco, o homem baixo com a tatuagem no rosto para de andar, se vira na direção do som e olha diretamente nos olhos de Zack. Os dois se encaram em silêncio por alguns segundos, com Zack paralisado e o homem com o mesmo olhar sério. Até que, o homem mais alto chama a atenção do mais baixo.
- Que foi? - Diz o homem mais alto.
O espadachim fica encarando Zack por mais alguns segundos, antes de se virar para o homem alto.
- Acho que vi um esquilo. - Diz o espadachim. - Vamos continuar.
Zack fica apavorado, mas ao mesmo tempo aliviado. "Esquilo? Ele me viu com certeza, ele me deixou fugir?" Foi o que ele pensou.
Após alguns minutos, todo o exército sai da floresta, e cercam toda a pequena vila.
- Droga, eu preciso avisar aqueles dois lá dentro, essa vila vai ser dizimada. - Diz Zack, pensando em um meio de entrar novamente na vila.
Enquanto isso, voltando para a casa de Barton, Barton se vê paralisado na porta de casa, o suor em seu rosto começa a escorrer, e seu rosto muda de uma expressão de pânico para raiva em segundos.
Samuel percebe o que acaba de acontecer, a mãe de Barton olha para Samuel, ela o olha com os olhos arregalados, o pedindo socorro, e Samuel entende, ele fica em silêncio e vai até o fundo da casa, em busca de uma porta ou janela.
Enquanto isso, Barton pisa para dentro da casa com raiva e grita. - Solta ela!
- Oi mano, quanto tempo. - Diz Maya com uma voz trêmula.
- Por que essa agressividade meu filho? Eu só estou querendo passar um tempo com minha preciosa família. - Diz o general, acariciando a cabeça de Maya. - Por que você não se senta? Quero conversar com você.
- Filho?! Sério mesmo?
- Se acalme, Barton. - A mãe de Barton põe suas mãos nos ombros de Barton. - Vai ficar tudo bem.
Barton aperta a mão de sua mãe e encara seu pai, que está com um sorriso no rosto e com a mão na cabeça de sua irmã. Barton começa a se aproximar da mesa, sem tirar seus olhos de seu pai, ele puxa a cadeira na outra ponta da mesa e se senta, ainda encarando seu pai.
- O que você quer?
- Barton, há tantas coisas que eu quero. Eu quero um café, eu quero um casaco novo, e principalmente, eu quero ordem.
- Ordem? Sério mesmo? Depois de tanta tortura dentro daquela prisão?
- Apenas um meio para um fim necessário.
- Eu sou só um meio para um fim?
- Basicamente...
Barton se irrita, ele dá um tapa na mesa e grita. - Pare de brincadeira, o que você quer aqui!?
A expressão de calma no rosto do pai de Barton muda para um semblante de raiva, com sua mão esquerda, ele desfere um tapa no rosto de Barton.
- Mais respeito nessa casa, rapaz. Eu não vou tolerar esse comportamento na frente de sua mãe.
Barton perde o controle, com um único soco, ele quebra a mesa de jantar ao meio. Ele se levanta de sua cadeira, a jogando para longe.
- Você só nos usa! Nós somos apenas experimentos para você. Minha mãe vem dando à luz a crianças há anos, só pra que você possa usar elas como experimento. Quem você pensa que é?!
Aquele grande homem, com Maya ainda em seu colo, agarra o pescoço de sua própria filha, e lentamente, ele começa a se levantar, apertando cada vez mais o pescoço de Maya, que começa a sufocar lentamente.
Com a luz das luminárias da casa, a forma que o general toma é amedrontadora, deixando seu rosto coberto por uma sombra negra e o deixando com uma grandiosidade que não tem. – Eu sou aquele que supera a todos, eu sou aquele que que levará esse mundo a uma ordem absoluta. - Ele levanta Maya, com sua mão direita ainda agarrada ao pescoço de sua filha, e com um olhar série, encarando a ira de Barton, ele diz. – EU SOU UM DEUS!
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