De repente, a euforia de diversas crianças escandalosas pôde ser ouvida, aumentando o tom ao mesmo tempo em que se aproximavam:
— ELES CHEGARAM! ELES CHEGARAM! — Gritavam alegres.
— OS CONTADORES DE HISTÓRIAS! OLHA ELES! ELES CHEGARAM!
— Contadores de histórias... — Ashley sussurrou para si própria tendo a visão conduzida pelos pequeninos.
Eram dois homens bem trajados, quais carregavam algumas folhas de papel em seus braços. Foram cercados por aquelas crianças, pareciam bem felizes por sinal, acariciando suas cabeças e os levando à mesma fonte em que a menina se encontrava.
Sentando do lado oposto, os homens piscaram um para o outro e olharam para os mais novos, que também haviam se sentado no chão de frente a eles, ansiosos pelo o que contariam daquela vez:
— Em um reino pouco distante, há alguns anos atrás, vivia uma linda princesa chamada Rose. — O irmão mais velho começou.
— Era doce, delicada. Seu perfume era como o cheiro das pétalas de rosa, suave e gracioso.
— Todas queriam ser como ela. — Ashley se aproximou, mesmo que não tão perto, pois também queria ouvir o que diziam. — Todas desejavam ser ela.
— Quanto aos cavaleiros, lutavam por sua mão. Batalhas sangrentas, tomadas pelo caos e violência.
— Ohhh... Que medo! — Um menino falou em voz alta, o que tirou várias gargalhadas de seus amigos.
— Você é um bundão! — Uma menina respondeu dando risada.
— E você é uma mal educada, sua ogra!
— Crianças! — O mais velho se levantou. — Cansaram da história? Se sim, iremos nos retirar.
— Oh! — Ashley acabou por deixar escapar. — Por favor, continuem! — Mas ao ganhar o olhar dos demais, retraiu-se envergonhada. Queria se esconder em sua cesta se possível, só que era muito grande para aquilo.
— Está bem, senhorita. — O mais novo dos dois deu um sorriso sereno, fazendo as bochechas da garota corarem. Parecia um jovem homem gentil, qual mostrava adorar os pequeninos assim como seu irmão mais velho. — Como dizíamos, era desejada, o que atraia a inveja de algumas pessoas.
— Entre elas, havia uma bruxa terrível. — O outro escondeu os olhos com o braço, logo o abaixando e olhando para os dois lados de forma em que assustaria as crianças. — Agatha era o seu nome.
— Andava pelas florestas negras pensando em como poderia trazer a ruína a pobre princesa.
— Oh... Pobre princesa... Tão ingênua... Tão inocente...
— Confiou naquela mulher...
— Dando o seu último suspiro na cama de seu quarto, doente e frágil...
— Fim!
— O QUÊÊÊ? — As crianças gritaram. — MAS QUE ESPÉCIE DE HISTÓRIA É ESSA?
— O que aconteceu com a princesa? Por que ela morreu? — Uma pequena garota juntava as mãos, ansiosa por uma resposta.
— E a bruxa? Ela não morreu também? Aquela miserável! — "Essas crianças são um tanto escandalosas e medonhas...", pensava Ashley observando aquela cena. E eram mesmo, mas o que podiam fazer? Era isso o que ouviam e viam...
— Haha, isso vai ficar para a próxima. — O homem mais novo se levantou sorrindo. — Agora temos que ir.
— AAAAAH! — Gritando de novo. — QUEREMOS MAIS!
— Hoje, quando o sol estiver ali... — O mais velho apontou. —...iremos voltar e contar o que aconteceu com a bruxa.
— EEEEEEEEEE! — Comemoraram como de costume. Eram tão bobinhos.
Enquanto aquele pequeno tumulto se desfazia, os irmãos caminharam na direção onde a garota dos cabelos negros se sentava. Ao notar que se aproximavam, abraçou com mais força seu cesto e tentou buscar por algum lugar onde pudesse olhar. Não queria trocar olhares com eles, tinha medo de que fossem os tais lobos que sua senhora tanto comentava.
— Ei, jovem donzela. — O mais velho chamou sua atenção, logo a fazendo olhar para ele. Por alguns instantes, ambos os homens admiraram o belo rosto de Ashley. Estavam boquiabertos, afinal, nenhuma outra se comparava a ela. Mas quando se deu por si, moveu a cabeça como se negasse algo, então voltou a falar: — É melhor você cobrir esse buraco em sua cesta. — Apontou. — Se alguém te vires com este livro, terá o mesmo fim que a pobre Agatha... — Logo dera um longo suspiro como se tivesse sido abalado por algo.
— Oh! — Não tinha reparado naquilo, assim virando o cesto para sua barriga e olhando para eles novamente. — Desse lado... Está tudo bem?
— Sim! — O outro apoiava as mãos na cintura dando aquele mesmo sorriso de antes, qual novamente corou as bochechas da outra. — Está segura agora.
Observando os irmãos se afastarem, lembrou-se das palavras de sua guardiã: "Se voltar grávida, eu arranco o seu bebê e faço um ensopado para nós já que quase nos falta comida.", então suspirou e falou para si: — Não se preocupe, senhora Clerence... Não voltarei a trocar palavras com os cavalheiros.
Esperou por mais algum tempo, que pareceu uma eternidade, no entanto, ninguém se aproximou para conversar com ela desde então. Bem, alguns lobos tentavam chamar por sua atenção, mas Ashley os ignorava.
"Talvez eu tenha que andar por aí... Entrar em algum comércio... Oh, céus... O que faço?", pensava ao mesmo tempo em que se levantava para ver se aquilo realmente podia dar certo. Não muito tempo depois, sentiu um movimento em sua cesta lembrando-se da pequena raposa. Tentou controlar, no entanto, o filhote estava cansado de ficar ali dentro. Já era difícil de segurar, e quando menos esperava, o objeto se quebrou deixando com que o livro caísse e deslizasse para baixo do longo vestido de uma das duas garotas que infelizmente estava na frente de Ashley, assim batendo contra o calcanhar da menina. "Aí!", a outra se virou puxando a saia pouco abaixo dos joelhos, e ao ver o que era, dirigiu o olhar zangado para a dos cabelos negros, que ainda segurava a cesta na tentativa de não deixar com que o animal também colidisse contra o chão.
— Você... Está carregando um livro? — Uma voz doce pôde ser ouvida pouco atrás. Era uma bela donzela qual parecia ter a mesma idade de Ashley. Seus olhos eram castanhos assim como seus lindos cabelos, sendo eles lisos e separados ao meio, suavemente presos para trás com uma fita.
— Oh...
A que estava mais próxima revirou os olhos resmungando. Era idêntica a sua irmã, só que seus cabelos eram ondulados e separados para o lado direito sem nenhum penteado especial. — Venha conosco. — Pegou no pulso da menina ao mesmo tempo em que a outra se abaixava para recolher o diário, logo a puxando para longe de lá.
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