Acordei com o barulho de estalos vindo de uma lareira perto de mim, sentada em sua frente eu pude enxergar uma pessoa de capuz escuro assando algum tipo de carne fatiada sobre uma placa de metal.
Minha cabeça parecia girar enquanto observava ao redor. Parece que estou em uma cabana rustica, com apenas um cômodo ou algo assim medindo uns 30m, enquanto estou deitado em uma cama em um dos cantos da cabana.
Parecia que tinha saído de um pesadelo, meus olhos estavam pesados e minha garganta seca enquanto mal conseguia mover meu pescoço para os lados. Quando olhei para baixo consegui ver meu corpo com o torço completamente enfaixado e meu braço esquerdo com uma tala.
- Aonde eu estou? – Resmunguei com a garganta seca
- hum? Então você finalmente acordou – disse a figura encapuzada se levantando de sua cadeira enquanto tirava seu capuz
Depois de muito tempo parecia que finalmente tinha encontrado alguém... um homem de cabelos castanhos e barba rala lhe dava um ar de malcuidado junto a seus olhos caídos e profundos cheios de olheiras. Ele está vestindo algum tipo de manto escuro com a parte interior vermelha como carmesim que impede que eu enxergue muito mais do que suas pernas e rosto.
Após ver ele se virando em minha direção uma luz surge na minha direita enquanto escuto uma voz feminina ecoando em minha cabeça.
[ Bem-vindo ao...]
*BOOOM*
Acabei me assustado com a luz e acabei socando em direção ao foco de luz, quando percebi estava com a mão enterrada na parede da cabana e quando retirei meu punho percebi que ficou um buraco para o lado de fora.
Era aquela voz misteriosa?
Com seu braço direito o homem veio em minha direção me entregando um prato com algo semelhante a arroz e uma carne gordurosa junto a um copo de água.
- Prazer o meu nome é Nikol, Michael Nikol, e o seu? – Questionou enquanto me observava com um olhar profundo coçando a barba rala de um jeito desleixado.
- Meu nome? Fits, Fits eu acho... – Disse enquanto murmurava pensamentos
Ele parecia me olhar com um olhar como se estivesse me estudando a cada segundo e não podia me sentir algo além de desconfortável.
Juntei minhas forças para sentar na cama com as costas na cabeceira enquanto gemia de dor.
- Huf! Como que eu vim parar aqui? – Questionei confuso
Nikol pegou uma fatia de carne e se jogou em uma cadeira de maneira desleixada antes de me responder:
- Acho que você não vai lembrar mesmo – Disse Nikol enquanto mordia uma fatia de carne
- Eu estava... procurando algo que preciso reencontrar e achei você no meio do caminho, admito que pensei em deixar você jogado para alguma criatura ter o almoço, mas algo em você me intrigou... – Falou Nikol enquanto seu olhar parecia como o de um falcão enquanto me observava de cima para baixo.
- O que te intrigou ao ponto de me trazer a sua casa? – Eu disse distraído enquanto pegava um punhado de arroz com a mão e me deliciava comendo como um animal.
- Aonde você conseguiu isso? – Falou enquanto tirava a pinça que eu usava de uma bolsa.
Meu cérebro mal conseguia prestar atenção em suas falas quando percebia que estava dentro de uma cabana quentinha enquanto comia uma comida deliciosa!
- Eu estou sonhando? - Murmurei
Percebendo que foi ignorado Nikol ligou uma lâmpada em cima de uma escrivaninha cheia de projetos e papeis, jogando-os para dentro de uma bolsa de couro e recolhia várias roupas.
- Para onde você vai? – Questionei
- Não pretendo ficar aqui por muito tempo, desde que cheguei a esse andar não consegui progredir muito, eu vou sair desse lugar. – Ele falou
Coloquei o prato em cima da cama enquanto tentava levantar da cama.
- Eu não acho que seja uma boa ideia você se levantar agora, seu corpo ainda está muito debilitado, eu realmente não me importo como você consegui essas lesões ou como você conseguiu essa pinça, já que tomarei ela como pagamento por salvar sua vida, mas você com certeza não está bem. - Disse Nikol
Percebo que ele tirou de uma gaveta tipo de controle com uma antena, ele começou a apertar vários botões e bater no controle até que ele começou a fazer “Bips” em pausas regulares.
Eu não consigo deixar de pensar que ainda não estamos seguros, mas ao mesmo tempo vários pensamentos veem em minha cabeça. Os últimos anos... faz tanto tempo assim que não paro para pensar sobre mim mesmo? Ou é só eu imaginando coisas?
- Eu vou ir junto! – Exclamei
- Que?! Nem pensar você nem consegue se manter de pé, além disso você não tem nenhuma arma! – Exclamou Nikol enquanto colocava em sua cintura uma espada com o cabo vermelho e a bainha preta, combinando perfeitamente com seu manto.
- Eu não pretendo ficar parado nesse lugar por muito tempo, além disso é muito perigoso ficar parado no mesmo lugar. – Argumentei
- Eu te garanto que não é, você dormiu pelos últimos 3 dias e nada nos incomodou além de mosquitos – Nikol argumentou em seguida
- Eu não me importo, você disse que ia sair daqui, então temos algo em comum. Em que andar estamos? Decimo primeiro suponho? – Questionei
- Decimo primeiro? Você deve estar viajando, estamos no... – Escutei Nikol dizer antes de ter sua voz abafada pela voz misteriosa.
[Bem-vindo ao andar 4² Sr.Fits]
A voz acompanhou uma tela azul que parecia flutuar entre mim e Nikol de maneira que cobrisse seu rosto.
Sério que surgiu mais uma maluquice para eu lidar?
Mas pera, estamos no 4 andar mesmo eu cruzando o portal do 10 andar? Ou será que aquilo era apenas uma porta de retorno? Além disso me lembro claramente do 4 andar ser uma serie de montanhas sempre cobertas por uma nevasca incessante, seria impossível construir uma cabana em meio aquela neve.
Eu acho que acabei me perdendo em pensamentos quando percebo Nikel com sua bolsa abrindo a porta através do painel luminescente.
- Espera um seguidinho, já estou indo – eu disse
- Eu já disse que você não vem comigo – Nikol falou antes de bater à porta
Meu corpo parece enferrujado e sentia várias dores enquanto levantava e parecia que meus ossos quebrados estavam apenas lesionados, mas voltaram ao lugar, isso sequer é possível? Mas o que mais me surpreendeu quando abri a porta da cabana foi a paisagem, a grama tinha um verde musgo enquanto conseguia ver um sol entre nuvens enquanto a brisa fria era leve, sentia como se conseguisse respirar como nunca. O ambiente parecia não possuir nenhum monstro ou vida selvagem aparente enquanto o contraste da roupa escura do Nikol podia ser visto ao longe.
Ponto de vista de Michael Nikol:
Oque aquele ogro estava pensando? Encontrei ele com diversas fraturas expostas e em uma poça de sangue duas vezes maior que seu corpo, eu nem tive certeza de que ele estava vivo, mas de algum jeito ele conseguiu sobreviver aquele deplorável. Eu não sou médico, mas com certeza alguém sobreviver depois daquilo não é normal.
Tirando esse material, de onde ele tirou isso? Me parece ser alguma parte de algum inseto ou aracnídeo, mas nunca imaginei que existiria um dessa magnitude, essa pinça é quase maior que minha espada e parece mais resistente que ferro negro.
Bem... não devo me distrair por agora, devo aproveitar que recuperei o sinal. Acho que vou primeiro passar pela cidade e vender essa pinça para quitar minha dívida hehe...
- Que merda? Ahh? – Acabei me assustando ao perceber que o ogro chamado Fits estava logo atras de mim fedendo a queijo.
Não, pera! Como ele já está de pé?!
Ponto de vista de Fits:
Oque esse garoto estava pensando para estar com uma feição eufórica? Bem isso não é da minha conta, mas ele parece ser divertido heh.
Seguimos por alguns minutos caminhando contra o sol enquanto sentia uma tensão no ar.
- Será que nesse andar exista outras pessoas? Ou quem sabe outras comidas exóticas?! – Disse tentando puxar assunto, mas minha voz saiu mais animada do que queria.
- heh. Se você acha que arroz e carne de terceira é exótica, não quero imaginar o que você andou comendo – Pude perceber que mesmo tentando manter uma cara fechada parecia estar com um olhar descontraído.
- Aqui é normal esse tipo de coisa? – murmurei confuso
- Pelo visto você esteve preso em uma caverna esses últimos anos – Nikol disse com a voz anasalada enquanto tapava o nariz e forçava uma cara de nojo.
- Considere que foi algo nesse estilo. HAHA! – falei enquanto apreciava o lindo cenário.
Conforme andávamos jogando conversa fora, por vários momentos estranhei o fato de não sentir nenhuma criatura nas proximidades além de alguns pássaros. Depois de um tempo consegui enxergar ao horizonte algum tipo de portão murado, parecia ter mais de 20 metros.
- Acho que finalmente estamos chegando – Disse Nikol acelerando o passo
- Aonde estamos indo? – Questionei confuso enquanto sentia um mal pressentimento
Enquanto me respondia Nikol retirou uma máscara escura de seu manto com um raio vermelho desenhado na horizontal representando um rasgo ou dentes, que cobria apenas do nariz e abaixo.
- Resolver uns problemas. – Disse Nikol enquanto cobria seu rosto e o portão abria.
Comments (0)
See all