Kenshin apagou as velas lentamente.
— No princípio, só existia o mar primordial e as trevas sem fim. E o espírito de Deus era levado sobre as águas. Então, o criador soprou perante o vazio e sussurrou: “Faça-se a luz”.
A vasilha explodiu e todo o pó se espalhou acima dela, mas o pó não caiu e também não parecia ser mais o mesmo. Estava brilhante e dourado como ouro, parecia uma luz. Todos ficaram maravilhados com aquilo.
— E viu ele que ela era boa. Era muito boa. Diferia das trevas, dissipava a escuridão.
Os olhos de Yumi brilhavam diante da areia.
— Em seguida, o criador separou as águas do mar primordial das águas de nosso lar.
A areia se tornou água, porém ela continuou flutuando e se dividiu na horizontal.
— E assim se fez o firmamento sobre os mares. E das águas que estavam abaixo, surgiu o elemento árido, o qual foi nomeado terra.
A areia mostrou o solo surgindo sobre as águas.
— E da terra, um grande manto verde se espalhou por todos os lugares. Árvores e todos os outros tipos de plantas que hoje conhecemos se ergueram e deram frutos.
Do solo que apareceu, grama e árvores foram crescendo rapidamente. Aquela areia estava reproduzindo tudo que Kenshin dizia. Era magnífico! Tão belo que ao olhar para aquilo, os pelos arrepiavam e os olhos não piscavam.
— E viu o criador que tudo aquilo era bom, tudo muito bom.
Das árvores caíram frutos e à terra os tomou, dando origem a novas plantas.
— E então disse: “façam-se uns luzeiros sob o céu, os quais irão separar o dia e a noite”.
Um pouco de areia se elevou e se dividiu em duas esferas. Uma era extremamente brilhante e a outra possuía uma luz mais enfraquecida, porém, muito bela.
— Mas o criador não parou por aí, ele viu que Gaia estava muito quieta e vazia, precisava de vida. Então, uma vasta multiplicidade de peixes se espalhou por todos os lugares e das profundezas das águas nasceram grandes criaturas, algumas das quais ainda nadam pelos mares.
A areia exibiu uma gigantesca carpa dourada saltando pelas águas e sendo iluminada por uma bela luz.
— E logo o céu foi povoado.
Agora, a areia mostrou diversos pássaros voando sob as nuvens.
— Dragões.
Um comprido e esverdeado dragão chinês atravessou as nuvens.
— E diversos outros tipos de criaturas sobrenaturais governaram nas alturas.
Apareceu um gigantesco falcão voando sobre as matas. Ele capturou uma imensa cobra, enquanto seu corpo exalava belos raios azulados.
— E por fim, surgiram as criaturas terrestres. Aquelas que rastejam, aquelas que se arrastam e tudo aquilo que anda.
A areia mostrou uma colossal e velha tartaruga. Ela estava cheia de musgo e carregava um enorme e antigo castelo em sua casca.
— Estava tudo perfeito, tudo conforme a sua espécie, tudo em seu devido lugar. Era a obra-prima do criador.
Foi mostrado diversos seres, plantas e árvores, tudo muito belo e magnífico.
— E viu ele que tudo isso era bom. Então, decidiu criar o homem e, ao seu lado, a mulher, pai e mãe de todos nós. Eles reinariam sobre toda a criação. Possuíam a benção da luz. Eram perfeitos. Seus nomes eram Adam e Eva.
A areia exibiu dois seres luminosos caminhando sobre um belo jardim.
— E depois, o criador descansou de tudo que fizera. O sétimo dia, o dia sagrado.
Tudo se transformou em areia novamente, a qual perdeu o brilho e caiu sobre o chão, fazendo a escuridão tomar conta do lugar.
Kenshin acendeu a lamparina e Yumi disse:
— Uau, que história incrível! — disse de uma maneira que nunca demonstrou.
— Essa história sempre me arrepia — afirmou Kotaro, balançando lentamente a cabeça para os lados.
— Nunca me canso de ouvir ela — falou Ishida, após dar uma leve risada.
— Mas o que aconteceu com o primeiro casal? — perguntou Yumi.
— Bom, isso é história para outro dia — respondeu Kenshin, se levantando e indo em direção a prateleira. — Aconteceu algo sombrio com eles.
— Depois dessa parte só acontecem coisas ruins — disse Kotaro.
— Coisas ruins? — se perguntou Yumi.
— Não pense muito sobre isso. Apenas esqueça, por enquanto — aconselhou Ishida.
De repente, três batidas foram dadas na porta da casa.
— Posso entrar cambada?
"Cambada?", pensou Ishida, estranhando a palavra que Kenjiro usou.
— Claro — respondeu Kenshin.
Kenjiro adentrou o local e disse, olhando para Ishida com uma expressão séria:
— Hora de batermos um papo, pivete.
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