Havia uma taberna qual era o ponto principal dos homens no reino de Aredamon. Deixava qualquer concorrente aos pés daquele lugar, logo fechando as portas por não poder competir. Seu dono era um homem de meia-idade muito inteligente, sabia como ganhar os fregueses de forma gentil e amigável, além de agradá-los com um bom atendimento. Mesmo tendo cervejas baratas e outras bebidas alcoólicas sem a melhor qualidade possível, chamava bastante a atenção até mesmo da própria realeza.
E lá estava ele, o príncipe Dominic junto aos seus dois irmãos, quais eram mais próximos, na porta do estabelecimento, um ajustando o cinto e os outros a capa, chamando toda a atenção já que eram conhecidos por causa de seus títulos.
— Espero que não me tragam problemas dessa vez, seus pirralhos insolentes. — A esposa do proprietário cruzava os braços, zangada. Era uma mulher rabugenta que não temia a ninguém, conseguia colocar qualquer um para correr. Por que ela não era castigada? Seu marido era muito respeitado e querido, assim a poupando do mal de fora.
— Calma, querida. — O homem acenava para os meninos. — É uma honra tê-los em nossa taberna!
— É isso aí. É uma honra nos ter aqui, velhota. — O mais velho caminhava com as mãos na cintura e nariz em pé. Seu nome era Aron, tinha cabelos negros e olhos verdes assim como Dominic, que era o mais novo entre eles. No entanto, sua pele era bem mais morena, já que frequentemente estava treinando com a espada debaixo do sol.
— Velhota? — A mulher se enfureceu ainda mais, puxando as mangas de seu vestido até os ombros, pronta para corrigi-lo. — Ora seu...
— Eu vou querer uma cerveja bem gelada e seu melhor queijo. — Agora era o do meio que falava, o qual se sentava na cadeira que ficava em frente ao balcão. Seus cabelos eram ruivos, tinha sardas por todo o rosto e corpo e seus olhos eram negros. Ethan era seu nome. Metido assim como o irmão, sempre implicando com as irmãs e se engraçando com as meninas que se banhavam no lago próximo a floresta negra. Por causa de seus fios laranja e constelações no rosto, acabava por escutar algumas piadinhas tolas dos seus irmãos com frequência. Ainda sim, tirava proveito disso para se autoelogiar, não via problema algum em ser como era e gostava muito de si próprio.
— Eu também. — Os outros dois também se encontravam onde Ethan estava, todavia, Dominic estava quieto. Sendo assim, Aron chamou por ele: — Ei, Doc. O que vai beber?
Doc era um apelido carinhoso. Não eram todos os irmãos que o chamavam assim, sendo eles apenas os dois presentes e o primogênito, Drake. Era uma família enorme, com um marido, duas esposas e dezessete filhos. Loucura, não? Mas o que fazer... O rei optou por amar duas ao invés de ser fiel a apenas uma. Alguns dos meninos concordavam com o pai, pois gostavam de namorar diversas meninas, outros achavam que era uma ideia ridícula, afinal, o homem realmente amava as duas ou apenas queria as duas por não conseguir se contentar apenas com uma?
— Ah! Verdade, tinha me esquecido. — Olhou para as garrafas ainda sem conseguir pensar sobre o que queria.
— Estava pensando em algo? — O ruivo também se preocupou, apoiando o queixo sobre a mão e o olhando com aqueles lindos olhos escuros. Não era de costume ter Dominic perdido daquele jeito.
— Er... Sobre uma garota que conheci na floresta negra.
— Uma garota, é? — Aron deu um soco no ombro do irmão. Se orgulhava dele, pois, ainda que saísse ficando com várias meninas, não eram tantas quanto os outros dois. — E como foi sua noite?
— A levei para casa.
— E?
— E só. — Revirou os olhos e olhou para o dono da taberna. — Bem, vou querer uma cerveja também, por favor.
— Está bem, jovens príncipes. Vou providenciá-las agora mesmo! — O mais velho se virou para procurar pelos copos que eram usados apenas por aqueles meninos.
Os irmãos ainda encaravam Dominic. Não acreditavam em uma palavra do que dizia. Bem... Uma palavra depois do "E como foi sua noite?". Eles esperavam mais do mais novo; entre eles. Não se contentavam com aquela resposta vaga e se perguntavam se o rapaz tinha sentido algo a mais pela moça, já que nunca o viram desse jeito.
— O que foi? — Perguntou. Dava para ver o quão impaciente estava. — Querem parar de me encarar? — Não pararam, assim ele continuou: — Que saco! Não aconteceu nada, está bem?
— Parece que você está perdendo o jeito, Doc. — O ruivo sorriu de canto. — Se eu fosse você, já começaria a me preocupar.
— Ao menos a donzela era bonita? — O outro ergueu as sobrancelhas.
— A mais bela que já vi. — As bochechas do rapaz coraram, o que chamou ainda mais a atenção dos outros. Então realmente havia algo a mais. — Doce e delicada, diferente de todas as outras. Mas também bem forte e resolvida. — Deixou escapar uma risada suave ao se lembrar do tapa que levou no rosto ao dizer que a beijaria.
— Não é por nada, mas... Acho que está apaixonado. — Ethan olhou para o outro irmão com um sorriso irônico, então o outro continuou:
— Se continuar assim, logo será laçado e terá que se contentar apenas com uma. Pense bem, hein! Não acho que vá valer tanto à pena.
— E qual o problema de me contentar com uma? — Encarou os dois. — Eu pulei de uma em uma e nenhuma foi capaz de me agradar de verdade. Todas fáceis porque acham que assim poderiam entrar para nossa família e possuir algo para si. Não nos amam, nem sequer devem gostar de nós. Acho que são vocês que devem pensar bem.
— Nossa! — Deu ênfase em sua palavra. — Que isso, Doc?
— O carinha tá mesmo apaixonado, céus! — Riram.
— Ah... Vocês me cansam. — Se levantou.
Em circunstâncias normais, conversariam sobre o treino e estudos, até mesmo sobre as meninas que ficaram, só que Dominic realmente tinha sentido algo forte por Ashley. Ver seus irmãos, seus melhores amigos, o desrespeitando sobre aquilo o aborreceu profundamente. Era um dos que, apesar de pular de uma em uma como disse, não concordava com o caminho que o pai seguiu. No fundo, sabia que uma seria o suficiente e que apenas precisava encontrá-la.
Só que mal conhecia a dos cabelos negros. Queria saber mais. Queria poder agradá-la e fazê-la gostar dele tanto quanto ele havia gostado dela. Desde aquele dia, seus sonhos foram tomados pela menina, seus pensamentos roubados por ela. Mal via a hora de encontrá-la novamente.
Quando o dono do bar voltou com os três copos, notou que estava faltando um dos príncipes. Os outros dois já conversavam sobre outra coisa, logo incluindo o proprietário na conversa. Riam e se divertiam como de costume, e pouco tempo depois, o homem foi ao encontro da esposa ajudá-la com as bandejas. Pegou em sua cintura a puxando para que desse um beijo em sua bochecha. Ganhou alguns tapas da mulher em seu braço, a qual se encontrava vermelha e dando risada de nervoso. Era um marido carinhoso e ambos se amavam muito.
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Ashley acariciava a cabeça de sua vaca. Enfim sua guardiã havia chegado com comida, já estavam fortes e prontas para cumprir suas tarefas e fazer até mais. E como dito, aquela era uma de suas favoritas, afinal, Margo era sua melhor amiga.
— Ah, Margo... Como eu queria passar todo o meu dia aqui com você... — Encostava a testa a do animal. — Quando eu passar por aquela porta, minha senhora me fará ir para vila mais uma vez... Não que não tenha sido divertido conhecer os contadores de histórias ou as duas princesas, mas... Oh, céus, o que estou pensando? — Olhou nos olhos da vaca. — Claro que eu não quero ir para a floresta encontrar aquele príncipe sem noção novamente!
— Muuu. — Parecia respondê-la.
— Oh, não! Não, não, não! Eu não fui feita para isso!
— Muuu?
— Céus... Está bem. De fato me lembrei dele durante esses dias... Mas de que adianta...? — Suspirou. — Ele é um príncipe, afinal... E eu... Sou apenas eu...
A vaca olhou para o céu, observava o vento levar as nuvens, logo fazendo com que a menina olhasse na mesma direção, assim entendendo o que o animal queria dizer. — Muuuu.
— Você acha que as coisas poderiam mudar? Que um céu cinzento poderia dar lugar a uma linda manhã ensolarada? — A olhou novamente, abraçando-a mais uma vez e dando um beijo em sua bochecha. — Eu te amo, Margo.
Pouco tempo depois, entrava em sua casa nas pontas dos pés. Evitava qualquer barulhinho sequer, deixando o balde com leite em cima da mesa e se dirigindo ao quarto o mais rápido que podia. Ao fechar a porta, caminhou até a penteadeira e viu o diário de Agatha, o qual tinha lido tão pouco desde então.
O levou para a cama e se deitou sobre ela de forma confortável para que pudesse folhear as páginas. Naqueles instantes, chegou a sentir saudades das duas princesas, pois foi com elas que o leu pela primeira vez. Deslizava o dedo sobre os desenhos dos galhos das rosas, apreciando cada detalhe contido nele.
Passou as páginas rapidamente para ver até onde ia, não chegando tão longe. "Pobre Agatha... Mal deve ter tido tempo para explorá-las melhor...", sentiu-se triste com isso. De fato não havia tido, pois sua sentença interrompeu sua vida para sempre.
Deu um longo suspiro, logo voltando para as primeiras páginas. Talvez se lesse sozinha, poderia compreender ainda mais do que antes. Contudo, pensava no quanto seria legal ler com mais alguém. Poderia ouvir opiniões e comentários diferentes ou semelhantes ao que ela pensaria. Admirou mais uma vez os desenhos e as letras, agora podendo notar a diferença entre aquele alfabeto e o do mundo em que estava.
E quando estava prestes a começar, assustou-se com o barulho de uma pessoa caindo, logo dirigindo os olhos para a janela e se deparando com as duas irmãs que tentavam escalar o guarda-corpo.
— AI! — Britney gritou de dor ao colidir contra o chão.
— Eu falei que era uma péssima ideia fazer isso, sua teimosa! — Moly apoiava as mãos na cintura olhando para baixo, onde estava sua irmã, ao mesmo tempo em que dava batidas de leve no chão com o pé. Parecia zangada já que realmente a outra dificilmente a ouvia. — Espero que tenha quebrado o nariz!
— Britney? Moly? — Ashley fechou o diário e o deitou na cama, assim correndo até a janela onde estavam as outras duas, só que do lado de fora. — O que estão fazendo aqui?
— Acha que vamos deixar você ler esse troço aí sozinha? — Britney se levantava. A outra tinha até estendido a mão para ajudá-la, só que ela optou por dar um tapa a afastando e levantar por si própria, deixando a outra ainda mais impaciente. — Sentimos o cheiro do egoísmo de longe!
— Você não tem jeito, Britney! — A pegou pelo braço. — Vamos fazer isso direito!
Clerence se assustou ao ver duas lindas princesas entrarem em sua casa. Caso fosse outra pessoa, iria espanta à vassouradas, no entanto, aqueles rostos lhe agradavam. Deu um sorriso de orelha a orelha alegre por Ashley finalmente ter encontrado amigas. Garotas decentes e normais, era o que ela pensava. E eram mesmo, decentes no caso, mas nada normais, bem doidinhas por sinal. Também ficava feliz por não se tratar de rapazes, pois conhecia bem os moços daquela região e sabia que nenhum deles iria querer apenas amizade com sua garotinha. Caso um deles a ferisse, poderia até mesmo congelar seus corações tirando suas vidas.
Acomodavam-se no quarto, as gêmeas sentadas na cama de Ashley, como se estivessem deitadas; bem folgadas mesmo; e a moradora sentada sobre a cadeira de sua penteadeira. Esperavam ansiosas para que a menina começasse a ler. E então a dos cabelos começou de onde havia parado, implorando em seus pensamentos que as outras duas não percebessem isso.
Conheci uma garota quando passeava pelas florestas. Uma princesa para ser mais exata.
Contou-me a história de seu nascimento. Há alguns anos atrás, uma antiga rainha muito amada pelo povo deu a luz a uma garotinha chamada Rose. Não era sua primeira filha, já que seu herdeiro já reinava por conta do falecimento de seu marido.
Aquela era sua última filha, uma doce garotinha com lindos cabelos loiros e escuros e olhos azuis como o céu. Uma moça gentil, amável e doce como o mel.
Também me contava sobre seus planos para o futuro, sobre o rapaz qual fora prometida quando pequena e sua paixão por ele, me fazendo lembrar de você, meu querido Mono.
Acho intrigante as preferências deles. Se apegam tanto a essas coisas como a etnia e sexo, colocando uns em patamares maiores que os outros. Tudo por uma vaidade tola...
Alegro-me em saber que não há nada disso em nosso mundo. Que mesmo em meio aos conflitos entre os povos opostos, não nos deixamos cegar por uma característica perfeita e especial que herdamos de familiares.
— Nosso mundo? Em que mundo ela vive?
— Quieta, Moly! — Britney a empurrou. — É uma ficção, sua bobona!
— Britney... Eu já estou por aqui com você! — Havia levado a mão para cima de sua testa mostrando o quão irritada estava.
— É mesmo, é? Quer resolver isso aqui e agora? — Fechou os punhos a ameaçando.
— Cala sua boca!
— Cala a boca você!
— Eu... — Ashley roubou a atenção das duas para si, assim voltando a falar: — Eu vou continuar... — Logo as princesas voltavam a se sentar, ansiosas novamente, como se nada tivesse acontecido. Se amavam tanto que não precisavam de muito para esquecerem o motivo de suas brigas.
Desde então, nos tornamos grandes amigas.
Como sabia que Rose gostava de sair para colher flores, decidi que a levaria para o Vale das Rosas. Não me arrependo disso, confio nela! Além de que, os portais não se abrem para pessoas desse mundo, sendo assim, não iria trazer perigo ao meu povo.
Foi um fim de tarde tão agradável. Tomamos chá em copos-de-leite e comemos bolo de baunilha com creme de chantilly e pétalas flores de cerejeiras.
Oh, sim. Flores são mais gentis do que você imagina! Fizeram tudo aquilo para nós sem ao menos pedirmos ou merecermos!
Foi engraçado ver a reação de Rose a tudo aquilo. Ao mesmo tempo em que se surpreendia, também se maravilhava.
Confesso que contei um pouco sobre nossa história, Akimonogara e tudo mais. Mesmo assim, agiu como se não levasse tão a sério. Então deixei com que acreditasse que fosse apenas uma invenção.
Sentia tanta falta de ter alguém com quem conversar...
— Disse se tratar de um diário, mas para mim não parece real. — Moly se levantava e caminhava até Ashley, logo se sentando ao seu lado naquele pequeno assento. — Creio que não existem outros mundos além do nosso. Ao menos nunca aprendi sobre outro.
— Para mim é real! — A outra princesa comentou, chamando a atenção das duas para si. — E quem sabe nossa querida Ashley não veio de um deles? — Zombou.
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