Eu passei a noite deixando meu braço sarar e me planejei pra qualquer próxima aparição dos Executores, decidi que estava na hora de mostrar mais um pouco de perspicácia. Mal sabia eu que eles já se planejavam pro próximo assalto, o maior deles. Fiquei grudado nas notícias pelo resto do dia seguinte, foi um bom tempo pra passar com a Tia May. Ela me entregou o envelope com o dinheiro do Frederick, e disse que a van já tinha sumido. Eu disse pra ela guardar bem escondido, por enquanto, e ela não questionou. Disse que ia sair mais cedo, e comecei minha ronda de Homem-Aranha mais cedo. Depois de alguns crimes menores, no fim da tarde aconteceu o que eu estava me preparando, mas não exatamente como eu esperava.
Enquanto os céus escureciam, eu acompanhei umas viaturas que corriam pro banco central, e lá eu vi. Todos os três, Ricochete, Touro e Montana. Eu teria que arrumar um jeito de parar todos se quisesse ter alguma chance, mas eles não estavam sozinhos, o homem com uma máscara da tragédia de metal e um chapéu, dirigia uma van que os trouxe… Uma van bem familiar, sem placa. Ele saiu com apenas uma pistola, mas aparentemente ele mandava nos outros três, o tal do Chefão deles. Mergulhei em direção ao homem do chapéu, uma vez que ele era o mais vulnerável e o líder, mas tive que desviar por um fio do laço de Montana, que me fez cair em cima da van deles. Os quatro olharam para mim, claramente zangados.
- Olha só, a turma toda reunida aqui! — Eu disse.
- Acabem com ele! — A voz grossa do Chefão soou, correu pra dentro do banco, que já estava vazio depois que os capangas dele deram conta da segurança.
Ricochete deu um mortal e usou a potência dos braços do traje de novo para se propulsionar ao alto. Ele estava mergulhando na minha direção com o seu pé, e novamente eu desviei por pouco, e a parte onde ele pousou amassou o teto da van. “A nossa fuga, Da- Quer dizer, Ricochete!” Montana disse, e o homem na minha frente se levantou, e entrou em posição.
- Você não tem a malandragem das ruas, Aranha. Eu fui criado no Brooklyn!
- E eu no Queens!
Ele avançou na minha direção mais uma vez. Tentei dar um soco de direita nele, mas ele segurou, então tentei o mesmo com a outra mão, e ele não só segurou também, como usou o impulso e me jogou pra longe do teto da van. Eu consegui pousar bem, mas logo já vinha Touro na minha direção, cada passo um tremor na rua toda, e ele corria bem rápido pra alguém da altura dele. Foi então que comecei a pôr meu plano em prática, corri na direção dele também, e nos aproximávamos um do outro rapidamente, eu tentei saltar por cima dele, mas bem no momento em que eu tentei fazer isso, ele agarrou meu pés e me bateu contra o chão. Não havia tempo a perder, na hora que ele ia me dar um soco finalizador, eu fiz o que queria joguei minhas teias no rosto dele, o que me possibilitou desviar do ataque, abrindo uma cratera ainda maior da que o meu corpo tinha feito. Antes que Montana e Ricochete pudessem se aproximar, eu passei uma camada extra de teia nos olhos dele, só pra garantir.
O brutamontes ficou bem zangado, como eu esperava. Dessa vez era Montana que começou a me seguir, eu comecei a me balançar antes que ele pudesse dar um rasante. A ideia da teia era boa da primeira vez, mas obstáculos não funcionam com ele, então o jeito era desarmar. Eu comecei a procurar pelo prédio mais alto das redondezas, e quando eu achei, preparei duas teias pra me estilingar de novo, dessa vez o mais alto que eu podia. Prendi as duas no topo e as estiquei até onde consegui antes que ele ficasse muito próximo, e quando isso aconteceu, me joguei bem pro alto, e como esperado, ele me seguiu. Foi então que eu fui de queda livre na direção dele, torcendo pra dar certo, e então, quando ele me laçou, minha velocidade era grande demais, e ele acabou sendo puxado pra fora do cavalinho dele. Enquanto nos aproximávamos rapidamente do chão, eu comecei a gritar pro Touro.
- Ei, palhação de circo, vem me pegar!
- O que?! — Ele gritou de volta, tirando o Ricochete, que estava tentando ajudar a tirar minhas teias do rosto, da frente dele.
Ele começou a correr na minha direção cegamente, então torci pros meus cálculos estarem corretos, eu soltei minha teia, mesmo amarrado, no prédio mais próximo e me balancei como um pêndulo, com o Montana na direção de impacto do super forte amigo dele. Claro que ele percebeu, e a única chance dele sobreviver era soltando o meu laço e se defendendo com a armadura de braço dele. Olha, eu sei que ele sobreviveu, mas não como, porque o encontrão que ele deu com o Montana jogou ele pra longe, o braço de dispositivos completamente estraçalhado. Eu pousei suavemente e me soltei do laço, mas por trás veio uma voadora de Ricochete, que me jogou pra um beco. Eu me joguei pra cima de um armazém não muito longe dali, e ele me seguiu. Me balancei novamente em volta dele, mas dessa vez, foi pra dar uma voadora nele eu mesmo, o jogando pra dentro do armazém.
Isso não impediu muito ele, que fez uma manobra, do que eu imagino que tenha sido capoeira, e pousou com facilidade, mas ele não contava com uma coisa. Quando ele me procurou, eu estava no teto do armazém. Ele tentou escalar as caixas e dar um salto na minha direção, mas não chegava nem um pouco perto.
- Ah… Você não sobe em paredes que nem uma Aranha?
- Desce aqui! — Ele gritou.
Só que eu não obedeci ele, e comecei a soltar teias, que ele achava que eram pra acertar ele, mas a cada teia que ele desviava, a minha grande emaranhada rede se formava ao redor dele, até que que, quando ele percebeu, era tarde demais, eu apenas soltei mais uma por debaixo dos braços dele, e logo ele estava completamente imóvel, preso na minha rede. Ele gritou algo como “Você me paga, Homem-Aranha!” mas eu não ouvi direito. Amarrar o grandão deu trabalho, mas não foi difícil, ele estava vendado, afinal de contas. Só faltava o tal do Chefão, quando eu cheguei na entrada do banco, ele estava empacotando o último saco de dinheiro, e quando me viu, começou a correr pro banco do carro, eu soltei uma teia que agarrou a máscara dele, mas quando eu tirei, foi tudo muito rápido, ele sacou uma metralhadora e atirou na minha direção. Ainda tinham alguns civis na minha direção, então eu corri para salvá-los da metralhadora. Nenhum morreu, mas uma mulher pegou uma bala de raspão, então tive que levá-la às pressas pro hospital enquanto ele fugia.
Mas não foi a última vez que eu o vi. No outro dia, no Clarim, eu estava conversando com o Jameson na nova sala pronta dele sobre o que “Peter Parker” tinha visto do conflito quando Frederick Foswell entrou na sala, quieto, mas nós paramos de falar quando vimos que ele entrou, deixamos ele falar o que tinha pra dizer.
- Foswell… — Jameson quase rosnou.
- Olá. Eu vim aqui pra apresentar minha última reportagem.
- Ah, é mesmo? — Ele fez aquele rosto de quem poderia dar um soco em alguém.
- Sim. Eu tenho a informação do esconderijo dos Executores! Ele fica…
- Parker já me contou sobre isso — Ele apontou pra mim — Junto com algumas outras coisas.
- Que… Coisas?
- Aqui — Ele entregou uma das minhas fotos para Foswell — Essa van lhe é familiar?
- Não…
- Pois devia — Eu disse, me levantando da cadeira — É a sua van.
- Ora, Senhor Parker, que absurdo! — Ele começou a rir, mas de nervosismo.
- Não, não é. Eu fiquei consertando essa van nos últimos três dias. Está vendo aqui? Ela pode estar sem placa, mas essa mancha de óleo fui eu mesmo que fiz, depois que o seu pistão horroroso espirrou em mim, eu não tive a oportunidade de te contar sobre antes de você sair correndo com ela.
- … Jonah, por favor, ele é só um fotógrafo amador!
- Eu estava pensando o mesmo — Jameson se levantou, pegando um papel da mesa — Até que ele me mostrou algo que ele trouxe antes de você. Um retrato desenhado pela descrição dos Executores de quem o “Chefão” deles era. É você!
Jameson mostrou o retrato, um desenho não completamente igual, mas super parecido com Foswell, o suficiente pra atiçar a ira no editor chefe mais casca grossa de Nova York. Os policiais se aproximavam do escritório do Jameson quando ele deu um belo soco no rosto do Frederick, eu gritei e bati palmas, e ele sorriu pra mim. Os policiais entraram e levantaram o Foswell.
- Frederick Foswell, você está preso sob a acusação de assalto e ataque terrorista premeditado. Tudo o que você disser poderá e será usado contra você no tribunal!
- Policiais, isso é dele, dele ter cabelo aí dentro pra um teste de DNA ou coisa assim — Eu entreguei a máscara de Chefão dele, e ele olhou para mim espantado.
- Como você tem isso?! — Ele gritou, me olhando com ódio.
- Isso foi uma confissão?! — Jonah gritou de volta.
- Eu conheço o Homem-Aranha. Tiro fotos dele, lembra? — E eu pisquei pros policiais, que pegaram a máscara e levaram ele.
- Você vai apodrecer na prisão por ter usado o meu jornal! — Ele colocou uma mão no meu ombro — Filho… Você daria um ótimo fotojornalista. Certeza de que você não quer seguir carreira?
- Não, Senhor Jameson, minha paixão são as ciências. Sobre o cheque…
- Ah sim, você merece, Parker! — Ele sentou na mesa dele de novo, e pegou o talão - $500 muito bem pagos!
- $800, To cobrando pelas fotos também. — Ele me olhou meio contrariado, mas logo depois deu um sorriso e disse.
- Tudo bem. Eu sei que você está atrás de um apartamento. Tome. Ah, e fale pro Robbie ou pro Hoffman trocar a manchete da inauguração do Edifício Baxter pela sua exclusiva. Agora sai da minha frente garoto — Ele terminou, brincando, e ainda sorrindo pra mim.
Quando eu saí da sala de Jameson com o cheque e a manchete, Betty, Robbie, Hoffman e todos os outros funcionários do Clarim se levantaram e começaram a bater palmas pra mim. Acho que aquela foi a primeira vez que eu realmente me senti parte do Clarim de verdade, que eu finalmente me tornei parte da família deles.
“O Chefão Desmascarado - A Corrupção dentro do Clarim é revelada por corajoso editor-chefe” dizia a manchete da última edição do Clarim, “Quest Aerospace investigada por conexões com a tecnologia de ultra terrorista Duende Verde. Provável declaração de falência no futuro” era lido logo em baixo, a edição estava na mesa do apartamento. A minha mudança durou quase um dia todo, mas eu finalmente pude conhecer o senhor Ditkovich pessoalmente. Eu acho que a filha dele, a Úrsula, tava dando em cima de mim alguma hora, mas eu sinceramente nem percebi. Estávamos no que seria minha nova casa, toda mobiliada e ajeitada pra minha vinda, conversando.
- E o que você faz mesmo? — Ele perguntou com aquele sotaque pesado dele.
- Eu estudo e trabalho. Estava precisando de um lugar depois que o meu amigo não pode mais compartilhar um apartamento comigo.
- Entendo. Ter amigos é algo muito exaustivo. Única amiga que eu consegui ter foi a mãe de Úrsula, e ela não está mais aqui pra me acompanhar.
- Poxa, que pena Senhor Dit…
- Agora eu chamo a galera do bar pra jogar cartas comigo. — O som da buzina do caminhão de mudanças apitou — Eles finalmente chegaram, nossa!
- Nem me fala, eu não tinha muito dinheiro sobrando pra uma transportadora. Se me dá licença, eu tenho que descarregar as coisas e.
- O que? Depois de ficar empacotando tudo no caminhão desse incompetente o dia todo pra só chegar agora? Não, eu e Úrsula vamos te ajudar.
- Não precisa…
- Eu insisto! Úrsula! — Ela apareceu na porta, acenando — Comece a trazer os pertences do Senhor Parker, nós já vamos te ajudar.
- Poxa, obrigado. — Eu dei um tchau de volta pra Úrsula, antes dela ir.
- Sabe, Peter, o problema é que as pessoas não se ajudam muito nessa cidade. O que acha de quebrar esse costume, hein?
- Concordo.
- Muito bom. Aluguel no fim do mês.
- Aluguel? Mas eu não paguei os primeiros três meses?
- Sim, de garantia, já tive muitos caloteiros no meu tempo. Vamos?
Nós descemos as escadas e terminamos minha mudança. Mais tarde, Tia May e Mary Jane viriam pra nós passarmos um tempo juntos, uma comemoração. Mas a comemoração não seria completa sem o Harry. Então eu liguei pra casa dele, esperando conseguir falar com ele.
- Residência Osborn. — A voz de um senhor disse.
- Oi, Bernard, é o Peter.
- Senhor Parker! É muito bom ouvir a sua voz. Em que posso ser útil?
- Eu… Posso falar com o Harry?
- Amo Harry não está disposto nem a falar comigo direito, Peter. O que você queria dizer pra ele?
- Você pode passar a mensagem pra ele?
- Claro.
- Diz pra ele que… Eu sinto muito a falta dele. Que eu sei que ele tem um pouco de raiva de mim por eu tirar fotos do Homem-Aranha e não fazer nada. Só quero que… Ele apareça pra inauguração do meu novo apartamento, que eu não sinto raiva dele não estar compartilhando o antigo comigo, que eu entendo a dor que ele está sentindo… Não é fácil perder alguém que você ama tão subitamente. Talvez eu possa alegrar a vida dele compartilhando um pouco da minha.
- Isso foi muito tocante, Senhor Parker… Obrigado, irei transmitir sua mensagem para ele.
- Tchau, Bernard.
O que eu não sabia na hora, é que Harry ouviu toda a conversa no viva-voz, depois que percebeu que era eu quem tinha ligado. Mais tarde, as meninas chegaram com Pizza e a Torta de Pêssego da Tia May. Nós conversamos por algum tempo, abrimos um champagne.
- É um lugar bem… Espaçoso, não Peter? — Disse Tia May.
- É sim. Não é muito, mas…
- É um lar — Completou Mary Jane, mostrando aquele lindo sorriso dela — Eu sei como é. Minha casa não é muito diferente, mas eu não trocaria ela por nada.
- Eu e Ben também começamos em um pequeno apartamento como esse… — Tia May parecia um pouco triste, eu me aproximei dela e peguei em sua mão — Não ligue pra mim, Peter, nós não podemos celebrar com todas as pessoas que amamos, mas nem por isso devemos parar de celebrar, pois elas gostariam que estivéssemos feliz mesmo sem elas. Seu tio Ben estaria tão orgulhoso.
- Eu… Eu liguei pra casa do Harry. Ele não apareceu até agora, queria que ele estivesse aqui.
- Peter! — O Senhor Ditkovich gritou de longe — Tem mais visitas para você!
Eu me aproximei da porta e abri. Lá estava o Harry, sorrindo pra mim. Eu dei um abraço nele, e ele devolveu, começando a chorar. Eu também não pude segurar as lágrimas. Mary Jane e May se aproximaram, e também abraçaram ele.
- Espero que eu não tenha chegado atrasado! — Ele brincou.
- É muito bom te ter aqui, Harry — Coloquei minha mão no ombro dele.
- Eu também senti muita falta sua — Ele olhou em volta — Que lugarzinho aconchegante, hein!
Nós rimos, e passamos o resto da noite conversando. Às vezes, o risco da diligência, da honestidade, e da verdade pode parecer grande demais, mas cabe a nós descobrir qual o peso dela, pois é nossa responsabilidade. Eu vivo por essas palavras da mesma maneira pelas quais vivo pelas palavras de Tio Ben, e eu descubro que de vez em quando, a recompensa vem, que por mais que não façamos pela glória ou pelo dinheiro, às vezes… Nós recebemos de volta. Pelo menos por hoje, essa é a minha benção, essa é a minha vida. Quem eu sou?
Eu sou o Homem-Aranha.
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