O teto de um hospital de fato era branco, pensou Cris naquele momento. Cris estava deitado em uma maca de hospital, em um quanto isolado mais ao final. No quarto 293. Ele estava encarando fixadamente o teto do quarto que, com o tempo, já não parecia mais branco, e sim, um bege bem claro.
— Desse jeito você vai virar especialista em tetos -- Disse o médico que entrava silenciosamente. Cris olhou para o médico com os olhos caídos de alguém que acabou de acordar.
— Bom dia, ou tarde, senhor.
— Senhor? hahahaha! — O médico riu calorosamente — Eu não sou tão velho assim, sabia?
— Não fazia ideia.
— Faz sentido, a gente acabou de se conhecer -- O médico se sentou na cadeira mais ao lado em quanto se arrumava para uma clara série de perguntas.
— Quantas são?
— Eim?
— Às perguntas.
— Aaaaah. Fui pego na lata hahahaha! Não são muitas, eu prometo.
Cris encostou a cabeça para trás com tudo, e olhou mais uma vez ao teto, com esperanças de que não ia ser tão longo assim. O médico então começou as perguntas, durando cerca de vinte a trinta minutos diretos de perguntas. Até o médico finalmente decidir parar de perguntar e finalmente informar algo.
— Então, Cris. Foram achados sangue, urina e um líquido desconhecido no sangue que escorria da sua boca. Você vai passar por alguns testes e ficara aqui por pelo menos 10 dias, já avisamos aos seus parentes e ao seu local de trabalho.
— Ótimo, vou ter mais um dia para fazer nada.
— Sei que isso é chato, mas é melhor evitar uma possível série de infortúnios — Disse o médico em quanto se levantava e esticava seus braços até a porta. — Tô ficando cada dia mais velho… Vou lhe deixar descansar agora. Tenha um bom dia, Cris. O médico finalmente saiu, aqueles 30 minutos realmente foram de matar. Cris então se ajeitou em sua maca e voltou a olhar para o teto que, de tanto olhar, já era como uma pintura antiga. Desinteressante e velha. Ele se surpreendeu com sua facilidade de se adaptar ao que tinha, o teto já parecia tão familiar que até conseguia ver as linhas de uma boca e olhos arregalados. Como se estivesse olhando de volta a ele. Penetrante era a melhor descrição que tinha em mente. Cris chacoalhou a cabeça como uma tentativa de voltar ao que tinha, que se provou ser inútil, como sempre. Investigando cada parte do comodo pelo que parecia horas, talvez até dias. O tempo se tornava um conceito inútil quando se via a mesma coisa por tanto tempo. Uma ilusão estranha, que o deixava pensativo. Mas seus pensamentos foram interrompidos por uma batida leve e gentil na porta.
— Cris, sou eu, o Giovan.
— Entra! -- Gritou Cris com esperança de acabar com esse tédio. Giovan entrou afoito, com passos tímidos e um olhar que, antes fosse neutro, mostrava uma sensação de profunda preocupação. Giovan andou até o lado da janela e se sentou em uma poltrona marrom mais ou lado da cama.
— Como você ta Cris? -- Perguntou Giovan com um tom baixo e pesado.
— Estou bem, eu acho. Tirando os trinta minutos de sofrimento com o médico, eu me sinto, de certa forma, calmo.
— É bom ouvir isso. E também que me disse a verdade dessa vez -- Cris se ajeitou na cama nervosamente, ele não esperava isso de Giovan, ele não era de falar algo assim de forma curta e grossa. Mas oque ele podia fazer? Levar seu amigo, que estava beira da morte, pro hospital não era nada simples. Principalmente se ele mente para você sobre isso.
— Desculpa… -- Disse Cris com um tom triste e sóbrio.
— Tá tudo bem. Contando que você esteja bem, eu estou bem, e é isso que importa. Só… Não guarde mais as suas dores para si, eu estou aqui para te ajudar.
— Certo… Não vai mais acontecer, juro.
Giovan finalmente mostra um pequeno sorriso aliviado, no meio do seu rosto serio e sereno, deixando Cris mais leve e calmo com tudo que aconteceu.
— Então você sabe sorrir, eim? -- Comentou Cris com um tom provocativo
— Eu não estou sorrindo
— Táá siiim. Aqui ô — Cris colocou os dedos indicadores em cada lado da boca de Giovan e puxou para cima com cuidado — Que grande sorriso Gigi!
Giovan corou e tirou as mãos de Cris com cuidado de sua boca, as colocando de volta na maca.
— Você vai ser sempre assim quando estiver acordado?
Cris balançou a cabeça com muita força como resposta, fazendo Giovan rir baixo e Cris, com um grande sorriso em seu rosto, esquecer por um tempo do branco da sala. E da bizarra sensação que o prendia dentro de si.
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