Não eram boas notícias pra ninguém, mais tarde nas bancas havia a manchete do Clarim. Se você ligasse o noticiário, o que veria são várias reportagens a respeito desses executores, e como o Jonah queria, muitas pessoas traçaram essa ligação entre mim e esses criminosos, dizendo que ninguém com esses poderes e habilidades poderiam ser bons. Que ter um poder tão grande assim trás o que há de pior nas pessoas. Mas eu ficava feliz em saber que havia gente que ainda acreditava em mim, e defendia o que eu fazia, ouvi uma mulher dizendo “Não penso que dar muito poder para as pessoas corrompem elas, e sim traz o que há de mais íntimo e escondido no coração de cada um. Eu acredito no Homem-Aranha, ele nunca fez mal a ninguém, e isso é a verdade sobre quem ele é”.
Tia May estava assistindo esse noticiário, lembro da fala dessa mulher porque ela pareceu particularmente feliz com o comentário dela, dizendo que a mulher estava completamente certa. “O Homem-Aranha não é um Executor” ela disse, “Ele é um protetor, e um bom rapaz. Você se lembra de quando ele salvou a Mary Jane?”. Ah, Mary Jane… Às vezes eu fico pensando em como seria as nossas vidas se eu dissesse que eu sou o Homem-Aranha, se eu tivesse segurado a mão dela naquele funeral, se nós tivéssemos conversado com o Harry… Talvez ele não estivesse preso naquela mansão. Perguntei pra Tia May também sobre o que acontece quando boas pessoas fazem coisas ruins, mesmo quando não é a intenção delas. “Elas precisam ser honestas e humildes o suficiente pra admitir seu erro pra quem elas machucaram. Só assim alguém como eles podem se redimir, o que não é difícil na teoria, mas na prática é muito avassalador”.
Mais tarde, uma coisa bem peculiar aconteceu. Na minha noite de patrulha, outro Executor apareceu. Foi na delegacia da cidade, esse foi um dos criminosos mais corajosos que eu já vi. O que raios um mafioso ou um supercriminoso ia fazer aonde os policiais ficam? Eu simplesmente não tentei questionar e avancei pra lá. Era um tumulto nas ruas sem igual, os policiais corriam de dentro pra fora e de fora pra dentro sem parar. Eu não perdi tempo, me lancei pra dentro das portas do lugar na hora. Eram muitos sons de tiro e quebra-quebra, mas eventualmente eu cheguei aonde tava o terceiro Executor. Era o de chapéu, o Montana. Ele tava montado em uma espécie de moto voadora, e no braço dele, uma espécie de armadura com vários dispositivos acoplados nela.
Quando ele me viu, depois de jogar um policial pra longe usando uma espécie de repulsor, ele deu um sorriso gritando “Aranha!” e acelerando na minha direção. Só deu tempo de eu pular em cima da estranha montaria dele. Nós dois brigamos em cima do cavalinho de metal dele enquanto trocamos socos através das paredes da delegacia, até que uma hora fomos jogados pra fora de lá, ao ar livre das ruas. Eu estava caído a um quarteirão dele, e enquanto ele ainda se levantava, eu instalei a minha câmera no topo de um pequeno edifício próximo. Quando eu me virei, ele já estava no planador.
- Homem-Aranha! Bem quem eu procurava.
- Veio me chamar pra um rodeio?
- Não, eu vim trazer sua cabeça pro submundo. Logo Montana voltará pra casa como o homem que derrotou o maior Super-Humano do planeta!
- Só porque você montou num super-cavalo? De onde você tirou isso, a propósito? Parece uma cópia malfeita do planador do Duende!
Assim, ele gritou e avançou pra cima de mim. Eu saltei por cima do rasante dele e grudei uma teia no braço armado dele. Não adiantou muito, ele conseguiu arrancar uma faca de dentro e cortar a teia. Ele já estava dando a volta pra me perseguir, e eu decidi começar a correr dele, despistando os seus ataques enquanto fabricava uma teia em volta dele. Me certifiquei que ele faria acrobacias bem próximas da minha câmera também, mas pouco tempo depois, ele percebeu o que eu estava fazendo, e parou no meio da perseguição, e começou a tirar uma espécie de cabo de aço, como se fosse um tipo de corda, do braço armado dele. Já que ele estava parado, tentei atacá-lo com uma voadora no meio do meu balanço, mas ele desviou, e começou a balançar o laço no ar e me perseguir novamente. Ele realmente ia tentar me laçar como um boi. O pouco de teia que eu havia construído tinha dado uma segurada nele, mas logo ele começou a voar por entre elas usando a faca pra cortá-las.
Ele realmente não tava largando do meu pé, e estava me arrastando pra fora da zona das teias, então tentei um movimento um movimento arriscado, fiz um loop completo em um dos postes de luz e voei de encontro pra ele. Acertei um golpe no ombro dele e fiz ele errar a laçada.
- Opa, desculpa aí, Cowboy! Acho que você errou!
- Eu nunca erro… — Ele suspirou pra mim.
Nem mesmo meu sentido conseguiu prever o poste que ele laçou a tempo de ele tombar na minha direção. Mas fui rápido o suficiente pra ele não me esmagar. Meio tonto com o que aconteceu, isso deu uma brecha pra ele lançar outra corda em mim, dessa vez não um laço que ele balançou, e sim uma corda inteligente que se amarrou em volta de mim e dos meus braços sem que eu tivesse tempo de reagir. Ele voou pro alto comigo, muito além da altura do Empire State, e mergulhou com tudo, fazendo com que o empuxo da corda arrebentasse minha roupa e deslocasse meu ombro esquerdo. Depois, ele amarrou a minha corda no topo de outro poste, e flutuou em frente a mim, ficando de pé no planador dele.
- Fim da linha, Aranha… — Ele levantou a faca pra me acertar na garganta, mas uma patrulha de policiais chegou bem na hora e começou a abrir fogo contra ele, não só acertando a faca, fazendo ela cair, como acertando uma das coxas dele de raspão — Salvo pelo gongo… Você não vai sobreviver nosso próximo encontro.
E então ele saiu voando. Os policiais pararam de atirar, e eu tive que fazer muita força pra arrebentar a corda de aço que ele tinha me amarrado. Logo, peguei minha câmera escondida e saí dali. Eu ia precisar de pelo menos um dia inteiro pro meu braço sarar dessa. Depois dessa noite conturbada, eu descansei e consegui revelar as fotos da câmera, muitas fotos excelentes, mas uma que realmente me chamou a atenção, algo que com certeza eu conseguiria usar pra arrancar um dinheiro extra no Clarim. Chegando lá no outro dia, eu corri pra mesa da Betty, que ainda tava uma bagunça, mas ela parecia menos ocupada… Só um pouco.
- Betty, oi, eu… — Ela levantou o dedo, me pedindo pra esperar um segundo enquanto ela terminava a ligação.
- Sim, tudo bem… — Ela desligou — Fala Peter.
- Precisa me deixar entrar, eu tenho que mostrar um negócio pro Senhor Jameson agora.
- Ele está conversando com o Foswell sobre o último ataque dos Executores.
- É sobre isso! Betty, eu sei onde eles arrumaram toda essa tecnologia, por favor!
Ela nem esperou eu pedir mais, me mandou entrar e avisou o Jameson no interfone. Eu me espremi na sala com o Foswell, que deu um sorriso ao me ver.
- Peter! Como anda minha van?
- Parker conserta sua van? — Jameson Perguntou, perplexo.
- Eu preciso do dinheiro… — Respondi — Mas isso não vem ao caso. Seu Jameson, eu tenho uma exclusiva pro senhor.
- É sobre o Executor da delegacia? Foswell aqui já estava me contando tudo o que aconteceu.
- É… Mais ou menos. Olha só — Eu puxei a foto reveladora — Está vendo? Estava marcado debaixo do chassi do planador dele. É tecnologia da Quest Aerospace.
- Meu Deus… — Jonah puxou a foto da minha mão, com os olhos arregalados — Parker, este é o maior furo de reportagem que você já me trouxe. Como suas fontes não sabiam dessa, Foswell?
- Bom, eu… — Ele parecia perplexo, quase nervoso, quando o rosto dele se transformou, com um sorriso malicioso — Na verdade, eu cobri algo que com certeza se conecta com isso! O Roubo da Quest da semana passada, se lembra?
- Mas é claro! No inventário estavam tecnologia militar roubada.
- Nossa, isso é… Muito conveniente — Disse, e o meu formigamento começou a soar de novo… Era por causa do Frederick — Muito conveniente mesmo.
- Com certeza nesse roubo estavam a armadura do Ricochete, o super-soro do Touro e o equipamento tático do Montana! — Frederick continuou.
- Espera, como você chamou ele? — Perguntei.
- Montana! É um criminoso menor que veio do estado de Montana, um encrenqueiro sem igual, e…
- Como você sabe que é ele?
- Ora, eu… Fiz minha pesquisa, ele era um criminoso com chapéu de cowboy, e que usava uma espécie de montaria, laços e tudo mais… Ele é conhecido por isso.
- Tudo bem… — Minha cabeça estava latejando, o zumbido que eu sentia depois que ele disse essa frase foi bem alto, eu só conseguia ouvir minha respiração pesada. O Jameson teve que gritar o meu nome pra eu perceber.
- Parker!
- Ah… Desculpa. O que foi?
- Você está bem?
- Na verdade não, estou com uma dor de cabeça…
- Nada que um pouco de dinheiro não resolva. Só tem umas 3 fotos legíveis aí, vou pagar $75 cada.
- Não, a foto do planador é exclusiva, seu Jameson, vou cobrar pelo menos $200 por ela.
- Então eu só vou levar ela. Ah, e mais uma coisa, a oferta por uma exclusiva do Ricochete expandiu pro resto dos Executores, é sua chance.
- Beleza — Eu disse, pegando o cheque do Jameson e me dirigindo pra saída.
- Espero que você consiga consertar minha van até esta noite, Peter… — Foswell disse, e a voz dele nunca pareceu tão pesada quanto foi dessa vez.
Eu corri pra casa com o dinheiro, e com ele paguei a quota desse mês pra Tia May, apesar dela não aceitar muito bem que estou gastando com as contas dela do que guardando pro meu apartamento, mas eu prometi que eu pagaria metade das despesas enquanto morasse lá. No fim da tarde, eu, Tia May e Mary Jane nos reunimos na calçada uma última vez, só que desta, as duas tinham armado uma mesa do lado de fora, e enquanto o sol se punha, elas comiam alguns sanduíches que tinham preparado e distribuíam alguns pra criançada que passa brincando nas ruas.
- Ver crianças assim me lembra de quando vocês dois eram menores… — Tia May disse, entregando um sanduíche pra um deles — Oh, vocês eram tão adoráveis juntos, correndo de um lado pro outro dentro de casa.
- Eu passei muitos bons tempos lá na sua casa… — Mary Jane respondeu.
- E como anda a sua peça, Mary Jane? — Perguntei.
- Amanhã são os meus testes, aaahhh! — Ela gritou de alegria, segurando a mão da May — Pensar como uma pessoa verdadeiramente diligente é uma tarefa muito mais difícil do que parece.
- Sabe, eu tenho pensado nisso ultimamente, e… Bom…
- Peter… — Tia May suspirou — Eu conheço esse seu tom de voz. O que está te incomodando?
- Eu… — De repente, eu parei de aparafusar o motor, pensando no dono dele — Eu tenho o pressentimento de que alguém que eu conheço está fazendo algo de errado.
- O Harry? — Mary Jane perguntou, preocupada. O rosto das duas estava fechado de preocupação.
- Não, não… É complicado. É alguém do serviço, do Clarim. Eu tenho medo, sabe… De estar errado, de me comprometer com o Jonah.
- Sabe Peter, isso se parece com uma das coisas que eu tive que estudar pro papel da minha personagem na peça. Muitas vezes, a diligência não é só a única parte importante em um relacionamento, apesar de ser a maior. Também é preciso saber quando usar ela, e isso depende do que você realmente guarda no seu coração — Ela se aproximou de mim, olhando nos meus olhos — Quais são as suas intenções, se você sabe comunicá-las bem… É isso que diferencia as pessoas na hora que elas têm que tomar uma decisão importante.
- Entendi… — Eu não podia conter o nervosismo de estar perto dela, mas as palavras precisam de um tempo pra pesar na minha mente, então voltei para o motor, e terminei de aparafusar a última peça — Tudo bem. Mary Jane, aproveita que você tá aqui, entra lá e tenta dar partida no carro.
Ela fez como eu pedi e começou a dar partida, que deu uma afogada nas primeiras tentativas, mas pouco depois começou a roncar, mas não um ruído estridente, e sim uma partida muito suave. Tia May começou a bater palma e Mary Jane me deu um joia do assento do motorista, sorrindo.
- Parece que você achou a peça que faltava, Peter — Tia May disse.
- É, achei sim.
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