Alguns dias depois do incidente, Cris finalmente levou alta e liberado do hospital. O lado de fora, que queimava seus olhos com seu brilho, parecia diferente do seu normal que, com toda certeza, era quebrado. O mundo estava mais animado e iluminado. Claro, nada que ele via havia desaparecido ou aliviado, mas ele ainda sentia isso, essa mudança repentina. Giovan que estava do lado de fora, se aproximou de Cris com seu olhar cotidiano que, finalmente, havia voltado ao normal.
— Olá, bem-vindo a sociedade! -- falou Giovan com um tom descontraído
— Ah, para Gigi! Nem foi tanto tempo assim.
— Não foi pelo tempo, foi mais pelo seu olhar mesmo.
— meu olhar? -- Cris perguntou com um olhar curioso e vivo, em quanto andava com Giovan até o carro do mesmo.
— Você parece mais acordado.
— Bom, eu passei dez dias no hospital -- Cris encostou a mão no teto do carro, em quanto Giovan dava a volta para destrancar as portas.
— Ainda sim… É bem… Caramba... - desconcentrado, Giovan trava em quanto lutava contra a porta do carro - Porra.
— Precisa de ajuda?
— Nada, eu consig- Giovan puxa a porta com tudo, que faz um barulho gigantesco, assustando Cris quase no mesmo momento - AE!
Giovan entra no carro e puxa a trava de segurança por dentro do carro liberando, finalmente, as portas para Cris entrar, sendo exatamente oque ele faz. O ar no carro é confortável e pacifico. Cris não sabia dizer se esse clima era por ter finalmente saído do hospital, ou pelos aromatizantes dentro do carro.
— "Cem por cento saudável", né?
— Tenho minhas frescuras. Se não for completamente reciclável, não uso! -- Giovan afirma com força em quanto liga o carro, que segue com seu tom forte
— Frescuras mesmo
Giovan então finalmente começou a dirigir, seguindo a rua curvada até a principal, em direção do retorno. Cris virou para janela e começou a notar a sua volta, vendo as pessoas passarem, as pixies e os ninbrios voando como se estivessem se arrastando no ar. Tudo parecia tão novo do nada. Giovan cutucou o ombro de Cris, que se virava e o olhava com olhos vivos. E em uma fração de segundos o mesmo olhar se torna um olhar de medo, quando se depara com uma sacola de pipoca Rinfis em sua frente.
— Bagana de verdade -- Diz Giovan sem se desconcentrar da rua. Cris pegou a pipoca e abriu, sentindo um cheiro nostálgico que, por mais que tenham sido só dez dias, parecia não ter sentido a anos.
— Valeu! Caramba, eu tava com saudade de uma bagana nes- Cris olhou para Giovan, quase o agradecendo, quando viu que ele estava estendendo a mão. Encarou a mão por um tempo e finalmente percebeu oque era - Sacana mesmo, eim? -- Cris esticou a pipoca a Giovan, que já estava virando no retorno, e abriu mais ainda o saco. Giovan, com uma mão-cheia, retirou um bolo de pipoca cheia.
— CALMA! Eu mal toquei nisso ainda!
— Tem que dividir com os amiguinhos, Cris!
— Mas foi você que me deu!
Giovan riu baixo em quanto virava na rua a direita, entrando na rua de Cris e parando na casa verde e azul, de número 24. Cris desceu em direção ao portão. Se virando para a janela da porta do motorista com um olhar sereno.
— Valeu, Gigi. Quer entrar e almoçar? To no ânimo para cozinhar hoje.
Giovan levanta as sobrancelhas surpreso, mas não pelo fator de ter sido convidado para dentro, mas sim por Cris estar no ânimo de cozinhar.
— Pensei que "O mestre cuca" tinha sido enterrado junto a sua coragem
— Eu ainda cozinho, muito obrigado
— Bom, desse jeito nem consigo negar! Tenho que estar maluco para negar comida sua -- Falou Giovan, em quanto descia do carro. Cris se apressou e abriu o pequeno portão, que protegia em quase nada a sua casa, e seguiu até a porta. Samafron pulou e o abraçou com tudo, com um abraço caloroso e não existencial.
— IDIOTA! DA PRÓXIMA VEZ, PRESTA MAIS ATENÇÃO! -- Berrou Samafron e chorou oque seria sangue. Cris riu nervosamente, a levantando e pondo em seu ombro da forma mais sã possível, já que ela era praticamente invisível para Giovan.
— Oque foi? -- perguntou Giovan.
— Ah… A casa ta bagunçada e tudo mais, devia ter limpado antes de sair.
— Tô surpreso que você varre com sua coragem.
— O dia é cansativo, mas isso não me impede nem um pouco de, pelo menos, varrer a casa.
— Certo, certo.
Cris andou até a cozinha e colocou Samafron no chão, fingindo que estava estralando a coluna.
— Com- Se sente bem? -- Perguntou Samafron com um padrão quase perfeito. Cris respondeu mexendo a cabeça de forma desconfortável e massageando com a mão, perecendo um sim todo errático. Em quanto pegava os materiais para um almoço "leve". Peixe frito, arroz e farofa de feijão-verde.
— Era difícil assim ficar no hospital? -- perguntou Giovan em quanto se sentava no sofá
— Hm?
— Sabe, você parece desconfortável.
— Ah. Deve ter sido porque fiquei muito tempo deitado ou sentado.
— Quer fazer aquelas coisas depois?
— Fazer o quê? -- perguntou Cris com um olhar confuso e sorridente
— Aqueles de se esticar. Caramba qual o nome mesmo?
— Aaaah. Alongamento?
— Isso! - Gritou quase saindo do sofá - Quer tentar depois? Talvez ajude?
— Nada, preguiça de tenta -- Respondeu Cris, se preparando para tratar o peixe, quando ouviu uma batida pesada na porta. Giovan pulou da cadeira e virou-se aflito para Cris, que já sabia quem era.
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