No Reino de Altarusia, na longínqua província de Titânia, onde a mais densa selva toma a forma de um gigantesco e sinistro labirinto, existe ali um peculiar povo de cabelos vermelhos e olhos muito azuis. Diferente das outras províncias, o povo de titânia é composto etnicamente pelos antigos inimigos do povo fundador de Altarusia, mas que deserdaram sua antiga tribo para migrar ao novo reinado. Apesar de o idioma ter se perdido, o povo de cabelos vermelhos mantêm seus costumes e tradições e ainda se opõe ao processo de assimilação religiosa, que seria o requisito principal exigido pelo estado imperial.

“Será que devemos pedir ajuda aos sacerdotes do Império?”

“Não precisamos de ninguém do Estado para resolver este problema, resolveremos este problema com a ajuda de nossos próprios Deuses!”

“Pare de ser arrogante! Não podemos nos dar ao luxo de ficarmos de birra em um momento como esse!”

“Isso se resolvera hoje e ponto final!”

Uma discussão acontecia dentro da pequena prefeitura da cidade de Petrov, na província de Titânia. Todos os adultos estavam ali reunidos, dentro e em volta do local; os sacerdotes e famílias de maior prestígio politico eram encarregados de tomar as rédeas da reunião; estavam ali há mais de 2 horas e não parecia que acabaria tão cedo. No lado de fora, homens e mulheres com espadas, lanças e armamento mágico podiam ser vistos.

Um pouco mais afastado dali, longe dos olhares de repreensão dos pais e adultos, duas crianças de aparentemente 10 anos de idade conversavam:

“Ivã, Ivã, será que eles estão falando sobre o bicho papão da floresta?”

“Acho que sim. Ouvi meu pai falar que vão caçar o bicho por isso essa reunião.”

“Ivã, Ivã, você não está com medo?”

“Que medo oque, Katia. Eu sou um homem, vou matar o bicho papão com um soco na cara!”

“Pff...Hahahahaha” a garota então cai de risos ao ouvir a heroica declaração do garoto.

O garoto então fica com o rosto vermelho de raiva, tão vermelho quanto a cor de seu cabelo.

“PARE DE RIR DE MIM!” Exclama o garoto enfurecido e com um ar de vergonha.

A garota para por um momento, esboça um sorriso e então fala: “porque não vamos visitar a Naty?”

“A Natacha? Por quê?”

“Bom, desde aquele dia que encontraram… Bom, você sabe né… Ela tem ficado horas trancada no quarto dela lendo sobre magia e essas coisas, até mesmo sobre feitiços do Deus central de Altarusia”

“Vai ver ela quer se tornar uma dessas moças de igreja. Uma pena, ela monta e caça tão bem”

“Não é isso! Você nunca sentiu a energia espiritual dela? Eu acho que ela possui uma forte conexão com o mundo espiritual e com a Deusa Freya”

“Freia? Freia oque? Carroça?”

‘’Seu Bruto!’’ A pequena garota de cabelos lisos de cor carmesim, vestida apenas com um vestido branco e um laço negro no peito e nos adornos das mangas furiosamente acelera o passo deixando Ivã para trás. O pequeno garoto de cabelos vermelhos e liso que cai como uma franja em sua testa, com apenas uma camisa e bermuda com suspensórios tenta acompanhar seus passos enquanto indaga para si mesmo:“Oque foi que eu disse?”

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Era uma casa cuja arquitetura não se diferenciava das demais casas da pequena cidade, com a única diferença sendo que sua estrutura indicava um maior grau de condições financeiras. Feita de mármore e tijolos, com dois andares e uma longa chaminé; a grande casa era cercada por um alto muro e um portão feito de ferro. Uma casa bonita mas com um ar de casa mal-assombrada das estórias de terror. A casa se situava no alto de uma colina, e ficava de frente com a colina oposta na qual a igreja estava situada.

“você acha que ela vai abrir pra gente?” Indagou o garoto.

“Por que não abriria? Ela é nossa amiga.” A garota replica com uma expressão confusa.

“ A família dos Nikolayev são muito importantes… E também assustadores… Ela também nunca nos convidou para entrar na casa dela nenhuma vez e acho que eles não aceitam visitantes”

“Eu nunca convidei ela para a minha casa também, você já?”

“E-eu? Eu não mas…” Ivã fica um pouco sem jeito e Katia prontamente responde.

“Ela nunca nos convidou e nem nós convidamos ela porque simplesmente não surgiu nenhum momento para isso”

“Eu sei m-mas, oque eu quero dizer é…”

“Não me diga que está com medo?” A pequena garota proclama em um tom de deboche que atinge em cheio o frágil ego do menino.

“NÃO ESTOU COM MEDO!” Grita o garoto. Tão alto que os pássaros das árvores começaram a voar.

A garota antes mesmo que pudesse rir, o garoto grita uma poderosa infâmia em sua direção: “SUA FEIOSA!” Um ataque simples, mas que atingiu em cheio o frágil ego da menina.

“F-FEIOSA?” Q-QUEM VOCÊ ESTÁ CHAMANDO DE FEIOSA”

“VOCÊ SUA FEIOSA CARA DE LEITÃO BLEH!”

E então, ambos começam a gritar e a se amaldiçoar com palavras de baixo calão até que ambos partiram para a violência de um puxar o cabelo do outro.

“Parem com essa gritaria!” Uma voz em tom de repreensão ecoa através dos portões.

Parada nos portões, do lado de dentro, estava uma jovem mulher de aparência totalmente diferente da qual estavam acostumados a ver em seu dia a dia. Ela tinha a pele morena, cabelos lisos e negros, rosto arrendondado, olhar afiado e lábios carnudos; estava usando uma roupa de serviçal mas diferente das quais conheciam, parecia uma mistura de uniforme de magia com uniforme de serviçal.

“Esta propriedade está muito longe da casa de vocês, então vão brincar em outro lugar” Fala a misteriosa mulher de semblante sombrio e tom atônito.”

Katia foi a primeira a falar: “É que nós viemos visitar a Natacha”

“Ela é nossa amiga” Complementa o garoto.

A moça morena curtamente fala que não se pode entrar na casa sem aviso prévio e que nesse momento apenas incomodariam a Senhorita Natacha. Mas antes mesmo que pudessem se virar para ir embora, sem nem ao menos resistir, uma janela se abre no segundo andar e uma voz familiar ecoa: “Espera ai! Deixe-os entrar!”

Debruçada na janela, uma garota de radiante beleza de cabelos ruivos que pareciam um loiro dourado ao sol, os fitava com um sorriso.

“Conhece eles, senhorita Natacha?” Fala a moça morena em direção a moça na janela.

“Sim, Sim, são meus amigos, podem deixar eles entrarem”

“Mas a senhorita sabe que seu pai não permite conhecidos e muito menos estranhos na residência sem o seu consentimento prévio.”

A garota pensa por um momento e então responde: “Ah não se preocupa com isso meus pais provavelmente só vão voltar a noite”

Por um segundo a empregada pensa em recusar o pedido mas ao ver os olhos de ansiedade das crianças devorando-a e o entusiasmo de sua senhora, seu coração cedeu e seu frio semblante fica um pouco mais afável.

Com um longo suspiro, antes de abrir o portão, ela avisa as crianças a se comportarem e a esperarem na sala.

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