A diferença entre os dois combatentes começou a ficar evidente quando Ishida começou a manifestar sinais de cansaço, enquanto o professor não apresentava nenhum sinal. A maldição estava começando a afetar o corpo e a mente do garoto, que ofegava. Seu mestre percebeu o desgaste e avançou rapidamente para desferir um poderoso corte vertical, sem chance de esquiva. Em resposta, o jovem bloqueou o ataque, mas foi arrastado para trás devido ao impacto.
Kenjiro simplesmente repetiu o movimento diversas vezes, cansando seu aprendiz mais e mais. A cada bloqueio, sua respiração piorava e sua força diminuía. Ele nunca conseguia se recompor a tempo para contra-atacar, deixando transparecer que já estava no limite. Até que uma voz conhecida surgiu em sua consciência:
“Roubarei um pouco a cena para te ensinar um truque”, Azaziel se manifestou e tomou conta do corpo de Ishida. As chamas se tornaram um incêndio, consumindo o jovem completamente e impedindo momentaneamente a aproximação de Kenjiro, que tomou distância e observou. Pouco a pouco, o fogo negro se concentrou na faca do garoto, ampliando seu alcance com a labareda escura. Naquele momento, seus olhos escarlates revelavam o sigilo de Azaziel.
Então, Ishida ergueu a faca flamejante, gritou e desferiu um golpe vertical na direção de seu mestre. Com o movimento, as chamas foram lançadas pelo ar em formato de onda, atravessando tudo em seu caminho.
Ao ver tal poder, Kenjiro apenas apertou sua espada e esperou.
— Caminho do trovão. — recitou, fazendo sua espada exalar diversos raios azulados.
Quando a grande massa negra se aproximou, Kenjiro cortou-a como se não fosse nada, dissipando todo aquele grandioso poder.
— Vejo que não tenho outra opção. — afirmou Kenjiro, limpando o sangue na bochecha em meio às faíscas que sumiam. — As trevas já tomaram seu corpo.
Akane, que apenas ouvia a batalha, sentiu que o chefe agora iria utilizar seu verdadeiro poder.
— Foi bom te conhecer, garoto — disse ela, dando o último gole em seu saquê.
Kenjiro guardou sua espada na bainha e de repente um pouco de vapor saiu de seu corpo. Quando Ishida se deu conta, seu adversário já estava à sua frente. Ele percorreu toda a distância na velocidade de um relâmpago, com raios emanando de todo o corpo. Quando os olhos de ambos se cruzaram, o jovem recebeu um poderoso corte no peito e sangrou em profusão, ao mesmo tempo em que foi lançado para cima com o impacto. Seu mestre, porém, estava apenas começando. Guardando a espada na bainha, ele disse:
— Tempestade da lâmina fantasma.
De repente, dezenas de cortes surgiram em todas as direções no corpo do garoto, envolto numa tempestade de raios azulados. Foi tudo tão rápido que realmente parecia que um fantasma havia atacado. Um espetáculo de luzes e violência.
O jovem caiu de costas sobre o chão, sangrando intensamente por toda parte. Estava inconsciente depois de ser vítima do ataque mortal de seu oponente. Logo após, Kenjiro se aproximou do perdedor e olhou-o com o que parecia ser pena.
— Teu ódio, garoto, termina aqui — afirmou o ronin, pegando sua espada e se preparando para perfurar a testa de Ishida.
Surgindo do nada, Harumi abraçou Kenjiro por trás com o pouco de força que possuía, clamando:
— Não o mate! Você não precisa fazer isso! — Ela estava extremamente apreensiva. Suas mãos tremiam enquanto ela pressionava todo seu corpo contra as costas do vencedor da batalha.
— Você não tá vendo o que aconteceu? Esse garoto não passa de uma bomba que vai estourar a qualquer momento — Kenjiro respondeu com agressividade, mas interrompeu seus movimentos.
— Você não precisa perder mais uma pessoa! Lembre de quem acreditou em você um dia, quando você ainda não era nada! Não se lembra? — Harumi gritava, tentando pacificar o homem à sua frente — As pessoas que se foram não vão voltar, você cometeu erros que não pode consertar, mas sei que pode conduzir esse garoto por um caminho de bondade — Ela percebeu que Kenjiro relaxou sua musculatura.
— Sei que pode… como fez com a Akane. Não tem homem melhor que você! — A moça parou de falar pois não encontrava mais palavras. Ela tinha realmente se expressado do fundo da alma. Para seu alívio, o ronin baixou a espada e a guardou na bainha. Após isso, ele gentilmente segurou as mãos de Harumi e calmamente a fez abaixar seus abraços e soltá-lo. Durante todo o tempo que estiveram juntos, esse foi o toque mais suave que a moça sentiu vindo daquele homem.
Kenjiro não se virou para encará-la. Simplesmente encarou o jovem semi-morto e inconsciente. Sabia que ele ainda estava vivo, mas sua situação era crítica. Ele não parava de sangrar e aparentava não ter mais forças para nada.
De repente, Ishida tossiu um pouco de sangue e falou, sem abrir os olhos:
— Toki… — Derramou lágrimas que se camuflaram com a chuva caindo em seu rosto. — Me desculpe. Eu… eu não pude cumprir a promessa — desmaiou completamente depois disso.
Ao escutar tais palavras, Kenjiro arregalou os olhos, bastante surpreso. Ele já esteve na mesma posição em que o garoto se encontrava e agora estava do outro lado da situação. Ao mesmo tempo, Harumi se ajoelhou, chorando e apertando o seu kimono.
— Obrigado, obrigado, obrigado meu senhor.
— Sabe, garoto — disse ele após alguns segundos, mesmo sabendo que só a garota o ouvia. — Você me lembra alguém que foi muito importante em meu passado. Ele possuía um forte senso de justiça parecido com esse que você carrega. Eu o admirava e seguia seus ensinamentos, apesar de nunca conseguir sentir o mesmo que ele. Só servi esse reino porque queria caminhar ao seu lado, queria acompanhar ele até o fim. Fui o guardião que herdou o manto da justiça, mas nunca senti que ele era realmente meu. Não acho que o mereço… Talvez seja você que herdará o legado do fantasma.
— Kenjiro…
Ele prosseguiu, sério:
— Ele já esteve no mesmo lugar que você, mas nunca caiu perante o mal. Ele treinou e se tornou o mais forte de sua época. Matou aqueles que mancharam nossa terra e trouxe a paz para todos nós. — Observou uma cicatriz na mão escurecida do garoto. — Esse poder que usa não lhe pertence e não faz nada além de trazer tristeza ao seu redor. Você não deve usá-lo, não importa o que aconteça. Você nunca deve depender das trevas ou elas irão consumir sua alma e você morrerá sozinho. — Em seguida, começou a caminhar até sua casa — Espero que essa seja nossa única batalha.
Akane ficou em frente a porta, observando tudo enquanto sorria, sabendo que seu chefe havia dado uma chance para o discípulo. Enquanto isso, Harumi se aproximou de Ishida, aguardando algum comando de Kenjiro.
— Vocês duas sabem o que fazer, cuidem dele e não deixem que morra. — ordenou Kenjiro, entrando em sua residência.
— Ele está muito ferido! — Harumi respondeu
— Algumas lições tem que ser aprendidas pela dor. E se eu quisesse mesmo, teria matado ele com aquela técnica — concluiu o espadachim.
As moças então recolheram o garoto desmaiado e foram cuidar de suas feridas. Depois daquilo, estavam muito felizes, pois conseguiram ver a bondade de Kenjiro.
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