deus,
se realmente existe,
imagino que já saiba:
estou ficando triste.
mais uma vez.
não é o tipo de amargura
que me abate em um dia
e no outro esqueci.
é aquela tristeza que vive à espreita,
esperando um simples deslize de sua presa
quando esta está sem forças para fugir.
deus, se está a me ouvir,
afasta de mim essa paixão natimorta
de quem enxerga a vida como obrigação.
se o resultado de sua criação o conforta,
por que nos deixa à beira da autodestruição?
o ceticismo desafia a esperança
de quem quer acreditar que os pecados do mundo
foram dignos da absolvição.
em meio ao caos minha sanidade dança,
já não sei o que é real ou fruto da imaginação.
e apesar de julgarem-no como um sentimento mesquinho,
confesso ter me deixado cativar pelo sorriso da inexorável.
não tenho dúvidas de que sua jura de paz trará fim ao meu desalinho,
embora a descrevam como um ser detestável.
seu abraço suave como o toque de um espinho
me faz desejar sua chegada formidável.
caso encontre o abismo de seus olhos em meu caminho,
espero ter a resposta certa ao seu convite amigável.
o sentido deste universo de estranhezas
eu jamais seria capaz de entender.
minha mente viaja nas profundezas,
tenho medo de me perder.
o relógio conta as horas devagar,
ainda tenho minha juventude,
um espectro de saúde,
e uma família para orgulhar.
não importa se céu e inferno são reais
ou apenas um conto para me impressionar.
morpheus me embala sob o céu sem estrelas,
mergulhando meu corpo em torpor.
ouço o som de suas asas
e um sussurro encantador:
a alma está desbotada,
mas ainda tem cor.
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