Passos apressados eram ouvidos por um dos muitos corredores da Oscorp. Muitos jovens de jaleco podiam ser vistos zanzando de um lado para o outro nas alas mais básicas do edifício, essa era a primeira vez que a empresa abria suas portas para novas mentes estagiarem em suas instalações depois de tantos escândalos envolvendo seu nome, esse era o primeiro passo para uma retratação pública da empresa. Então, sempre que algum deles chegavam, um holograma com a face sorridente do falecido Norman Osborn os saudava.
- Bem-vindos, jovens estudantes, para o Programa Público de Estágio das Indústrias Oscorp. Apenas vocês, as melhores mentes escolhidas pelos nossos especialistas, têm o privilégio de representar o povo de Nova York no nosso setor de pesquisa e desenvolvimento. É uma honra trabalhar ao seu lado.
Todos assistiam silenciosos, mas ao fundo, Peter Parker grunhiu quietamente, não conseguiu ouvir aquilo sem expressar um pouco do quanto achava aquela situação ironicamente engraçada. Ele havia conseguido entrar por alguns motivos, um deles sendo que ele era o notório namorado de Gwen Stacy, que havia, a pouco tempo, morrido em uma das instalações mais modernas da empresa. O outro motivo sendo, é claro, sua mente brilhante, e esses dois unidos o faziam um dos garotos-propaganda perfeitos para essa nova era de transparência. Ele estava atento para atender o chamado do que ele passou a chamar de “sentido aranha”, a qualquer momento naquele lugar, ele já perdeu vidas demais por segredos que permeiam aqueles corredores.
Ele estava participando de uma das mais recentes pesquisas da Oscorp, nanotecnologia. Se aproximando de sua mesa no laboratório de pesquisa, ele ergueu os papéis com os esquemas dos nano robôs que ele estava ajudando a desenvolver. Depois de rabiscar algumas anotações dele, uma pessoa se aproximou.
- Oi Peter… Como andam as coisas com o nano robô? — Disse Debra Whitman, ajeitando seu casaco.
- Ah… Tudo bem Deb. E com você?
- É sobre isso que eu queria falar — Ela arrastou uma cadeira e se sentou ao lado de Peter, ajeitando os óculos garrafais — Eu vim aqui te roubar pra me ajudar numa coisa de novo.
- Ok… Diga — Ele se virou de volta para Debra, deixando os esquemas na mesa.
- Você sabe, o coquetel de químicos raramente adquire uma forma estável em qualquer composição que arranjemos. Estávamos pensando se a nossa abordagem está errada.
- Você diz se a introdução no corpo humano não deva ser completamente por osmose?
- Sim e Não. Nós estamos levando em conta que o corpo humano faça tudo, e se a nossa solução fizer parte do serviço também?
- Entendi onde você quer chegar — Peter se levantou e se aproximou da mesa de Whitman, pegando os papéis de fórmulas dela — Algo como uma absorção forçada, algo que não espere as moléculas agirem, que abra caminho.
- Sim! Uma vacinação sem agulha, a própria solução se encarrega do caso.
- Mas isso iria requerer um comportamento… Ácido. Não é um pouco arriscado? Pode machucar mais do que contribuir.
- Não se fizermos da maneira certa. Por isso pedi sua ajuda.
- Ah… Entendi — Peter deu um sorriso irônico — Eu tenho meus próprios projetos, Debra, não posso te ajudar o tempo todo.
- Por favor! — Ela segurou o braço de Peter, implorando.
- Ta bom, ta bom. Espero que eu possa continuar o nano robô o resto da semana, eu já deveria estar finalizando ele.
- Obrigada, Pete! — Disse, se aproximando de Peter e o beijando na bochecha — Você é o melhor.
- Vamos acabar com isso.
Peter não ligava para como Debra agia, de fato ela tem sido uma amiga muito preciosa para ele desde quando começou a sair de casa de novo. Esse programa da Oscorp não só tem ajudado ele a ficar próximo da empresa que tem controlado os últimos acontecimentos, como também tem dado à ele espaço pra começar a vida de novo, inclusive tendo uma entrada de dinheiro que ele não tinha além de vender as, agora quase nulas, fotos do Homem-Aranha pro Clarim. Depois de terminar de ajudar Debra com o projeto da solução química de nutrientes, eles precisavam fazer um teste.
- Eu vou pegar um rato — Debra correu para onde eles criavam os roedores e voltou com um, o colocando em um jarro — Certo, temos o composto base, mas o que nós vamos introduzir nele?
- Não sei, algo que pode ser facilmente assimilado por um animal. Digo… Não vamos ser ambiciosos, a água é a solução aqui — Peter apontou.
- Tudo bem… Aplicando 100mL de H2O no composto base… — Ela misturou a água na solução que eles tinham tirado do laboratório.
- Aqui… — Peter levantou o jarro de vidro com o rato.
E então, Debra despejou o conteúdo na pele do rato, e Peter colocou o jarro em frente a uma câmera que eles haviam armado pouco antes. Assim, alguns momentos depois, o líquido parecia vivo, e começou a penetrar no rato. Os dois se entreolharam e sorriram, mas então o rato começou a ficar muito agitado, correndo de um lado para o outro, até parar subitamente. Diante dos olhos deles, ele começou a se contorcer, o pelo caindo de seu corpo e sua pele… Se tornando transparente. Seu corpo começou a entrar em um estado gelatinoso, e através da pele transparente, podiam ver os órgãos da criatura se derretendo, e o coração parando. Os estudantes se entreolharam novamente, quietos e chocados.
- Teste um da nova solução concluído. Resultados negativos — Debra disse, se aproximando da câmera e a desligando.
- Não foi dessa vez.
- É, não foi. Mas já é alguma coisa, o que você acha que aconteceu?
- Digo… Ele claramente absorveu a água… Mas igualmente, no corpo todo.
- Como se o composto tivesse dissolvido ele, e não o contrário. Bom, está na hora do almoço, depois terminamos o relatório.
- Depois você termina o relatório.
- Peter!
- Não me inclui nessa! — Peter riu.
- Seu chato! — Ela jogou uma bola de papel nele.
Os dois saíram do escritório e se dirigiram para a praça de alimentação do edifício, Debra foi na frente pois Peter parou para cumprimentar um outro amigo que fez durante seu tempo na Oscorp.
- Morris! — Peter acenou, com ele se aproximando — Como vai?
- Ótimo, Peter. Como andam as coisas na pesquisa?
- Ah, poderiam ser melhores, sendo sincero.
- Uma pena. Sabe, você me fascina.
- O que é isso, Morris, você sabe que eu nem faço nada além do estágio.
- É sério. Vai por mim, Peter, de um cara que morava nas ruas do Bronx, ver um moleque do Queens sendo um dos garotos propaganda da Oscorp e fazendo todas essas coisas de cientista que vocês fazem, eu quase me sinto representado.
- Para, cara. Você também tá na Oscorp. Segurança de transportes marítimos não é qualquer coisa.
- Mas eu sou descartável, Pete. Gente como você não é.
- Não fala isso, não é verdade — Peter passou um braço pelo pescoço do amigo — Foca no bom, um emprego estável numa das maiores empresas do mundo.
- Se eu vou fazer isso, você também devia.
- Como assim?
- Qual é. Você acabou de ajudar uma linda mulher com o problema dela.
- Você tá falando da Debra?
- Claro. Olha pra ela, Peter — Morris apontou para ela, não muito longe deles — Eu não preciso ser um gênio pra perceber que ela tá na sua.
- Ela é só uma amiga.
- Não, amigo sou eu. Qual é… Eu sei que você não superou a Gwen ainda. Eu não te culpo, já tive que perder muita gente também, muitas namoradas que eu realmente amava, mas você tem que tocar a bola pra frente.
- Eu… — Peter olhou para Debra. Seus longos cabelos louros ainda traziam lembranças de quando o seu coração era cheio de esperança. O sorriso de Gwen ainda atormentava os pensamentos de Peter mesmo quando ele não pensava em nada que a lembrasse, como pequenos lembretes diários — Morris… Eu to morrendo de fome, dá pra gente falar de outra coisa?
- Você não sabe evitar assunto, né menino? — Morris deu um sorriso brincalhão, e um soco no ombro de Peter.
Os dois se sentaram para almoçar, compartilhando boas risadas e aproveitando a companhia um do outro. Já era a terceira vez que Peter criava uma amizade com alguém da Oscorp, e consequentemente chamava a atenção para essa pessoa. Muitas pessoas estavam de olho em Peter, a mando de alguém bem específico. Nos últimos andares, no escritório de CEO, se encontra um homem, um senhor de bagunçados cabelos castanhos e um ostentoso terno, ele observava Peter e Morris nos sistemas de segurança, em um holograma em sua mesa. Depois de algum tempo, decidiu que já tinha visto demais. E pegou a caixa de dados da mesa, desativando as funções holográficas.
Depois do anoitecer, o homem vestiu um chapéu e um sobretudo, se dirigiu para o elevador, e depois de entrar em sua escolta da empresa, se dirigiu para o Instituto Ravencroft. As sombras escondiam seu rosto ao passo que ele se aproximava da cela de um jovem de cabelos escuros, que estava sentado de frente para a janela de vidro que os separavam, que quando viu sua aproximação, sorriu. O homem das sombras tirou seu chapéu, e revelou a caixa de dados que anteriormente pertencia ao rapaz.
- O que veio me dizer dessa vez, Fiers?
- Eu estou de olho no Parker, como você disse. Mas não é isso que vim mostrar — Gustav Fiers fixou a caixa na janela da cela, exibindo o holograma projetado de seus dados — Um dos muitos projetos do programa de estagiários teve um resultado… Único.
- Claro que teve, são os projetos que nós sugerimos.
- Não é isso que quis dizer, Osborn. Os projetos da Ravencroft estão se beneficiando das mentes desses jovens, muitos deles estão sendo completados só por causa disso, mas isso é sobre um dos nossos testes.
Fiers teclou nos hologramas, e mostrou o vídeo de teste do composto de Debra. A transformação do rato fascinou os olhos sádicos de Harry, que o observou com uma malícia clara. Ele se aproximou da gravação, e rodou a transformação mais algumas vezes.
- O que seria esse projeto?
- Estávamos tentando a concretização de anabolizantes de rápido efeito, uma idealização do lendário soro de supersoldado que assombrou os desejos dos militares durante a segunda guerra.
- E isso aconteceu no lugar? — Fiers gesticulou positivo com a cabeça — E o que eles injetaram nesse rato pra isso acontecer?
- Um composto de injeção subcutânea.
- Com o quê?
- Água. Apenas água.
- Então… — Harry disse após uma longa pausa — Catalogue essa descoberta. Projeto “Hídrico”. A capacidade de absorver qualquer composto pode servir no futuro, tire o projeto dos estagiários, coloque aqui em Ravencroft.
- Tudo bem… — O homem das sombras pegou a caixa da parede, e se virou para ir.
- E Fiers… — Gustav
se virou para ouvir — Coloque os responsáveis por esse projeto com os nano
robôs do Parker. Quero testar algumas teorias…
Comments (0)
See all