A chuva me fazia perceber oque havia acontecido. Eu deixei a minha vida assim. Desorganizada e sem um rumo. Tudo a minha volta está bem como o meu quarto, jogado e quebrado. Eu não sinto que meu "eu" interno aceitou essa ideia, mas foi tudo tão rápido que ele só aceitou, deixou tudo fluir como devia. Eu… Eu me sinto horrivelmente deslocado, como uma coisa que não devia estar lá, estivesse exatamente lá pela falta de opção. Eu não queria ser assim! Nunca desejei por isso! Era tudo tão interessante daquela forma, desenhar parou de ter efeito há muito tempo. E quando eu decidi me jogar neste mundo de vez, isso me acontece. Essa queimação. Essa ideia de que tudo é a minha mente, e que tudo esta me quebrando, sem se importar com oque eu faço ou preciso. Quero viver ESSE mundo! Quero entender oque minha criação quer me mostrar! Mas doí… Doí a ideia que estou louco a cada momento que mergulho nessa ideia. Cada gota lá fora, é uma dúvida sobre eu mesmo. Sobre o conceito da minha existência. Sei que isso não é cabível a minha cabeça de imaginar. É tudo muito real. É tudo muito vivido. Mas e se eu simplesmente estiver só não sendo eu mesmo por negar isso? Por negar a existência desse outro lado?
— Cris…?
— Ah! Ah… Oi, Samafro, oque houve?
— Você parece mal…
— Eu… Estou bem. Só meio quieto.
Ela parecia querer falar algo, mas ficou em silêncio. Oque ela falaria? Se tudo que esta aqui é da minha cabeça… Oque EU falaria?
— Tá com fome? Eu preparo o lanche rápido.
— Mhm. Parece bom -- Ela disse com um olhar pesado…
Por que noto tantas coisas com oque me não é real? Ai… Fiquei muito tempo aqui? Tanto faz. Eu devia achar um jeito de acabar com isso. Deixa isso passar. Mas, por que eu decidi viver com isso? Por medo? Por negar oque eu vivo? Ou é por saber que eu vou falhar, e que eu vou conviver com isso para sempre? Cade os pães? A é! Será que eu me apeguei a isso? Se eu largar tudo isso, eu teria que abandonar a ideia de que meu outro lado também não é real. Negar que, por mais que seja ruim, meus "eus" internos, que passam e vivem suas vidas nos meus olhos, são puramente algo que criei para ser completo. E de fato. Eu seria incompleto. Nunca pensei como minha vida seria sem isso, sempre foi assim desde que sai do hospital quando criança. Desde que acordei com meus olhos queimando de vermelho, vendo pássaros e formas irreais passando e flutuando na minha frente. Eu sabia que o quanto não derretia. Eu me assustei.
— Pronto! Pão com sardinha, maionese e limão.
— Eba! -- Ela Grita com uma boa expressão. Oque é bem estranho, já que ela não tem olhos. Que idiota Cris!
Mas de alguma forma…
— Ah! Qual foi o carinho do nada?
— Energia extra
— Aaah! Hahahaha!
Existe uma beleza no que eu vejo. Uma beleza que me faz correr para viver e ver isso. Não é saudável, na certa até preciso de um tratamento. Mas quero ver onde isso acaba. Mesmo que eu sinta minha mão formigar com o irreal. Mesmo que eu pereça e enlouqueça com oque eu vejo. Aprenderei a viver com isso e ver oque tem a me oferecer. Mesmo que cada gole daquele bem-dito remédio me faça sentir mais e mais doente, eu vou viver com isso e deixar a chuva lavar a minha mente, com seus pensamentos deslocados e insanos.
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