Ainda pairando sob o ar, Luiz se aproxima dos três que olhavam em admiração, indo com a intenção de pousar heroicamente, porém... Repentinamente, seus poderes fraquejam, suas asas que o mantiam pairando, se desfazem e há uma queda sobre o gramado.
— Pai!
Raimundo corre para conferir se está tudo bem com o pai que caiu ajoelhado após falhar no pouso, ouvindo uma retórica sarcástica de Arthur ao fundo:
— Ha, ha! Sempre foi de praxe do seu pai ser horrível em pouso, Raimundo. Claro que dessa vez, não seria diferente.
— Não, Não, Arthur. — Um tom sério imperava aquela sentença, que interrompia a tentativa de comicidade do Huberi, deixando um nó na cabeça de todos com uma frase: — Parece que dessa vez, eu realmente perdi meus poderes...
Em um segundo, aquela dose de felicidade e esperança que cercava o coração de Raimundo se dissipava. Saiba que com o pai utilizando a graça de Saint-Katharos, ele não precisava mais haver preocupação por conta da narrativa imediatista de ir pro campo de batalha... Sentimento esse que retornava em forma de arrepio continuo que levava a um pensamento que agora, não restava dúvida...
"Se o que meu pai está falando é verdade, a partir de agora, nada mais será o mesmo."
***
— Fala aí, Aiyra! — A voz alegre e contagiante da cacheada pausa e por um segundo, ela olha a morena de cima a baixo atentando-se a roupa que a garota estava usando naquela manhã. Diferente do dia anterior que imperava um preto que pessoalmente remetia a uma feição mais séria, hoje, Aiyra estava com uma regata de alça fina verde militar e uma calça jeans straight leg que lhe dava um ar de leveza característico.
— Você... está muito linda hoje. — Elogiava procurando fôlego e rosando as bochechas de vergonha. Aiyra também corada, salta os olhos para o cabelo preso em pompom macacão jeans junto do moletom roxo clarinho que fazia não conter o surto interno.
"Meu Deus! Ela está muito fofa! Que vontade de apertar!"
— Você... também tá muito fofinha com essa roupa.
— É sério? — Desvia o olhar cruzando os dedos enquanto fazia biquinho. Até que uma pulga atrás da orelha cutucava Raissa.
"Pera ai... Ela está diferente hoje."
— Ai mano, quer um beijinho?
— Oi?!
Por um segundo, o silêncio daquele pátio envolto de plantas imperou fazendo o barulho das folhas se intensificaram por conta do ponto de interrogação que surgiu na cabeça da Buloke.
— É, Mulher. Eu quero te dar um beijinho, aceita?
"O quê?! Assim na escola logo de manhã? Está indo mais rápido do que eu imaginei!"
Naquele segundo, todo senso lógico que guiava a Buloke sumiu. Dando lugar a um turbilhão de sentimentos que tanto levavam a extrema vergonha que a paralisava quanto flertava com a faísca interna crescente de interesse que fazia Raissa quer experimentar aqueles pequenos lábios. A mescla desses sentimentos fez o cérebro de Raissa desligar como nunca antes, porém, cogitando que aquela poderia seria uma chance única e desconsiderando totalmente o ambiente escolar em sua equação...
— Eu aceito. — Um olhar atrevido enquanto passava lentamente o dedo na boca sutilmente faz interrogações surgirem na cabeça de Aiyra, que abre sua bolsa a procura de algo.
"Oh, Meu Sândalo, será que vai pegar algum batom de fruta pra adoçar o beijo ainda mais?! Tomara que seja Morango, eu amo Morango!"
— Aqui, toma! — Tirava um docinho branco de coco da bolsa e oferecia a Raissa com um sorriso no rosto. Raissa quebra por um momento por conta das seus pensamentos e intenções infantis.
"Caramba! O que acabou de acontecer comigo? Parece que aquilo que a Layla disse ontem entrou na minha cabeça de um jeito... que tô ficando doida."
***
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